sábado, fevereiro 13, 2010

Inglês ruim

Outro dia alguém me mandou uma postagem do Twitter em que Walter Longo, refinado executivo do grupo Young & Rubican, criticava o embaixador Celso Amorim por seu "inglês ruim". Admiro Longo e me assustei com a pequeneza desse comentário. O linguista Noam Chomsky consideraria isso um hiato cultural ou, em bom português, uma "coisa de colonizado", que pensa que o domínio da comunicação em língua estrangeira deve eliminar o sotaque, a musicalidade própria de qualquer língua e a historicidade de cada cultura. Se Antonio Banderas pensasse como Longo teria sido, no máximo, motorista de táxi em Miami. Curioso é que pessoas que reproduzem esse preconceito em relação a brasileiros que falam inglês ou outra língua preservando o sotaque não estranham quando vêem um francês ou um espanhol falar um português cheio da musicalidade própria de sua língua nativa; acham até "charmoso". O correspondente da Rede Globo em Buenos Aires, um portenho autêntico, fala 100% portunhol e todos entendem e acham pitoresco. A não ser que você queira ser ator em Hollywood, professor de português no Texas ou controlador de vôo no aeroporto de Nova Iorque, esforçar-se para falar inglês sem nenhum sotaque é pura bobagem. Os tradutores da ONU, os repórteres franceses ou alemães que cobrem o noticiário internacional falam com sotaque. Todos os embaixadores norte-americanos que passaram pelo Brasil, incluindo aquele que foi sequestrado pelo MR-8, falavam um português sofrível e jamais foram criticados por isso. Outro dia, madrugada adentro, assisti a uma entrevista do homem mais rico do Brasil, Eiki Batista, no canal Bloomberg. O influente milionário mais parecia um russo tentando falar espanhol. E conseguiu dar o seu recado. Sua fluência trôpega não impediu que se comunicasse com o rico mercado onde está ampliando sua fortuna.