sexta-feira, junho 30, 2006

A tática arranca-toco não deu certo

Fernando Pedreira, em sua coluna de hoje: “Nos últimos 30 dias, como se viu na TV, PSDB (menos) e PFL (mais) atacaram fortemente Lula, o PT e administração federal petista. Basicamente, tucanos e pefelistas disseram ao eleitor que Lula e o PT são ruins de governo e que flertaram com a corrupção. Essa estratégia é defendida fortemente pelo PFL e pelo prefeito do Rio de Janeiro, César Maia. Pode ser que mais adiante a tática tucano-pefelê dê resultado. Quem sabe. Até agora, o efeito foi nulo para minar as intenções de voto a favor do petista”. E conclui: “a estratégia arranca-toco de PSDB e PFL não surtiu o efeito desejado no que diz respeito a diminuir a intenção de voto em Lula”.
Na verdade, o suposto “crescimento” de Alckmin é um espasmo resultante da desistência de outros possíveis candidatos de oposição. Nada mais que isso. Especialistas chamariam a isso de "acomodação geológica", ou seja, sedimentação do terreno.
Lula tinha 45% em 23-24/maio. Hoje, tem 46% (pesquisa de 28-29/junho). Os 7 pontos de Alckmin não surgem de um crescimento do eleitorado dele a partir de um descolamento de eleitores até então aderidos ao candidato petista. Têm origem na parte de baixo da tabela, ou seja, numa migração natural em uma eleição polarizada desde o começo. Enéas saiu do páreo e seus 4 pontos desembocaram no PSDB. Heloísa Helena (PSOL) oscilou de 7% para 6%. Outro que sumiu do mapa foi Roberto Freire e seus 2%. Basta somar: 4% de Enéas + 1% de Heloísa Helena + 2% de Roberto: resultado, 7 pontos percentuais.
Além desse fator existe um outro, adicional. A campanha pró-Alckmin corre solta na TV e no rádio, ao arrepio da Lei. O Presidente do TSE, que não esconde sua preferência pelo tucanato e sua hostilidade ao candidato petista, faz ouvidos de mercador aos apelos da CUT para tornar mais equanime o processo de disputa, hoje desiquilibrado na mídia pro-PSDB/PFL.
Ou seja, mesmo jogando sozinho, Alckmin não é capaz de virar o jogo.

De bois, pesquisas e postes

A revoada de bois alados que cruzam os céus do Pará nesse momento político e a proliferação de pesquisas eleitorais de encomenda que circulam nos bastidores para embalar sonhos, interesses e egos me fizeram recordar algumas lições do mestre David Ogilvy, um dos maiores gênios da publicidade mundial. É dele a pérola: "algumas pessoas usam pesquisa como um bêbado usa um poste: para apoio, em vez de iluminação".

quinta-feira, junho 29, 2006

Impedimento

Enquanto grandes marcas esportivas investem milhões em patrocínio das seleções que disputam a Copa do Mundo da Alemanha, trabalhadores asiáticos que fabricam as chuteiras e os uniformes dos jogadores ganham pouco mais de R$ 10 por dia.
A denúncia é da organização não governamental Oxfam International, que no fim de maio divulgou amplo estudo sobre o tema.
Além dos baixos salários, os funcionários não teriam direito de se organizar em sindicatos, seriam submetidos a assédio sexual e a trabalhar em péssimas condições de trabalho, denuncia a ong no estudo que apropriadamente se chama offside! - Labor rigths and sportwear production in Asia (Impedimento! Direitos trabalhistas e Produção de Roupa Esportiva na Asia).

quarta-feira, junho 28, 2006

o céu
era açuc
ar
lu
minoso
comestível vivos
cravos tímidos limões verdes
frios s
choc
olate
s.
so
b, uma lo
co
mo
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c uspi
ndo
vi
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letas.

Nascido Edward Eastlin Cumunings em 14 de outubro de 1894, em Cambridge, Massachusetts, ee cummings (assim mesmo, em minúsculas) é um personagem da poesia mundial. Sobre ele Augusto de Campos escreveu: “Abominado por críticos e poetas conservadores, cummings mereceu, em contrapartida, a admiração de escritores do porte de Marianne Moore, William Carlos William, John dos Passos e Ezra Pound”.
De Campos, um dos maiores estudiosos da obra de cummings e do melhor da poesia universal escreveu um belo resumo biográfico que apresentamos aqui, com ligeiras modificações e recortes a nosso critério.
cummings estudou em Harvard, de 1911 a 1915, onde especializando-se em literatura grega. Voluntário na 1ª Grande Guerra, servindo no corpo de ambulâncias norte-americano na França, passou por uma dura experiência. Preso, por engano, com seu amigo Slater Brown, que escrevera cartas que desagradaram ao censor francês, foi enviado a um campo de concentração (La Ferté Macé), em Orne, e ali ficou detido, incomunicável, por três meses, sem qualquer culpa, até ser libertado em dezembro de 1917. The Enormous Room, publicado em 1922, são as suas “memórias do cárcere" em prosa não-convencional; segundo Hemingway, "um clássico", "uma obra que não se parece a nenhuma outra".
Nos anos 20 e, mais tarde, em 1931, visitou Paris, onde morou por algum tempo, e outros países europeus, dedicando-se à poesia e à pintura.
Em 1923, sai o seu primeiro livro de poemas, Tulips and Chiinneys. Em 1925, publica & e XLI Poems e, no ano seguinte, is 5. Sua primeira incursão no teatro, Him, estréia em 1928, em Nova Iorque. De Paris, em 1931, Cummings decide conhecer a URSS e parte para Moscou, levando uma carta de apresentação de Aragon para Lília Brik. O diário dessa viagem constitui Eimi (em grego, "eu sou"), prosa experimental, que veio a ser publicada em 1931. Ainda nesse ano publica W(ViVa), poemas, e faz a sua primeira exposição, lançando CIOPW ("charcoal, ink, oil, pencil, watercolor"), livro de desenhos e pinturas.
Em 1935. escreve Tom, roteiro para um balé inspirado na "Cabana do Pai Tomás", e publica (às expensas de sua mãe) um livro de poemas que os editores haviam recusado: no thanks. Em 1938, surge a primeira antologia de sua obra poética até então, Collected Poems. Seguem-se, em 1944, mais um livro de poemas, 1X1, e, em 1946, mais urna peça, Santa Claus. Volta à poesia com XAIPE, em 1950, mas a mais completa coleção de seus poemas vem a seir editada em 1954 um grosso volume de quase 500 páginas: Poems 1923-1954.
Seu último livro publicado em vida, 95 Poemns, aparece cm 1958.
Cummings foi casado três vezes. A primeira mulher, Elaine Orr, que o desposou em 1918, deu-lhe a única filha, Nancy. Com a segunda mulher, Anne Barton, o poeta se casou em 1927, divorciando-se alguns anos depois. Marion Moorehouse, que conheceu em 1932, seria a grande e definitiva companheira. Desde 1924, ele se instalara em dois cômodos de uma pequena casa alugada em 4 Patchin Place, na Greenwich Village, passando os verões na casa de campo de seus pais, "Joy Farm", em New Hampshire, perto das White Mountains e do Silver Lake. Estas foram, até o fim, as suas residências. Elaine Orr casou-se novamente e foi viver na Inglaterra, levando a filha, a quem ocultou a identidade paterna. Somente quando foi morar nos EUA em 1948 e já tinha 28 anos é que Nancy veio a saber, do próprio Cummings, que ele era seu pai.
Sem profissão definida, Cummings viveu por toda a sua vida dos parcos ganhos de poeta e pintor, a princípio ajudado pelos seus pais e avós, depois pela mulher, Marion, modelo e fotógrafa. Amigo de John dos Passos e de Ezra Pound foi dos poucos que não abandonaram o autor dos Cantos quando este, acusado de traição ao seu país, foi internado no manicômio judiciário de Washington, o St. Elizabeth’s Hospital. Convidado para proferir conferências em Harvard, de 1952 a 1953, escreveu seis palestras, que intitulou i: six nonlectures (eu: seis nao-conferências), com as quais, descobrindo em si próprio uma extraordinária vocação para a leitura de poemas, percorreu com grande êxito de audiência colégios e universidades.
Essas conferências, gravadas ao vivo, podem ser ouvidas em discos e cassetes do selo Caedmon, assim como um bom número de poemas lidos pelo próprio poeta. Como Dylan Thomas, que não chegou a gravar Vision and Prayer; Cumrnings não deixou registrado em sua voz nenhum dos seus poemas visuais. Sua poesia, no entanto, interessou vivamente a alguns dos maiores músicos desta segunda metade do século, como John Cage, Luciano Berio e Pierre Boulez (e, entre nós, ao jovem Livio Tragtenberg). Técnicas não convencionais de vocalização, como as que empregam esses compositores, permitem revelar a insólita musicalidade que se oculta nos poemas tipográficos de Cummings, explorando a hipersonoridade de suas microestruturas fônicas.
Cumrnings morreu em 3 de setembro de 1962, em Madison (New Harnpshire), de um ataque cardíaco. No ano seguinte, sairia uma coleção de seus últimos poemas inéditos: 73 Poems: em 1969, uma importante seleta de suas cartas: Selected Letters, organizada por E. W. Dupee e G. Sladc. Além da biografia citada, não pode deixar de ser referida a anterior, de Charles Norman (The Magic Maker: E. E. Cummings, 1958, reeditada em 1964). Dentre os livros de crítica que tratam de sua poesia, destaca-se o de Norman Friedman, E E Cummings: The Art of His Poetry, 1960.
Para quem quer encontrar o poeta em língua portuguesa recomendo ouvir o poema “Nalgum lugar”, musicado belamente pelo músico e compositor maranhense Zeca Baleiro. Um deleite.

“nalgum lugar em que eu nunca estive,
alegremente alémde qualquer experiência,
teus olhos têm o seu silêncio:
no teu gesto mais frágil há coisas que me encerram,
ou que eu não ouso tocar porque estão demasiado perto
teu mais ligeiro olhar facilmente me descerra
embora eu tenha me fechado como dedos, nalgum lugar
me abres sempre pétala por pétala como a Primavera abre
(tocando sutilmente, misteriosamente) a sua primeira rosa
ou se quiseres me ver fechado, eu eminha vida
nos fecharemos belamente,de repente,
assim como o coração desta flor imagina
a neve cuidadosamente descendo em toda a parte;
nada que eu possa perceber neste universo igual
ao poder de tua imensa fragilidade: cuja textura
compele-me com a cor de seus continentes,
restituindo a morte e o sempre cada vez que respira
(não sei dizer o que há em ti que fechae abre;
só uma parte de mim compreende que a luz dos teus olhos
é mais profunda que todas as rosas)
ninguém, nem mesmo a chuva, tem mãos tão pequenas”.

quinta-feira, junho 22, 2006

Exumação

Crítico permanente da falta de entrosamento entre PSDB e PFL na campanha presidencial, o prefeito da cidade mais violenta do Brasil, Cesar Maia, fez mais críticas à conduta política dos tucanos, expondo o candidato Alckmin ao ridículo.
Segundo ele o PSDB é composto por dois partidos. Um formado pelos “cardeais” de expressão nacional e outro pelo clero e baixo clero dos Estados, sem que ninguém, muito menos Alckmin, articule esses dois lados.
Na opinião do prefeito Maia é isso que tem dificultado ainda mais um acerto, nos Estados, entre o PSDB e seus aliados na eleição presidencial e está "travando" a campanha, o que pode "custar para nós o segundo turno".
Essa exumação pública de um corpo sem vida (a campanha PSDB/PFL) seria desnecessária se houvesse, por parte das agremiações de direita, uma análise real do cenário real em que a disputa está sendo travada.
O PFL acusa o PSDB por travar a campanha, mas continua a chover no molhado fazendo das críticas "morais" um mote eleitoral que pode, como um boomerang, voltar na cara dele. Munição não falta.

quarta-feira, junho 21, 2006

Mais? Que nada!

Cuidado com a propaganda veiculada em rede nacional de um pseudo "movimento" mudancista que na verdade é apenas mais um cavalo de tróia da oposição de direita para recrutar incautos ativos e influenciar eleitores passivos. Afinal, quem acredita que uma iniciativa autodenominada "movimento" e apoiada por Armínio Fraga, Gustavo Franco, João Roberto Marinho, Antonio Ermírio de Moraes, Nelson Sirotsky e Roberto Civita poderá mudar o Brasil? A campanha, protagonizada por diversos artistas, entre eles o "rapper" Marcelo D2 e a cantora Daniela Mercury, que está sendo veiculada na TV Globo é, na verdade, evidente peça eleitoral antecipada, ("peça de ataque", como diria César Maia) do mesmo modo que comerciais biográficos de Alckmin assinados pelo PSDB nacional, em flagrante desrespeito à legislação eleitoral vigente. A Lei brasileira é clara: o horário partidário gratuito deve ser usado para a difusão de idéias e programas partidários, jamais para enaltecer personalidades ou cacifá-las visando a caça ao voto. Mas, cadê o TSE?

terça-feira, junho 20, 2006

Reestatização da Vale

Para quem pensa que é estéril o debate sobre a reestatização da Vale do Rio Doce e de outras estatais que foram entregues ao capital privado a preço de banana pelo governo do PSDB, pesquisa realizada no Brasil pelo Instituto Ipsos Public Affairs, dos Estados Unidos, e publicada pelo Jornal Estado de Sao Paulo (18 de junho de 2006), mostra que muito pelo contrário. Segundo os dados apresentados ali, a ampla maioria do povo brasileiro apóia medidas de cunho estatizante e intervencionista, num quadro que se repete nos países vizinhos:

  • mais de 60% dos brasileiros defendem a nacionalização dos recursos naturais,
  • 74% querem o controle das multinacionais,
  • 78% defendem o controle de preço dos serviços bancários;
  • 81%, o dos preços da cesta básica.

Afinal, quem são os terroristas?

A Guerra do Iraque é um daqueles becos sem saída em que os impérios se metem para sinalizar seu fim. Roma teve a sua "guerra do Iraque". A ex-União Soviética também teve, experimentando no Afganistão sua porção de inferno.
Os Estados Unidos, contudo, parecem sofrer de amnésia histórica.
Cegos pelo poder e pelas ilusões ideológicas fascistas de supremacia racial e econômica, apagaram de sua memória a humilhação de ter perdido a guerra do Vietnã para um exército guerrilheiro famélico e armado precariamente, que sobrevivia embrenhando-se na mata ou escondendo-se em buracos no chão. Em livros de História distribuídos para as crianças no país de George W. Bush, o exército de Tio Sam não foi humilhado e enxotado de Hanói pelos vietcongs, apenas "retirou-se" do Vietnã para que "seu povo pudesse conduzir o processo de reconstrução do país". Assim como não admitem que foi o Exército Vermelho Soviético que empreendeu o cerco a Hitler em Berlin e submeteu as últimas unidades combatentes alemãs na II Guerra, não dizem que a reconstrução do Vietnã se fazia necessária pela destruição de vidas, plantações, cidades, rios e vilas que o Exército ianque empreendeu em nome do "anti-comunismo" - a "guerra anti-terror" no período da Guerra Fria.
A guerra do Iraque é um novo Vietnã porque é uma guerra que os Estados Unidos não podem vencer. Não há nenhuma possibilidade de dar fim ao conflito sem que se destrua por completo o povo e sua milenar capacidade de resistência e com isso a noção de Nação. Não é "a resistência", um grupo político específico, mas o povo, essa categoria genérica, que define se uma guerra está perdida ou ganha. Os números e o desenho político do Iraque atual mostram que os Estados Unidos estão perdendo a guerra.
Quem gosta de referências históricas convertidas em películas de Hollywood deve assistir "Falcão Negro em Perigo", de Oliver Stone, que mostra helicópteros de 10 milhões de dólares sendo abatidos como rolinhas ingênuas pela precária mas certeira artilharia anti-aérea de uma tribo africana. Novamente ali pessoas com os pés descalços e sem nenhum treinamento militar fizeram os arrogantes "soldados da liberdade" afogarem no próprio sangue.
Sem memória das experiências passadas, os estadunidenses não desistem de dar motivos aos iraquianos para explodir seus helicópteros e soldados e marcar de morte seus cidadãos em outras paragens pelo mundo afora.
E o que dá motivo é a brutalidade do Exército invasor que não encontra limite. Mais três soldados americanos foram acusados pela morte de três prisioneiros no Iraque, segundo informações divulgadas por militares dos Estados Unidos nesta segunda-feira.
Os prisioneiros teriam sido mortos depois de detidos e manietados em uma operação militar no canal de Thar Thar no sul do Iraque no dia 9 de maio de 2005. Os "soldados da democracia" executam civis desarmados e algemados. A sangue frio.
As acusações contra os três soldados incluem assassinato, tentativa de assassinato, conspiração e obstrução da justiça. Soldados americanos no Iraque já enfrentaram várias acusações de matarem civis e abusar (inclusive sexualmente) de detidos, e alguns inquéritos foram abertos para investigar os casos mais gritantes.
É claro que isso é apenas a menor ponta do iceberg da violência contra civis nessa guerra insana em que uma cultura tenta subjugar a outra com objetivos de cunho político-econômico.
Bem entendido, toda operação militar é uma ação política. Afinal, como ensina Lenin, a guerra é a política por outros meios. O governo provisório do Iraque, fantoche dos Estados Unidos, não representa a vontade política do povo iraquiano nem seu desejo de autonomia. Tampouco representa a diversidade étnico-cultural que formou o povo e a nação iraquiana. Ou seja, será deposto porque defende o invasor, assim que as tropas de Bush retirarem suas botas, jipes, tanques e helicópteros daquele solo rico e arenoso.
Hoje a imprensa noticiou que um grupo de árabes sunitas extremistas denominado "Conselho de Shura dos Mujahedins" assumiu o seqüestro de dois soldados dos Estados Unidos e quatro diplomatas russos no Iraque. Além disso, segundo comunicado divulgado em um site, o grupo deu a Moscou um prazo de 24 horas para que retire suas tropas da Chechênia.
Para o grupo, a ação "demonstra a fraqueza dos serviços de inteligência americana".
O Exército dos EUA no Iraque anunciou nesta segunda-feira que sete de seus soldados ficaram feridos em operações de busca pelos dois combatentes, desaparecidos após um ataque insurgente em Youssefiya, na sexta-feira. Este ataque deixou um terceiro soldado americano morto. Segundo o Pentágono, 2.292 militares norte-americanos morreram até agora no Iraque.
Desde de 2003, as forças de coalizão no Iraque e, principalmente, as forças americanas, mataram quatro vezes mais civis no Iraque do que a resistência no país. A informação está em um relatório do projeto Iraq Body Count (Contagem das Mortes no Iraque, em tradução livre).
Cerca de 37% das mortes violentas de 24.865 civis iraquianos ocorridas nos dois primeiros anos de conflito foram de responsabilidade das forças lideradas pelos Estados Unidos no país, sendo que, desse total, 98,5% são atribuídas ao Exército norte-americano.
As forças contra a ocupação, também chamadas de "insurgência", mataram 9% dos civis.
A insânia não tem limite. Diante desses números fica a singela pergunta: afinal, quem são os terroristas?

domingo, junho 18, 2006

Carlos Heitor Cony

Tenho um amigo de longa data que adora Carlos Heitor Cony. Tem todos os seus livros. Alguns, autografados. Eu o respeito. Gosto muito dele para não respeitar suas indiossincrasias.
Depois de ler três de seus livros e anos de seu colunismo precário considero que Cony está para a literatura como Dorival Caymmi está para a música. É um grande nome com uma obra menor. Ou seja, é um criador menor. Não tem muita imaginação, repete suas fórmulas até o limite, mas domina a escrita, tem um bom contrato com uma editora maiúscula e vale-se disso para parecer um bom escritor e para ter um bom emprego como comentarista de fatos que não compreende.
Agora a Band News, um ótimo canal de notícias, resolveu contratar o jornalista e escritor para fazer comentários políticos em horário rotativo. Aqui, ali, lá, está Carlos Heitor Cony fazendo seus comentários. Contudo, absolutamente ninguém consegue entender o que Carlos Heitor Cony fala. É gutural demais. Parece que ele engoliu o Tom Waits inteirinho e está com ele entalado na garganta. Cony na TV lembra um personagem de um dos contos fantásticos de Edgar Allan Poe.
Decidi escrever para o canal de TV sugerindo que eles legendassem Cony em português para que suas dissonâncias com os fatos pudessem ser compreendidas pelos assinantes. Não obtive resposta.
Cony é um daqueles escritores que foi de esquerda na juventude, arrependeu-se e o dinheiro fácil incumbiu-se de convertê-lo ao cinismo intelectual e a permissividade política com a direita. É dele a frase "nunca se viu tanta corrupção no país". É claro, Cony! É verdade. Agora ela pode ser denunciada, CPIs podem ser instaladas, corruptos podem ser presos até que a Justiça os solte novamente, gente do governo cai diante de denúncias, etc. Essas não são concessões de Lula, mas conquistas da sociedade que ganharam espaço para serem exercidas agora.
No último domingo Cony exercicia seu direito democrático de criticar. Em sua coluna escrita (Folhapress), lamentava o que denominou de "derrota da mídia" diante do aumento da popularidade de Lula e da aceitação de seu governo. Afinal, uma campanha articulada envolvendo "editoriais, articulistas, cronistas e todos os que ocupavam os diversos veículos de comunicação do país e do exterior" tentou, por um ano inteiro, demonstrar por A mais B que "Lula sabia dos esquemas em que seus auxiliares e amigos chafurdavam" e, portanto, teria que cair mesmo que fosse para ser substituido por um picolé de xuxu. A campanha não obteve sucesso.
Para Cony, esse é um daqueles fatos inexplicáveis como um dejà vü ou como a divina trindade.
Cony, meio zonzo, conclui: "O povão vê televisão, ouve rádio. E continua acreditando em Lula e o abençoando com o seu voto". Que povinho mais sem vergonha; não é mesmo, Cony?
O escritor, como muita gente, tropeça em desconhecer como o povo forma seus conceitos e faz suas escolhas. Acredita no mito dos "formadores de opinião", uma categoria sociológica criada para vender produtos para os ricos sob a alegação de que eles poderiam criar uma cadeia de consumo a partir de seu status. Essa tese já foi morta e enterrada no final da década de 50 do século XX, mas ainda sobrevive no Brasil como um fantasma renitente por razões que nem a razão explica.
É fácil entender tudo isso, Cony. "Formadores de Opinião" são um mito, como o boi-tatá e a Matinta Pereira. Quem acredita em mitos não entra na mata cerrada da política porque tem medo de ser encantado ou trocado por um punhado de tabaco.
A explicação está em Lenin. O revolucionário russo dizia que "a política tem horror a espaços vazios". Aí as peças se encaixam. Diante do vazio de alternativas, o povo fica com Lula, que tem com o povo identidade de classe e políticas sociais espraiadas por onde nunca a direita e sua filantropia pilantra chegou em 500 anos. Para quê retornar ao reinado do dândi FHC?
À direita, Alckmin e o complô PSDB/PFL não são alternativas e, à esquerda, Heloísa Helena do PSoL ainda precisa transformar agitação de rua em propaganda persuasiva para ultrapassar Alckmin e tencionar o debate antes que outubro se aproxime.
Cony não entende. Nunca entenderá. Talvez porque ter Tom Waits entalado na garganta prejudique mesmo a oxigenação e o raciocínio.

sábado, junho 17, 2006

Gigantismo

O ministro do Turismo, Walfrido Mares Guia, esteve em Belém e garantiu que vai incluir o projeto "Portal da Amazônia", da prefeitura de Belém, no Orçamento de 2007 de seu ministério, comprometendo-se com o repasse de R$ 30 milhões de reais, necessários para a execução da obra. "Portal da Amazônia", dsenvolvido na administração atual, faz parte do Projeto de Macrodrenagem da Bacia da Estrada Nova, por sua vez desenvolvido durante a administração anterior. No desenho original, previa 13 quilômetros de urbanização da orla, com janelas para o Rio, estrutura de lazer e centros gastronômicos. Na versão atual, terá uma extensão de 6 quilômetros e irá do Mangal das Garças (borboletário refrigerado) até a UFPa (cais de arrimo destruído). Segundo o Ministro, "esse é o maior projeto turístico do país" (O Liberal, Atualidade, p. 10, 17/06/2006). Se o projeto da PMB de R$ 30 milhões é o maior projeto turístico do país, a reforma do galpão que servirá de Centro de Convenções, na Dr. Freitas, orçado pelo Governo do Estado em quase R$ 80 milhões será, então, o maior projeto turístico do Continente?

A danação do PFL

Você pode não ter percebido, mas o calendário eleitoral pulou quatro anos. De fato, 2006 já era. Pelo menos é que se intui de matéria da Agência Estado, onde o hidrófobo PFL expõe sua pérfida estratégia "de marketing" para o próximo período. A nova linha prevê apontar propaganda enganosa do governo. "Promessas não cumpridas, como obras das eclusas, estão na lista". O senador Heráclito Fortes, o homem que engoliu uma Tuba, diz que "o jogo eleitoral começa agora, quando vamos mostrar as fragilidades e os factóides do governo do PT". "Factóide", como se sabe, é um neologismo do pefelista César Maia, um espertalhão raivoso que governa a cidade mais violenta do país e faz de conta que não tem nada a ver com isso.
A dúvida que me assolou no momento em que tomei conhecimento da nova "linha de ataque" do PFL é se alguém pagou por essas idéias ou os dirigentes do partido de direita as tiveram por si mesmos? Se as tiveram por si mesmos, menos mal. Afinal, ter idéias idiotas é mais barato que comprá-las. Mas duvido. O mais provável é que tenham pago uma fortuna a Lavareda para engendrá-las.
Qual o nó da questão ao que o PFL não quer desatar? 1) Promessas não cumpridas existem aos borbotões na vida pública. Ninguém nunca perdeu uma eleição por conta disso. Nunca. Não há precedentes. A aliança PFL/PSDB tem, contra si, milhares e milhares de promessas não cumpridas. Almir Gabriel prometeu 400 mil empregos em 1994 e mais 200 mil em 1998 e não teme as urnas por causa disso. Apenas os programas eleitorais de Alckmin (2002) e FHC (1998) já seriam suficientes para encher o lago Paranoá de promessas não cumpridas. 2) Denunciar "obras inacabadas" é uma terrível perda de tempo. Uma obra "inacabada" é uma obra pela metade, ou seja, uma obra em processo de execução, inconclusa. Não demonstra "incompetência", mas apenas que o tempo ou o dinheiro não deu para acabá-la. Qualquer cidadão que já remendou uma calçada ou retelhou uma casa sabe disso. 3) Ataques pessoais, como "beber" ou despolitizados como "viajar muito" (FHC bate, em horas de vôo, sete vezes o presidente Lula) dito por um cidadão sem qualificação alguma e desconhecido pela ampla maioria dos brasileiros como o inepto dublê de senador e usineiro José Jorge, só servem para demonstrar desespero ou uma certa embriaguez, único estado de ânimo capaz de provocar arroubos de valentia em covardes contumazes; 4) o que está em questão não são as fragilidades de Lula (seres humanos, mesmo os presidentes, possuem fragilidades, vide Bill Clinton) mas qual projeto político é capaz de disputar com ele os rumos do país. Como tenho dito, somente a própria esquerda pode fazer com Lula esse debate, qualificando o processo eleitoral e tencionando-o a um programa eleitoral que aponte no sentido das mudanças que o país precisa experimentar.
Cega pelo ódio de classe e incapaz de disputar projeto de poder com Lula e com o PT, a direita hidrófoba está se cacifando apenas para substituir o MLST no apedrejamento do Palácio do Planalto e na tentativa de linchamento pessoal do presidente metalúgico.
A confissão de que perdem horas (regiamente pagas com dinheiro público, posto que são parlamentares em horário de trabalho) preparando "nova linha de ataque" contra Lula e não "nova linha de defesa" do programa de governo de Alckmin, demonstra para a nação que os próceres do PFL não estão no ramo da disputa eleitoral presente, mas apenas no ramo do desgaste do presidente para as disputas futuras.
Miram em 2006 mas querem acertar em 2010. Para a direita, 2006 é uma batalha perdida.

sexta-feira, junho 16, 2006

Lições de Einstein ao PFL

Einstein, o gênio, dizia que sua definição de insanidade era "fazer a mesma coisa vezes e vezes seguidas, esperando a cada vez um resultado diferente". Quem assistiu, na noite de 15 de junho, ao programa do PFL no Horário Partidário Gratuito só pode chegar a conclusão de que César Maia não é o único pefelista a se enquandrar na definição de Einstein. Quem decidiu a pauta do programa, seu discurso, seu formato, seu começo, meio e fim acredita que repetir vezes e vezes seguidas essa lenga-lenga de mensalão pode tirar algum mísero voto de Lula. Não tira. Essa novela já passou. Todo mundo já ouviu essa história, conhece os personagens e o enredo. E sabe o final.
O que não entra na cabeça da oposição hidrófoba é que ela não cresce não porque Lula não apanhou o suficiente (ninguém aguentaria em pé 10% da pancadaria que ele sofreu), mas porque ela cheira a naftalina, a sarcófago; é retrógrada, lembra o passado, remete o Brasil a dias piores.
Como governo, a direita aprofundou a miséria e as desigualdades sociais; como oposição, é incapaz de apresentar uma alternativa programática ao país que o faça olhar para frente.
"Gerar emprego"? FHC e Alckmin governaram e não geraram. Por que agora os brasilerios acreditariam nessa basófia?
Dizer que o bloco de direita vai "acabar com a roubalheira", como disseram Alckmin e seu vice (como é mesmo o nome dele?) na noite de hoje em horário nobre é querer gozar da cara dos brasileiros. Vão sair da vida para entrar no anedotário nacional.
Há quem chame àquele lamentável desfile de manchetes de jornal e capas de revista sem qualquer fio lógico de marketing político.
Para mim, é charlatanismo puro.
E pensar que o desvairado PFL pagou por aquilo... Além de doidos, otários.

quarta-feira, junho 14, 2006

Primeira Leitura joga a toalha

Como a revista "Veja", a revista "Primeira Leitura" é tucana. Em artigo publicado na versão eletrônica, o jornalista Rui Nogueira faz um exercício de contorcionismo político radical para dizer que Geraldo Alckmin ainda pode mudar o rumo dessa prosa eleitoral, mas no final se entrega, enumerando os elementos que fazem de Lula um candidato imbatível:

"1) Como não há mais espaço para manobras surpreendentes do ponto de vista político e legal, tudo indica que a disputa se dará mesmo com poucos candidatos. Logo, a se manter o quadro atual, há uma boa chance de Lula virar presidente reeleito no primeiro turno;

2) O percentual dos que avaliam o governo como “ótimo” e “bom” retornou ao patamar de junho de 2003, isto é, ao primeiro semestre da lua-de-mel dos seis primeiros meses da gestão petista;

3) A soma dos que avaliam este ano como “muito bom” e “bom” chega a 73% dos entrevistados, contra 25% que acham que o ano está sendo ou “ruim” ou “muito ruim”; só 2% não souberam responder ou não quiseram opinar;

4) Se é verdade – e é – que a eleição é voto em expectativa, eis mais um dado que complica a candidatura tucana: a expectativa em relação ao “restante de 2006” dá este quadro: 77% acham que o restante do ano será “muito bom” e “bom”, contra apenas 14% que acham que o ano será “ruim” ou “muito ruim”. Só 9% não souberam responder ou não quiseram opinar;

5) Da pesquisa trimestral de março para a de junho, caiu 6 pontos percentuais, de 42% para 36%, a expectativa de aumento da inflação. As expectativas sobre desemprego e renda são realisticamente estáveis, com poucas variações negativas, pois os entrevistados demonstram acreditar que o governo Lula continuará mantendo o crescimento econômico no ritmo medíocre de sempre: o país não explode de desenvolvimento, mas Lula também não explode com a estabilidade econômica;

6) A avaliação do governo cresceu em todos os segmentos e regiões, exceção apenas entre os que têm renda de mais de dez salários mínimos, a elite. O saldo da avaliação positiva (“ótimo” e “bom”) entre eleitores com idade entre 25 e 29 anos, que em março era de 12 pontos, na pesquisa de junho subiu para 28 pontos positivos;

7) No segmento da instrução superior, pela primeira vez o saldo de avaliação passou a ser positivo: 33% consideram o governo “ótimo” ou “bom” (positivo), contra 29% que o consideram “ruim” ou “péssimo” (negativo). Em março, esse número fazia um cruzamento ao contrário, era mais negativo (31%) do que positivo (29%). Sinal de que até nas classes mais instruídas penetrou o raciocínio de que “o governo é ruim, mas é preferível votar em Lula a votar em um tucano”. A avaliação positiva cresceu 8 pontos percentuais na região Sudeste, a mais rica e instruída;

8) A aprovação do presidente Lula, isto é, a aprovação da maneira pessoal de “presidencializar”, também cresceu, voltando ao patamar anterior ao início das denúncias do mensalão. O saldo de aprovação pessoal nos últimos três meses cresceu 10 pontos percentuais, de 16% para 26%. Só no estrato do ensino superior é que a avaliação pessoal de Lula continua negativa 4 pontos percentuais (45% de aprovação contra 49% de desaprovação). Mas esse percentual, nesse estrato do ensino superior, três meses atrás, era de 10 pontos percentuais (43% de aprovação contra 53% de desaprovação)."

Ou seja, Primeira Leitura jogou a toalha.

Em campo, Ronaldo respondeu a Lula

"O Brasil poderá ou não vir a confirmar o favoritismo absoluto que lhe foi atribuído neste arranque do Mundial, mas uma coisa é certa: os 90 minutos da estreia em Berlim mostraram que a equipa de Parreira está longe de ser a galáxia inacessível que a pressão mediática das últimas semanas fez supor. Não que a vitória sobre a Croácia (1-0) seja injusta. Olhando as coisas com frieza, e apesar de a equipa europeia ter discutido o jogo palmo a palmo, tiveram camisola amarela as melhores coisas vistas no majestoso estádio de Berlim. Mas, mesmo não falhando o essencial, o Brasil não deu o murro na mesa que todo o planeta esperava. E como tal, a concorrência ganhou a certeza de que o título mundial não está já entregue". O comentário é de Bruno Madureira, correspondente português na Alemanha. "O título mundial não está já entregue". Infelizmente, foi o que ficou patente na partida medíocre jogada pelo Brasil contra a fraca Croácia em Berlim na tarde do dia 13: o Brasil não é imbatível. O título mundial não está entregue; está em disputa. Jogando essa bolinha, se a estréia fosse contra uma equipe do porte da Argentina, Itália ou mesmo da Alemanha, o Brasil teria amargado uma derrota.
O desempenho do Brasil pode ser relativizado se considerarmos que a seleção de Parreira jogou o primeiro tempo e metade do segundo apenas com 10 homens em campo. Ronaldinho "Fenômeno" parado como um poste gordo entre os zagueiros da Croácia, deu um único chute a gol. Pra fora. Não apenas não jogou, mas ocupou espaço, um estorvo travando a movimentação do ataque brasileiro. Sua manutenção na próxima partida fere a lógica, posto que Robinho jogou mais muito mais em 20 minutos que o obeso centro-avante em 60 minutos, vaiado ao ser substituido no meio do segundo tempo - o que teria sido evitado se o técnico da seleção o substituisse durante o intervalo, poupando o ser humano Ronaldo do constrangimento a que o atleta fez por merecer. Aliás, mantê-lo fere a lógica futebolística, mas confirma a lógica do mercado: quem paga a conta, escala o time. Patrocinador pode, sim, fazer exigências. Havia um Ministro da Ditadura, acreano, que dizia que futebol é tão importante no Brasil que se torna "assunto de estado". Agora, se tornou vítima do marketing, além de assunto de estado. Talvez por isso Lula, o presidente, tenha perguntado a Parreira, o técnico, se Ronaldo, o Fenômeno, estava acima do peso. A imprensa fez disso uma crise de estado. A partida de ontem respondeu a pergunta de Lula. Ronaldo não está apenas acima do peso, mas fora de forma. Uma caricatura do craque de 2002. O fato de Dida ter sido o melhor jogador brasileiro em campo dá a dimensão exata de que o sonho do Hexa ainda está longe de ser realidade. Isso é bom. Faz a milionária equipe brasileira baixar a bola. Futebol se joga em campo e não nos comerciais de tevê.

terça-feira, junho 13, 2006

Lula cresce, Alckmin jaz

De dezembro de 2005 a junho de 2006, o pré-candidato à reeleição Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ganhou 16 pontos percentuais na preferência do eleitorado. As intenções de voto em Lula subiram de 32% para 48%, índice que permite a sua reeleição ainda em primeiro turno.No mesmo período, dos últimos sete meses, o candidato do PSDB à Presidência, Geraldo Alckmin (ou simplesmente "Geraldo", para os seus marketeiros), parou no patamar de cerca de 19% dos votos.
Tinha 20%, em dezembro, passou a 19%, em março, e em junho registra novamente 19%, em cenário sem candidato do PMDB (o mais provável). A pesquisa CNI/Ibope ouviu 2.002 eleitores em 143 municípios brasileiros, entre 5 e 7 de junho. A margem de erro é de 2 pontos percentuais.
Contando com a vista grossa do TSE, que mantém no ar comerciais descaradamente eleitorais veiculados no horário partidário do PSDB (o horário eleitoral gratuito das eleições de 2006 só começa em agosto), Alckmin consegue, hoje, perder para Lula até mesmo em São Paulo, estado que governou desde que Mário Covas bateu as botas e deixou para ele um mandato que quase perdeu, de graça, para José Genoino em 2004.
O que surpreende não é a performance barriqueliana do ex-governador de São Paulo - que mesmo com a máquina a seu favor consegue quebrar a embreagem em uma reta - mas as pisadas de bola de sua equipe de marketing. Além das tentativas desastrosas de querer repetir para ele a fórmula usada para alçar Fernando Henrique, ainda não encontraram qual o perfil que querem fixar na imagem do candidato ao posto que hoje Lula ocupa e, tudo indica, continuará a ocupar até 2010. Primeiro, estimularam a idéia idiota de que um nome "mais popular" ("Geraldo" em lugar de "Alckmin") faria de um homem pesado um bólido eleitoral; segundo, tentaram usar uma retórca agressiva e virulenta contra Lula ("corrupto", "mentiroso", "incompetente", "burro"). Ocorre que a popularidade de Lula é inquestionável e cada batida frontal contra ele agora consolida seu eleitorado e cria no eleitorado volátil uma desconfiança sobre o equilíbrio político e mental do candidato tucano, além de alimentar a certeza de que ele não tem propostas, apenas denúncias (quem não tem propostas, só denúncias, tem que ficar na oposição e não no governo); terceiro, requentam a gritante falta de imaginação de seus comerciais de TV, com depoimentos visivelmente ensaiados, prejudicados ainda mais pela cara de ativista da TFP que ostenta o líder tucano. Se era para dar big-close em alguém, que escalassem a Lu Alckmin, um colírio.
Diante do incêndio nas vestes de seu candidato, os marketeiros de Alckmin despejam gasolina. E Alckmin queima. É uma cerimônia fúnebre indiana o cenário eleitoral para o candidato do PSDB.
Não basta, contudo, ser um candidato morto e queimado. Para seus marketeiros, Alckmin precisa arder até o fim.
O horário eleitoral na TV (quando ele acontecer de Direito e não nessa versão covarde e unilateral que está no ar enquanto o TSE dormita) será um forno crematório para as ilusões da oposição de direita, que acha que seu preconceito de classe pode animar amplas massas a linchar um dos seus a favor de um típico e canastrão membro da elite.
Fracassarão. Ou melhor, já fracassaram. Morto, Alckmin é um cadáver que arde.

quinta-feira, junho 08, 2006

Pressionado, TSE recua

Por unanimidade, sete ministros do TSE (Tribunal Superior Eleitoral) reformularam hoje o entendimento de dois dias atrás e flexibilizaram a verticalização nas coligações eleitorais. Mudaram de idéia.
A base jurídica que estruturava tão bem o raciocínio e a decisão de anteontem se desmanchou no ar, como por encanto.
O primeiro a reformar seu voto foi o presidente do Tribunal, o arrogante ministro Marco Aurélio Mello, que admitiu que a última decisão do TSE era "passível de falha".
E assim a combalida democracia brasileira vai se construindo aos solavancos, submetida aos arroubos do executivo, às ausências do legislativos e aos arrotos do judiciário.

quarta-feira, junho 07, 2006

Verticalização pra valer

É brutal o efeito da decisão desta terça-feira (6 de junho) à noite do TSE (Tribunal Superior Eleitoral) sobre como deve ser obedecida a verticalização. O que foi decidido foi o seguinte:
Alianças nacionais terão de ser inteiramente respeitadas nos Estados. A consulta foi do PL e era a seguinte: “Considerando-se que um determinado partido A coligue-se com o partido B em plano nacional, pergunta-se: num cenário estadual, levando-se em conta que o partido A tenha candidato próprio ao governo do estado, e o partido B não possui candidato próprio nesse estado, poderá o partido B celebrar coligações com o partido C, que não compôs a coligação de nível nacional, nem se coligou com qualquer outro partido na esfera nacional?".
A resposta foi não, por uma votação de 6 a 1. Ou seja, não tem chance de ser alterada.
Na prática, fica assim:
1) partidos com candidato a presidente – essas siglas terão nos Estados que repetir exatamente a mesma coligação realizada no plano federal.

Por exemplo, digamos que Lula (PT) e José Alencar (PRB) sejam candidatos a presidente e a vice-presidente, repetindo a chapa de 2002. No Rio de Janeiro, não será mais possível, segundo interpretação do presidente do TSE, Marco Aurélio Mello, que esses dois partidos lancem candidatos separados ao governo fluminense como estavam planejando –Vladimir Palmeira (PT) e Marcelo Crivela (PRB)– aliando-se cada um a siglas diferentes (mesmo que essas agremiações adicionais não tenham candidatos ao Planalto).
Segundo Marco Aurélio Mello, a rigidez será ainda maior (embora isso não tenha sido explicitado na decisão de agora há pouco). Para o presidente do TSE, a verticalização pura não permitirá sequer que Marcelo Crivela e Vladimir Palmeira sejam candidatos separados ao governo fluminense, mesmo não se coligando a ninguém. “A razão de ser da verticalização é uma pureza maior quanto à coligação”, diz Marco Aurélio.
2) partidos sem candidato a presidente – essas siglas só poderão lançar nos Estados candidatos sozinhos ou em coligação com outras legendas que também não tenham candidato a presidente.

Ou seja, o PMDB estava (e está) querendo ficar de fora da disputa pelo Palácio do Planalto para fazer todo tipo de aliança nos Estados. Não poderá mais seguir essa trilha de maneira tranqüila.
Por exemplo, em Pernambuco, Jarbas Vasconcelos (PMDB) quer ser candidato ao Senado apoiando Mendonça Filho (PFL) para o governo. Se o PFL ficar mesmo aliado ao PSDB (José Jorge como vice de Geraldo Alckmin), nada feito para o acerto pernambucano entre Jarbas e Mendonça Filho.
“Tivemos de tomar essa decisão, porque de outra forma a verticalização seria pela metade. Uma ficção. Ou é verticalização completa ou não é verticalização”, diz o presidente do TSE, Marco Aurélio Mello. O ministro faz também outro alerta que ainda não foi oficializado pelo tribunal: os casos de alianças diferentes entre partidos sem candidatos a presidente nos diversos Estados.
Marco Aurélio cita um exemplo: os partidos A, B e C que não têm candidato a presidente. Digamos que, em São Paulo, A resolva se aliar a B para o governo estadual. Mas, no Rio, B esteja aliado a C. “É uma horizontalidade que não está em linha com o que o Supremo Tribunal Federal decidiu sobre a verticalização”, explica o ministro. Se algum partido fizer uma consulta a respeito, há chances reais de essas coligações variadas também serem vetadas.
Vai ser uma revolução nas convenções nacionais e estaduais de todos os partidos, cujo prazo para decidir sobre candidaturas vai de 10 a 30 de junho.


Escrito por Fernando Rodrigues.

segunda-feira, junho 05, 2006

A boa

Marketing viral é a forma mais barata de se expandir o espectro de uma marca. A internet é o canal natural para essa propagação. Vi uma típica (e muito boa) ação de marketing viral e resolvi socializar com vocês. Foi no Blog dos Cassetas. A fórmula usou Juliana Paes, os pingüins da Antártica e uma piada. Sabendo que o Bussunda é o outro garoto propaganda da marca e merchandising misturado com os quadros de humor são bem comuns, difundiu-se um postal que começou a circular na internet e logo ganhou o mundo. Fica como exemplo de ação de marketing viral planejada e executada com perícia, frieza e bom humor. Lembrando que público alvo de cerveja é predominantemente masculino, criou-se um mecanismo para que a propaganda ganhasse, por si mesma, efeito multiplicador. E ganhou. Afinal, quem não passaria adiante, para os amigos, uma piada tão boa?

domingo, junho 04, 2006

Um defunto para presidente?

2006 já era. Assim Fernando Pedreira (Folhapress) decreta, em sua coluna de sábado (03/06/2006), o fim do ano eleitoral e declara aberta a disputa presidencial de 2010. "Nunca uma campanha presidencial pós-ditadura militar deu sinais de decantação tão rapidamente como a atual". Lula vence no primeiro turno em todos os cenários possíveis. Sem apelação.
A oposição de direita desdenha, mas sabe o tamanho do problema e tem se demonstrado incapaz de provocar fatos e gerar um raciocínio político-programático capaz de seduzir o eleitorado. A crítica apenas, gera massa crítica, mas não seduz. Alckmin, uma caricatura convertida em candidato, vem tentando desqualificar o presidente com uma saraivada de lugares-comuns cujo efeito é zero multiplicado por mil. É inútil. Alckmin anda, mas está morto. Ninguém ri das piadas de um cadáver.
No final de semana, o defunto da Opus Dei criticou o desemprego e a violência, como se o tucanato não tivesse qualquer responsabilidade sobre isso depois de ter governado o país por longos oito anos; como se não tivesse governado São Paulo por 12 anos deixando para trás uma herança de desemprego, caos na saúde, educação sucateada e o comando da capital na mão da bandidagem. Alckmin não é adversário e isso é um fator relevante no cenário de reeleição que de descortina e de vitória acachapante do candidato petista.
Esse cenário pode mudar? Sem dúvida, mas para que Luiz Inácio Lula da Silva não seja reeleito para mais quatro anos à frente do Palácio do Planalto, um dos adversários na disputa pela Presidência da República precisará protagonizar uma das maiores viradas eleitorais da história brasileira.
Em três das quatro últimas disputas presidenciais, o candidato que liderava as pesquisas a quatro meses da eleição foi eleito presidente. E a vantagem de Lula está, historicamente, entre as maiores.
A fortaleza de Lula está nos mais pobres. Portanto, sua força está concentrada em um eleitorado distinto daquele que o levou ao poder em 2002. Há quatro anos, o PT chegou à Presidência da República com o voto de maioria jovem, residente nas regiões metropolitanas, de classe média e nível superior. O melhor percentual de votos foi obtido na região Sul. Após a chegada ao poder, o eleitorado regionalmente se inverteu. A principal base de Lula hoje é nordestina, mais velha, com menor escolaridade e, sobretudo, mais pobre. Uma comparação entre a última pesquisa Datafolha e o levantamento feito pelo mesmo instituto em maio de 2002 mostra que houve uma troca do eleitorado entre as intenções de voto em PT e PSDB. Há quatro anos, a pesquisa mostrava vantagem de Lula de 17 pontos percentuais entre os eleitores com renda familiar mensal de até cinco salários mínimos. Na última pesquisa Datafolha, Lula alcança uma diferença em relação ao candidato tucano de 31 pontos entre o eleitorado que recebe até dois salários. No segmento entre dois e cinco salários mínimos mensais, Lula tem uma vantagem de 20 pontos. Já em seu tradicional eleitorado, a classe média, Lula perdeu espaço, o que era natural depois do linchamento a que foi submetido em 2005. Contudo, a vantagem, de 29 pontos há quatro anos - a maior entre todos os segmentos -, hoje é uma situação de empate técnico entre os eleitores com renda familiar de cinco e 10 salários mínimos. Lula tem 35% das preferências, enquanto o tucano fica com 33%. Entre os que recebem acima de 10 salários mínimos, os seis pontos de vantagem que o petista tinha sobre o então candidato tucano, José Serra, reverteu-se em nove pontos de vantagem de Lula sobre Alckmin no último levantamento do Datafolha.
Enquanto obtém vantagem absoluta entre os mais pobres, que ao fim e ao cabo decidirão a eleição, o estrato mais rico da população é o único no qual Lula seria derrotado. Essa vantagem seria tremenda para Alckmin se a disputa fosse pela presidência da Fiesp, como não é, a probabilidade maior é que Lula sagre-se presidente com uma vantagem substancialmente maior que nas eleições de 2002. Para os analistas de ontem esse parecia ser o mais improvável dos cenários.
Sobrevivente de um massacre midiático jamais visto na história republicana brasileira, Lula seria presa fácil - pensavam os adversários sistemáticos do PSDB e PFL. Não foi assim. A população, ao que tudo indica, não apenas deu um salvo-conduto ao presidente como não consegue enxergar no candidato tucano sequer a sombra do líder que o ex-metalúrgico e ex-líder sindical encarna.
Decidida a primeira posição e estabelecida a distância entre Lula e os demais, resta saber quem pode envergar a bandeira de oposição. A alternativa a Alckmin no cenário da disputa é Heloisa Helena, do PSOL. Oradora bem dotada e porta-voz de alguns dos valores que estão na pedra fundamental do PT, sua candidatura aponta para o campo democrático e popular e poderia (ou poderá) se constituir em adversária maiúscula, trazendo Lula para um debate programático pela esquerda, desde que abandone o discurso panfletário e assuma para si não apenas a bandeira da esperança, aquela que Lula empunhou em 2002, mas sobretudo meia dúzia de consignas que façam sentido e não provoquem pânico nos setores médios. Irá fazê-lo? O futuro dirá.
Quanto a Alckmin, não há nada mais a fazer: está morto. Resta enterrá-lo. 2006 já era.