sexta-feira, outubro 30, 2009

Democratizar os meios de comunicação

O presidente Lula disse que a sociedade brasileira não precisa mais de interlocutores, referindo-se ao fato de não haver mais uma determinação férrea de resultados eleitorais a partir do que é dito, mostrado e publicado na imprensa.
Esse poder de decidir pela indução foi um dos fatores que fez dos grupos de comunicação, potências político-econômicas inabaláveis por quase um século. Abrigados sob a nomenclatura de "formadores de opinião", os barões da mídia foram a voz de indução da sociedade ao longo do século passado mas sentem esse poder se fragilizar em uma atualidade onde todos podemos ser mídia, fragmentando como nunca a audiência dos meios.
Há estudos sérios sobre o fenômeno e, de fato, as eleições mais recentes mostraram, em diversos pleitos especialmente na América Latina, a derrota do agendamento. Os fatos mostram que a mídia não tem mais o poder que tinha, de definir a priori quem ganha e quem perde uma eleição. A população pensa à margem dos meios.
O agendamento pode estar enfraquecido, mas os agendadores ainda ruminam nas sombras. A concentração dos meios de comunicação nas mãos de pouquíssimos contribui para a afinação do discurso hegemônico e para o fortalecimento desses grupos de mando, arraigando preconceitos e ajudando a criminalizar os movimentos sociais, na medida em que super expõe a versão das elites, ocultando a voz das classes subalternas.
No Brasil, aproximadamente 90% da mídia está nas mãos de 11 famílias e 2 igrejas. E o Estado, desde sempre, estabelece uma série de normas e leis que mantêm a permissividade a essa concentração, além de não assegurar o respeito aos limites legais estabelecidos no país. No Congresso Nacional, mais de 270 dos 513 parlamentares detêm hoje concessões de radiodifusão.
E ainda há quem ache que a democratização dos meios de comunicação não é uma bandeira importantes para garantir um horizonte republicano para o nosso país.

quinta-feira, outubro 29, 2009

Marketing político primário

Eles juram que não é erro de concordância, mas sim uma tradução literal de uma legenda homônima em inglês. Mas não deixa de ser curioso que no Brasil haja um partido que chama a si mesmo de "o" Democratas.
Furtivo e recordista em troca de nome (ex-Arena, ex-PDS e ex-PFL), "o" Democratas ocupou o horário nobre de todas as emissoras do Brasil na noite do dia 29 de outubro para tomar o nosso tempo e expor um discurso mal estruturado, raivoso e improdutivo para as intenções da legenda.
Uma grande lição de marketing político ruim e inofensivo.
O programa da legenda foi divido em três partes óbvias e lineares: a) balanço positivo de administrações locais dirigidas por partidários da legenda, com destaque para Brasília; b) tentativa de ligar uma política de grande alcance (no caso a expansão da telefonia celular e a expansão da internet) com a fase em que o DEM governava o país ao lado do PSDB; c) crítica ao governo federal e ao MST - que não disputa eleições - tentando ligar a imagem do movimento dos trabalhadores rurais sem terra, chamuscada pela imprensa, com o governo petista, que tem índices de aprovação, como diria um amigo meu, "albaneses" - uma referência aos índices eleitorais do líder "comunista" da Albânia, Enver Roxha, que vencia os pleitos com, por exemplo, 99,3% dos votos.
O tom, a forma, a retórica do programa do DEM imita o discurso do PT do passado.
Ver esse discurso ser entoado agora repete a perplexidade do personagem da série estadunidense Live in Mars, que dorme na atualidade e acorda, surpreendentemente, nos anos 70.
O DEM, por algum motivo inexplicável, acredita que, imitando o PT dos anos oitenta, chegará a ser PT um dia, ou seja, que fazendo "oposição" retórica em uma época pragmática, incorporará o espírito de oposição real que animava o PT em sua caminhada para ser o maior partido orgânico do país.
Os dirigentes do DEM esquecem que havia, nos anos oitenta, uma audiência social e um ambiente político que justificavam aquele discurso - uma espécie de mantra da base social que o PT movia.
Em uma das cenas do programa, um jovem anda de camisa aberta entre outros jovens, veste roupa verde e azul (alguém disse a eles que é assim que se produz identidade cromática de uma marca). Ocorre que o que sai da boca do jovem é uma bobagem total: sua fala quer fazer crer que a ação dos bandidos que roubaram a prova do ENEM é fruto da "incompetência" do governo. Um delito comum é conduzido à sua culminância política sem qualquer escala intermediária. Seria mais ou menos como dizer que os hackers que invadem conta bancária para roubar dinheiro de cidadãos de bem são todos filhos de Bill Gates, aquele "incompetente" que popularizou o computador com seu sistema operacional fácil de usar.
Quem pode acreditar nisso? Ninguém. Fazer pré-teste das peças? Bem, para isso seria necessário um profissional de marketing político. E isso o DEM não tem.
Digo isso porque, pelo amadorismo estrutural que apresentou, o programa, por certo, não foi feito por profissionais de marketing político. Não posso acreditar que o briefing tenha sido escrito por quem sabe ler pesquisa, já que a retórica do programa não leva à ampliação do espaço do partido no imaginário popular, mas, ao contrário, o leva para o gueto social dos que querem o fim do governo apenas porque não gostam dele. Não há "razão", não há "argumento", não há "convencimento". Há, apenas e tão somente, a crítica, o ataque, o vocifero.
Alguém precisa avisar ao DEM que esse tipo de discurso não provoca qualquer efeito prático a essa altura do século XXI e que, de costas para o futuro, será difícil ver em que direção está rumando. O abismo pode estar no próximo passo.

sábado, outubro 24, 2009

Aceleração do crescimento

As despesas com  publicidade do governo José Serra (SP) aumentaram de R$ 88 milhões no ano 2000 para R$ 180 milhões no ano passado. E não param de crescer. A previsão é fechar 2009 com um incremento de 25%.

sexta-feira, outubro 23, 2009

Belém nas nuvens

A revista de bordo "TAM nas Nuvens" pediu a um grupo de laureados arquitetos que indicassem algum destino no Brasil que, apesar de aparentemente trivial, por alguma característica arquitetônica possa ser visto "com outros olhos".
O arquiteto Arthur de Mattos Casas, que tem escritórios em São Paulo e Nova Iorque e que acumula prêmios internacionais na área, destaca Belém do Pará como um lugar para onde "vale a pena viajar".
O arquiteto escreve, sobre Belém: "É uma riqueza de arquitetura no meio da Amazônia, sem contar a culinária incrível da região. O mercado Ver-O-Peso, construído no século 18, tem uma feira ao ar livre que acabou de ganhar uma cobertura de lona atirantada. Tem também o Mercado de Ferro, com uma estrutura inglesa toda de ferro, e a Igreja da Sé, que passou por uma reforma recentemente. No final do século 19, Belém era muito rica devido ao ciclo da borracha, por isso é repleta de palacetes que tiveram grande influência da arquitetura européia, misturando o neoclássico com o art nouveau. Já fui pra lá três vezes".
Chama a atenção no texto de Arthur a plena ciência de que está falando de uma mistura unica. Belém não repete nenhuma outra cidade. Tem os traços de identidade que fundem diferentes épocas em sua arquitetura característica. Chama a atenção também o destaque a ações feitas por administrações petistas: a completa reforma do Ver-o-Peso, feita pela prefeitura então comandada pelo arquiteto Edmilson Rodrigues, a reforma da catedral da Sé, levada a cabo pelo governo do Estado comandado pela também arquiteta Ana Júlia Carepa e o Mercado de Ferro, que está sendo totalmente restaurado pelo governo Lula.
A pena, é que essa Belém tão bela e rica, quase etérea, esteja hoje submetida a uma administração tão negligente e aculturada. O populismo rebaixado de Duciomar Costa e suas limitações intelectuais evidentes, fundem-se com uma completa ignorância em urbanismo e completam-se com o apetite próprio dos famintos para abocanhar recursos que não produzem obras nem resultados, ajudando, isso sim, a emporcalhar a cidade.
Resgatar Belém da barbárie é a unica forma de fazer dessa Belém nas nuvens a realidade dos que pisam nesse chão.

terça-feira, outubro 13, 2009

Ong expõe criança em comercial de TV

O Estatuto da Criança e do Adolescente e suas modificações mais recentes proíbem a veiculação de imagens de crianças e adolescentes em "situação vexatória".
Crianças e adolescentes não podem ser apresentadas de nenhuma forma se estiverem em situações de risco social ou pessoal. Não se poderá fotografar de costas, de longe, colocar tarja ou alterar digitalmente o rosto para não identificá-las. A direita no congresso nacional reagiu contra a radicalização do ECA porque é a favor da criminalização da pobreza, mas essas medidas são absolutamente necessárias para evitar a exploração da imagem da criança e a produção de danos sociais, morais ou psicológicos a esses meninos e meninas.
Em que pese a reserva legal que temos no Brasil, diariamente os telespectadores do canal a cabo GNT são esbofeteados com a exibição de um comercial de um minuto de duração em que uma criança é exaustivamente exibida em situação de risco social absoluto. Um texto "de oposição" demarca o "abandono" a que a criança é submetida pelo poder público. O rosto da criança, seu corpo, sua possível casa, a rua onde supostamente mora, tudo é mostrado de maneira explícita e sem nenhuma reserva. A criança, indefesa, é agredida seguidas vezes pela superexposição na mídia.
Contraditoriamente, essa violência contra a criança é cometida em nome de sua defesa. A ONG (organização não governamental) que assina a peça é uma multinacional do recolhimento de donativos chamada Actionaid. O objetivo do comercial é sensibilizar o telespectador e arrancar dele R$ 35,00 por mês, uma mesada que a Actionaid promete usar para tirar crianças da miséria e do abandono.
A ONG tem o direito de recolher fundos mas não pode fazê-lo ao arrepio da Lei. Há que impor de fato um limite a exposição exagerada de crianças e adolescentes na imprensa. O que está faltando, então, para que o Conselho Tutelar ou o Ministério Público tire esse comercial infame do ar?

A internet como amplificador de bobagens


Em menos de 24 horas depois que o primeiro gracejo com o ator Zé Mayer apareceu na internet, os posts relacionados chegaram a ser o segundo tópico mais comentado do dia no mundo, atrás apenas do aniversário de Nick Jonas, dos Jonas Brothers e, em vários momentos, ultrapassando o rapper americano Kanye West, que invadiu o palco na premiação do Video Music Awards, da MTV americana com o firme propósito de virar notícia. Percebam que os dois temas que concorrem com Zé Mayer são, também, de suma importância para o futuro da espécie humana.
Para alguns, o sucesso das bobagens sobre o ator da novela de Manuel Carlos mostra o poder da internet em difundir fatos. Pode ser.
Mas para mim, mostra apenas que a quantidade de desocupados que ocupam a web é mesmo incalculável e sua disposição de alimentar assuntos sem nenhum interesse supera, em muito, o desejo de transformar a rede mundial de computadores em um fulcro de inteligência e do debate produtivo. A internet serve, em grande monta, para a difusão da bobagem.
Bom, já que não é do jeito que deveria ser que seja, pelo menos, divertido. Por isso reproduzo aqui alguns dos posts mais eloqüentes sobre o tema:
- 'Zé Mayer pega mulher há tanto tempo que a primeira Helena que ele pegou foi a de Tróia'
- 'A mata só é virgem porque o Zé Mayer nunca foi lá'
- 'Na verdade, o Zé Mayer comeu o Mario atrás do armário'
- 'No show do Wando jogam calcinhas. No show do Zé Mayer jogam diafragmas'
- 'Quando foi ao proctologista, o médico é que levou dedada de Zé Mayer'
- 'Novelas com o Zé Mayer não duram mais que 9 meses por conta da epidemia de licenças maternidade no elenco'.

A caminho da intolerância

A revista Carta Capital, uma espécie de reserva de inteligência na imprensa acéfala do país, reporta-se a um tema perigosamente negligenciado nos debates sobre democracia e comunicação: a expansão do controle de estações de rádios e emissoras de tevê por seitas religiosas.
Esse fato deveria provocar temor e produzir debate entre os cidadãos de bem, mas encontra uma sociedade entorpecida pelo discurso tolo que entoam 24 horas por dia, inclusive no rádio e na tevê, essas corporações capitalistas - que negociam símbolos e atuam no mercado do imaginário da população para acumular capital material e político.

Pegue seu controle remoto e faça um teste.
Para cada canal noticioso no ar hoje, há quatro canais religiosos, bombardeando a população com mensagens velhas, óbvias e recorrentes que culminam, invariavelmente, com um 0800 para aporte financeiro, uma espécie de “compre djá” do paraíso e da vida eterna.
Como cidadão, sou totalmente favorável à liberdade de crença – todo cidadão tem direito de crer no que quiser e professar essa fé de maneira aberta - mas sou totalmente contrário à organização de grupos de negócios religiosos, na mídia ou fora dela, assim como na constituição de agremiações políticas sectárias, pertencentes a um grupo religioso.
Democracia é pluralidade e é incompatível com o pensamento único e a tentativa de impô-lo aos demais, que se constitui sempre no caminho mais curto para a intolerância e para o totalitarismo.
O monopólio do pensamento e da política por grupos religiosos é um modelo experimentado pela humanidade - e rotundamente fracassado. Na idade Média o poder absoluto da igreja resultou não apenas no atraso científico, mas na intolerância mais brutal, com a prática da tortura e da matança de "infiéis". Galileu Galilei e Giordano Bruno são dois exemplos de inteligências científicas submetidas a esse torniquete de imbecilidades. Religiões milenares, como o hinduísmo ou as crenças de indígenas do Novo Mundo - politeístas - eram consideradas "pagãs" e, portanto, passíveis de condenação e segregação.

Ideologicamente, o desejo do retorno a essa época em que as religiões imperavam no campo político e havia uma fusão entre Igreja e Estado está na raíz no avanço político dos grupos religiosos; economicamente, essa empreitada focada nos meios de comunicação quer produzir fortunas que serão, é claro, apropriadas individualmente, gerando o paraíso imediato para os controladores dessas seitas. Política e negócios, ou seja, o jogo do poder, bem terreno, é que está na base dessa suposta disputa pela supremacia no Céu e salvação de almas.
Nos demais cidadãos não pode haver saudosismo de um período da história humana em que a prática mais comum para converter e punir era a tortura e a difusão do medo.
Naquele tempo, além de aparelhos mais sofisticados como a propaganda, a arquitetura e a persuasão visual, utilizavam-se também instrumentos mais simples de convencimento e conversão, como tesouras, alicates, garras metálicas que destroçavam seios e mutilavam órgãos genitais, chicotes, instrumentos de carpintaria adaptados, ou apenas barras aquecidas de ferro.
No caso específico da Santa Inquisição, os acusados eram, geralmente, torturados até que admitissem ligações com Satã e práticas obscenas. Se um acusado denunciasse outras pessoas, poderia ter uma execução menos cruel, gerando com isso uma sociedade de dedos-duros, que usavam as divergências pessoais ou políticas como motivação para acusar parentes, vizinhos e desafetos.
Em alguns países onde o fundamentalismo religioso ganhou o poder político essas práticas seguem sendo diariamente levadas a cabo para punir “infiéis”, ou seja, dissidentes.
O futuro da democracia é incompatível com o fundamentalismo religioso, baseado na verdade única e na separação da sociedade em dois grupos sociais distintos e com direitos diferenciados: os fiéis e os infiéis.
A democratização dos meios de comunicação, por sua vez, é incompatível com o loteamento de canais de rádio e tevê entre organizações religiosas, ainda que em nome de um precário “direito de difusão de idéias” e do suposto fim pacífico dessas organizações.
"Nunca grupos religiosos, evangélicos e católicos, controlaram tantas rádios e tevês. Nem empreenderam ofensiva tão organizada para ampliar seu poder político", diz a matéria da Carta, assinada por Gilberto Nascimento, que exemplifica dizendo que o SBT perdeu, desde 1995, 18 emissoras para grupos religiosos. A matéria mostra que o objetivo dessa cruzada é a ampliação do poder político: a Igreja Mundial, uma espécie de Universal "do B", pretende lançar candidatos em todas as capitais, enquanto a Canção Nova, a mais forte vertente carismática, aposta não em fazer um senador, mas em fazer "uma bancada" no senado.
Ao mesmo tempo, centrais sindicais e organizações populares continuam apartadas de meios de comunicação de massas.
A Central Única dos Trabalhadores, por exemplo, tem um pedido de canal de TV que está amarelando nas gavetas do Ministério das Comunicações há mais de uma década e meia.

sexta-feira, outubro 09, 2009

As meias verdades da imprensa e a palavra do MST

Diante da falta de espaço para o contraditório na imprensa brasileira, é fundamental repercutir posicionamento como o do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terras que, mais uma vez, vira alvo dos ataques da direita brasileira sem que seja dado ao movimento o direito mínimo de expressar a sua posição. Com a palavra, o MST:

"Diante dos últimos episódios que envolvem o MST e vêm repercutindo na mídia, a direção nacional do MST vem a público se pronunciar.

1. A nossa luta é pela democratização da propriedade da terra, cada vez mais concentrada em nosso país. O resultado do Censo de 2006, divulgado na semana passada, revelou que o Brasil é o país com a maior concentração da propriedade da terra do mundo. Menos de 15 mil latifundiários detêm fazendas acima de 2,5 mil hectares e possuem 98 milhões de hectares. Cerca de 1% de todos os proprietários controla 46% das terras.
2. Há uma lei de Reforma Agrária para corrigir essa distorção histórica. No entanto, as leis a favor do povo somente funcionam com pressão popular. Fazemos pressão por meio da ocupação de latifúndios improdutivos e grandes propriedades, que não cumprem a função social, como determina a Constituição de 1988.
A Constituição Federal estabelece que deva ser desapropriada a propriedade que está abaixo da produtividade, não respeitam o ambiente, não respeitam os direitos trabalhistas e são usadas para contrabando ou cultivo de drogas.
3. Também ocupamos as fazendas que têm origem na grilagem de terras públicas, como acontece, por exemplo, no Pontal do Paranapanema e em Iaras (empresa Cutrale), no Pará (Banco Opportunity) e no sul da Bahia (Veracel/Stora Enso). São áreas que pertencem  à União e estão indevidamente apropriadas por grandes empresas, enquanto se alega que há falta de terras para assentar trabalhadores rurais sem terras.
4. Os inimigos da Reforma Agrária querem transformar os episódios que aconteceram na fazenda grilada pela Cutrale para criminalizar o MST, os movimentos sociais, impedir a Reforma Agrária e proteger os interesses do agronegócio e dos que controlam a terra.
5. Somos contra a violência. Sabemos que a violência é a arma utilizada sempre pelos opressores para manter seus privilégios. E, principalmente, temos o maior respeito às famílias dos trabalhadores das grandes fazendas quando fazemos as ocupações. Os trabalhadores rurais são vítimas da violência. Nos últimos anos, já foram assassinados mais de 1,6 mil companheiros e companheiras, e apenas 80 assassinos e mandantes chegaram aos tribunais. São raros aqueles que tiveram alguma punição, reinando a impunidade, como no caso do Massacre de Eldorado de Carajás.
6. As famílias acampadas recorreram à ação na Cutrale como última alternativa para chamar a atenção da sociedade para o absurdo fato de que umas das maiores empresas da agricultura - que controla 30% de todo suco de laranja no mundo - se dedique a grilar terras. Já havíamos ocupado a área diversas vezes nos últimos 10 anos, e a população não tinha conhecimento desse crime cometido pela Cutrale.
7. Nós lamentamos muito quando acontecem desvios de conduta em ocupações, que não representam a linha do movimento. Em geral, eles têm acontecido por causa da infiltração dos inimigos da Reforma Agrária, seja dos latifundiários ou da policia.
8. Os companheiros e companheiras do MST de São Paulo reafirmam que não houve depredação nem furto por parte das famílias que ocuparam a fazenda da Cutrale. Quando as famílias saíram da fazenda, não havia ambiente de depredações, como foi apresentado na mídia. Representantes das famílias que fizeram a ocupação foram impedidos de acompanhar a entrada dos funcionários da fazenda e da PM, após a saída da área. O que aconteceu desde a saída das famílias e a entrada da imprensa na fazenda deve ser investigado.
9. Há uma clara articulação entre os latifundiários, setores conservadores do Poder Judiciário, serviços de inteligência, parlamentares ruralistas e setores reacionários da imprensa brasileira para atacar o MST e a Reforma Agrária. Não admitem o direito dos pobres se organizarem e lutarem.
Em períodos eleitorais, essas articulações ganham mais força política, como parte das táticas da direita para  impedir as ações do governo a favor da Reforma Agrária e "enquadrar" as candidaturas dentro dos seus interesses de classe.
10. O MST luta há mais de 25 anos pela implantação de uma Reforma Agrária popular e verdadeira. Obtivemos muitas vitórias: mais de 500 mil famílias de trabalhadores pobres do campo foram assentados. Estamos acostumados a enfrentar as manipulações dos latifundiários e de seus representantes na imprensa.
À sociedade, pedimos que não nos julgue pela versão apresentada pela mídia. No Brasil, há um histórico de ruptura com a verdade e com a ética pela grande mídia, para manipular os fatos, prejudicar os trabalhadores e suas lutas e defender os interesses dos poderosos.
Apesar de todas as dificuldades, de nossos erros e acertos e, principalmente, das artimanhas da burguesia, a sociedade brasileira sabe que sem a Reforma Agrária será impossível corrigir as injustiças sociais e as desigualdades no campo. De nossa parte, temos o compromisso de seguir organizando os pobres do campo e fazendo mobilizações e lutas pela realização dos direitos do povo à terra, educação e dignidade.

São Paulo, 9 de outubro de 2009 | Direção Nacional do MST"

Frase

"Deus criou o mundo em seis dias, descansou no domingo e na segunda se arrependeu. Desde então, a segunda-feira ficou consagrada como dia internacional do remorso". Luiz Fernando Veríssimo.

segunda-feira, outubro 05, 2009

O Rio deve essa a Lula


Lula poderia ter agido, como muitos de seus pares na política agiriam, com rancor e desprezo pelo Rio de Janeiro, seus políticos, sua mídia, todos alegremente colocados como caixa de ressonância dos piores e mais mesquinhos interesses oriundos de um claro ódio de classe, embora mal disfarçados de oposição política. Lula poderia ter destilado fel e ter feito corpo mole contra o Rio de Janeiro, em reação, demasiada humana, à vaia que recebeu – estranha vaia, puxada por uma tropa de canalhas, reverberada em efeito manada – na abertura dos jogos panamericanos, em 2007, talvez o maior e mais bem definido ato de incivilidade de uma cidade perdida em décadas de decadência. Vaiou-se Lula, aplaudiu-se César Maia, o que basta como termo de entendimento sobre os rumos da política que se faz e se admira na antiga capital da República. Fosse um homem público qualquer, Lula faria o que mais desejavam seus adversários: deixaria o Rio à própria sorte, esmagado por uma classe política claudicante e tristemente medíocre, presa a um passado de cidade maravilhosa que só existe, nos dias de hoje, nas novelas da TV Globo ambientadas nas oníricas ruas do Leblon.
Lula poderia ter agido burocraticamente a favor do Rio, cumprido um papel formal de chefe de Estado, falado a favor da candidatura do Rio apenas porque não lhe caberia falar mal. Deixado a cidade ao gosto de seus notórios representantes da Zona Sul, esses seres apavorados que avançam sinais vermelhos para fugir da rotina de assaltos e sobressaltos sociais para, na segurança das grades de prédios e condomínios, maldizer a existência do Bolsa Família e do MST, antros simbólicos de pretos e pobres culpados, em primeira e última análise, do estado de coisas que tanto os aflige. Lula poderia ter feito do rancor um ato político, e não seria novidade, para dar uma lição a uma cidade que o expôs e ao país a um vexame internacional pensado e executado com extrema crueldade por seus piores e mais despreparados opositores.
Mas Lula não fez nada disso.
No discurso anterior à escolha do Comitê Olímpico Internacional, já visivelmente emocionado, Lula fez o que se esperava de um estadista: fez do Rio o Brasil todo, o porto belo e seguro de todos os brasileiros, a alma da nacionalidade. Foi um ato de generosidade política inesquecível e uma lição de patriotismo real com o qual, finalmente, podemos nos perfilar sem a mácula do adesismo partidário ou do fervor imbecil das patriotadas. Lula, esse mesmo Lula que setores da imprensa brasileira insistem em classificar de títere do poder chavista em Honduras, outra vez passou por cima da guerrilha editorial e da inveja pura e simples de seus adversários. Falou, como em seus melhores momentos, direto aos corações, sem concessões de linguagem e estilo, franco e direto, como líder não só da nação, mas do continente, que hoje o saúda e, certamente, o aplaude de pé.
Em 2016, o cidadão Luiz Inácio da Silva terá 71 anos. Que os cariocas desse futuro tão próximo consigam ser generosos o bastante para também aplaudi-lo na abertura das Olimpíadas do Rio, da qual, só posso imaginar, ele será convidado especial.
Por Leandro Fortes www.brasiliaeuvi.wordpress.com

sexta-feira, outubro 02, 2009

O futuro é agora

Em 2006, a Associação Mundial de Jornais e a consultoria Kairos Future elaboraram cenários possíveis para a indústria da comunicação em 2020, apontando também as 66 tendências que resultam em impactos no cenário desse mercado em todo o mundo. O curioso é que a quase totalidade dessa previsão  já está em operação. Confira a relação das "tendências futuras" que se tornaram presentes mais rápido do que qualquer um poderia esperar:


Infoentretenimento;
Crescimento da disponibilidade (vinte e quatro horas por dia, sete dias por semana);
As pessoas não compram o que realmente querem - as pessoas compram o que encontram disponíveis;
Novas constelações de família - a desconstrução e reconstrução das unidades familiares geram novos modelos de consumo e descortinam novos mercados;
Momento de viver o "just in time";
Infinitas escolhas em produtos e serviços;
Simplificação da vida - resposta ao estresse cotidiano;
Compradores profissionais - shoppers com extenso conhecimento de produtos e serviços; Individualismo;
Velhos parceiros - mais e mais pessoas idosas (mais e mais saudáveis);
Pânico climático - maior preocupação com poluição e emissão de CO2;
Consumidor está no controle - blogs e outras ferramentas;
Geração de consumidores criativos - criação e distribuição de mensagens comerciais de consumidores;
Mobile broadband;
Hype do design - 50% a 70% das decisões de compra ocorrem no ponto-de-venda reforçando o foco no design e embalagens; Papel inteligente;
Palavras boca-a-boca - marketing viral ganha confiança total dos consumidores;
"Long tail" - mídia digital oferece novas possibilidades para nichos de audiência;
Redes sociais - Facebook e outras redes sociais crescem;
Geração de nativos digitais - o total gasto na Internet dobrou no último ano na Suécia (Europa). Pessoas jovens não vêem internet como tecnologia, mas como algo simples que está sempre por perto;
Pesquisa por autenticidade - em um mundo de history fakes, a autencidade se torna mais importante;
Mídia de localização - GPS e outras ferramentas possibilitam conteúdos de localização e inserções publicitárias;
Consumidor como co-produtor de idéias, conceitos, tendências;
Relações públicas e marketing - conteúdo editorial tem maior impacto do que peças publicitárias, o que torna relações públicas uma atividade de vendas;
Jornalismo mais analítico;
Mais plataformas de mídia;
Fragmentação da audiência;
Transações online = receitas online;
Maior compartilhamento de conteúdo criado pelos consumidores - mais formas de expressão dos consumidores na internet;
Jornais gratuitos;
"Snacks news" - pílulas de notícias;
Novas demandas em vendas - vendas de publicidade se tornam extremamente importantes e difíceis - em um ambiente de extrema pulverização de canais de mídia;
Times de vendas tornam-se "media brokers";
Target altamente segmentado;
Mídia digital oferece melhor mensuração - é possível prever o impacto das peças publicitárias, clicks e transações;
Receita dos jornais vem da mídia digital;
Mobile news - consumidores não lêem mais os jornais. Consomem notícias em trânsito para o escritório, para a casa ou em reuniões do escritório acessando o celular;
Tempos difíceis para assinaturas de jornais;
E-paper - displays flexíveis e dobráveis são nova geração de gadgets;
Jornais se tornam exclusivos - acesso para classes exclusivas; Companhias de jornais se tornam apenas mais uma mídia;
Ataque vindo do below the line - ataques criativos em marketing online, ações globais, numa época de rápida movimentação;
Globalização da mídia - consumo global e intenso de mídia na internet;
Estratégias multicanal - diferenças entre jornais, TVs, rádio, revistas e internet ficam cada vez mais fracas. A estratégia é abranger todas as mídias integradas;
Colapso na mensuração - novas ferramentas serão necessárias;
Marketing cada vez mais direto - publicitários querem alcançar consumidores diretamente. Sites de campanhas, clubes de compradores, presença no Facebook são meios de avançar além da mídia tradicional;
Jornalismo cidadão - pessoas jovens querem se envolver e fazer parte do contexto, da reportagem;
Mix de mídia mais complexo - clusters de novas mídias (You Tube, clips, canais de esporte na TV);
Individualismo e queda da audiência de massa;
Desafios na liberdade de imprensa - jornalistas enfrentam dificuldades com censores e perseguições;
Melhor qualidade de material impressos - mais cores e considerável aumento da qualidade na mídia impressa;
Informação instantânea - atualizações de notícias minuto a minuto;
Maior regularidade de informações com simetria na distribuição das notícias;
Informação visual - conteúdos visuais são consumidos mais facilmente;
Mais e mais displays com vídeos vão aparecer na sociedade;
Jovens pessoas com um novo comportamento de mídia - internet é a plataforma de mídia deles;
Serviços - webpages e blogs pessoais gerenciadas com notícias, serviços e atualizações;
Era do print digital;
Interesse em grupos é maior do que interesse na opinião pública geral (target);
Novo modelo de receitas na internet;
Enfraquecimento do controle das marcas e companhias;
Crescimento do contato com o consumidor;
O conteúdo torna-se mais importante do que o canal;
Empresas e companhias tornam-se competidores de jornais no fornecimento de conteúdo;
Perdendo lealdade - se os consumidores não gostam da mídia ou programa, mudam imediatamente para novos canais;
Perda de circulação de jornais;
Avalanche da mídia - super exposição de histórias na mídia;
Jornais hiper locais;
Companhias online se tornam fortes competidores de jornais;
Marketing one-to-one - várias técnicas incluindo inteligência artificial possibilitam ao Google e outros competidores materializar na internet exatos desejos e necessidades dos consumidores.

No caminho?

“No caminho” é uma série em formato de documentário exibida no canal Multishow.
Bem cortado, com trilha primorosa, imagens transbordantes de cor e edição caprichada, "No caminho" mostra a jornada de uma jornalista brasileira à Índia, em busca, segundo ela, “de si mesma” e de sua “espiritualidade”.
A sinopse da emissora é menos intensa: “Numa viagem mística, Susanna Queiroz vai mostrar uma Índia diferente. Entre templos e personagens comoventes, Susanna vai despertar a curiosidade das pessoas com esse país misterioso”.
A expressão “misterioso” revela a sensibilidade do redator da sinopse para a complexidade do tema, mas o que se vê no decorrer do programa tem mais a ver com a busca do "eu interior" da apresentadora, que insiste em mostrar os “mistérios da Índia” transmutados em encantamentos que se desdobram em santidade e eternidade, como se ali fosse o lugar único do encontro pleno de seres humanos e entidades espirituais atemporais. Olhos fechados e gestos contritos ajudam a dramatizar ainda mais a recepção de todos aqueles estranhamentos. O deslumbramento de Queiroz é lisérgico.
Viajando em um trem precário riscando uma paisagem árida, extremamente pobre e sem qualquer atrativo no interior do país das castas, ela olha para a câmera e, com a expressa de uma adolescente deslumbrada, ataca: “Eu nunca vi paisagem tão linda”.  Poderia reconsiderar se fosse a Alter do Chão, em Santarém, no Oeste do Pará.
“No caminho”, Queiroz entrega-se aos devaneios como um típico devoto hindu. Depois de dar flores para uma vaca comer, entrar em uma fila quilométrica apenas para ver de longe um “guru”, sentar-se no chão aonde ratos urinam e banhar-se nas águas poluídas e nada aromáticas do rio Ganges, Queiroz está apta a fazer parte do exército de personagens que, desde George Harrison, o Beatle discreto, endeusaram a Índia simplesmente porque ela é diferente de tudo o que já viram.
Mas ser diferente não significa necessariamente ser melhor.
A Índia não é o lugar da paz espiritual e da elevação, mas o reduto do caos social e do atraso.
As religiões dominam o país e têm um papel preponderante na conduta social, na perpetuação da divisão de classes e castas e na condução política, onde os deuses, como os homens, são sempre discricionários. Hindus representam 80,5%; muçulmanos 13,4%; cristãos 2,3%, sikhs 1,9%, outros1,9%,  de acordo com o censo de 2001. Há 14 línguas oficiais. As principais são híndi, urdu e bengali. O inglês tem presença marcante por causa da presença longa dos súditos da rainha em território indiano, mas não é oficial graças às cicatrizes deixadas pelo colonialismo britânico.
O país que alguns cultuam como o lugar do encontro cabal do ser humano com sua plenitude espiritual é, na verdade, o escaninho da miséria, do atraso e da opressão de classe, ocupando a posição 132 entre 179 países no Índice de Desenvolvimento Humano. O Brasil que já esteve ladeando a Índia, hoje está em 70º.
O índice de mortalidade infantil entre os 20% mais pobres da população indiana é três vezes maior do que entre a parcela mais rica. E existem disparidades gritantes entre os Estados do norte do país, que fazem parte do chamado "cinturão da pobreza", como Uttar Pradesh e Bihar, e os mais bem sucedidos, como Tamil Nadu e Kerala. Com uma população maior do que a da Nigéria, o Estado de Uttar Pradesh imuniza apenas uma em cada cinco crianças contra as principais doenças infantis.
O ataque à pobreza e à ignorância tem obstáculos objetivos. O analfabetismo atinge 34,8% da população acima de 15 anos e 28,5% sobrevivem abaixo da linha de pobreza, ganhando US$ 1,25 por dia.
Mas o que dizer do crescimento econômico indiano tão propalado em nossa imprensa econômica?
Há mais de duas décadas a Índia se encontra perto do topo da superliga mundial do crescimento. O "índice hindu de crescimento" vagaroso que caracterizou as três primeiras décadas após a independência está ficando cada vez mais para trás na memória. Novos e dinâmicos setores econômicos surgiram no país, mais visivelmente nos centros florescentes de alta tecnologia de Bangalore e Hyderabad. E os investimentos externos, embora ainda sejam pequenos quando comparados aos que são feitos na China, aumentaram de US$ 1 bilhão por ano em meados da década de 1990 para US$ 5 bilhões neste ano.
Mas riqueza e crescimento industrial não querem dizer distribuição de riqueza e do resultado desse crescimento industrial. Na Índia, pode significar apenas que os ricos se tornem mais ricos.
Enquanto no Brasil a renda dos mais pobres cresceu sete vezes mais rápido do que a renda dos mais ricos desde 2001, na Índia em uma década a renda dos mais pobres cresceu apenas duas vezes, mesmo com um crescimento econômico superior, nominalmente, ao nosso.
Por enquanto, no milenar paraíso de “No caminho”, o grande "mistério" é tentar entender a razão de tamanha grandeza espiritual não ajudar a superar a barbárie material, a miséria absoluta e a ignorância.

quinta-feira, outubro 01, 2009

Frase

"Desde 2001, a desigualdade vem caindo no Brasil. A renda dos mais pobres cresce sete vezes mais rápido do que a renda dos mais ricos. Todos estão ganhando". Ricardo Paes e Barros, do Ipea.

Eleições e internet

Com a sanção presidencial da nova lei eleitoral, que libera uso da internet nas campanhas, a maioria dos candidatos já pensa como tirar proveito das possibilidades que a rede oferece para conquistar votos. Mas os políticos e estrategistas que imaginam poder usar a web da mesma maneira que as mídias e a publicidade tradicionais poderão ter uma surpresa indigesta.
"Se no passado as estratégias de campanha giravam em torno do controle das mensagens, agora, com a internet, os responsáveis pelas campanhas devem abrir um pouco mão desse controle porque, de certa forma, você deve entregar a campanha ao que os eleitores têm a dizer."
A advertência é de Christopher Arterton, um dos principais especialistas em estratégia política dos Estados Unidos e estudioso da relação entre a internet e campanhas eleitorais.
Arterton, que é fundador da primeira faculdade americana para formação de políticos profissionais, defendeu que, para tirar proveito da web, as campanhas precisam estimular a participação dos eleitores, mas sem se preocupar com eventuais críticas.
"Quando Obama anunciou que iria apoiar a volta de uma lei de espionagem que permite aos Estados Unidos vigiarem estrangeiros suspeitos de terrorismo, muitos eleitores ficaram descontentes. E organizaram um protesto no site da campanha do próprio Obama. Certamente seria algo muito incômodo para vários políticos", exemplifica Arterton.
Mas foi exatamente isso, continua ele, que transformou a campanha do democrata num novo paradigma político. "A campanha de Obama foi mais uma cruzada", diz, em referência às milhares de pessoas que participaram da campanha voluntariamente.
Reitor da Escola de Gerenciamento Político da George Washington University e ex-analista de pesquisas eleitorais da revista Newsweek e do Instituto Gallup, Arterton sabe que dificilmente um fenômeno como o de Obama aparecerá tão cedo na política mundial - e muito menos no Brasil, que já elegeu seu líder carismático em 2002.
Ainda assim, encoraja os candidatos brasileiros a apostarem na web. É isso que o traz a São Paulo, onde abrirá o seminário "O Efeito Obama", nos dias 15 e 16 de outubro.
A íntegra da entrevista pode ser lida no estadao.com.br.
O frisson acrítico e a unanimidade na análise sobre a questão vem provocando uma inquietação em meu espírito que se agrava com o fato de gente inteligente acreditar, uma vez mais, que o que é bom para os Estados Unidos, um país que pratica o bipartidarismo de fato e que tem 80% de sua população com acesso qualificado à web, é bom para o Brasil.
Essa transposição de realidade não é recomendável.
Na minha modesta opinião o que deve ser levado em conta na análise do peso da internet e de outros caminhos alternativos na comunicação política em nosso país na comparação com seu uso nos Estados Unidos está sendo menosprezado por analistas como Arterton, um evangelista do papel da internet: o fato de que no Brasil as inserções em rádio e TV são gratuitas e todas as legendas têm tempo de antena garantido, enquanto nos Estados Unidos, esse é um direito garantido apenas para quem tem muito dinheiro, ou seja, os partidos que se revezam no poder desde sempre.
Legendas históricas na política daquele país, com quase um século de atividade como o Partido Comunista dos Estados Unidos (CPUSA) ou o Partido Socialista dos Trabalhadores (SWP) jamais colocaram seus candidatos no rádio e na TV enquanto no Brasil legendas folclóricas como Prona e PCO têm esse direito garantido e falam com milhões de cidadãos de um palanque que não está disponível no país que se diz o mais democrático do planeta.
Essa diferença não é pequena, especialmente se levarmos em conta que as inserções de rádio e TV nos Estados Unidos consomem mais de 80% das verbas de campanha e tornam proibitivo o uso desses meios para legendas outras que não Democratas e Republicanos.
Que a internet será um instrumento importante nas próximas eleições, já é praticamente um consenso, mas seria errôneo acreditar que uma mídia fragmentada – milhões de canais simultâneos - tenha um peso maior que o rádio e TV – mídias de massa e altamente concentrada em um número pequeno de canais – em um país com uma cultura televisiva tão arraigada quanto o nosso.