quarta-feira, julho 29, 2009

ODE, by Castagna Maia

O problema é a negrada. E também os índios. E pior: o problema é a mistura, um povo preguiçoso e sem iniciativa.


II

Essa era a base do raciocínio da “elite”, da aristocracia, até a Revolução de 30. Tivemos alguns ciclos econômicos: o da borracha, em Manaus; o do café, em São Paulo; o do cacau; o da cana, no nordeste. Ali estava o dinheiro. E ali estava a aristocracia, que não raro usava trajes pesados, europeus, neste nosso calor tropical.


III

E aí vieram idéias de “purificar” as raças. Antes disso houve Cesare Lombroso, na Itália, catalogando as gentes pela aparência física. Depois, iniciam as teorias da eugenia. A melhora pela genética. Havia raças superiores, havia raças inferiores. Era preciso esterilizar as raças inferiores.


IV

Nesse meio tempo, foi Getúlio quem editou um Decreto obrigando os clubes de futebol a aceitar negros. O esporte era absolutamente elitista. E também foi Getúlio quem resolveu cadastrar as escolas de samba no Rio e aportar recursos a título subvenção. Ali o samba cresceu, ali Noel explodiu, e veio Chico Buarque, claro, como o grande herdeiro de Noel, quase sua reencarnação. Também no futebol e no samba há Getúlio Vargas.


V

Mas como podia a negrada, esse povo mestiço, desenvolver alguma coisa? E aí veio a Petrobrás. E foi ridicularizada: aqui não há petróleo, disseram as multinacionais. E havia. E veio o ITA - o Instituto Tecnológico da Aeronáutica. Um centro de excelência extraordinário, boicotado à exaustão pelo Brigadeiro Eduardo Gomes, o grande chefe da UDN, para tristeza do Brigadeiro Montenegro. E veio a PanAir, obra, também, da nossa genialidade.


VI

Nelson Rodrigues é quem apanha genialmente isso: conta a história da seleção brasileira. Nossos negrinhos e nossos misturadinhos lá, enfrentando os arianos. Não sabíamos que éramos geniais. Comportávamo-nos como vira-latas, e éramos tratados como vira-latas: a botinadas. “De nossa boca, pendia a baba elástica e bovina das humildades abjetas”, disse Nelson. E aí nos revelamos geniais no futebol.


VII

Éramos geniais no futebol, éramos geniais na música. Vários ritmos, uma criatividade explosiva. E fomos geniais na criação do ITA, e fomos geniais na criação e no desenvolvimento da Petrobrás. E fomos geniais, também, na criação do BNDE, hoje BNDES, para apoiar a indústria. E fomos geniais, também, na criação do Banco da Borracha e na criação do Banco do Nordeste do Brasil. E somos geniais até hoje: pergunte se o “chef” do restaurante francês da sua cidade não é cearense. É cearense, sim. Veja a quantidade de músicos, de cientistas brasileiros no mundo.


VIII

Mas essa mesma aristocracia que usava casacões continuava a duvidar da “negrada”, da “mestiçagem”. De um lado, a velha aristocracia latifundiária pecuarista, ou cafeicultora, ou cacaueira. De outro lado, surgia a burguesia industrial. Ali tínhamos o Conde Matarazzo. Tivemos o Senador José Ermírio de Moraes. Tivemos Mário Wallace Simonsen - não o economista, o empresário dono da PanAir.


IX

Pois ali havia um conflito: a burguesia brasileira contra a aristocracia cafeicultora, cacaueira, pecuarista, canavieira. E tivemos grandes, extraordinários empresários. mas permanecia o velho conflito. Permanecia a visão aristocrática, de casacões de lã, de que este País não daria certo, contrariamente à opinião da burguesia brasileira. Era - e é - a aristocracia contra a burguesia e o povo.


X

Digo isso porque no programa Roda Viva, aquele que entrevistou o Ministro Chefe da AGU, havia um jornalista do Estadão que, do alto da sua pretensão de vassalo da aristocracia cafeicultora, resolveu ridicularizar a questão do petróleo do pré-sal. Ridicularizou o tema. Deixou claro que nós, a negrada, a mestiçagem, não temos condições, nem inteligência, nem dinheiro, para desenvolver o pré-sal. Precisamos dos arianos, dos sangue-puro, da branquelagem.


XI

Está aí a síntese. O “complexo de vira-latas” é a evidência absoluta do racismo que persite. Nâo diz respeito aos brancos, tão somente. Diz respeito a nós, brasileiros. O racismo, aqui, se volta contra todo o povo, contra todos os brasileiros, até mesmo contra os que têm olhos azuis. Se dependesse dessa gente, como o sujeito do Estadão, não teríamos o ITA, a Petrobrás, a Votorantim, o grupo Matarazzo. E mais: foi Fernando Henrique que, em sua festejada obra, referia a “vocação caudatária da burguesia nacional”. Segundo ele, na sua “Teoria da Dependência”, há uma vocação da burguesia nacional para simplesmente se atrelar, de forma secundária, aos grandes grupos econômicos internacionais. Não é verdade. Essa vocação é da aristocracia rural, não da verdadeira burguesia brasileira. Aqui cito, de novo, o Conde Matarazzo, o Senador José Ermírio de Moraes, Mário Simonsen, Rubem Berta, cito Raul Randon, empresários nacionais que tiveram um papel extraordinário no desenvolvimento do Brasil. Ou seja, tivemos - e em parte temos - uma burguesia extraordinária, inovadora, industrial, que faz frente ao que há de melhor, de mais avançado, no mundo.


XII

O jornalista do Estadão nos olha de cima: os “negrinhos”, os “misturadinhos”, conseguirão explorar o pré-sal? Ora, é preciso entregar para as multinacionais. Olhe a telefonia - uma exploração cotidiana, uma extorsão brutal. Olhe a energia elétrica, também no mesmo rumo. Desde quando a Espanha foi referência em bancos? Desde quando Portugal teve tecnologia bancária para exportar? Desde quanto a Itália foi modelo de telefonia? São estrangeiros que nada acrescentaram aqui. Mas é preciso desfazer da nossa gente, da nossa tecnologia, da nossa inteligência. É preciso ridicularizar tudo. É preciso manter um ar aristocrático - europeu, na nobreza, e norte-americano, na grosseria, e esculhambar tudo o que é brasileiro. Olhe só a quantidade de pilotos de aviação civil que formamos e exportamos; olhe a quantidade de engenheiros; olhe nossos doutores que estão até mesmo na Nasa. Olhe a quantidade de brasileiros que são professores em universidades de primeira linha em outros países. É povo nosso, brasileirinho, misturadinho, formado neste nosso grande caldeirão festejado por Darci Ribeiro. Olhe Felipe Massa.


XIII

Não tenha ilusão, amigo. A mesma mentalidade que levou à quebra da PanAir, à quebra da TV Excelsior, à quebra do jornal Última Hora, à privatização da Vale do Rio Doce, é exatamente a mesma: a “negrada”, a “mestiçagem”, não sabe produzir, não sabe pensar, não trabalha porque é preguiçosa. Então vem um um golpe de cima e quebra a empresa. É o que houve com a PanAir, com a Excelsior, com a última hora. Quebra-se a empresa, boicota-se, e depois a culpa é jogada no povo brasileiro.


XIV

Foi uma grande oportunidade aquela da entrevista: ver um sujeito tão desnudo em suas opiniões: o pré-sal é ridículo; o Brasil é um País ridículo; qualquer espanhol grosseiro é mais ingeligente do que nós, qualquer norte-americano picareta é mais esperto do que nós, qualquer padeiro francês é mais criativo do que nós, qualquer nobre decadente italiano nos joga no chão. Ou seja, somos um povo rasteiro, que precisa ser conquistado. Esqueçamos o sucesso da Petrobrás, da Vale, da Matarazzo, do ITA, da siderurgia que criamos. Esqueçamos o pró-alcool, nossos cientistas. Esqueçamos tudo.


XV

O que há por detrás disso, amigo, é o velho racismo dos “carcomidos”, como eram chamados os defensores da República Velha, ou seja, dos que foram derrubados por Getúlio em 30. O sujeito do Estadão apenasverbalizou isso, do alto da autoridade de representante do jornal que combateu Getúlio, do representante da aristocracia cafeicultora, e que depois apoiou o golpe de 64.


XVI

Enfim, é isso: na visão deles, nós, a negrada, a mestiçagem, não conseguiremos fazer nada. E precisamos ser tutelados por consultores picaretas norte-americanos, padeiros franceses, comerciantes espanhóis, técnicos em mecânica alemães, nobres decadentes italianos e afetados almofadinhas ingleses. Basta ser estrangeiro que é bem vindo e é superior a nós. E esse pessoal servil será festejado por gente igual a esse jornalista que buscou ridicularizar a questão do petróleo do pré-sal. E esse pessoal servil será contratado por essa gente, receberá anúncios dessa gente, será consultor dessa gente, será convidado a fazer visitas “culturais” àqueles países, com tudo pago.


XVII

Amigo, é tudo a mesma mentalidade: o Brasil não pode ser grande, embora seja. Tudo deve ser esculhambado, tudo deve ser aviltado, tudo deve ser difamado. Isso diz respeito à PanAir, à Varig, ao petróleo do Pré-Sal, à Excelsior, ao Pró-Álcool. É a mesma matriz de pensamento, a que busca nos subjugar, nos aviltar, nos humilhar. É que a diz que trabalhador é preguiçoso, que aposentado é vagabundo e já ganha demais. A discussão de uma grande companha aérea internacional está aí. A discussão da tecnologia brasileira está aí: ou a mestiçagem que precisa ser tutelada, ou a grandeza, a genialidade, a alegria da nossa raça brasileira. Escolha.

quarta-feira, julho 08, 2009

As crise econômica e o futuro segundo o FMI

O Fundo Monetário Internacional (FMI) manteve as previsões sobre o desempenho da economia brasileira este ano, que deve sofrer uma pequena contração de 1,3%, mas revisou para cima a expectativa de crescimento para 2010, que passou de 2,2% para 2,5%.
Segundo a entidade, a recessão na América Latina será maior que a prevista inicialmente, devido, principalmente, à queda do comércio internacional, o que fará o PIB regional sofrer uma contração de 2,6% em 2009.
Quem mais vai sofrer é o México, já que a economia local deverá encolher 7,3% este ano, quase o dobro do previsto em abril (3,7%), quando surgiu o foco de gripe suína no país.
No entanto, o Fundo está mais otimista em relação ao ano que vem, quando crê que o México crescerá 3%, dois pontos percentuais a mais que o previsto há três meses.
Ainda de acordo com os dados do FMI, a América Latina está se beneficiando de uma alta nos preços das matérias-primas. Por isso, o organismo elevou em 0,7 ponto percentual, para 2,3%, suas previsões de crescimento para 2010.
Na comparação com o resto do mundo, no entanto, a recuperação da região será mais lenta, haja vista que as previsões são de que a economia mundial sofrerá uma expansão de 2,5% no ano que vem, bem maior que a calculada em abril (1,9%).
Os cálculos referentes aos Estados Unidos também são animadores. Em vez de um crescimento zero no ano que vem, a economia americana deverá crescer 0,8%.
"Passamos pelo pior e a recuperação está chegando", disse em entrevista coletiva Olivier Blanchard, o economista-chefe do FMI. O especialista, porém, destacou que a volta ao crescimento positivo será "frágil".
A razão para o tom mais otimista do organismo é a melhora do sistema financeiro, decorrente das intervenções públicas nos países desenvolvidos, que ajudaram a salvar bancos que estavam na corda bamba.
Ainda assim, a crise fará o PIB global encolher 1,4% este ano, a maior recessão já registrada desde a Segunda Guerra Mundial.
Para a América Latina, 2009 será um ano especialmente difícil. Em abril, o FMI tinha previsto que a economia regional sofreria uma contração de 1,5%. Mas, nos últimos nove meses, a produção regional foi muito afetada pela queda de 20% nas exportações.
A contração de 2,6% prevista para este ano pelo FMI é bem mais pessimista que a apresentada há um mês pela Comissão Econômica Para a América Latina e o Caribe (Cepal), que prevê uma redução de 1,7% no PIB.
No entanto, em relação a 2010, o Fundo se mostrou mais otimista. No que diz respeito ao México, os cálculos indicam uma expansão de 3% no PIB, que será puxada pela melhora da situação nos EUA.
O México também sentirá o impacto positivo da alta do preço do petróleo, que subirá 23% em 2010, segundo as previsões apresentadas.
Para este ano, no entanto, o FMI prevê que o preço do barril despencará 38% na comparação com 2008, quando atingiu níveis recordes.
As outras matérias-primas perderão quase 24% de seu valor em 2009, mas subirão 2,2% em 2010, de acordo com as novas estimativas. EFE

segunda-feira, julho 06, 2009

O plano real da Globonews

Com o pretexto de "comemorar" os 15 anos do Plano Real (aquele do corte dos zeros), o canal Globo News entrou em campanha eleitoral antecipada e fez uma grande festa, convidando para o banquete midiático apenas os tucanos de alta plumagem. Mas esqueceu, estranhamente, de fazer jornalismo, matéria que vende aos seus assinantes. Afinal, o "pai" do Plano, ou seja, o presidente Itamar Franco, o responsável pela criação e implementação Real não foi nem ouvido nem citado nas matérias que enaltecem a "competência" e "sapiência" de FHC e sua turma.
Em seu blog (http://www.viomundo.com.br/), o jornalista Luiz Carlos Azenha acerta o tom dos fatos, dando voz a Itamar, como você pode conferir a seguir:

O ex-presidente da República Itamar Franco fez duras críticas à campanha do PSDB por ocasião dos 15 anos do Plano Real, comemorados hoje. Em entrevista à Rádio Eldorado, Itamar disse que a campanha deturpa e nega a história e lembrou que a equipe de formuladores do plano era composta por integrantes de outros partidos. "A todo instante assistimos na TV o PSDB comemorando os 15 anos do Plano Real. Oras, isso não nos magoa, mas é uma deturpação, uma negação da história." Itamar afirmou que combaterá o PSDB se o partido defender a paternidade do Plano Real durante as eleições 2010.
Presidente de 1992 a 1995, Itamar chamou para si a responsabilidade política pela implantação do Real, em 1994, e ressaltou o papel de outros políticos e economistas. "O grande ministro do Plano Real chama-se (Rubens) Ricupero e, em seguida, Ciro (Gomes). E depois houve Paulo Haddad, Eliseu Resende. O plano não é só de um ministro. E é preciso lembrar que o Plano Real foi assinado pelo presidente da República, não por uma ordem técnica. A parte política foi garantida pelo presidente da República", afirmou.
Na entrevista, Itamar lembrou que, pouco antes da implantação do plano, o então ministro da Fazenda Rubens Ricupero o procurou para dizer que a equipe econômica temia pelo Plano Real porque não conseguia chegar a um acordo sobre o câmbio. Também temia as consequências políticas, por conta das eleições presidenciais, que seriam realizadas naquele ano. "Eu disse para ele resolver a parte técnica porque eu iria implantar o plano no dia 1º de julho. Ele disse ''tecnicamente eu resolvo'', e eu respondi: ''politicamente resolvo eu''."