quinta-feira, novembro 27, 2008

Efeito Matrix com câmera analógica

Quando se compreende o princípio, recria-se a técnica. Lomografia é um fenômeno fotográfico que é produzido por uma câmera automática, de alta sensibilidade, capaz de registrar cor e movimento sem necessidade de flash e sem deformação. O processo consiste no recebimento contínuo de luz que é feito através do sistema de exposição automático, que chega a durar 30 segundos. Outro efeito, dependendo do modelo e da lente, é o olho de peixe, no qual a foto fica com uma moldura circular. O nome é uma referência ao modelo LOMO LC-A, uma câmera compacta da marca LOMO. A LOMO é baseada na Cosina CX-1 e começou a ser produzida a partir de 1980. A técnica tornou-se mundialmente conhecida como "efeito Matrix" por causa de seu uso nas películas da série. O equipamento para produzir lomografia é caríssimo, mas um grupo de 33 lomógrafos amadores recriaram os efeitos já clássicos com câmeras analógicas e o resultado é inacreditável. Siga o link abaixo e comprove.

http://tvuol.uol.com.br/#view/id=lomos-na-tailandia-0402366AD0B13326/user=nmkpewmbfram/date=2008-11-24&&list/type=tags/name=Efeito%20especial/tags=18449/

http://beta.lomography.com/magazine/blog/2008/11/17/see-you-around-a-film-by-chaweemek

segunda-feira, novembro 17, 2008

Um contraponto sobre Obama

A opinião que reproduzo abaixo é de Simon Jenkins, publicada pelo jornal britânico The Guardian e traduzida pelo jornal O Estado de S. Paulo.
Merece ser lida, no mínimo como contraponto a uma certa euforia, da qual não partilho, de que Obama por si só trará soluções que nem a política à qual está enlaçado nem a conjuntura na qual foi gerido podem favorecer.
O que escrevi no dia da histórica vitória democrata e reitero é que a ascenção de Obama é, sim, um fato novo; abre uma porta que estava fechada, possibilitando a setores segregados historicamente uma posição de mando em um país que, até os anos 60 do século XX, ainda queimava negros em praça pública, utiliza-os para testes químicos e impedia pela força e pela Lei a convivência multiracial.
O fato real é que essa porta não se abriria apenas pelo carisma de Obama e pelo marketing de posicionamento magistralmente conduzido por sua campanha. Era preciso que a conjuntura jogasse no colo desse homem "diferente" dos que se sucederam no comando do império, a posição de mando justamente quando as colunas de pedra começaram a ruir. Obama sinaliza esperanças para uns, mas, ao mesmo tempo, é para as eleites um sintoma de que os de cima não podem mais governar como governavam e os de baixo não querem mais ser governados como antes. Terá que viver e governar uma crise sem precedentes e contará, para isso, com um crédito de esperanças jamais visto na história recente.

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Obama e o sonho americano

Por Simon Jenkins

Vendam Obamas agora: eles estão supervalorizados e os mercados futuros estão enlouquecidos por eles. Alguns meses depois de Barack virar presidente, a bolha vai estourar. Desde que ouvi falar dele pela primeira vez, há quatro anos, senti que havia um presidente em formação. Como o jovem Mandela, Obama parecia ter a aura de uma liderança nacional incipiente. Sua personificação do sonho americano era admirável.
O mundo não-americano queria que Obama vencesse. Essas pessoas não votaram. Mas o eleitorado dos EUA também deu preferência a ele. O mundo prefere Obama principalmente porque ele é negro; os americanos, porque ele não é republicano. Nenhuma dessas razões é sólida. Para a maioria dos não-americanos, negro ainda é um código para distância do establishment americano.
Qualquer um que vá à Europa, à África ou ao mundo muçulmano fica chocado com a antipatia aos EUA, que vai além da ideologia: é uma aversão visceral, não relacionada com qualquer apreço pessoal aos americanos individuais ou ao seu invejado modo de vida. Mas o mesmo visitante fica impressionado com a freqüência com que lhe asseguram que uma presidência Obama “mudaria tudo”. A razão disso não é que Obama seja contra a guerra e a favor dos palestinos ou da esquerda ou da direita. É que suas origens fazem dele a coisa que ele nega com a maior veemência, a de não ser um americano comum.
Para esse mundo, Obama é um suposto representante de uma classe oprimida, por mais que seu discurso, modos e carreira digam o contrário. Ele é negro. Simboliza o fim da supremacia “wasp” (a elite americana branca protestante). O motivo de sua candidatura ter incomodado muitos americanos é o motivo pelo qual o mundo ficou eletrizado por ela: Obama é meta-americano.
Mas Obama é um político. Sabe que terá de fazer mais do que belos discursos. Terá de enfrentar os destroços da economia mundial cujo colapso se deveu, em grande parte, à má gestão das finanças americanas, de cuja responsabilidade, como senador, ele não pode de todo se eximir. Terá de restaurar o crédito para os mercados e a confiança para o comércio. Terá de trazer saúde e bem-estar para um país cujos pobres parecerão mais “Terceiro Mundo” quando o desemprego começar a morder. Para milhões, parecerá um messias. Outros milhões poderão se decepcionar.
No exterior, terá de encerrar duas guerras e trazer sanidade mental a uma diplomacia caótica. A expectativa de que será um arauto de paz e da salvação econômica é provavelmente a maior desde Roosevelt. O ônus da expectativa é espantoso.
O carisma e a retórica de Obama até combinam com esses desafios. Suas políticas declaradas, não. Seu desejo de sair do Iraque não é muito diferente do desejo de Bush e do governo iraquiano. Mas seu desejo de fortalecer a guerra no Afeganistão é temerário. Obama aprovou o bombardeio de alvos no Paquistão, recuou da conciliação com o Irã e nada fez sobre a provocação exibicionista da Rússia.
Em casa, poderia ser um democrata convencional, a favor de impostos, gastos públicos e proteção tarifária. Embora parte disso seja assunto dos EUA, a economia mundial precisa tanto de um americano protecionista como de uma bala na cabeça.
Há uma perspectiva ainda mais alarmante: a de que um presidente democrata, com um Congresso a seu favor, deve se abster de parecer mole ou “apaziguador do terror”. Na política, quanto mais liberal o homem, de modo mais iliberal ele pode se comportar, como foi o caso com Clinton e Blair. Obama precisa se distanciar dos atos patrióticos da guerra ao terror de Bush.
Obama se proclama a revolução da vida pública americana. Mas seu histórico é tudo menos radical. Ele apóia até mesmo o porte de armas. Não fosse sua cor, seria um candidato concorrendo numa chapa democrata convencional, com poucas políticas mais construtivas que as de seu adversário.
Nada disso é argumento para não gostar de Obama. Na Washington de hoje, uma modesta competência poderia parecer revolucionária. Mas a liderança democrata é como Ícaro: suas asas derretem assim que voa para perto do Sol. Obama está voando bem perto.

sexta-feira, novembro 14, 2008

Muda modelo de remuneração das agências

Alexandre Zaghi Lemos

Os sistemas de remuneração por fees já são maioria nos contratos que regem o relacionamento entre os grandes anunciantes e suas agências de publicidade. É o que revela a segunda pesquisa realizada no Brasil pelo Grupo Consultores, que tem sede na Espanha e já exportou sua metodologia para diversos mercados do mundo. Dessa vez, foram ouvidos 350 executivos de empresas anunciantes, responsáveis por administrar orçamentos de R$ 33,5 milhões, em média. As entrevistas foram feitas entre abril e agosto, a maioria em São Paulo (77%) e no Rio de Janeiro (10%).
O avanço da modalidade de fees pode ser verificado na comparação com o levantamento anterior, realizado em 2006 com 278 profissionais de marketing. De lá para cá, o índice de clientes que recorrem ao sistema subiu de 45% para 64,6%; destes, quase metade (47%) disse praticar atualmente o fee mensal.
Entretanto, no mesmo período o pagamento por comissões dependentes da veiculação em mídia não foi descartado, mantendo-se estável na casa dos 47% (pequena variação negativa de 47,6% para 47,2%). O modelo híbrido é adotado por 16% dos anunciantes, que estabeleceram contratos mistos com suas agências, baseando-os em fees e em comissões.
Outra mudança importante apontada pela pesquisa é o aumento da remuneração variável, praticada atualmente por 16,4% dos clientes ouvidos - o que significa mais que o dobro do índice aferido há dois anos (7%).
"Em todo o mundo há uma queda na prática de remunerar as agências de publicidade por comissão, paralelamente ao avanço do sistema de fee. O pagamento por comissão só é dominante nos mercados asiáticos", acrescenta o presidente do Grupo Consultores, César Vacchiano.
O levantamento investigou também como é avaliada a performance do relacionamento entre agências e anunciantes para se chegar aos valores componentes da remuneração variá­vel. Entre os 16,4% dos anunciantes que trabalham com essa modalidade, mais da metade (58,95%) define as quantias a serem pagas às agências a partir de uma avaliação do cumprimento dos objetivos traçados anteriormente pelas duas partes.
Já 38,4% relacionam a remuneração variável diretamente aos resultados alcançados pela empresa naquele período, método que Vacchiano considera injusto para as agências. "O desempenho das empresas depende de inúmeros fatores que não estão diretamente ligados ao trabalho das agências", opina. Além disso, 29,5% dos anunciantes realizam uma avaliação anual dos serviços prestados pela agência e atrelam a isso a remuneração variável.
Segundo o Grupo Consultores, a remuneração variável vem evoluindo de maneira exponencial nos Estados Unidos, onde sua incidência era de 17% em 1988, saltou para 30% em 1997 e atingiu 50% neste ano. Esse índice só é superado pelo do Reino Unido, onde o sistema é usado em 56% dos relacionamentos dos anunciantes com suas agências de publicidade. Com índices um pouco acima do brasileiro ainda estão Alemanha (22%), China (20%), França (19%) e Espanha (18%). Abaixo, somente o Japão (8%).
"O Brasil está hoje no mesmo patamar de remuneração variável que os Estados Unidos atingiram há 20 anos. Entretanto, vem avançando rapidamente nos últimos anos", observa Graziela Di Giorgi, diretora do Grupo Consultores para o mercado brasileiro.
Veja, a seguir, algumas das principais conclusões da pesquisa, que investigou detalhes dos processos de seleção de agências e as razões que motivam as trocas de parceiras:

Critérios de seleção: Os fatores mais determinantes são a criatividade (76,6%), o fato de a agência não atender contas conflitantes com a sua (76,3%) e a transparência nos modelos de remuneração (75,4%).
Métodos de escolha: As concorrências são apontadas como principal mecanismo, tendo subido de 75,9%, em 2006, para 85,1%, em 2008, à frente da escolha direta (14,9%), da imposição da matriz externa (13,7%), dos processos intermediados por consultores (11,2%) e da análise de credenciais (7,1%).
Sem remuneração: Apesar de muitos dos anunciantes ouvidos considerarem correta a remuneração das agências participantes de concorrências, a maioria (79,3%) não coloca essa premissa em prática. Apenas 16% dizem remunerar as participantes de processos de seleção - índice que é bem maior em outros mercados, como China (29%), Europa (52%) e Estados Unidos (64%).
Mesa de compras: Em 6,6% dos casos, o departamento de compras (procurement) das empresas participa das concorrências para a escolha de agências de publicidade. Após o processo de seleção, a intervenção das áreas de compras nas negociações quanto ao modelo de remuneração chega a 40%.
Assédio constante: Os anunciantes dizem ser abordados em média 12,9 vezes por ano por agências interessadas em atender suas contas publicitárias. Desse total, aceita assistir a uma média de 6,6 apresentações por ano. O Grupo Consultores considerou alto o grau de anunciantes que gostam de receber agências e atribui essa prática ao fato de as apresentações serem vistas como consultoria gratuita.
Duração dos casamentos: A relação entre anunciante e agência tem durado, em média, 4,8 anos no Brasil. É um tempo maior que o aferido na China (2,5) e na Espanha (4,3), mas menor que as médias européia (6,4) e norte-americana (6,5).
Motivos para mudanças: As principais razões apontadas para a troca de agência foram a falta de criatividade (38,6%), o atendimento ruim (36,9%), a pouca pró-atividade (28%), o não-cumprimento dos prazos (22,6%) e a ausência de transparência na relação (21,1%).
Comunicação integrada: A maioria (54%) dos anunciantes preferiria contar com uma única agência capaz de lhes oferecer todas as disciplinas da comunicação, enquanto 45% consideram tal modelo utópico.

Fonte: Meio & Mensagem

Marketing

terça-feira, novembro 11, 2008

Fenapro nomeia coordenadores de grupos

Coordenadores são presidentes ou vice-presidentes das Federações de diversos Estados, mas, como de praxe, não há nenhum representante do Norte do país.

Com o objetivo de implementar as 21 recomendações aprovadas no IV Congresso Brasileiro de Publicidade, durante o painel "A Realidade dos Mercados Regionais", a Fenapro – Federação Nacional das Agências de Propaganda nomeou os coordenadores dos seis grupos de trabalho, que abordarão respectivamente os temas de licitações públicas; carga tributária; formação educacional e incentivo aos jovens estudantes; aprimoramento e incentivo ao mercado e aos profissionais; relação com os poderes Executivo, Legislativo e Judiciário e valorização, contratação, parcerias e acordos operacionais.
Os coordenadores dos grupos são presidentes ou vice-presidentes da Federação e de Sindicatos das Agências de Propaganda de diversos Estados como Minas Gerais, Rio de Janeiro, Paraná, Distrito Federal, Mato Grosso do Sul e Pernambuco, que terão a missão de supervisionar o desenvolvimento dos trabalhos, aprovar a forma de realização e colocar em prática as ações. "A proposta é que cada grupo, de forma coordenada, avance para consolidar as recomendações aprovadas no IV congresso", afirma Ricardo Nabhan, presidente da Fenapro. A partir de agora, os grupos irão se reunir regularmente.
Os trabalhos de cada um dos grupos será coordenado por Ricardo Nabhan e Sain't Clair de Vasconcelos, com o apoio da assessoria jurídica da Fenapro.
Além dos representantes dos Sinapros e da Fenapro, foram convidados para integrar os grupos representantes da ABERT (Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão), do IVC (Instituto Verificador de Circulação), Ibope, CIEE (Centro de integração Empresa Escola) e ESPM (Escola Superior de Propaganda e Marketing).
Cada grupo definiu temas específicos de trabalho. Estas são algumas das propostas que serão trabalhadas por cada grupo:
Licitações públicas - Juliano Torres Sales, presidente do Sinapro-MG - apoio formal ao Projeto de Lei 3.305, de autoria do deputado José Eduardo Cardoso, que trata sobre licitações públicas. Irá recomendar que o PL inclua a modalidade de consórcio da agências nas licitações públicas;
Carga tributária - Glaúcio Binder, presidente do Sinapro-RJ e VP da Fenapro para a Região Sudeste - esforços para reduzir a carga tributária;
Formação educacional - Eduardo Crivelente, VP da Fenapro para a Região Centro-Oeste - recomendação para que universidades e faculdades de Comunicação incluam na grade curricular estudo sobre a legislação da atividade publicitária e realização de convênios visando incentivar o estágio dos alunos em empresas prestadoras de serviços;
Aprimoramento e incentivo ao mercado e profissionais - Kal Gelbecke, presidente do Sinapro-PR - estimular investimento do trade regional na maior profissionalização e aprimoramento dos serviços, com investimentos em treinamento, pesquisas, auditagem e checking de mídias nos mercados regionais;
Relação com os poderes Executivo, legislativo e Judiciário - Fernando Bretas - presidente do Sinapro-DF - Contribuir para dirimir litígios decorrentes do relacionamento comercial entre anunciantes, ag~encias, produtores e profssionais de comunicação e outros por meio da Câmara Nacional de Arbitragem na Comunicação;
Valorização, contratação, parcerias e acordos operacionais - Alexandre Oliveira - VP da Fenapro para a Região Nordeste - Estimular, por parte dos anunciantes, a contratação de fornecedores de serviços de comunicação e agências de propaganda regionais e incentivar a aplicação do guia das boas práticas de contratação elaborado pela ABA e Fenapro.
A ausência de um nome do Norte do país dentre os coordenadores nomeados manifesta, uma vez mais, a ignorância dos dirigentes do negócio da propaganda brasileira acerca das especificidades do nosso mercado regional, o menosprezo desses dirigentes pelo negócio da propaganda na Amazônia e, por consequência, o papel secundário de nossos dirigentes regionais nos órgaos nacionais de representação.
Essa realidade cristaliza nosso isolamento e cala nossa voz diante da dura realidade de uma divisão de verbas nacionais que ignora a existência e importância de nosso mercado regional e eterniza, sobretudo, a concentração de verbas públicas federais nos mercados já consolidados.

sexta-feira, novembro 07, 2008

Frase

"Na versão online da democracia, há muita gente falando, mas são poucos os que ouvem." (Editorial da Monthly Review)

quarta-feira, novembro 05, 2008

Obama: o triunfo do improvável

A noite avançava velozmente quando chegaram as primeiras notícias: Barack Hussein Obama é o 44º presidente dos EUA. John McCain reconheceu a derrota em discurso pronunciado timidamente, como o rugido leve de um velho leão ferido.
O novo presidente vai à Casa Branca, em janeiro, tendo à sua frente muito mais trabalho do que a tradicional "arrumação de casa", com a qual governantes perdem metade de seus mandatos.
Tem diante de si a maior crise financeira desde o crash de 29 e a perceptível perda de poder e influência dos EUA em um mundo cuja dinâmica o império não conseguiu sequer antever com a profundidade necessária. Embriagado com a queda do Muro de Berlim e a derrota do "socialismo real", enebriado com a jornada de ódio e sede de lucro que moveu suas tropas pelas areias do Iraque e pelas montanhas do Afganistão após 11 de Setembro, o império de Bush estava cego, trôpego, cambaleante. Nada mal se esse gigante bêbado não nos levasse junto para seu coma alcóolico. A crise dos EUA é a crise do modo de produção capitalista em sua fase especulativa, mas é em sua base que o peso é mais sentido.
Independente da análise fria que nos diz que para o Brasil nem sempre o que é bom para os Estados Unidos nos favorece, é inegável que a vitória de Obama é um fato histórico de extrema relevância.
Em Cuba, o presidente Lula deixou escapar, em um de seus comentários quase ingênuos, que se alguém sonhasse em 1998 que dez anos depois um índio seria o presidente da Bolívia, um torneiro mecânico seria o presidente do Brasil e um negro seria eleito presidente dos Estados Unidos com uma votação consagradora, "o sujeito seria internado como louco". Os mais afoitos ainda incluiriam na lista delirante a presença de Carla Bruni como primeira dama da França. O tempo da loucura está aqui. Vivemos nele e ele vive em nós.
O mundo virou de ponta-cabeça em 10 anos e a nação mais próspera e poderosa do mundo se viu, de novo, diante da necessidade de comprar sonhos. E foi assim que Obama prevaleceu sobre McCain. Seu grande desafio será entregar a mercadoria que vendeu.
"Nos discursos de campanha, Obama dirigia-se, primeiro, ao coração de suas platéias. Só depois capturava-lhes as mentes", escreveu Josias dos Santos para a Folha de S Paulo na edição de hoje.
E foi assim. E quem quer saber se ficava no ar o leve olor de falta de consistência a Obama. Numa fase em que Hillary Clinton ainda media forças pela vaga do Partido Democrata, Bill Clinton disse: “Você pode fazer campanha em poesia, mas governa em prosa”. A metáfora do marido de Hillary, um ex-presidente muito bem avaliado, resume o drama de Obama.
Josias dos Santos, em sua ótima análise, resume assim: "O triunfo nas urnas tanto pode convertê-lo em estadista como em fiasco. Por ora, sabe-se apenas que os eleitores americanos decidiram optar pela ousadia. A América fez uma concessão ao improvável. Acomodou no comando do império a mais vistosa novidade produzida pela política americana nos últimos tempos. Some-se à ascensão meteórica de Obama a cor da cútis do novo presidente e tem-se uma exata dimensão do novo."
Obama, um mulato – filho de um negro queniano com uma americana branca do Havaí - é o primeiro "homem de cor" a sentar-se na poltrona de presidente da economia mais importante do planeta. Não é pouca coisa. Isso, em si, vale sua eleição. Vale a emoção que provoca, vale o aumento no número de votantes na confusa eleição dos EUA. Quando Obama nasceu, negros não podiam conviver nos mesmos espaços com brancos sem serem objeto da ira e do espanto da maioria branca, que se julgava "superior". No sul dos Estados Unidos havia nos ônibus cadeiras reservadas para negros como hoje há as reservadas para deficientes. Agora, a mão retinta de Obama terá o poder e espera-se dele a sensatez de decidir com a razão.
Em julho passado, falando para uma multidão de cerca de 200 mil pessoas, em Berlim, Obama disse:
"Eu sei que não pareço com os americanos que já falaram aqui. A história que me trouxe aqui é improvável".
E o improvável se tornou possível, real, em um mundo onde o capital grita de dor e divide o ônus de sua doença mortal com os mais pobres, que são os que mais sofrem. Obama irrompe nesse momento como um sopro de esperança. Isso é inquestionável. Como inquestionável é a poesia presente na trajetória do sucessor de George Bush e em sua campanha eleitoral, impecável como as camisas brancas, sempre bem engomadas, que Obama vestia ao longo de toda a jornada épica de caça aos votos que, nos Estados Unidos, dura um ano inteiro.
Lembrando a silhueta de Malcolm X sobre a face negra de Obama, olhando os vídeos de sua campanha, ouvindo seus discursos fortes e serenos, reconhecendo em sua história traços do improvável, o alerta de Clinton volta a nos assaltar. Chegou a hora da prosa.
Mas mesmo nessa hora é bom admitir que Obama é um sopro do novo na velha e nefasta política dos EUA. Com ele, vem a inspiração que reconduz ao verso.
Enquanto escrevo, atrás da cortina de aço das cordas de The Edge, Bono Vox me faz companhia cantando "Beautiful Day": "está um belo dia \ não o deixe escapar".

segunda-feira, novembro 03, 2008

A crise sob o olhar da esquerda estadunidense

A revista estadunidense de orientação marxista Monthly Review, em seu editorial de outubro 2008, analisa o caráter da atual crise do capitalismo financeiro e pergunta o que deveria a esquerda dos Estados Unidos fazer nesse momento. Embora longo para ser postado em um blog - que, manda a regra, se limite a textos menores - vale muito a pena conhecer a análise da esquerda que vive, literalmente, no olho do furacão.

Eis o editorial.

No editorial do número de Setembro da Monthly Review perguntávamos por que não havia indignação pública nos Estados Unidos com o pacote de salvação do setor financeiro. Como observamos naquele momento, "afinal de contas parece não haver explicação satisfatória para a falta de protesto popular sobre uma série de doações ad hoc que derrama centenas de milhões de dólares de dinheiro público sobre o grupo mais rico de capitalistas do planeta. E isto levanta a questão: Estaria a indignação, no entanto, crescendo subterraneamente, não sendo ouvida e não sendo vista? Será que ela arrebentará subitamente, como uma velha toupeira, de forma imprevista e de modo não imaginado?".
O colapso do Lehman Brothers em 15 de Setembro, o congelamento dos mercados de crédito, o plano de emergência do secretário do Tesouro Henry Paulson de um salvamento de US$700 milhões de firmas financeiras, oferecendo "dinheiro por lixo", isto é, propondo comprar os resíduos tóxicos de títulos apoiados por hipotecas virtualmente sem qualquer valor a expensas do contribuinte - respondeu rapidamente à nossa pergunta. Quando o Tesouro dos EUA envolveu-se no ato com a sua proposta de salvamento, requerendo autorização do Congresso, desencadeou-se o inferno. Subitamente, a indignação pública que estivera submersa explodiu. A classe capitalista estadunidense foi abruptamente confrontada com uma grande crise política, assim como econômica.
A ira visível da população quanto ao plano de salvamento não impediu o Departamento do Tesouro, a liderança do Congresso, o presidente, e os dois candidatos presidenciais - juntamente com o capital financeiro - de avançarem e remendarem em conjunto um acordo baseado em grande medida na proposta original de Paulson. O que era completamente inesperado, contudo, foi a revolta na Câmara dos Deputados em 29 de Setembro, com 133 republicanos e 95 democratas votando contra o pacote de salvamento dos US$ 700 mil milhões, levando à maior queda pontual na história do mercado de ações dos EUA.
Não há dúvida, os detentores do poder logo abriram o seu caminho, e uma versão da proposta do Departamento do Tesouro, com elementos acrescentados destinados a dar cobertura política aos representantes que alteraram os seus votos, foi logo aprovada. Mas a revolta inicial na Câmara mudou para sempre a natureza da pior crise financeira desde a Grande Depressão, tornando-a pela primeira vez abertamente política, deixando uma herança de discordância popular. A politização da questão do salvamento e as cada vez mais desesperadoras condições econômicas garantem que as conseqüências a longo prazo para o capitalismo estadunidense serão imensas.
Ninguém tem uma bola de cristal para olhar o futuro, e a natureza desta crise torna impossível prever o que acontecerá. Mas umas poucas coisas parecem óbvias. Primeiro, o salvamento a ser executado pelo Departamento do Tesouro, apesar de maciço, na melhor das hipóteses apenas impedirá um colapso imediato. Ele não porá fim à crise financeira. O gênio da financeirização está fora da garrafa e vai levar tempo para enfiá-lo ali outra vez. A crise dos empréstimos habitacional e hipotecário de qualquer forma não foi debelada. O Fed e outros agentes do governo federal já despejaram mais do que os US$700 mil milhões do pacote do salvamento (incluindo resgate de hipotecas de casas) no sistema financeiro ao longo do ano passado na forma de empréstimos, garantias, swaps, dádivas e tomadas de controle ("A Tally of Federal Rescues", New York Times, September 28, 2008; "Treasury and Fed Looking at Options", New York Times, September 29, 2008). Ao mover-se rapidamente da condição de prestamista de último recurso para a de investidor de último recurso, o governo federal esticou enormemente os seus recursos - já sob tensão devido às guerras do Iraque e do Afeganistão.
Segundo, o declínio rápido da hegemonia econômica dos EUA agora é óbvio para todo o mundo e é provável que prejudique a vontade de investidores e governos estrangeiros de tomarem dólares - o que é necessário para financiar a dívida crescente dos EUA. Cresce a pressão internacional para impedir Washington de exportar a sua crise para fora. O presidente brasileiro Luís Inácio Lula da Silva pediu que os estados latino-americanos, africanos e asiáticos não fossem transformados em "vítimas do cassino erguido pela economia americana" ("U.S. Crisis Deepens Divisions in S. America," Washington Post, October 1, 2008). Na verdade, o imperialismo estadunidense está enfraquecendo visivelmente por toda a parte.
Terceiro, o problema real ainda não está sendo tratado: a estagnação da economia dos EUA (e de países capitalistas avançados). Isto não é tanto um efeito da crise financeira, como habitualmente se supõe, e sim em primeiro lugar a causa do vasto crescimento da superestrutura financeira - e a razão porque a explosão da bolha financeira é um desastre tão imenso e atualmente inultrapassável (ver "The Financialization of Capital and the Crisis," MR, April 2008). A estagnação da produção, simbolizada pelos recentes US$25 mil milhões em garantias federais a empréstimos aos grandes fabricantes de automóveis, recebeu relativamente pouca atenção face à crise financeira astronômica, mas continua no cerne do mal-estar econômico.
Finalmente, agora está penetrando profundamente na consciência pública nos Estados Unidos que a questão mais importante no fim das contas é: Quem pagará? O acordo do salvamento evadiu-se à questão ao deixar para o próximo presidente sugerir um caminho para compensar o público pelas perdas com a compra de lixo financeiro tóxico pelo Tesouro. O que isto significa é que a batalha política real apenas começou.

Crise irreversível

Se são estas as dimensões principais do problema, o que deveria a esquerda estadunidense fazer nesta altura? Não é uma pergunta de resposta fácil. Não é nossa tarefa consertar o sistema. Nem é ele de fato consertável. Como Harry Magdoff e Paul Sweezy argumentaram em 1988, no rescaldo na crise do mercado de ações de 1987, isto é, julgado a partir de uma visão mais ampla, uma Crise Irreversível. Não há, portanto soluções visíveis. Sob tais circunstâncias, a ênfase deveria ser sobre a redução da desigualdade, o fortalecimento da posição dos trabalhadores, proporcionar empregos decentes para pessoas efetuarem o trabalho para o qual estão preparadas, e garantir bens sociais essenciais como: cuidados de saúde adequados, alimentação, habitação, educação, Segurança Social, pensões de reforma e proteção ambiental. Os gastos militares deveriam ser cortados drasticamente e utilizados para financiar programas sociais necessários. Deveria ser aplicado um imposto sobre o comércio de títulos e idealmente também um imposto sobre a riqueza.
Tais coisas só podem ser alcançadas, contudo, se a população se levantar e exigir controle sobre a política econômica. Mais uma vez, não deveríamos pretender nem por um momento que qualquer destas coisas repararia o que há de errado com o sistema capitalista. Não o faria. Mas algumas destas medidas são necessárias para criar uma vida melhor para a vasta maioria da população, e como um passo de afastamento do capitalismo e em direção a uma melhor alternativa socioeconômica.
Certamente há algo a dizer quanto à visão do deputado Peter DeFazio (D-OR) quando, em resposta ao salvamento de Paulson, escreveu ("Wall Street Bailout Won't Help Main Street," Eugene Register-Guard, September 29, 2008): "Na Workds Progress Administration, do presidente Franklin Roosevelt, investimos em construção de estradas, pontes, barragens hidroelétricas e outros projetos de obras públicas para reconstruir a economia quebrada do nosso país". DeFazio avançava para argumentar que se um plano de salvamento deveria ser adotado este deveria ser pago por uma transferência fiscal de títulos, tal como realmente existiu nos Estados Unidos de 1914 a 1966.
O senador Bernie Sanders, de Vermont, propôs um [plano] de cinco anos, com uma sobretaxa de 10 por cento sobre indivíduos com rendimentos de mais de US$500 mil por ano e sobre famílias com rendimentos de mais de US$1 milhão por ano. Nada disto resolveria as contradições nucleares do sistema. Mas tais ações representariam um arranque na direção correta. É mais do que tempo de que na implacável guerra de classe que tem sido travada pela classe capitalista contra a classe trabalhadora, desde o princípio da década de 1970, o povo estadunidense pelo menos comece a defender-se em massa, insistindo para que as suas necessidades sejam atendidas. Em grande parte do resto do mundo a existência contínua da ordem do capital monopolista-financeiro dominado pelos EUA, habitualmente identificada como neoliberalismo, já está - ou estará em breve - a ser desafiada.
Estes problemas serão discutidos mais completamente na revisão do mês de Dezembro e num livro de John Bellamy Foster e Fred Magdoff, The Great Financial Crisis: Causes and Consequences, a ser publicado em Janeiro pela Monthly Review Press.
Não precisamos recordar aos leitores da MR que o atual desastre econômico é apenas parte de um fracasso mais geral do sistema capitalista, e que há outras razões igualmente prementes para a revolta: mais notavelmente, as crescentes catástrofes da guerra e da destruição ambiental. O que estamos enfrentando muito claramente é um novo momento histórico, no qual uma política genuinamente radical pode voltar a ser possível - no próprio Estados Unidos.

É hora de uma governança global?


Nos últimos 15 anos, a internet permitiu que o dinheiro fosse transmitido de um canto a outro do planeta com um clique. Em 2008, possibilitou mobilizar milhões de eleitores para produzir a eleição mais cara da história no país mais poderoso do mundo. Agora, os dados estão lançados: as próximas mudanças afetarão as regras da democracia e talvez terminem por mudar a maneira como os países se organizam.
O comentário é de Pedro Doria e publicado no jornal O Estado de S. Paulo, 03-11-2008.
Nossos maiores problemas não são nacionais. Ameaça de colapso financeiro, aquecimento global, flutuação nos preços de alimentos vinda de especulação financeira, tráfico, pirataria e crimes cibernéticos. O grande desafio é que nenhum governo, sozinho, tem o poder de resolver esses problemas.
Nas próximas décadas, precisaremos de um novo tipo de governo.
Para compreender a questão, visitei o Instituto Para o Futuro (IFTF), um dos mais importantes centros de pesquisa do Vale do Silício (Califórnia), dedicado inteiramente a compreender como as mudanças tecnológicas estão mudando o planeta. Quem me recebeu lá foi Jake Dunagan, um cientista político formado pela Universidade do Havaí, conhecida por seu departamento de futurologia.
"De onde nasceu nossa democracia representativa?", pergunta Jake, que responde em seguida. Quando os americanos inventaram o que entendemos por democracia, no século XVIII, o ritmo era outro. Uma carta vinda do norte dos EUA demorava algumas semanas para chegar ao sul. Simplesmente não havia como todos os cidadãos com direito a voto se reunirem numa praça, como acontecia em Atenas, para tomar decisões. Mais simples foi reunir representantes eleitos pelos estados em um parlamento. "Agora que temos a tecnologia para ouvir todos os eleitores, não deveríamos cogitar em implementar uma democracia direta?" Que se dispense o parlamento. Todos votam diretamente, pela internet ou pelo celular.
A idéia tem críticos. Há algumas semanas, num debate na Universidade de Berkeley, Larry Lessig lembrou alguns dos defeitos da democracia direta. Deputados, idealmente, têm por trabalho se especializar nos dilemas que afetam uma nação. Algumas questões são profundamente técnicas, ninguém vai se especializar em tudo para decidir o que é melhor. Lessig é um dos maiores especialistas nesse complicado encontro das leis com a tecnologia. Sabe do que fala.
Mas Dunagan também: "Nós vivemos no século XXI e, no entanto, temos uma estrutura mundial idealizada no século XVIII." Não temos um governo mundial com o poder de determinar o corte de emissões de carbono, por exemplo. E nenhum governo nacional quer ser o primeiro a fazê-lo. Afinal, quem parar de gastar energia também pára de crescer.
"O modelo do Estado-nação sozinho não resolve mais", continua Dunagan. Ele considera que algum tipo de governança global com poder de verdade, bem diferente da ONU, terá de surgir. Toda a macroestrutura global de telecomunicações integrou o mundo de uma forma tal que, se um quebrar, todos sofrem.
A campanha presidencial americana deste ano já insinua mudanças profundas. Uma delas atende pelo nome MoveOn.org. É uma ONG de esquerda que, em 2008, arrecadou mais de US$ 100 milhões pela internet. Em Washington, é o dinheiro que fala. A indústria do petróleo investe milhões em lobby no Congresso. Nações estrangeiras que querem influenciar a política dos EUA fazem o mesmo. Jamais uma ONG militante teve poder de intervir nesse jogo. Agora, tem.
Até um ano atrás, a origem do dinheiro tanto do Partido Democrata quanto do Republicano estava em grupos que têm interesses específicos. Isso também mudou quando Obama passou a arrecadar grande quantidade de recursos diretamente dos eleitores, pela web.
Quem navega pelo mar de blogs políticos nos EUA, no Brasil, onde for, logo percebe que esse é um jogo para apaixonados. São os apaixonados que doam para as MoveOn.orgs da vida. Suas opiniões são fortes, as convicções irremovíveis. Na versão online da democracia, há muita gente falando, mas são poucos os que ouvem.
"A tendência na rede é de que as pessoas se reúnam com quem compartilha suas opiniões. Já a democracia depende do diálogo", explica Dunagan. "Quando convivemos com idéias diferentes, tendemos à moderação. Mas quando só encontramos gente com quem concordamos, aí radicalizamos nossos pontos de vista. Criamos a ilusão de que somos mais ideologicamente puros, de que não temos dúvidas."
Finalmente, com a internet grupos populares têm condições de disputar com grandes corporações espaço nos corredores do poder. Mas esses grupos, à direita e à esquerda, são os mais radicais. É a paixão, a certeza de que se está certo, que os motiva à participação.
A rede está criando certamente um mundo mais democrático. Mas é uma democracia selvagem.