sexta-feira, março 30, 2007

Life is death

A Time, unidade da Time Warner Inc., vai deixar de publicar a versão impressa da ‘Life’, revista fotográfica vendida semanalmente como encarte de jornal desde 2004. A companhia informou que apenas o site da publicação vai continuar existindo.
Segundo a executiva-chefe da Time Inc., Ann Moore, "o crescimento requer que se assumam riscos, e as vantagens potenciais eram imensas, mas, infelizmente, o timing funcionou contra nós". A Life começou a ser publicada pela Time, em 1936 e foi fechada em 1976. Voltou a ser publicada em 1978 antes de ser fechada novamente em 2000.
A revista será publicada pela última vez em 20 de abril. Com o fechamento da revista, um dos ícones do meio editorial mundial, a Time vai demitir 15 funcionários editoriais e 27 de seu departamento comercial.
O anúncio aconteceu depois da empresa ter lançado uma versão redesenhada de seu semanário noticioso americano ’Time’. No início deste ano a companhia anunciou planos de cortar 289 profissionais de sua força de trabalho, estimada em 11.300 pessoas, para cortar custos, enquanto investe mais na internet. As informações são da Reuters. Como um amante da mídia impressa e da qualidade da fotografia e da diagramação conservadora da Life, lamento o fato, mas reconheço que é apenas mais um sinal dos tempos.
Na verdade, Life é apenas uma vítima de grande porte dos avanços da internet e dos meios digitais sobre a imprensa tradicional. Outros cadáveres ilustres ainda estão por vir.
Veja aqui as principais capas de Life: http://www.life.com/Life/gallery/0,26649,1541886_0,00.html

sexta-feira, março 23, 2007

TV Pública e financiamento privado

O ministro das Comunicações, Hélio Costa, quer que as empresas privadas ajudem a financiar o novo projeto de TV Pública do governo. Costa disse que proporá ao presidente Luiz Inácio da Silva a criação do que chamou de "Parceria Público-Privada (PPP) da TV Pública", a qual permitirá às empresas descontarem do Imposto de Renda doações feitas ao projeto. Segundo o ministro, a idéia não é criar um novo canal, mas expandir a Radiobrás, que chega a 30% do território nacional. Os custos estimados da empreitada somam R$ 250 milhões. Costa lembrou que a criação de mais canais públicos está prevista no decreto que determinou a implantação da TV Digital no Brasil. E negou que a intenção do governo seja fazer propaganda por meio do canal, que será veiculado em TV aberta. "TV estatal é o que o (Hugo) Chávez (presidente da Venezuela) faz, é o que se faz em Cuba", declarou Costa. "Não tem ninguém querendo fazer TV estatal nem culto à personalidade. Queremos abrir as ferramentas da TV moderna, da TV digital", disse. Costa destacou que a Lei da TV a Cabo prevê a obrigatoriedade de as operadoras transmitirem canais de Executivo, Legislativo e Judiciário. "A elite pode ter acesso a tudo isso, mas quando é na TV aberta, quando é para o povão, tem polêmica", reclamou. O ministro se reunirá com o presidente Lula para discutir a criação dos novos canais.

quarta-feira, março 14, 2007

Futebol em qualquer lugar

ESPN é um canal estadunidense de tv paga que transmite programação diária dedicada 24 horas a diversas atividades esportivas. Seu público-alvo é majoritariamente masculino. Iniciou sua transmissão em setembro de 1979. Hoje, a ESPN conta com filiais no Brasil (ESPN Brasil), na Argentina (ESPN Sur), além de outros países. A ESPN é a principal responsável pela transmissão de eventos como a NBA, a NFL, o Tour de France, além de outros, como alguns campeonatos europeus de futebol. Atualmente, a ESPN é o canal de esportes com maior audiência no mundo, sendo transmitida em todo o continente americano e em alguns países da Europa e da Ásia. Além da ESPN, há também a ESPN 2, que transmite eventos não transmitidos pela principal. Hoje, a emissora tem como principais programas o Sportscenter (um telejornal esportivo exibido todas as noites pelo canal) e o Perfiles, um programa de entrevista exibido semanalmente. A ESPN faz parte da The Walt Disney Company.
No Brasil, a ESPN conta com dois canais: ESPN Internacional (com a programação da ESPN Latino-americana narrada em português). O canal transmite os principais campeonatos europeus de futebol (Espanhol, Inglês, Italiano e Alemão, além da Uefa Champions League), a NFL e a NBA entre outros. Em 2007 o canal ganhou seus primeiros programas feitos 100% no Brasil, casos do "The book is on the table", voltado aos esportes americanos, o "Fora de Jogo", falando do futebol europeu e o "É rapidinho", com um formato inédito de debate de esportes, onde quando o tempo acaba, o assunto muda.
A campanha que postamos aqui é uma ação de guerrilha que o canal desenvolveu no Brasil em 2006. No título deste post poderia trocar-se a palavra "futebol" por "publicidade" e o sentido não seria perdido. A ação é simples e direta e atinge em cheio ao público-alvo da emissora. Bolas de naftalina são colocadas sobre uma superfície verde, vazada, a frente da qual se colocou uma trave. Reproduz uma grande área de futebol, em miniatura. Quando os "jogadores de urinol" encontram os esféricos de naftalina, mimetizam as bolas de futebol, empurrando-as em direção ao gol. Uma solução interessante para comunicar até em um ambiente onde, a princípio, nada poderia remeter à temática de um canal de TV a cabo. Bola dentro!

O Poder Executivo deve ter uma rede de TV?

Comunicação é um tema de enorme importância do ponto de vista da democracia, da soberania nacional e da economia.
A área da comunicação, entendida no sentido amplo (telefonia, internet, rádios e televisões, jornais e revistas, indústria cultural), é um dos setores mais importantes do capitalismo moderno. A importância não é meramente econômica. A influência das grandes potências, a soberania nacional e a maior ou menor democracia política dependem de como se organiza a comunicação em cada país. Todos sabemos o papel que Hollywood teve na expansão do american way of life. Todos vemos a movimentação da Índia e China neste terreno, bem como da França. Vemos, também, a batalha que a Telesur e a Al Jazeera travam contra as grandes redes. Comunicação é um assunto estratégico, que precisa ser debatido publicamente. Não podemos aceitar a interdição tentada por quem confunde liberdade de imprensa com liberdade de empresa. Neste sentido, apoiamos a realização de uma conferência nacional, convocada pelo governo federal e aberta a todos os segmentos afeitos, para debater o tema. Apoiamos, também, todas as iniciativas que visam a democratizar a comunicação no Brasil. Interromper a repressão contra as rádios comunitárias. Democratizar o emprego das verbas publicitárias de governos e empresas públicas. Impedir que concessões públicas se convertam em propriedade privada. Garantir que os movimentos sociais tenham suas emissoras de rádio e TV. Estimular a imprensa democrática. E cumprir a Constituição, que prevê a existência de um setor estatal e outro público. A premissa é que o acesso à informação e à comunicação constituem direitos básicos, tal como a educação e a saúde. Neste sentido, a criação de uma rede pública de TV é um passo necessário de uma longa caminhada. Quanto à proposta apresentada pelo infelizmente ainda ministro Hélio Costa, esta apresenta diversos problemas, contraditórios inclusive com os propósitos do governo. Trabalharemos para reverter estes problemas, presentes também em recente decisão do Senado Federal.

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Artigo de Valter Pomar, secretário de Relações Internacionais do PT, originalmente publicado no jornal O Estado de S. Paulo de 14/3/2007.

segunda-feira, março 12, 2007

Ao povo, a comunicação

Em tempos em que comunicação de governo volta a estar em pauta, recomendo a leitura de "Raízes no Libertador – Bolivarianismo e poder popular na Venezuela", (Editora Insular, 2005). É um recorte sobre os movimentos da comunicação na Venezuela Bolivariana, com textos de oito autores latino-americanos que enfocam diferentes aspectos da chamada "revolução bolivariana".
Os temas dos ensaios foram discutidos durante a primeira edição das Jornadas Bolivarianas, organizadas pelo OLA na Universidade Federal de Santa Catarina. São leituras interpretativas sobre a constituição bolivariana, comunicação, educação, movimentos sociais e poder popular, democracia participativa, petróleo, num esforço para compreender os desafios e transformações da Venezuela governada por Hugo Chávez, o inimigo público número um dos Estados Unidos na América do Sul.
Durante a primeira edição das Jornadas Bolivarianas, a jornalista Elaine Tavares, autora do texto "Ao povo, a comunicação...", publicado no livro, apresentou um cenário de como o revolver de conceitos mexeu também com a comunicação venezuelana. Elaine, que faz parte do grupo do OLA e é autora do livro "Jornalismo nas margens – Uma reflexão sobre comunicação em comunidades empobrecidas" (Companhia dos Loucos, 2004), discute há uma vida a questão da comunicação popular e comunitária e deixa claro que nesse primeiro momento do seu debruçar-se sobre a comunicação venezuelana o recorte apresentado é parcial, mas já permiteconstatar, de forma inegável, o número de veículos populares e livres que fermentam, na rede mundial de computadores, a visão de uma Venezuela onde o povo é capaz de ser protagonista de sua história inventando também o seu próprio jeito de comunicar.
Hoje, como lembra Elaine, há uma tremenda batalha sendo travada nas prensas, nas ruas, nos bairros e nas ondas do ar da Venezuela. E a arma principal dos que sempre querem a derrocada da revolução bolivariana é a comunicação. À frente, Gustavo Cisneros, que segundo analistas, está sendo preparado por Washington para concorrer contra Chávez nas próximas eleições. O multimilionário dono da maior rede de televisão da Venezuela, a Venevisión, e de tantos outros veículos de informação, é um dos homens mais ricos da América do Sul, com uma fortuna estimada em quase cinco milhões de dólares.
“É certo que Cisneros não é o único a mandar na comunicação do país”, como lembra Elaine. “Há ainda uma meia dúzia de empresários, mas todos seguem o mesmo diapasão: satanizar o presidente.” Foi assim no pré-golpe e continua sendo. Basta dar uma olhadela nos principais diários digitais do país. “O poder da mídia é demolidor na Venezuela e, por isso, a meta de Chávez, tomado pelo que chama de “obsessão comunicacional”, é de avançar e consolidar espaços de comunicação alternativa marcadamente popular.”
Elaine conta que, durante os dias do golpe, em 2002, em que Chávez ficou preso e Carmona assumiu a presidência, a reação popular e grande parte da resistência se fez nas ruas dos bairros pobres e através da comunicação alternativa. Toda a mídia oficial privada fervia de alegria pelo golpe. Até mesmo a televisão estatal, que estava sob o controle do governo, foi tomada pelos golpistas e passou a retransmitir no mesmo tom das empresas privadas.
Foram os panfletos populares, as rádios comunitárias, a imprensa alternativa, que fizeram a diferença ao difundir a informação real do que se passava nas entranhas do poder. Foi inclusive uma rádio comunitária a primeira a divulgar que Chávez não havia renunciado, dando mais ânimo ao povo para resistir em frente ao palácio.
No período pós-golpe a vida dos chamados alternativos fervilhou. Só na capital, Caracas, o número de jornais populares passou de 100. Foi naqueles dias que nasceu a televisão comunitária Catia TV, que começou abrangendo apenas o setor oeste da capital e, em 2004, quando o livro foi lançado, já chegava em todos os cantos da cidade, com 80% da programação criada pela comunidade. Em todo o país já são 10 emissoras comunitárias irradiando informação fora do eixo privado. Além disso, uma série de equipes de televisão independentes produzem programas para serem transmitidos pelas comunitárias.
Muitos periódicos acabaram morrendo, mas ainda perduram 40 jornais populares só na capital. As rádios comunitárias continuam nascendo e o governo tem apostado nelas. Até agora, 153 emissoras foram legalizadas pelo Conselho Nacional de Comunicação e a fila de espera é grande. O governo bolivariano impulsiona a criação de novos veículos e hoje há uma política pública de incentivo que se expressa em oficinas de formação e apoio aos jovens interessados em fazer comunicação popular.
Segundo Iván Gil, diretor geral dos Meios Alternativos e Comunitários do Ministério das Comunicações, entrevistado por Elaine, o processo de distribuição das verbas para o setor de comunicação é discutido e decidido pelas comunidades onde os veículos estão instalados. São feitas assembléias e nelas se decide quem vai receber verba e quanto. Tudo baseado na demonstração efetiva do trabalho que o veículo desenvolve no seu dia-a-dia.

sexta-feira, março 02, 2007

Frase

"A verdadeira viagem de descoberta consiste não em procurar novas paisagens, mas em ter novos olhos".
Marcel Proust (1871-1922).