quinta-feira, julho 29, 2010

Prestígio

A palavra veio do latim praestringere, e significa "vendar os olhos de alguém". Em sua origem, a palavra era aplicada a truques de magia e a ilusionismos. Apenas no século XVIII é que surgiu o sentido atual, de "influência que advém do exercício de um cargo ou função". Muita gente já não percebe essa sutileza, mas hoje, como dantes, o prestígio ainda segue sendo apenas uma ilusão passageira.

Acidentes de trânsito e Lei Seca

É curiosa a tendência que cultiva a imprensa nativa de contornar os problemas ou de atribuí-los a uma origem difusa chamada "governo". Baixada a tensão produzida pelo envolvimento do goleiro do time mais popular do país no "desaparecimento" (ou na "finalização", no jargão jurídico-policial) de sua amante, agora, a temática da hora é a violência no trânsito. O aumento do número de acidentes fatais nas estradas em julho deste ano e casos de grande repercussão, como a morte por atropelamento do filho de uma conhecida atriz, colocaram na ordem do dia o debate, o que poderia ser salutar não fosse um fato singelo: a liberalidade na produçao, venda e consumo de bebida alcóolica passa incólume por essa tensão, não sendo sequer tocado quando os "especialistas" reunem-se para pensar soluções para a questão dos altos índices de acidentes fatais no trânsito, seja nas estradas ou nas ruas do país. Sabemos que o consumo de bebida alcóolica está na raiz de 75% dos acidentes de trânsito. Mas esse elemento nunca está posto no desenho que se faz no chão de asfalto quando a perícia chega ao local do sinistro.
Bebidas alcóolicas provocam acidentes, grande parte deles fatais. Mas não só. Pesquisas indicam que o consumo de álcool está ligado a incêndios, afogamentos, acidentes de trabalho (operação de máquinas), suicídios, quedas, acidentes com barcos, jet-ski, assaltos, brigas, violência doméstica e contra crianças, estupro, comportamento agressivo, nervosismo, resfriados, risco elevado de pneumonia, doenças do fígado (cirrose), pancreatite, tremor nas mãos, dormências, perda de memória, envelhecimento precoce, câncer de boca e faringe, insuficiência cardíaca, anemia, câncer de mama, úlcera gástrica, gastrite, hemorragia digestiva, deficiência de vitaminas, diarréia, má nutrição, disfunção erétil, risco de má formação do feto em gestantes e nascimento de filhos com diferentes graus de retardo mental, afora moléstias desconhecidas, que se cruzam com outras e não explicitam sua interação com o consumo de bebida.
Então, qual a razão de não progredir no congresso a proposta de repetir em nosso país a experiência do Reino Unido, onde os bares fecham às 23:00h e bebida alcóolica tem tantas sobretaxas tributárias que torna o consumo de grandes quantidades desses alteradores de percepção quase proibitivo? Além de fechar bares antes da meia-noite, na terra da Rainha uma rigorosa lei restritiva à propaganda de bebidas desestimula o consumo, especialmente entre os mais jovens enquanto no Brasil a propaganda de bebida visa alcançar e fidelizar justamente os mais jovens.
A resposta para essa inquietante questão é simples: a indústria de bebida alcóolica em nosso país é responsável por manter a mídia em patamares de lucratividade insanos. Não me dedico a coleta de dados sobre o tema, mas o investimento publicitário do setor de bebidas havia sido estimado em R$ 525 milhões no terceiro trimestre de 2007, com maior participação (R$ 377 milhões) na televisão aberta. Comparado com o ano anterior, essa evolução do investimento de bebidas na televisão aberta, por exemplo, foi de aproximadamente 105%. De lá para cá esse volume vem crescendo acima da inflação a cada ano.
Para conter os acidentes de trânsito é preciso frear a indústria da morte mantida pelos fabricantes de bebida alcóolica. É preciso Lei Seca, restrição de propaganda e elevação de tributos para compensar os custos indiretos que o alcoolismo gera. Quem vai pisar no breque?

Criatividade na cabeça

Uma agência de publicidade do Cazaquistão criou uma campanha irreverente em prol do uso de capacetes. Naquele país os scooters são a grande coqueluche do momento. A primeira opção de uma lista com 14 sugestivos temas é a do modelo Tiger Woods. Na verdade um “casco” aberto com o desenho de uma bola de golfe.
Apesar da sugestão bem humorada e criativa, os capacetes estariam fora das normas brasileiras. Eles só podem ser utilizados aqui com viseira ou com os óculos de proteção.
De acordo com a Resolução 257, publicada no dia 6 de dezembro de 2007, pilotar ou conduzir passageiro sem o uso do capacete ou fora das especificações implicará nas sanções da lei, previstas nos incisos I e II do Art. 244 do CTB, que estabelece multa, cinco pontos na Carteira de Habilitação (CNH) e retenção do veículo para regularização.

Mas vale pela criação.




De novo: a Lei da Ficha Limpa

Estado por estado, os Tribunais Regionais Eleitorais vão colocando uma pá de cal na cláusula da chamada "Lei da Ficha Limpa" que, de modo absolutamente arbitrário e insconstitucional, impõe a retroatividade da norma legal, abrindo o precedente perigoso de usar artefatos jurídicos para violar direitos. Se uma pessoa errou e foi punida ou usou um artifício legal para evitar a punição, essas ações se deram ao abrigo da Lei e não à sua revelia. Nenhuma normal legal posterior pode ignorar ou atropelar esse direito sob pena de, no futuro, a lei não servir para ordenar, corrigir e apenar, mas sim para perseguir cidadãos de pleno direito.
Algumas pessoas, crédulas no que publica a imprensa e na opinião dos falsos vestais, acham que a chamada "Lei da Ficha Limpa" é uma bênção que fará cair sobre a cabeça dos impuros a longa espada da justiça. Bobagem. Como já disse anteriormente, seduzidas pela visibilidade midiática, as togas estão jogando para a torcida. Se desejassem algo mais que seus quinze minutos de visibilidade na mídia, bastaria aplicar aos postulantes de cargos públicos as mesmas regras que valem para os concursos públicos, ou seja, aplicar ao processo eleitoral o estatuto do funcionalismo público, para termos uma regra legal válida e útil para reduzir a quantidade de marginais que postulam mandatos a cada dois anos.

sexta-feira, julho 09, 2010

Guerrilha de garagem

Use técnicas de marketing de guerrilha para impressionar os seus vizinhos. A ideia é de uma empresa alemã chamada "Your Style Garage", que cria cartazes autocolantes para portas de garagem que dão uma impressão de transparência, como se estivessem mostrando o seu interior, de maneira extremamente realista. Os preços variam de US$ 199 a US$ 399, para a porta dupla.





terça-feira, julho 06, 2010

Portuários dos Estados Unidos dão o exemplo


Em uma ação histórica e sem precedentes, mais de 800 ativistas, entre trabalhadores e apoiadores, bloquearam os portões das docas de Oakland nas primeiras horas da manhã do sai 20 de junho, solicitando que trabalhadores portuários se recusassem a atravessar o piquete no local programado para descarregar um navio israelense.  
De 5: 30 às 9: 30 da manhã foi realizado um protesto militante e vigoroso na frente dos quatro portões dos Serviços de Estiva da América, com pessoas cantando palavras de ordem como "Palestina livre, livre; não atravesse o piquete” e "O ataque a um é um ataque a todos, abaixo o muro do apartheid".
Citando as disposições de segurança e saúde do seu contrato, os trabalhadores do Sindicato de Portuários e Armazenamento Internacional recusaram-se a entrar para trabalhar. Entre 8:30 e 9:00 h, uma negociação de emergência foi realizada no Estacionamento Maersk, nas proximidades, com um árbitro "instantâneo" chamado para decidir se os trabalhadores poderiam recusar a trabalhar sem medidas disciplinares.
Às 9:15, após reavaliar os protestos de centenas em cada portão, o árbitro decidiu em favor do sindicato, que era realmente inseguro para os trabalhadores entrar nas docas. Ouviram-se gritos de "Viva a Palestina"! Jess Ghannam, Aliança Palestina Livre, e Richard Becker da coalizão ANSWER anunciaram a vitória. Ghannam disse, "isso é um fato histórico, nunca foi bloqueado um navio de Israel nos Estados Unidos"! As notícias de que um navio contêiner da empresa de transporte marítimo israelense Zim havia sido programado para chegar à área da Baía hoje desencadeou uma tremenda corrente de solidariedade com a Palestina, especialmente após o massacre israelense de voluntários levando ajuda humanitária a Gaza em 31 de Maio.
Com antecedência de 10 dias da chegada do navio, o “Comitê de Trabalhadores e da Comunidade em Solidariedade ao Povo Palestino" foi criado. Na quarta-feira, cerca de 110 pessoas de sindicatos e da comunidade reuniram-se para organizar a logística, o alcance e o apoio da população. As organizações presentes incluíram a “Frente de Defesa do Direito de Retorno do Povo Palestino Al-Awda”, a Coalizão ANSWER, a regional da área da Baía do USLAW e a Comissão Sindical pela Paz e Justiça da região.
Esta semana o Conselho Sindical de São Francisco e o Conselho Sindical Alameda aprovaram retumbantes resoluções denunciando o bloqueio de Israel a Gaza. Ambos os Conselhos emitiram notas públicos sobre a ação dos portuários.
O ILWU tem uma história de orgulho de estender sua solidariedade à luta de povos de todo o mundo. Em 1984, quando o povo negro da África do Sul exercia uma intensa luta contra o apartheid sul-africano, o ILWU recusou descarregar o navio sul-africano "Ned Lloyd" por um tempo recorde de 10 dias. Apesar da multa de milhões de dólares imposta ao sindicato, os trabalhadores portuários mantiveram-se fortes, fornecendo um enorme impulso ao movimento antiapartheid.
A ação de Oakland, no sexto maior porto dos Estados Unidos, é o primeiro de vários protestos e boicotes planejados em todo o mundo, incluindo a Noruega, a Suécia e a África do Sul. É certo que inspirem outros a fazerem o mesmo.

Um tom conhecido

É impressionante o tom que vem sendo usado pela imprensa para tratar Dunga, o treinador da seleção brasileira. Há um deboche, uma raiva não contida, uma evidente vontade de incitar o povo contra o treinador e contra a própria seleção. Isso não ocorreu antes. Não ocorreu, por exemplo, em 2006, quando a impressão geral era de desinteresse dos jogadores pelo rumo da seleção.
II
Mas há mais um aspecto: a Sportv publicou um matéria de tal maneira desrespeitosa em relação ao Paraguai, a pretexto de falar sobre sua seleção de futebol, que foi obrigada a se retratar dois dias após. A matéria era de extremo mau gosto, provocativa, debochada, estúpida. Uma agressão gratuita a nossos vizinhos, a gente com quem convivemos muito bem há muitos anos.
III
São dois os fatos, portanto: o primeiro, o tom em relação a Dunga e à seleção, muito superior ao usado em 2006. O segundo, a matéria de baixíssimo nível feita contra o Paraguai.

IV
Refleti sobre isso e me dei conta do que efetivamente ocorreu. Esse tom jocoso, desrespeitoso, debochado, irônico, superior, sarcástico, é exatamente o que vem sendo utilizado pela imprensa contra o Presidente Lula. A cada momento a imprensa faz questão de vincular a imagem de Lula a qualquer coisa negativa ou de pobre, como cachaça, por exemplo. Durante a copa, por exemplo, um grupo de assessores do Presidente resolveu, por mera brincadeira de um momento de euforia, apostar uma garrafa da – dizem – excelente cachaça fabricada pelo Vice-Presidente José Alencar. A curiosidade é que, segundo divulgado, o Vice-Presidente teria sido apenas comunicado que seria o fornecedor do brinde. A manchete estampada em alguns informativos foi vinculando Lula à Cachaça.

V
Há um amontoado de críticas que provavelmente fariam corar os racistas da África do Sul quando estavam no poder. São as expressões como “o sem dedo”, ou “o analfabeto”, que esse tipo de gente não tem coragem e nem condições de utilizar em público. Falam à boca pequena, ironizam nos seus pseudo-refinados meios. É o mesmo que fez Boris Casoy quando, ao final do ano passado, criticou os garis que se atreveram a desejar final ano novo a todos. Boris dizia: “era só o que faltava, o que há de mais baixo na sociedade desejando feliz ano novo”. Ou seja, uma visão escravista, de humilhação do ser humano.

VI
Aquela visão de Boris Casoy é exatamente a visão que alimenta esse tipo de comentário feito contra o Presidente da República. Agora mesmo, à noite, o Jornal Nacional critica a visita de Lula a um país africano porque há uma ditadura no poder há 31 anos. Ora, então o Jornal Nacional critica visitas de Obama à China? O Jornal Nacional critica visitas de Obama à Arábia Saudita? É evidente que não, mas tudo é vendido como se fosse uma imensa gafe. Quem entende de boa educação, quem entende de etiqueta, quem entende de diplomacia, quem entende de finesse, pois, é o Jornal Nacional, é a grande imprensa. Eles é que podem dizer o que é certo e o que é errado, com quais países o Brasil pode manter relações diplomáticas, quem pode ou não jogar na seleção brasileira.

VII
Friso, primeiro, que quando da visita da seleção ao Presidente da República, na ida para África, Dunga fez questão de demonstrar seu azedume em relação a Lula, cumprimentando-o visivelmente a contragosto. Ou seja, não há nada em comum entre Dunga e Lula. A questão é outra: é que o ódio mal dissimulado, esse tom de deboche permanente, é exatamente o tom usado pela grande imprensa contra os seus desafetos.

VIII
É ali que emerge a soberba, o sentimento de superioridade. O tom que vem sendo usado contra a seleção e contra Dunga , o tom que foi utilizado contra o Paraguai – sim, o país Paraguai, e não a seleção paraguaia – é exatamente o mesmo tom que a grande imprensa usa contra Lula.

IX
Concluo, pois: o uso permanente desse tom desrepeitoso contra alguém que esses meios de comunicação consideram “inferior”, agora teve as comportas arrombadas. Passaram a utilizar esse tom contra a seleção, contra Dunga, e agora contra o Paraguai. Pode observar. É exatamente o mesmo tom, a mesma arrogância, o mesmo ódio mal disfarçado, a mesma prepotência, o mesmo deboche, a mesma ironia, o mesmo preconceito.


Por Castagna Maia