sexta-feira, maio 16, 2008

O que pode e o que não pode nas eleições 2008

Os candidatos às eleições municipais de 5 de outubro podem divulgar propaganda eleitoral somente a partir de 6 de julho deste ano.
A propaganda gratuita no rádio e televisão será transmitida de 19 de agosto a 2 de outubro, no primeiro turno.
Essas regras estão disciplinadas na Resolução 22.718/08 do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), que traz algumas alterações em relação ao último pleito presidencial, em 2006.
Outra alteração trazida pela Resolução 22.718/08 é sobre o tamanho das placas, cartazes, pinturas ou inscrições em bens particulares.
Na última eleição, as normas não traziam o tamanho máximo, apenas disciplinavam que era proibida a propaganda em tamanho que pudesse configurar desvio ou abuso do poder econômico.
Após vários julgamentos do TSE sobre o assunto durante o pleito de 2006, o Tribunal disciplinou nesta Resolução que o tamanho máximo para este tipo de propaganda é de 4m². Quem desrespeitar essa norma pode pagar multa que varia de R$ 5.320,50 a R$ 15.961,50.
Uma regra sobre debates também foi alterada pela nova Resolução da propaganda.
Quando não havia acordo entre os veículos de comunicação e os candidatos, era assegurada a participação de candidatos dos partidos políticos com representação na Câmara dos Deputados.
Agora, a Resolução determina que a representação de cada partido é aquela resultante da eleição.
A autoridade competente para tomar as providências relacionadas à propaganda eleitoral e para julgar representações sobre o assunto é o juiz eleitoral. Eventuais recursos podem chegar aos Tribunais Regionais Eleitorais e até ao TSE.

Confira as outras regras

Uma dessas novidades é sobre a propaganda eleitoral por meio da Internet. De acordo com o artigo 18 da Resolução, este tipo de propaganda só será permitido em página do candidato destinada exclusivamente à campanha eleitoral. O candidato não é obrigado a usar terminação “can.br”, já que é facultado o uso de outros domínios. No primeiro turno, a página da rede mundial de computadores pode ser mantida até a antevéspera do pleito, ou seja, até 3 de outubro.

Propaganda intrapartidária

As convenções para escolha dos candidatos pelos partidos podem acontecer de 10 a 30 de junho. Na quinzena anterior à convenção, os pré-candidatos podem fazer propaganda intrapartidária com vistas à indicação de seu nome para concorrer no pleito de 5 de outubro. A propaganda só pode ser feita por meio de faixas e cartazes afixados em locais próximos da reunião. Não pode haver propaganda no rádio, na televisão nem na Internet.

Legendas

Em qualquer propaganda de candidato a prefeito deverá constar, também, o nome do candidato a vice. Se houver coligação para prefeito, é obrigatória a colocação de todas as siglas dos partidos que compõem a chapa abaixo do nome da coligação.
Na coligação para vereador, apenas o partido dele deve ser informado abaixo da denominação da coligação.

Propaganda paga

É proibido qualquer tipo de propaganda política paga no rádio ou na televisão. Nos veículos impressos a propaganda pode ser divulgada até o dia 3 de outubro, no primeiro turno. O tamanho máximo, por edição, para cada candidato, partido ou coligação é de um oitavo de jornal padrão e um quarto de página de revista ou tablóide. Quem desrespeitar essas regras pode pagar multa de R$ 1 mil a R$ 10 mil.

Brindes

É proibida a confecção, utilização e distribuição de camisetas, chaveiros, bonés, canetas, brindes, cestas básicas ou quaisquer outros bens ou materiais que possam proporcionar vantagem ao eleitor.
O partido pode, no entanto, comercializar material de divulgação institucional, desde que não contenha nome, número de candidato nem o cargo que está disputando.

Outdoors

Assim como nas eleições 2006, continua proibida a propaganda eleitoral por meio de outdoors. Caso utilizem essa forma de propaganda, a empresa responsável, os partidos e candidatos podem ser punidos com multa que varia de R$ 5.320,50 a R$ 15.961,50.

Showmícios

Continua proibida a realização de showmício e apresentação de artistas, mesmo gratuita, nos comícios dos candidatos. Aparelhagem de sonorização fixa é permitida nos comícios, mas apenas das 8 às 24 horas.
Os alto-falantes e amplificadores de som podem ser usados das 8 às 22 horas, desde que à distancia de pelo menos 200 metros de sedes dos Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário e hospitais. Também não podem ser usados a menos de 200 metros de escolas, bibliotecas, igrejas e teatros no horário de funcionamento.

Bonecos

É permitida a colocação de bonecos e de cartazes móveis ao longo das vias públicas, desde que não dificulte o bom andamento do trânsito.

Proibições

Os candidatos não podem afixar propaganda, inclusive placas, estandartes, faixas e inscrição a tinta ou pichação nos bens públicos ou de uso comum, como em postes de iluminação pública e sinalização de tráfego, viadutos, passarelas, pontes e paradas de ônibus.
Também não é permitida a colocação de propaganda eleitoral nas árvores e jardins localizados em áreas públicas, mesmo que não causem dano.
A propaganda em local proibido pode levar ao pagamento de multa de R$ 2 mil a R$ 8 mil, além da restauração do bem público.

Imprensa

Os veículos de comunicação impressos podem emitir opinião favorável a determinado candidato, desde que não cometam abusos nem excessos. Já as emissoras de rádio e televisão não podem dar tratamento privilegiado nem veicular opinião favorável ou contrária a candidato, partido ou coligação.
As emissoras também não podem divulgar filmes, novelas ou minisséries ou qualquer outro programa que faça alusão ou crítica a candidato.
Desde a escolha em convenção, os candidatos não podem apresentar nem comentar programas nas emissoras.
As emissoras, assim como as páginas mantidas pelas empresas de comunicação social na Internet que desrespeitarem essas regras podem pagar multa que varia de R$ 21.282,00 a R$ 106.410,00. Esses valores podem ser duplicados se a emissora cometer a infração novamente.

Frase

«Onde está todo o conhecimento que perdemos com a informação?»

T.S.Eliott, poeta.

Comunicação e vanguarda

O mais antigo museu da comunicação da Europa, o ex-Museu dos Correios, de Berna, virou outro em 2003 e desde então apresenta técnicas expositivas de vanguarda.

"A aventura da comunicação" apela para multimídia, teatro e interatividade, com mises-en-scènes e efeitos especiais.
O Museu da Comunicação de Berna, conhecido além das fronteiras regionais, sacudiu a poeira do passado. Agora o conceito de base não é mais a técnica, e, sim, a cultura da comunicação humana. Um passo decisivo rumo à tendência moderna segundo a qual uma visita a um museu deve ser uma experiência que camufla o aspecto "didático" no jogo e na encenação teatral dos temas. Esse conceito é integrado também menos pelas vitrines que pelo percurso, feito de cassetes, nichos, corredores...

Ilhas temáticas

Com a reforma, o espaço foi subdividido em distintas ilhas evocativas de diferentes tipos de comunicação, com reconstruções que mesclam objetos verdadeiros com efeitos especiais e uma iluminação colorida, concentrada "cênicamente" nos pontos de interesse.
A importância que tinham, por exemplo, as cartas no século XIX não é explicada com longos textos mas com um filme tridimensional de 16 minutos, que conta a história de um carteiro da época.
Em volta da tela os saudosos carros-correio da coleção permanente, caixas de cartas, maquetas e escrivaninhas em que se pode experimentar a escrever cartas como no passado, o que na era dos mails e sms parece do domínio da paleontologia.

Variado e dinâmico

Embora o espaço não seja enorme, a visita é bastante rica em experiências. Das personagens nas telas interativas – que têm respostas pré-programadas e respondidas a segundos depois das perguntas de maneira mais ou menos interessante e arguta ou, ao invés, de maneira banal – à cozinha "encantada" onde, quando são roçados, os objetos falam com vozes de três diferentes mulheres de três distintas gerações.
Existe também uma pequena grua mecânica que desloca pesos "virtuais" visíveis numa tela. Quem aciona as alavancas não vê a tela e só se alguém se colocar em frente da mesma e der instruções justas, portanto se comunicar bem, a operação é bem sucedida.
Trata-se de um teste bastante divertido sobre a capacidade de estabelecer uma comunicação eficaz, mas com o risco de desfechar vivas disputas familiares ("você disse a esquerda... sim, disse, mas minha esquerda", e daí pra frente).

Do "face a face" à comunicação a distância

O início da exposição está consagrado à linguagem do corpo, da vestimenta, às diferenças de gerações e culturas: um imigrante siciliano explica em um alemão muito aproximativo porque depois de trinta anos de trabalho na Suíça ainda fale tão mal a língua local.
Com a mídia, o rádio, a televisão, a Internet é, porém, abordada a comunicação a distância. Pode-se compor um programa radiofônico, mas também rever ou ouvir de novo centenas de transmissões dos arquivos da sociedade nacional de rádio e televisão: SSG SSR idée suisse.
A propósito do italiano – uma das línguas oficiais falada por menos de 10% da população – ele está praticamente ausente. Sinal de que a "comunicação" em italiano no governo suíço está perdendo força. As legendas são em alemão, francês e inglês. Turistas em Berna não faltam, explica o diretor do museu, mas são poucos os italianos e os ticineses (habitantes do Cantão do Ticino, sul dos Alpes, que falam o italiano ou um dialeto italiano).
A maioria dos cerca de 50 mil visitantes anuais (que, com a renovação, o museu gostaria de elevar a 60 mil) são suíços alemães. Aumentam, porém, os romandos (habitantes da Romandia, região de língua francesa que representa cerca de 20% dos habitantes).
Magra consolação para os suíços de língua italiana: com a última fase de reestruturação ainda em 2006, quando será integrada o setor de filatelia, estarão disponíveis pelo menos fones com visitas guiadas em italiano.

swissinfo, Raffaella Rossello, Berna

Educação investe mais em publicidade

As instituições de ensino são as que mais investem em publicidade no setor de serviço, pelo que indica a última pesquisa do Ibope Monitor, que levantou os dados do mercado referentes ao último trimestre. O setor educacional aparece abrangendo 36% do total de R$ 1,2 bilhão investido no período – marca que superou em 22% o montante direcionado aos mesmos fins em 2006. Em relação às mídias, a única que indicou queda no período foi outdoor, passando de R$ 9 milhões para R$ 5,3 milhões em investimentos – o que não chega a 1% do total.

quarta-feira, maio 14, 2008

Um tiro certeiro em direção à atenção do público

Rafael Liporace*

Ninguém mais presta atenção na aula. Qualquer professor sabe como é difícil manter a atenção da molecada durante 15 minutos. Não que já tenha sido fácil: adolescentes nunca tiveram muito amor às aulas. Mas pode-se observar que hoje em dia qualquer palestrante tem de se virar para prender atenção de públicos com 30, 40 anos de idade.
Não se trata de falta de interesse, mas da vida que levamos. Com estímulos vindos de todas as direções, hoje somos acostumados a ver tudo ao mesmo tempo sem nos prendermos a nada. A profusão dos meios de comunicação e das tecnologias nos habituou a distribuir a atenção, a absorver parte da informação que nos é passada para complementá-la nos outros meios. A forma de absorver informação já mudou e não tem mais jeito. Se o meio jornalístico já está se adaptando a essa nova era, com notícias on-line, pelo celular e com canais de notícias rápidas e superficiais, a publicidade não pode ficar para trás.
Obviamente anúncios de revista, spots e filmes de 30 segundos continuam e continuarão funcionando. Porém, já deixaram de ser suficientes há muito tempo. Muito mais do que integrada, a comunicação não pode se limitar aos meios tradicionais. O consumidor cresceu exposto aos meios tradicionais e, para distribuir sua atenção por todo o ambiente, desenvolveu um grosso filtro para as informações que dali vêm. Com a atenção superficial e distribuída que observamos no consumidor de hoje, uma exposição da marca em um meio tradicional facilmente fica presa no filtro do consumidor. Porque se espera que ela esteja lá.
Para realmente atingir o consumidor é preciso passar pelos filtros. Daí fica fácil concluir que essa tarefa se torna mais fácil nos meios onde ainda não existam filtros de atenção. Ações de guerrilha, below the line, ambush, undercover (o que na Biruta consolidamos de Mídias Mirabolantes) ou qualquer outro nome que inventem têm tanta repercussão porque conseguem dar um tiro certeiro em direção à atenção do público.
Trabalhando o inesperado, a surpresa, não só é mais fácil entrar na mente consumidora como permanecer por lá. As chamadas novas mídias não somente atraem o público com o diferente como tornam mais factível a experiência de marca. Não é um papel, não está numa tela, não são ações notoriamente voltadas para milhões de pessoas: as mídias alternativas oferecem ao consumidor a sensação de que aquilo que ele está vivendo foi montado somente para ele e mais um pequeno grupo.
Num mundo onde a diferença entre os produtos e serviços concorrentes está mais nas agências do que nas fábricas, produzir uma sensação de relação íntima do consumidor com a marca é um trunfo na briga pelo share. Ações nas quais o consumidor se sinta parte dos poucos que tiveram acesso o torna mais próximo da marca patrocinadora e o faz se sentir valorizado por ela: não foi um anúncio veiculado para ele mais 100 milhões, foi algo que apenas alguns puderam ver.
Não é a toa que empresas como Coca-Cola, Shell, GM e Nike apostam cada vez mais nesse caminho. Se a inovação do meio já facilita muito a prender a atenção, a ausência de formatos fechados permite uma adaptação das ações à proposta da marca e a ousadia das ações torna a exposição da marca o investimento de mídia incrivelmente mais eficientes. Essas marcas já saem na frente estando onde o consumidor não espera que estejam e se tornam ainda mais memoráveis quando ousam e fazem coisas mirabolantes para o seu consumidor.
Num mundo superestimulante quem resistir em permanecer dentro dos formatos será tão atraente como um livro texto na era da internet.

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* Rafael Liporace é Sócio-Diretor Geral da Biruta Mídias Mirabolantes e Coordenador do Curso tecnólogo em Marketing da Universidade Gama Filho.

Pentágono treina analistas para mídia

Milton Coelho da Graça

150 mil militares americanos continuam atolados no Iraque e no Afeganistão, mas o Pentágono também luta num outro front – o da mídia, especialmente rádio e tevê -, no esforço cada vez mais penoso de explicar ao povo americano e ao mundo suas razões, meios e objetivos nessa “guerra ao terrorismo”.
O New York Times, em sua edição de 20 de abril, publicou longa matéria do repórter David Barstow, contando toda a história, desde que o Pentágono, preocupado com as denúncias da Anistia Internacional e outras organizações de defesa dos direitos humanos sobre as violências cometidas contra prisioneiros, juntou um grupo de militares já reformados “para um tour a Guantánamo cuidadosamente orquestrado”.
“Para o público, esses homens são membros de uma fraternidade familiar” – disse Barstow logo no início de sua matéria – “apresentada dezenas de milhares de vezes no rádio e na televisão como ´analistas militares´, cujo longo tempo de serviço os preparou para apresentar julgamentos respeitáveis sobre as questões mais candentes do mundo pós-setembro de 2001. Escondido, entretanto, atrás da aparência de objetividade, está um aparato de informação que usa esses analistas numa campanha para gerar cobertura noticiosa favorável à performance do governo em tempo de guerra, conforme The New York Times desvendou.”
A CNN informou a Barstow que, durante quase três anos, não sabia que um de seus principais analistas militares, general Marks, estava, segundo o repórter, “profundamente envolvido no negócio de procurar contratos com o governo, incluindo contratos relacionados com o Iraque”. Ele se esforçava para obter um contrato no valor de US$ 4,7 bilhões (que pagariam milhares de tradutores no Iraque)!
A CNN encerrou a relação com o general Marks depois disso. Mas outras redes de televisão - Fox e CBS – recusaram-se a comentar o assunto. É muito possível que essa reportagem de Barstow venha a ganhar o Pulitzer ou outro dos vários importantes prêmios conferidos nos Estados Unidos a trabalhos jornalísticos. Mas nenhum jornal brasileiro se interessou pela publicação, embora alguns tenham contratos com o NYT. Os interessados podem acessar o sítio do jornal (www.nytimes.com.br) e fazer o necessário cadastro.

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Milton Coelho da Graça, 77, jornalista desde 1959. Foi editor-chefe de O Globo e outros jornais (inclusive os clandestinos Notícias Censuradas e Resistência), das revistas Realidade, IstoÉ, 4 Rodas, Placar, Intervalo e do portal Comunique-se.

segunda-feira, maio 12, 2008

A construção do voto

Ninguém vence eleição por acaso. A idéia de que uma eleição foi vencida por fatores exotéricos ou pelo "destino" ou simplesmente porque "chegou a hora" é apenas e tão somente mais um daqueles delírios reacionários ou então uma velha, boa e esfarrapada auto-justificativa para a derrota. A construção do voto não permite jogos de azar. Se dá em um caldeirão dialético chamado sociedade, combinando o tempo de campanha, o humor e a percepção do eleitor, as agendas socialmente assimiladas, as plataformas apresentadas, o movimento dos contendores, os elementos de imagem do candidato e do partido e os recursos empregados para alcançar e mobilizar o eleitor. Ganha a eleição quem consegue obter e sustentar o melhor posicionamento.
Assim, o voto é conseqüência de um processo. Este processo se dá à medida que a campanha se deflagra, ou seja, o candidato vai emitindo o seu discurso e o eleitor vai construindo a sua imagem do candidato. Vai comparando a plataforma defendida pelo candidato e as suas aspirações como cidadão.
Esta relação dura o período da campanha eleitoral, portanto, o eleitor vai amadurecendo e alterando seu comportamento e sua percepção durante a campanha, ele vai questionando e se identificando com algumas questões e se incompatibilizando com outras. O processo eleitoral é um período de grande concentração de elementos simbólicos e de discursos conflitantes e isso gera, inicialmente, uma reação de bloqueio cognitivo do eleitor médio, que vai se alterando no decorrer do processo.
No final ele se decidirá pelo candidato e pelo partido que mais compatibilidade apresentar com suas aspirações sociais, ou seja, aquele que se aproximar mais da possibilidade de realizações de seus sonhos para o futuro. O eleitor não escolhe uma pessoa, escolhe um sonho e o caminho para sua realização.
Portanto, indiscutivelmente o candidato deve ouvir o eleitor e na medida do possível compatibilizar o seu discurso com as necessidades e desejos do eleitor. Este ouvir significa manter uma assessoria permanente de pesquisa quantitativa e qualitativa de sua campanha e mais, ter profissionais altamente gabaritados na análise e interpretações desses números e elementos.
Entendendo que marketing político é estratégico e abrangente e marketing eleitoral é tático e situacional, é imprescindível que o candidato saiba que a linguagem de marketing eleitoral é diferente. É necessário criar mecanismos que possibilitem levantamentos de opinião pública, ou seja:
- avaliação de como a sua mensagem está sendo interpretada;
- e qual a percepção que o eleitor tem em relação ao candidato e ao partido.
Alguns especialistas consideram que o partido político é secundário nesse processo, partindo da premissa que “o eleitor vota no candidato”. Não é bem assim. As legendas de grande densidade e representação eleitoral – PT, PMDB, PSDB e DEM – e de larga história política – PTB, PCdoB – têm sim um peso na escolha do eleitor, uma vez que uma parte do eleitorado já está identificado com essas legendas e seus discursos. O partido político funciona, no marketing eleitoral, como funciona a indústria no marketing convencional: ele é o suporte de marca para o produto.
É de vital importância para o político saber que a campanha eleitoral trabalha com os espaços emocionais do eleitor, despertando a fé e a esperança legítimas das pessoas. Ou seja, não criamos essas emoções, apenas as despertamos. Se elas já não estiverem dentro das pessoas, não há como implantá-las em tão pouco tempo. A mente humana não é uma tábula rasa. O slogan “a esperança venceu o medo”, de 2002, dava aos eleitores de Lula um sentido para tantos anos de luta e persistência, mas ao mesmo tempo mostrava aos eleitores que não haviam votado em Lula para presidente que sua gestão seria de pacificação, de integração, e que seu programa de governo abraçaria os elementos de esperança que haviam pontuado sua campanha. Mas esses elementos despertados ali já estavam presentes. Posicionamento não é criar novos canais de interação com a mente do público-alvo, mas navegar nos canais pré-existentes.
Portanto, é necessário agrupar as esperanças, os sonhos, em torno de um ideal de vida e de um mundo melhor. Isso pode ser um slogan, uma plataforma, um discurso, mas será, sempre, um eixo sobre o qual girará todo o mecanismo da campanha. Estes desejos e esperanças estão armazenados no interior, no íntimo das pessoas, no que os especialistas em marketing político chamam de refúgio mágico.
É importante salientar que a emoção se constrói a partir do racional para o emocional, tendo por base a verdade e a vida real. Por isso o discurso do candidato – na TV, no rádio, no palanque e na vida - deve ser consistente, moderno, atual e sintonizado com as expectativas do eleitor, mas ao mesmo tempo deve ser sólido, tendo como suporte elementos-base do imaginário coletivo e da vida social. A família, por exemplo, é um deles.
O candidato ou candidata precisa manter um bom relacionamento com os formadores de opinião pública, que no caso do marketing eleitoral é diferente dos formadores de opinião do marketing empresarial, quais sejam: os jornalistas, sim, mas também os barbeiros, os cabeleireiros, jornaleiros, professores, taxistas, lideranças comunitárias, e assim por diante. Formadores de opinião aqui tem um sentido literal: aqueles que, no dia-a-dia, forjam a opinião dos elementos com que interagem.
O fator principal do formador de opinião é a imagem do candidato. Atualmente são quatro os fatores importantes na formação da imagem do candidato, e esses fatores mudam conforme a interferência dos discursos emitidos nos espaços públicos que criam uma cultura circulante e que influenciam os eleitores através dos meios de comunicação de massa, quais sejam:
1. o candidato/candidata ser um homem/mulher simples;
2. o candidato/candidata ser um homem/mulher chave;
3. o candidato/candidata ser um homem paterno/mulher materna;
4. o candidato/candidata ser um homem herói/mulher heroína.
O cartaz que ilustra este post é a síntese presente de uma série de pequenos e grandes acertos de posicionamento e o melhor exemplo de engenharia de voto da atualidade. O resultado, tudo indica, será uma disputa entre o futuro e o passado, em uma das campanhas eleitorais mais mobilizadora que os Estados Unidos já viram acontecer.

sábado, maio 10, 2008

Tragédia Brasileira

O julgamento do fazendeiro Vitalmiro Bastos de Moura, o Bida, absolvido das acusações de mandar matar a religiosa Dorothy Stang, em 12 de fevereiro de 2005, é mais uma história amazônica. Ou apenas um capítulo da trajetória deste mundo de fronteira. História de impunidade e de fim de mundo.

Ninguém acredita na inocência de Bida, condenado a 30 anos de prisão em maio de 2007, agora absolvido olimpicamente. Com direito a sorrisos e quase festa dentro da sala do Tribunal do Júri, ele saiu para a liberdade com o anúncio de que haveria festa para recebê-lo em Altamira.

Fui o primeiro jornalista a chegar a Anapu naquele sábado caótico para a o Pará, a Amazônia e o Brasil, depois que a notícia se espalhou pelo mundo. Cheguei em missão do governo do Estado, integrando a equipe de policiais. Havia uma multidão na praça central da cidade, cuja avenida principal é a própria Transamazônica, de onde derivam travessas. O aglomerado era mais por causa daquele gigantesco helicóptero militar pousado milagrosamente entre umas estruturas de concreto – um elemento arquitetônico que enfeita uma espécie de anfiteatro no centro da praça. A ministra Marina Silva estava na casa de Dorothy, não muito longe dali. A chegada da polícia causou mais alvoroço. Do meio do povo, uma voz me chama. – Quem, ali naquele lugar até então desconhecido pra mim, poderia me conhecer – pensei? Era o dono da farmácia em frente à praça. Um vigiense! Vigiense tem em todo lugar, até no palco onde se desdobram histórias como essa. Ele tinha um telefone. Era o que mais eu precisava naquele momento para passar para a Coordenadoria de Comunicação do governo as primeiras informações.

Infelizmente, os afazeres em nome do governo, que me levaram ao município do crime, impediram-me de chegar até no local do crime propriamente dito. Não podia me afastar da polícia e do único computador com internet na localidade, que requisitei ao Banpará, ao lado da delegacia improvisada num prédio comum, sem cadeia; o único telefone era tão-somente um orelhão na parte externa, por onde a imprensa do Brasil inteiro se comunicava comigo e com o delegado que assumiu ser o porta-voz – alguém com autoridade policial tinha que assumir esse papel. Era pelo mesmo telefone que eu me comunicava com a equipe da comunicação do governo, de plantão em Belém, no Palácio dos Despachos.

O corpo de Dorothy chegou à noite do sábado. Ficou no necrotério do hospital local. Legistas fizeram as primeiras tomadas de dados ali mesmo. Constataram os seis tiros. Eu fiz uma lista dos papéis, anotações diversas, identidade civil, quase nenhum dinheiro, listas de telefones manuscritas de Dororthy. E a Bíblia - única arma que ela teria levantado para enfrentar os pistoleiros. Tudo retirado de uma pastinha surrada de congresso, que ela usava e com ela foi recolhido pelos policiais. Devo ter essa relação em algum arquivo de computador esses dados. Devem ter sido um adereço no relatório do inquérito policial. Vistas à distância, são informações agora mais emudecidas ainda com o resultado desse julgamento. Havia telefone de políticos, líderes, religiosos. Pessoas das relações pessoais e de ativismo da líder religiosa. Dorothy vestia uma bermuda branca (estava muito enlameada) e camiseta de um movimento popular; calçava tênis e meia de cano curto rósea.

Foi uma cena pesada. O corpo de Dorothy ali cheio de furos. Uma imagem tensa pela história que encerrava, objeto de uma outra história que, infelizmente, continua com capítulos como esse do julgamento que absolveu Bida. A chegada do corpo de Dorothy chegou em Anapu no fim da noite e não atraiu muita gente ao hospital.

Só na madrugada de domingo é que chegaram os primeiros jornalistas, os fotógrafos Paulo Santos e Raimundo Pacó, vindos por Altamira. Viajaram noite e madrugada pela Transamazônica. Ficaram me azucrinando para fazer a foto do cadáver. Acabamos brigando (no bom sentido) para que não se potencializasse a imagem negativa. Foto de cadáver é sempre ruim, muito embora a imprensa tenha banalizado. Como editor de Polícia de O Liberal nunca publiquei foto de cadáver. Mas ali entendia que não se tratava de um assassinato comum. O fotógrafo Paulo Santos fez a foto que varreu o noticiário, sob minha concordância como assessor de imprensa do governo.

Não comemos naquela noite os ovos fritos com pão e Coca-cola que encomendamos numa padaria porque ficaram prontos na hora que o corpo de Dorothy chegou. Foi difícil engolir o que seriam sanduíches, depois de tudo. Aquela imagem da religiosa sobre a pedra fria de marmorite, ensangüentada, sublimou a fome e agravou minha insônia naquela na madrugada de domingo. Não lembro ter deitado num colchão velho, azedo, coberto com um florão de chita literalmente rasgado e remendado. Eu e o delgado, na mesma cama – era o que restava, uma só -, não dormimos. Chovia torrencialmente. Ficamos elucubrando teorias jornalístico-policiais, ele registrando no laptop da polícia algumas informações. Às cinco da manhã pulamos da cama. Sob a chuva e a escuridão da madrugada, os policiais civis e militares tomaram uma pick up rumo ao PDS onde Dorothy Stang foi morta. Fizeram 40 km de uma estrada de terra lamacenta em quatro horas. Retornaram, só no fim da tarde daquele domingo, com muitas certezas e algumas pistas que levariam à prisão do pistoleiro e ao mandante. Afinal, era crônica de morte anunciada. Mais amazônica do que colombiana.

Foi um domingo tenso. No decorrer da manhã chegaram as equipes de televisão de Belém. A imprensa toda no meu calcanhar. O Brasil inteiro tentando falar com Anapu por um único telefone público. O ambiente chuvoso agravou ainda mais aquele cenário transamazônico vermelho de laterita lamacenta. Em Anapu não há hotel que se possa chamar de hotel. Muito menos restaurante que se possa comer como num restaurante. Comemos um apelido de churrasco em frente a um posto de gasolina. E lá vi uma cena curiosa: frangos tomando banho – o motorista de um caminhão gaioleiro, cheio de frangos, molhava as aves com uma mangueira. Era para amainar o calor. O ar de Anapu naquele fim de semana era o calor das histórias das tragédias amazônicas que conhecemos com começo (ameaça), meio (mais ameaças, denúncias, inquéritos policiais, cobranças de providências) e fim (que dizer, assassinato).

Depois de eu passar mais releases (sim, Anapu já tinha pelo menos o Banco do Pará com internet, naquela época) para os jornais de Belém e para a Coordenadoria de Comunicação, que se encarregou de abastecer a imprensa do resto do país e as agências internacionais, enfrentamos a Transamazônica, por meio de chuva e muitos precipícios. Um roteiro de 100 quilômetros até Altamira. O os policiais dormiam. Eu e o motorista, é claro, mantínhamo-nos acordados. Histórias de assaltos na Transamazônica também são comuns, diziam os policiais. A certa altura, no alto de uma longa ladeira, luzes de carro parado. Acordei os policiais. Era o caminhão de frangos engatado num lamaçal. Só sairia na manhã seguinte, certamente com menos frango, como previra o motorista antes de continuar a viagem para Altamira.

Tudo que a imprensa do mundo todo publicou nas primeiras horas da cobertura do caso Dorothy Stang, a partir de Anapu, teve como fonte os relatórios que enviei e que foram distribuídos pela Agência Pará, da Coordenadoria de Comunicação do Estado. Do domingo em diante, a imprensa nacional já estava entre Anapu e Altamira. Na manhã de segunda-feira, Altamira tinha lá sua comoção. Mas, a pensar que Bida seria recebido, agora em liberdade, com festa, compreende-se porque a cidade inteira não parou para o segundo velório dos tantos que Dorthy teria. Houve comoção, é verdade. Políticos, sindicalistas, autoridades acorreram para lá e não foram poucas. Dando assistência aos policiais, perdi de vista a ministra Marina.

Não me julgo mais capaz do que juiz, advogado de defesa e membro do Júri para dizer que é o fazendeiro Bida é ou não é culpado. Ou que é. Porém, qualquer mortal sabe que não o último julgamento não parece justo à crítica das pessoas comuns. As evidências são cristalinas no inquérito policial. O pistoleiro Rayfran das Neves, o “Fogoió”, escondeu-se, depois do crime, na fazenda de Amair Feijoli da Cunha, o "Tato" (condenado a 27 anos de prisão como intermediário do assassinato, e que teve a pena reduzida por colaborar com o processo) - apurou de imediato a polícia. E essa história de "Fogoió" ter agido de moto próprio, sem ter um palmo de terra, sem derrubar uma árvore, sem ter invadido um só palmo de terra do assentamento que justificasse a tese de eventual intriga com a vítima, mas apenas o currículo de pistoleiro, é diatribe advocatícia.

Os defensores do fazendeiro podem ser inteligentes, tecnicamente capazes para livrar o mandante da cadeia, mas a sociedade não engole que um ano depois de ter sido condenado a 30 anos de reclusão, o mesmo réu conseguiu provas capazes de provar sua inocência. Bem, os tribunais estão cheios de julgamentos com esse perfil, mas alguém mandou matar a religiosa norte-americana. A polícia e a promotoria recolheram provas cabais. E alguém tem que ser punido além dos pistoleiros pés-rapados "Fogoió" e Clodoaldo Carlos Batista, o "Eduardo" (pegou 17 anos, embora não tenha feito disparos). A Transamazônica (de resto a Amazônia) é cheia de colonos, agricultores e posseiros quanto de fazendeiros, grileiros, gatos, usurpadores de incentivos fiscais e de outros recursos públicos. E também de pistoleiros e mandantes de crimes que viram personagens de histórias de ocupação da Amazônia. Histórias com começo, meio e fim (sempre com assassinatos) contra quem se levanta pelos mais pobres desses enredos.


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O ótimo texto aqui reproduzido, distribuído via email pelo jornalista Nélio Palheta, foi originalmente intitulado "Tragédia Amazônica". Sem a autorização prévia do autor, tomei a liberdade de dar à tragédia em questão sua dimensão nacional substituindo o título original, posto que a infâmia que recobre este fato trágico deve ser imputada, grande monta, à vergonhosa e tão brasileira cultura da impunidade (CC).

Interesse público?

Levantamento realizado pelo jornal Folha de São Paulo na Câmara Federal aponta que, dos 513 parlamentares, 87 (16,96%) estão ligados a empresas com interesses contrários à regulamentação da publicidade de cerveja, revela reportagem de Angela Pinho e Maria Clara Cabral publicada neste sábado na Folha (íntegra disponível para assinantes do UOL e do jornal). Ou seja, o lobby da irresponsabilidade e do lucro fácil tem uma bancada própria dentro da Casa de Leis que regula a vida social brasileira. A pesquisa, realizada pela Folha a partir de dados do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), mostra que quase um em cada cinco deputados têm concessões de rádio e televisão e/ou receberam doações de campanha da indústria de bebidas e de comunicação --que em 2006 superou os R$ 2 milhões. Nesta semana, o projeto que restringe a propaganda de bebidas com baixo teor alcoólico, inclusive a cerveja, entre as 6h e as 21h em rádio e televisão, foi retirado da pauta de votações da Câmara, a pedido do governo, após resistência de líderes partidários. Há mais de um mês, representantes da indústria de cerveja e de emissoras de rádio e TV vão ao Congresso quase diariamente para fazer lobby pela derrubada da proposta e do ministro José Gomes Temporão (Saúde), o porta-bandeira da moralidade no que tange à propaganda de substâncias entorpecentes e que fazem mal à saúde. Outra reportagem publicada na Folha (íntegra disponível para assinantes) revela que representantes das emissoras de televisão admitem ter feito lobby no Congresso para o adiamento da votação do projeto. Sucumbindo a interesses econômicos, o Congresso Nacional está longe de representar a vontade e o interesse da nação.

sexta-feira, maio 09, 2008

Santarém, 7 de maio, 17:48h

Santarém é uma daquelas cidades que, como disse certa feita Oscar Niemeyer, tem alma de mulher. Uma persona com veias expostas ao céu e uma paixão de viver que vai das gentes aos peixes, das pedras às plantas e que transborda em profusas águas cor de anil. Santarém se desnuda ao amanhecer pálido e cálido, de leve brisa quente. Se veste para o dia e, novamente, se despe ao entardecer, quando uma luz difusa surge ao por do sol, conduzindo o entardecer a um longo, muito longo, slow motion que expõe os grãos da imagem, que estoura em cores impossíveis, surreais, que faz o amarelo queimado do sol banhar-nos com um tom vermelho improvável. E aí surge o azul. O lindo azul que vaza e banha tudo, com uma generosidade que quase nos engana, quase nos dá a impressão de despojamento, quando na verdade reserva para si a riqueza e a pompa das princesas. Santarém é uma pintura, um quadro, uma música, um gosto, uma noite, um dia, um jeito de ver e um bafejar de vida que nos faz dizer, sempre em voz baixa, como quem reza, o quanto é bom ter vivido para vê-la, para conhecê-la, para ser por ela recebido sempre com aquele calor que sai do chão e não do sol, fazendo ferver o sangue e as idéias. O que diria Neruda, o ouvires da palavra, se visse Santarém? Talvez fizesse um soneto apaixonado, talvez escrevesse mais uma canção desesperada ou, simplesmente, calasse e recitasse: se cada dia cai, dentro de cada noite,/ há um poço/ onde a claridade está presa./ Há que sentar-se na beira /do poço da sombra/e pescar luz caída/com paciência... O sol à pino sobre a testa, o azul das águas banhando a alma, fazendo da vertigem da vida a ode eterna a um lugar que tem alma de mulher.

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A imagem que ilustra este post foi feita por mim no dia 7 de maio de 2008, às 17:48, com um simples celular Sony Ericsson, câmera 2.0 mp auto focus e lente Carl Zeiss.

terça-feira, maio 06, 2008