segunda-feira, dezembro 15, 2008

Subversão na parede

Banksy é um artista de rua britânico. Mais que isso, é um provocador. De pensamentos, de reações, de emoções. Agarra em muros, realidades, quadros e animais (sim, animais) e usa o stencil para alterar o sentido original, dando-lhes muitas vezes uma riqueza acrescentada, que claro, nem todos apreciam ou encaram bem. Anti-marca, anti-governo, anti-convenções. Este livro retrata as diversas facetas do personagem que é Banksy, um jovem que praticamente ninguém sabe quem é, mas que conseguiu, através da sua obra, criar significado e ligação entre pessoas de todos os lugares. Pelo caminho ainda conquistou a apreciação de estrelas de Hollywood como Brad Pitt (que pagou alegadamente 2 milhões de dólares por uma obra de Bansky e com isso retirando-lhe todo o significado que o artista quis dar). Este livro é um achado visual. Tem muito pouco para ler, mas diz muito através de frases mínimas e generosas fotografias. Consegue provocar a reflexão; desperta o subversivo que há em cada um (ou o reacionário que há em cada um); e, no final, faz-nos acreditar que o mundo nem sempre é bem aquilo que nós pensamos que é - não devia ser este o objetivo da arte? Um livro fantástico quer se goste de arte urbana ou não e um bom ponto de partida para a compreensão da arte subversiva das ruas, diferente da sujeira grafiteira, demencial e melancólica, que emporcalha nossas cidade. Não há versão em português de Wall And Piece, mas pode-se comprar a inglesa pelo Amazon.co.uk por uns meros €10. Grande investimento.

terça-feira, dezembro 09, 2008

"A humanidade não merece a vida"

Prêmio Nobel português se define como um "comunista hormonal" e afirma que os instintos servem melhor aos animais do que a razão aos homens.

O escritor português José Saramago, 86, disse ontem em entrevista à Folha de São Paulo que "a história da humanidade é um desastre" e que "nós não merecemos a vida". O autor, vencedor do Nobel de Literatura em 1998, participou de sabatina da Folha em celebração dos 50 anos da Ilustrada. O debate, assistido por 300 pessoas em um Teatro Folha lotado, teve como mediador o secretário de Redação do jornal Vaguinaldo Marinheiro. Participaram também, como entrevistadores, o crítico Luiz Costa Lima, a repórter da Ilustrada Sylvia Colombo e Manuel da Costa Pinto, colunista do caderno.
Aqui, as principais idéias expostas pelo escritor.

HUMANIDADE

A história da humanidade é um desastre contínuo. Nunca houve nada que se parecesse com um momento de paz. Se ainda fosse só a guerra, em que as pessoas se enfrentam ou são obrigadas a se enfrentar... Mas não é só isso. Esta raiva que no fundo há em mim, uma espécie de raiva às vezes incontida, é porque nós não merecemos a vida. Não a merecemos. Não se percebeu ainda que o instinto serve melhor aos animais do que a razão serve ao homem. O animal, para se alimentar, tem que matar o outro animal. Mas nós não, nós matamos por prazer, por gosto. Se fizermos um cálculo de quantos delinqüentes vivem no mundo, deve ser um número fabuloso. Vivemos na violência. Não usamos a razão para defender a vida; usamos a razão para destruí-la de todas as maneiras -no plano privado e no plano público.

MARXISMO HORMONAL

Desde muito novo orientei-me para a consciência de que o mundo está errado. Não importa aqui qual foi o grau da minha militância todos esses anos. O que importa é que o mundo estava errado, e eu queria fazer coisas para modificá-lo. O espaço ideológico e político em que se esperava encontrar alguma coisa que confirmasse essa idéia era, é claro, a esquerda comunista. Para aí fui e aí estou. Sou aquilo que se pode chamar de comunista hormonal. O que isso quer dizer? Assim como tenho no corpo um hormônio que me faz crescer a barba, há outro que me obriga a ser comunista.

CRISE ATUAL

Marx nunca teve tanta razão quanto agora. O trabalho constrói, e a privação dele é uma espécie de trauma. Vamos ver o que acontece agora com os milhões de pessoas que vão ficar sem emprego. A chamada classe média acabou. Ou melhor: está em processo de desagregação. Falava-se em dois anos [para a recuperação da economia depois da crise financeira]; agora já se fala em três. Veremos se Marx tem ou não razão.

DEUS E BÍBLIA

Por que eu teria de mudar [a concepção de Deus após a doença]? Porque supostamente me salvou a vida? Quem me salvou foram os médicos e a minha mulher. E Deus se esqueceu de Santa Catarina? Não quero ofender ninguém, mas Deus não existe. Salvo na cabeça das pessoas, onde está o diabo, o mal e o bem. Inventamos Deus porque tínhamos medo de morrer, acreditávamos que talvez houvesse uma segunda vida. Inventamos o inferno, o paraíso e o purgatório. Quando a igreja inventou o pecado, inventou um instrumento de controle, não tanto das almas, porque à igreja não importam as almas, mas dos corpos. O sonho da igreja sempre foi nos transformar em eunucos. A Bíblia foi escrita ao longo de 2.000 anos e não é um livro que se possa deixar nas mãos de um inocente. Só tem maus conselhos, assassinatos, incestos...

RELAÇÃO COM PORTUGAL

Espalham por aí idéias sobre minha relação com meu país que não estão corretas. Saímos [Saramago e sua mulher, Pilar] de Lisboa [para a ilha de Lanzarote] em conseqüência de uma atitude do governo, não do país nem da população. Mas do governo, que não permitiu que meu livro ["O Evangelho Segundo Jesus Cristo"] fosse inscrito num prêmio da União Européia. Nunca tive problemas com o meu país, mas com o governo, que depois não foi capaz de pedir desculpas. Nisso, os governos são todos iguais, dificilmente pedem desculpas. Fomos para lá e continuamos pagando impostos em Portugal. Agora temos duas casas. Mudei de bairro, porque o vizinho me incomodava. E o vizinho era o governo português.

ACORDO ORTOGRÁFICO

Em princípio, não me parecia necessário. De toda forma, continuaríamos a nos entender. O que me fez mudar de opinião foi a idéia de que, se o português quer ganhar influência no mundo, tem de adotar uma grafia única. Se Portugal tivesse 140 milhões de habitantes, provavelmente teríamos imposto ao Brasil a nossa grafia. Acontecem que os 140 milhões estão no Brasil, e o Brasil tem mais presença internacional. Perderíamos muito com a idéia de que o português é nosso, nós o tornaríamos uma língua que ninguém fala. Quando acabou o "ph", não consta que tenha havido uma revolução.

LITERATURA BRASILEIRA

Houve um tempo em que os autores brasileiros estavam presentes em Portugal, e em alguns casos podíamos dizer que conhecíamos tão bem a literatura brasileira quanto a portuguesa. Graciliano Ramos, Jorge Amado, os poetas, como João Cabral [de Melo Neto], Manuel Bandeira, essa gente era lida com paixão. Para nós, aquilo representava a voz do Brasil. Agora, que eu saiba, não há nenhum escritor brasileiro que seja lido com paixão em Portugal. Culpo a mim, talvez, por não ter a curiosidade. Mas também não temos a obrigação de descobrir aquilo que nem sabemos se existe.

LEITOR

O leitor me importa só depois que escrevi. Enquanto escrevo, não importa, porque não se escreve para um leitor específico. Há dois tempos, o tempo em que o autor não tinha leitores e o tempo em que tem. Mas a responsabilidade é igual, é com o trabalho que se faz. Agora, eu penso nos leitores quando recebo cartas extraordinárias. É um fenômeno recente. Ninguém escreveu a Camões, mas hoje há essa comunicação, essa ansiedade do leitor.

quinta-feira, novembro 27, 2008

Efeito Matrix com câmera analógica

Quando se compreende o princípio, recria-se a técnica. Lomografia é um fenômeno fotográfico que é produzido por uma câmera automática, de alta sensibilidade, capaz de registrar cor e movimento sem necessidade de flash e sem deformação. O processo consiste no recebimento contínuo de luz que é feito através do sistema de exposição automático, que chega a durar 30 segundos. Outro efeito, dependendo do modelo e da lente, é o olho de peixe, no qual a foto fica com uma moldura circular. O nome é uma referência ao modelo LOMO LC-A, uma câmera compacta da marca LOMO. A LOMO é baseada na Cosina CX-1 e começou a ser produzida a partir de 1980. A técnica tornou-se mundialmente conhecida como "efeito Matrix" por causa de seu uso nas películas da série. O equipamento para produzir lomografia é caríssimo, mas um grupo de 33 lomógrafos amadores recriaram os efeitos já clássicos com câmeras analógicas e o resultado é inacreditável. Siga o link abaixo e comprove.

http://tvuol.uol.com.br/#view/id=lomos-na-tailandia-0402366AD0B13326/user=nmkpewmbfram/date=2008-11-24&&list/type=tags/name=Efeito%20especial/tags=18449/

http://beta.lomography.com/magazine/blog/2008/11/17/see-you-around-a-film-by-chaweemek

segunda-feira, novembro 17, 2008

Um contraponto sobre Obama

A opinião que reproduzo abaixo é de Simon Jenkins, publicada pelo jornal britânico The Guardian e traduzida pelo jornal O Estado de S. Paulo.
Merece ser lida, no mínimo como contraponto a uma certa euforia, da qual não partilho, de que Obama por si só trará soluções que nem a política à qual está enlaçado nem a conjuntura na qual foi gerido podem favorecer.
O que escrevi no dia da histórica vitória democrata e reitero é que a ascenção de Obama é, sim, um fato novo; abre uma porta que estava fechada, possibilitando a setores segregados historicamente uma posição de mando em um país que, até os anos 60 do século XX, ainda queimava negros em praça pública, utiliza-os para testes químicos e impedia pela força e pela Lei a convivência multiracial.
O fato real é que essa porta não se abriria apenas pelo carisma de Obama e pelo marketing de posicionamento magistralmente conduzido por sua campanha. Era preciso que a conjuntura jogasse no colo desse homem "diferente" dos que se sucederam no comando do império, a posição de mando justamente quando as colunas de pedra começaram a ruir. Obama sinaliza esperanças para uns, mas, ao mesmo tempo, é para as eleites um sintoma de que os de cima não podem mais governar como governavam e os de baixo não querem mais ser governados como antes. Terá que viver e governar uma crise sem precedentes e contará, para isso, com um crédito de esperanças jamais visto na história recente.

_________________________________


Obama e o sonho americano

Por Simon Jenkins

Vendam Obamas agora: eles estão supervalorizados e os mercados futuros estão enlouquecidos por eles. Alguns meses depois de Barack virar presidente, a bolha vai estourar. Desde que ouvi falar dele pela primeira vez, há quatro anos, senti que havia um presidente em formação. Como o jovem Mandela, Obama parecia ter a aura de uma liderança nacional incipiente. Sua personificação do sonho americano era admirável.
O mundo não-americano queria que Obama vencesse. Essas pessoas não votaram. Mas o eleitorado dos EUA também deu preferência a ele. O mundo prefere Obama principalmente porque ele é negro; os americanos, porque ele não é republicano. Nenhuma dessas razões é sólida. Para a maioria dos não-americanos, negro ainda é um código para distância do establishment americano.
Qualquer um que vá à Europa, à África ou ao mundo muçulmano fica chocado com a antipatia aos EUA, que vai além da ideologia: é uma aversão visceral, não relacionada com qualquer apreço pessoal aos americanos individuais ou ao seu invejado modo de vida. Mas o mesmo visitante fica impressionado com a freqüência com que lhe asseguram que uma presidência Obama “mudaria tudo”. A razão disso não é que Obama seja contra a guerra e a favor dos palestinos ou da esquerda ou da direita. É que suas origens fazem dele a coisa que ele nega com a maior veemência, a de não ser um americano comum.
Para esse mundo, Obama é um suposto representante de uma classe oprimida, por mais que seu discurso, modos e carreira digam o contrário. Ele é negro. Simboliza o fim da supremacia “wasp” (a elite americana branca protestante). O motivo de sua candidatura ter incomodado muitos americanos é o motivo pelo qual o mundo ficou eletrizado por ela: Obama é meta-americano.
Mas Obama é um político. Sabe que terá de fazer mais do que belos discursos. Terá de enfrentar os destroços da economia mundial cujo colapso se deveu, em grande parte, à má gestão das finanças americanas, de cuja responsabilidade, como senador, ele não pode de todo se eximir. Terá de restaurar o crédito para os mercados e a confiança para o comércio. Terá de trazer saúde e bem-estar para um país cujos pobres parecerão mais “Terceiro Mundo” quando o desemprego começar a morder. Para milhões, parecerá um messias. Outros milhões poderão se decepcionar.
No exterior, terá de encerrar duas guerras e trazer sanidade mental a uma diplomacia caótica. A expectativa de que será um arauto de paz e da salvação econômica é provavelmente a maior desde Roosevelt. O ônus da expectativa é espantoso.
O carisma e a retórica de Obama até combinam com esses desafios. Suas políticas declaradas, não. Seu desejo de sair do Iraque não é muito diferente do desejo de Bush e do governo iraquiano. Mas seu desejo de fortalecer a guerra no Afeganistão é temerário. Obama aprovou o bombardeio de alvos no Paquistão, recuou da conciliação com o Irã e nada fez sobre a provocação exibicionista da Rússia.
Em casa, poderia ser um democrata convencional, a favor de impostos, gastos públicos e proteção tarifária. Embora parte disso seja assunto dos EUA, a economia mundial precisa tanto de um americano protecionista como de uma bala na cabeça.
Há uma perspectiva ainda mais alarmante: a de que um presidente democrata, com um Congresso a seu favor, deve se abster de parecer mole ou “apaziguador do terror”. Na política, quanto mais liberal o homem, de modo mais iliberal ele pode se comportar, como foi o caso com Clinton e Blair. Obama precisa se distanciar dos atos patrióticos da guerra ao terror de Bush.
Obama se proclama a revolução da vida pública americana. Mas seu histórico é tudo menos radical. Ele apóia até mesmo o porte de armas. Não fosse sua cor, seria um candidato concorrendo numa chapa democrata convencional, com poucas políticas mais construtivas que as de seu adversário.
Nada disso é argumento para não gostar de Obama. Na Washington de hoje, uma modesta competência poderia parecer revolucionária. Mas a liderança democrata é como Ícaro: suas asas derretem assim que voa para perto do Sol. Obama está voando bem perto.

sexta-feira, novembro 14, 2008

Muda modelo de remuneração das agências

Alexandre Zaghi Lemos

Os sistemas de remuneração por fees já são maioria nos contratos que regem o relacionamento entre os grandes anunciantes e suas agências de publicidade. É o que revela a segunda pesquisa realizada no Brasil pelo Grupo Consultores, que tem sede na Espanha e já exportou sua metodologia para diversos mercados do mundo. Dessa vez, foram ouvidos 350 executivos de empresas anunciantes, responsáveis por administrar orçamentos de R$ 33,5 milhões, em média. As entrevistas foram feitas entre abril e agosto, a maioria em São Paulo (77%) e no Rio de Janeiro (10%).
O avanço da modalidade de fees pode ser verificado na comparação com o levantamento anterior, realizado em 2006 com 278 profissionais de marketing. De lá para cá, o índice de clientes que recorrem ao sistema subiu de 45% para 64,6%; destes, quase metade (47%) disse praticar atualmente o fee mensal.
Entretanto, no mesmo período o pagamento por comissões dependentes da veiculação em mídia não foi descartado, mantendo-se estável na casa dos 47% (pequena variação negativa de 47,6% para 47,2%). O modelo híbrido é adotado por 16% dos anunciantes, que estabeleceram contratos mistos com suas agências, baseando-os em fees e em comissões.
Outra mudança importante apontada pela pesquisa é o aumento da remuneração variável, praticada atualmente por 16,4% dos clientes ouvidos - o que significa mais que o dobro do índice aferido há dois anos (7%).
"Em todo o mundo há uma queda na prática de remunerar as agências de publicidade por comissão, paralelamente ao avanço do sistema de fee. O pagamento por comissão só é dominante nos mercados asiáticos", acrescenta o presidente do Grupo Consultores, César Vacchiano.
O levantamento investigou também como é avaliada a performance do relacionamento entre agências e anunciantes para se chegar aos valores componentes da remuneração variá­vel. Entre os 16,4% dos anunciantes que trabalham com essa modalidade, mais da metade (58,95%) define as quantias a serem pagas às agências a partir de uma avaliação do cumprimento dos objetivos traçados anteriormente pelas duas partes.
Já 38,4% relacionam a remuneração variável diretamente aos resultados alcançados pela empresa naquele período, método que Vacchiano considera injusto para as agências. "O desempenho das empresas depende de inúmeros fatores que não estão diretamente ligados ao trabalho das agências", opina. Além disso, 29,5% dos anunciantes realizam uma avaliação anual dos serviços prestados pela agência e atrelam a isso a remuneração variável.
Segundo o Grupo Consultores, a remuneração variável vem evoluindo de maneira exponencial nos Estados Unidos, onde sua incidência era de 17% em 1988, saltou para 30% em 1997 e atingiu 50% neste ano. Esse índice só é superado pelo do Reino Unido, onde o sistema é usado em 56% dos relacionamentos dos anunciantes com suas agências de publicidade. Com índices um pouco acima do brasileiro ainda estão Alemanha (22%), China (20%), França (19%) e Espanha (18%). Abaixo, somente o Japão (8%).
"O Brasil está hoje no mesmo patamar de remuneração variável que os Estados Unidos atingiram há 20 anos. Entretanto, vem avançando rapidamente nos últimos anos", observa Graziela Di Giorgi, diretora do Grupo Consultores para o mercado brasileiro.
Veja, a seguir, algumas das principais conclusões da pesquisa, que investigou detalhes dos processos de seleção de agências e as razões que motivam as trocas de parceiras:

Critérios de seleção: Os fatores mais determinantes são a criatividade (76,6%), o fato de a agência não atender contas conflitantes com a sua (76,3%) e a transparência nos modelos de remuneração (75,4%).
Métodos de escolha: As concorrências são apontadas como principal mecanismo, tendo subido de 75,9%, em 2006, para 85,1%, em 2008, à frente da escolha direta (14,9%), da imposição da matriz externa (13,7%), dos processos intermediados por consultores (11,2%) e da análise de credenciais (7,1%).
Sem remuneração: Apesar de muitos dos anunciantes ouvidos considerarem correta a remuneração das agências participantes de concorrências, a maioria (79,3%) não coloca essa premissa em prática. Apenas 16% dizem remunerar as participantes de processos de seleção - índice que é bem maior em outros mercados, como China (29%), Europa (52%) e Estados Unidos (64%).
Mesa de compras: Em 6,6% dos casos, o departamento de compras (procurement) das empresas participa das concorrências para a escolha de agências de publicidade. Após o processo de seleção, a intervenção das áreas de compras nas negociações quanto ao modelo de remuneração chega a 40%.
Assédio constante: Os anunciantes dizem ser abordados em média 12,9 vezes por ano por agências interessadas em atender suas contas publicitárias. Desse total, aceita assistir a uma média de 6,6 apresentações por ano. O Grupo Consultores considerou alto o grau de anunciantes que gostam de receber agências e atribui essa prática ao fato de as apresentações serem vistas como consultoria gratuita.
Duração dos casamentos: A relação entre anunciante e agência tem durado, em média, 4,8 anos no Brasil. É um tempo maior que o aferido na China (2,5) e na Espanha (4,3), mas menor que as médias européia (6,4) e norte-americana (6,5).
Motivos para mudanças: As principais razões apontadas para a troca de agência foram a falta de criatividade (38,6%), o atendimento ruim (36,9%), a pouca pró-atividade (28%), o não-cumprimento dos prazos (22,6%) e a ausência de transparência na relação (21,1%).
Comunicação integrada: A maioria (54%) dos anunciantes preferiria contar com uma única agência capaz de lhes oferecer todas as disciplinas da comunicação, enquanto 45% consideram tal modelo utópico.

Fonte: Meio & Mensagem

Marketing

terça-feira, novembro 11, 2008

Fenapro nomeia coordenadores de grupos

Coordenadores são presidentes ou vice-presidentes das Federações de diversos Estados, mas, como de praxe, não há nenhum representante do Norte do país.

Com o objetivo de implementar as 21 recomendações aprovadas no IV Congresso Brasileiro de Publicidade, durante o painel "A Realidade dos Mercados Regionais", a Fenapro – Federação Nacional das Agências de Propaganda nomeou os coordenadores dos seis grupos de trabalho, que abordarão respectivamente os temas de licitações públicas; carga tributária; formação educacional e incentivo aos jovens estudantes; aprimoramento e incentivo ao mercado e aos profissionais; relação com os poderes Executivo, Legislativo e Judiciário e valorização, contratação, parcerias e acordos operacionais.
Os coordenadores dos grupos são presidentes ou vice-presidentes da Federação e de Sindicatos das Agências de Propaganda de diversos Estados como Minas Gerais, Rio de Janeiro, Paraná, Distrito Federal, Mato Grosso do Sul e Pernambuco, que terão a missão de supervisionar o desenvolvimento dos trabalhos, aprovar a forma de realização e colocar em prática as ações. "A proposta é que cada grupo, de forma coordenada, avance para consolidar as recomendações aprovadas no IV congresso", afirma Ricardo Nabhan, presidente da Fenapro. A partir de agora, os grupos irão se reunir regularmente.
Os trabalhos de cada um dos grupos será coordenado por Ricardo Nabhan e Sain't Clair de Vasconcelos, com o apoio da assessoria jurídica da Fenapro.
Além dos representantes dos Sinapros e da Fenapro, foram convidados para integrar os grupos representantes da ABERT (Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão), do IVC (Instituto Verificador de Circulação), Ibope, CIEE (Centro de integração Empresa Escola) e ESPM (Escola Superior de Propaganda e Marketing).
Cada grupo definiu temas específicos de trabalho. Estas são algumas das propostas que serão trabalhadas por cada grupo:
Licitações públicas - Juliano Torres Sales, presidente do Sinapro-MG - apoio formal ao Projeto de Lei 3.305, de autoria do deputado José Eduardo Cardoso, que trata sobre licitações públicas. Irá recomendar que o PL inclua a modalidade de consórcio da agências nas licitações públicas;
Carga tributária - Glaúcio Binder, presidente do Sinapro-RJ e VP da Fenapro para a Região Sudeste - esforços para reduzir a carga tributária;
Formação educacional - Eduardo Crivelente, VP da Fenapro para a Região Centro-Oeste - recomendação para que universidades e faculdades de Comunicação incluam na grade curricular estudo sobre a legislação da atividade publicitária e realização de convênios visando incentivar o estágio dos alunos em empresas prestadoras de serviços;
Aprimoramento e incentivo ao mercado e profissionais - Kal Gelbecke, presidente do Sinapro-PR - estimular investimento do trade regional na maior profissionalização e aprimoramento dos serviços, com investimentos em treinamento, pesquisas, auditagem e checking de mídias nos mercados regionais;
Relação com os poderes Executivo, legislativo e Judiciário - Fernando Bretas - presidente do Sinapro-DF - Contribuir para dirimir litígios decorrentes do relacionamento comercial entre anunciantes, ag~encias, produtores e profssionais de comunicação e outros por meio da Câmara Nacional de Arbitragem na Comunicação;
Valorização, contratação, parcerias e acordos operacionais - Alexandre Oliveira - VP da Fenapro para a Região Nordeste - Estimular, por parte dos anunciantes, a contratação de fornecedores de serviços de comunicação e agências de propaganda regionais e incentivar a aplicação do guia das boas práticas de contratação elaborado pela ABA e Fenapro.
A ausência de um nome do Norte do país dentre os coordenadores nomeados manifesta, uma vez mais, a ignorância dos dirigentes do negócio da propaganda brasileira acerca das especificidades do nosso mercado regional, o menosprezo desses dirigentes pelo negócio da propaganda na Amazônia e, por consequência, o papel secundário de nossos dirigentes regionais nos órgaos nacionais de representação.
Essa realidade cristaliza nosso isolamento e cala nossa voz diante da dura realidade de uma divisão de verbas nacionais que ignora a existência e importância de nosso mercado regional e eterniza, sobretudo, a concentração de verbas públicas federais nos mercados já consolidados.

sexta-feira, novembro 07, 2008

Frase

"Na versão online da democracia, há muita gente falando, mas são poucos os que ouvem." (Editorial da Monthly Review)

quarta-feira, novembro 05, 2008

Obama: o triunfo do improvável

A noite avançava velozmente quando chegaram as primeiras notícias: Barack Hussein Obama é o 44º presidente dos EUA. John McCain reconheceu a derrota em discurso pronunciado timidamente, como o rugido leve de um velho leão ferido.
O novo presidente vai à Casa Branca, em janeiro, tendo à sua frente muito mais trabalho do que a tradicional "arrumação de casa", com a qual governantes perdem metade de seus mandatos.
Tem diante de si a maior crise financeira desde o crash de 29 e a perceptível perda de poder e influência dos EUA em um mundo cuja dinâmica o império não conseguiu sequer antever com a profundidade necessária. Embriagado com a queda do Muro de Berlim e a derrota do "socialismo real", enebriado com a jornada de ódio e sede de lucro que moveu suas tropas pelas areias do Iraque e pelas montanhas do Afganistão após 11 de Setembro, o império de Bush estava cego, trôpego, cambaleante. Nada mal se esse gigante bêbado não nos levasse junto para seu coma alcóolico. A crise dos EUA é a crise do modo de produção capitalista em sua fase especulativa, mas é em sua base que o peso é mais sentido.
Independente da análise fria que nos diz que para o Brasil nem sempre o que é bom para os Estados Unidos nos favorece, é inegável que a vitória de Obama é um fato histórico de extrema relevância.
Em Cuba, o presidente Lula deixou escapar, em um de seus comentários quase ingênuos, que se alguém sonhasse em 1998 que dez anos depois um índio seria o presidente da Bolívia, um torneiro mecânico seria o presidente do Brasil e um negro seria eleito presidente dos Estados Unidos com uma votação consagradora, "o sujeito seria internado como louco". Os mais afoitos ainda incluiriam na lista delirante a presença de Carla Bruni como primeira dama da França. O tempo da loucura está aqui. Vivemos nele e ele vive em nós.
O mundo virou de ponta-cabeça em 10 anos e a nação mais próspera e poderosa do mundo se viu, de novo, diante da necessidade de comprar sonhos. E foi assim que Obama prevaleceu sobre McCain. Seu grande desafio será entregar a mercadoria que vendeu.
"Nos discursos de campanha, Obama dirigia-se, primeiro, ao coração de suas platéias. Só depois capturava-lhes as mentes", escreveu Josias dos Santos para a Folha de S Paulo na edição de hoje.
E foi assim. E quem quer saber se ficava no ar o leve olor de falta de consistência a Obama. Numa fase em que Hillary Clinton ainda media forças pela vaga do Partido Democrata, Bill Clinton disse: “Você pode fazer campanha em poesia, mas governa em prosa”. A metáfora do marido de Hillary, um ex-presidente muito bem avaliado, resume o drama de Obama.
Josias dos Santos, em sua ótima análise, resume assim: "O triunfo nas urnas tanto pode convertê-lo em estadista como em fiasco. Por ora, sabe-se apenas que os eleitores americanos decidiram optar pela ousadia. A América fez uma concessão ao improvável. Acomodou no comando do império a mais vistosa novidade produzida pela política americana nos últimos tempos. Some-se à ascensão meteórica de Obama a cor da cútis do novo presidente e tem-se uma exata dimensão do novo."
Obama, um mulato – filho de um negro queniano com uma americana branca do Havaí - é o primeiro "homem de cor" a sentar-se na poltrona de presidente da economia mais importante do planeta. Não é pouca coisa. Isso, em si, vale sua eleição. Vale a emoção que provoca, vale o aumento no número de votantes na confusa eleição dos EUA. Quando Obama nasceu, negros não podiam conviver nos mesmos espaços com brancos sem serem objeto da ira e do espanto da maioria branca, que se julgava "superior". No sul dos Estados Unidos havia nos ônibus cadeiras reservadas para negros como hoje há as reservadas para deficientes. Agora, a mão retinta de Obama terá o poder e espera-se dele a sensatez de decidir com a razão.
Em julho passado, falando para uma multidão de cerca de 200 mil pessoas, em Berlim, Obama disse:
"Eu sei que não pareço com os americanos que já falaram aqui. A história que me trouxe aqui é improvável".
E o improvável se tornou possível, real, em um mundo onde o capital grita de dor e divide o ônus de sua doença mortal com os mais pobres, que são os que mais sofrem. Obama irrompe nesse momento como um sopro de esperança. Isso é inquestionável. Como inquestionável é a poesia presente na trajetória do sucessor de George Bush e em sua campanha eleitoral, impecável como as camisas brancas, sempre bem engomadas, que Obama vestia ao longo de toda a jornada épica de caça aos votos que, nos Estados Unidos, dura um ano inteiro.
Lembrando a silhueta de Malcolm X sobre a face negra de Obama, olhando os vídeos de sua campanha, ouvindo seus discursos fortes e serenos, reconhecendo em sua história traços do improvável, o alerta de Clinton volta a nos assaltar. Chegou a hora da prosa.
Mas mesmo nessa hora é bom admitir que Obama é um sopro do novo na velha e nefasta política dos EUA. Com ele, vem a inspiração que reconduz ao verso.
Enquanto escrevo, atrás da cortina de aço das cordas de The Edge, Bono Vox me faz companhia cantando "Beautiful Day": "está um belo dia \ não o deixe escapar".

segunda-feira, novembro 03, 2008

A crise sob o olhar da esquerda estadunidense

A revista estadunidense de orientação marxista Monthly Review, em seu editorial de outubro 2008, analisa o caráter da atual crise do capitalismo financeiro e pergunta o que deveria a esquerda dos Estados Unidos fazer nesse momento. Embora longo para ser postado em um blog - que, manda a regra, se limite a textos menores - vale muito a pena conhecer a análise da esquerda que vive, literalmente, no olho do furacão.

Eis o editorial.

No editorial do número de Setembro da Monthly Review perguntávamos por que não havia indignação pública nos Estados Unidos com o pacote de salvação do setor financeiro. Como observamos naquele momento, "afinal de contas parece não haver explicação satisfatória para a falta de protesto popular sobre uma série de doações ad hoc que derrama centenas de milhões de dólares de dinheiro público sobre o grupo mais rico de capitalistas do planeta. E isto levanta a questão: Estaria a indignação, no entanto, crescendo subterraneamente, não sendo ouvida e não sendo vista? Será que ela arrebentará subitamente, como uma velha toupeira, de forma imprevista e de modo não imaginado?".
O colapso do Lehman Brothers em 15 de Setembro, o congelamento dos mercados de crédito, o plano de emergência do secretário do Tesouro Henry Paulson de um salvamento de US$700 milhões de firmas financeiras, oferecendo "dinheiro por lixo", isto é, propondo comprar os resíduos tóxicos de títulos apoiados por hipotecas virtualmente sem qualquer valor a expensas do contribuinte - respondeu rapidamente à nossa pergunta. Quando o Tesouro dos EUA envolveu-se no ato com a sua proposta de salvamento, requerendo autorização do Congresso, desencadeou-se o inferno. Subitamente, a indignação pública que estivera submersa explodiu. A classe capitalista estadunidense foi abruptamente confrontada com uma grande crise política, assim como econômica.
A ira visível da população quanto ao plano de salvamento não impediu o Departamento do Tesouro, a liderança do Congresso, o presidente, e os dois candidatos presidenciais - juntamente com o capital financeiro - de avançarem e remendarem em conjunto um acordo baseado em grande medida na proposta original de Paulson. O que era completamente inesperado, contudo, foi a revolta na Câmara dos Deputados em 29 de Setembro, com 133 republicanos e 95 democratas votando contra o pacote de salvamento dos US$ 700 mil milhões, levando à maior queda pontual na história do mercado de ações dos EUA.
Não há dúvida, os detentores do poder logo abriram o seu caminho, e uma versão da proposta do Departamento do Tesouro, com elementos acrescentados destinados a dar cobertura política aos representantes que alteraram os seus votos, foi logo aprovada. Mas a revolta inicial na Câmara mudou para sempre a natureza da pior crise financeira desde a Grande Depressão, tornando-a pela primeira vez abertamente política, deixando uma herança de discordância popular. A politização da questão do salvamento e as cada vez mais desesperadoras condições econômicas garantem que as conseqüências a longo prazo para o capitalismo estadunidense serão imensas.
Ninguém tem uma bola de cristal para olhar o futuro, e a natureza desta crise torna impossível prever o que acontecerá. Mas umas poucas coisas parecem óbvias. Primeiro, o salvamento a ser executado pelo Departamento do Tesouro, apesar de maciço, na melhor das hipóteses apenas impedirá um colapso imediato. Ele não porá fim à crise financeira. O gênio da financeirização está fora da garrafa e vai levar tempo para enfiá-lo ali outra vez. A crise dos empréstimos habitacional e hipotecário de qualquer forma não foi debelada. O Fed e outros agentes do governo federal já despejaram mais do que os US$700 mil milhões do pacote do salvamento (incluindo resgate de hipotecas de casas) no sistema financeiro ao longo do ano passado na forma de empréstimos, garantias, swaps, dádivas e tomadas de controle ("A Tally of Federal Rescues", New York Times, September 28, 2008; "Treasury and Fed Looking at Options", New York Times, September 29, 2008). Ao mover-se rapidamente da condição de prestamista de último recurso para a de investidor de último recurso, o governo federal esticou enormemente os seus recursos - já sob tensão devido às guerras do Iraque e do Afeganistão.
Segundo, o declínio rápido da hegemonia econômica dos EUA agora é óbvio para todo o mundo e é provável que prejudique a vontade de investidores e governos estrangeiros de tomarem dólares - o que é necessário para financiar a dívida crescente dos EUA. Cresce a pressão internacional para impedir Washington de exportar a sua crise para fora. O presidente brasileiro Luís Inácio Lula da Silva pediu que os estados latino-americanos, africanos e asiáticos não fossem transformados em "vítimas do cassino erguido pela economia americana" ("U.S. Crisis Deepens Divisions in S. America," Washington Post, October 1, 2008). Na verdade, o imperialismo estadunidense está enfraquecendo visivelmente por toda a parte.
Terceiro, o problema real ainda não está sendo tratado: a estagnação da economia dos EUA (e de países capitalistas avançados). Isto não é tanto um efeito da crise financeira, como habitualmente se supõe, e sim em primeiro lugar a causa do vasto crescimento da superestrutura financeira - e a razão porque a explosão da bolha financeira é um desastre tão imenso e atualmente inultrapassável (ver "The Financialization of Capital and the Crisis," MR, April 2008). A estagnação da produção, simbolizada pelos recentes US$25 mil milhões em garantias federais a empréstimos aos grandes fabricantes de automóveis, recebeu relativamente pouca atenção face à crise financeira astronômica, mas continua no cerne do mal-estar econômico.
Finalmente, agora está penetrando profundamente na consciência pública nos Estados Unidos que a questão mais importante no fim das contas é: Quem pagará? O acordo do salvamento evadiu-se à questão ao deixar para o próximo presidente sugerir um caminho para compensar o público pelas perdas com a compra de lixo financeiro tóxico pelo Tesouro. O que isto significa é que a batalha política real apenas começou.

Crise irreversível

Se são estas as dimensões principais do problema, o que deveria a esquerda estadunidense fazer nesta altura? Não é uma pergunta de resposta fácil. Não é nossa tarefa consertar o sistema. Nem é ele de fato consertável. Como Harry Magdoff e Paul Sweezy argumentaram em 1988, no rescaldo na crise do mercado de ações de 1987, isto é, julgado a partir de uma visão mais ampla, uma Crise Irreversível. Não há, portanto soluções visíveis. Sob tais circunstâncias, a ênfase deveria ser sobre a redução da desigualdade, o fortalecimento da posição dos trabalhadores, proporcionar empregos decentes para pessoas efetuarem o trabalho para o qual estão preparadas, e garantir bens sociais essenciais como: cuidados de saúde adequados, alimentação, habitação, educação, Segurança Social, pensões de reforma e proteção ambiental. Os gastos militares deveriam ser cortados drasticamente e utilizados para financiar programas sociais necessários. Deveria ser aplicado um imposto sobre o comércio de títulos e idealmente também um imposto sobre a riqueza.
Tais coisas só podem ser alcançadas, contudo, se a população se levantar e exigir controle sobre a política econômica. Mais uma vez, não deveríamos pretender nem por um momento que qualquer destas coisas repararia o que há de errado com o sistema capitalista. Não o faria. Mas algumas destas medidas são necessárias para criar uma vida melhor para a vasta maioria da população, e como um passo de afastamento do capitalismo e em direção a uma melhor alternativa socioeconômica.
Certamente há algo a dizer quanto à visão do deputado Peter DeFazio (D-OR) quando, em resposta ao salvamento de Paulson, escreveu ("Wall Street Bailout Won't Help Main Street," Eugene Register-Guard, September 29, 2008): "Na Workds Progress Administration, do presidente Franklin Roosevelt, investimos em construção de estradas, pontes, barragens hidroelétricas e outros projetos de obras públicas para reconstruir a economia quebrada do nosso país". DeFazio avançava para argumentar que se um plano de salvamento deveria ser adotado este deveria ser pago por uma transferência fiscal de títulos, tal como realmente existiu nos Estados Unidos de 1914 a 1966.
O senador Bernie Sanders, de Vermont, propôs um [plano] de cinco anos, com uma sobretaxa de 10 por cento sobre indivíduos com rendimentos de mais de US$500 mil por ano e sobre famílias com rendimentos de mais de US$1 milhão por ano. Nada disto resolveria as contradições nucleares do sistema. Mas tais ações representariam um arranque na direção correta. É mais do que tempo de que na implacável guerra de classe que tem sido travada pela classe capitalista contra a classe trabalhadora, desde o princípio da década de 1970, o povo estadunidense pelo menos comece a defender-se em massa, insistindo para que as suas necessidades sejam atendidas. Em grande parte do resto do mundo a existência contínua da ordem do capital monopolista-financeiro dominado pelos EUA, habitualmente identificada como neoliberalismo, já está - ou estará em breve - a ser desafiada.
Estes problemas serão discutidos mais completamente na revisão do mês de Dezembro e num livro de John Bellamy Foster e Fred Magdoff, The Great Financial Crisis: Causes and Consequences, a ser publicado em Janeiro pela Monthly Review Press.
Não precisamos recordar aos leitores da MR que o atual desastre econômico é apenas parte de um fracasso mais geral do sistema capitalista, e que há outras razões igualmente prementes para a revolta: mais notavelmente, as crescentes catástrofes da guerra e da destruição ambiental. O que estamos enfrentando muito claramente é um novo momento histórico, no qual uma política genuinamente radical pode voltar a ser possível - no próprio Estados Unidos.

É hora de uma governança global?


Nos últimos 15 anos, a internet permitiu que o dinheiro fosse transmitido de um canto a outro do planeta com um clique. Em 2008, possibilitou mobilizar milhões de eleitores para produzir a eleição mais cara da história no país mais poderoso do mundo. Agora, os dados estão lançados: as próximas mudanças afetarão as regras da democracia e talvez terminem por mudar a maneira como os países se organizam.
O comentário é de Pedro Doria e publicado no jornal O Estado de S. Paulo, 03-11-2008.
Nossos maiores problemas não são nacionais. Ameaça de colapso financeiro, aquecimento global, flutuação nos preços de alimentos vinda de especulação financeira, tráfico, pirataria e crimes cibernéticos. O grande desafio é que nenhum governo, sozinho, tem o poder de resolver esses problemas.
Nas próximas décadas, precisaremos de um novo tipo de governo.
Para compreender a questão, visitei o Instituto Para o Futuro (IFTF), um dos mais importantes centros de pesquisa do Vale do Silício (Califórnia), dedicado inteiramente a compreender como as mudanças tecnológicas estão mudando o planeta. Quem me recebeu lá foi Jake Dunagan, um cientista político formado pela Universidade do Havaí, conhecida por seu departamento de futurologia.
"De onde nasceu nossa democracia representativa?", pergunta Jake, que responde em seguida. Quando os americanos inventaram o que entendemos por democracia, no século XVIII, o ritmo era outro. Uma carta vinda do norte dos EUA demorava algumas semanas para chegar ao sul. Simplesmente não havia como todos os cidadãos com direito a voto se reunirem numa praça, como acontecia em Atenas, para tomar decisões. Mais simples foi reunir representantes eleitos pelos estados em um parlamento. "Agora que temos a tecnologia para ouvir todos os eleitores, não deveríamos cogitar em implementar uma democracia direta?" Que se dispense o parlamento. Todos votam diretamente, pela internet ou pelo celular.
A idéia tem críticos. Há algumas semanas, num debate na Universidade de Berkeley, Larry Lessig lembrou alguns dos defeitos da democracia direta. Deputados, idealmente, têm por trabalho se especializar nos dilemas que afetam uma nação. Algumas questões são profundamente técnicas, ninguém vai se especializar em tudo para decidir o que é melhor. Lessig é um dos maiores especialistas nesse complicado encontro das leis com a tecnologia. Sabe do que fala.
Mas Dunagan também: "Nós vivemos no século XXI e, no entanto, temos uma estrutura mundial idealizada no século XVIII." Não temos um governo mundial com o poder de determinar o corte de emissões de carbono, por exemplo. E nenhum governo nacional quer ser o primeiro a fazê-lo. Afinal, quem parar de gastar energia também pára de crescer.
"O modelo do Estado-nação sozinho não resolve mais", continua Dunagan. Ele considera que algum tipo de governança global com poder de verdade, bem diferente da ONU, terá de surgir. Toda a macroestrutura global de telecomunicações integrou o mundo de uma forma tal que, se um quebrar, todos sofrem.
A campanha presidencial americana deste ano já insinua mudanças profundas. Uma delas atende pelo nome MoveOn.org. É uma ONG de esquerda que, em 2008, arrecadou mais de US$ 100 milhões pela internet. Em Washington, é o dinheiro que fala. A indústria do petróleo investe milhões em lobby no Congresso. Nações estrangeiras que querem influenciar a política dos EUA fazem o mesmo. Jamais uma ONG militante teve poder de intervir nesse jogo. Agora, tem.
Até um ano atrás, a origem do dinheiro tanto do Partido Democrata quanto do Republicano estava em grupos que têm interesses específicos. Isso também mudou quando Obama passou a arrecadar grande quantidade de recursos diretamente dos eleitores, pela web.
Quem navega pelo mar de blogs políticos nos EUA, no Brasil, onde for, logo percebe que esse é um jogo para apaixonados. São os apaixonados que doam para as MoveOn.orgs da vida. Suas opiniões são fortes, as convicções irremovíveis. Na versão online da democracia, há muita gente falando, mas são poucos os que ouvem.
"A tendência na rede é de que as pessoas se reúnam com quem compartilha suas opiniões. Já a democracia depende do diálogo", explica Dunagan. "Quando convivemos com idéias diferentes, tendemos à moderação. Mas quando só encontramos gente com quem concordamos, aí radicalizamos nossos pontos de vista. Criamos a ilusão de que somos mais ideologicamente puros, de que não temos dúvidas."
Finalmente, com a internet grupos populares têm condições de disputar com grandes corporações espaço nos corredores do poder. Mas esses grupos, à direita e à esquerda, são os mais radicais. É a paixão, a certeza de que se está certo, que os motiva à participação.
A rede está criando certamente um mundo mais democrático. Mas é uma democracia selvagem.

sexta-feira, outubro 31, 2008

Propaganda eleitoral subliminar

Mensagem subliminar é a definição usada para o tipo de mensagem que não pode ser captada diretamente pelos sentidos humanos. Subliminar é tudo aquilo que está abaixo do limiar, a menor sensação detectável conscientemente. Importante destacar que existem mensagens que estão abaixo da capacidade de detecção humana - essas mensagens são imperceptíveis, não devendo ser consideradas como subliminares. Toda mensagem subliminar pode ser dividida em duas características básicas, o seu grau de percepção e de persuasão.
A percepção subliminar é a capacidade do ser humano de captar de forma inconsciente mensagens ou estímulos fracos demais para provocar uma resposta consciente. Segundo a hipótese, o subconsciente é capaz de perceber, interpretar e guardar uma quantidade muito maior de dados que o consciente. Como exemplo, imagens que possuem um tempo de exposição pequeno demais para serem percebidas conscientemente, ou sons baixos demais para serem claramente identificados. Dados que passariam despercebidos pela mente consciente seriam na verdade interpretados e guardados.
A persuasão subliminar seria a capacidade que uma mensagem teria de influenciar o receptor. Segundo a hipótese, toda mensagem subliminar tem um determinado grau de persuasão, e pode vir a influenciar tanto as vontades de uma forma imediata (fazendo, por exemplo, uma pessoa sentir vontade de beber ou comer algo), como até mesmo a personalidade ou gostos pessoais de alguém em longo prazo (mudando o seu comportamento, transformando uma pessoa tímida em extrovertida). Esse grau de persuasão deveria variar de acordo com o tempo de exposição à mensagem, e a personalidade do receptor.
A percepção subliminar é de fato comprovada cientificamente, com inúmeros experimentos que apresentaram fortes evidências.
Na imagem que ilustra este post, uma suposta campanha pró-cidadania, na verdade um exemplo canalha de propaganda subliminar fazendo uso do bom nome de entidades sólidas e de alto reconhecimento público. Perceba que a expressão “eu voto BEM”, soa foneticamente e assemelha-se visualmente com “eu voto DEM”, nickname do “Democratas” (sic), herdeiro político do recente PFL e, remotamente, do partido chamado Arena, instrumento político de sustentação da ditadura militar no país. O requinte de crueldade: o sinal de positivo, feito com a mão... direita.

quinta-feira, outubro 30, 2008

Rexona estimula experimentação

A Unilever utiliza o suporte Fitness da ENOX Indoor Experience para a ativação da campanha dos novos Rexona Quantum e Rexona roll-on em ambientes indoor. As ações acontecem nas principais academias de São Paulo e atingem um público de mais de 35 mil pessoas quase que diariamente. A divulgação do Quantum conta com displays especiais com o desodorante acoplado para experimentação, com criação assinada pela agência BorghiErh/Lowe*.
Com o mote "Proteção pronta para o futuro", o foco está voltado ao homem moderno que busca "proteção-extra" para enfrentar a correria do dia-a-dia e situações extremas. Os displays com experimentação do produto estão em 25 academias da capital paulistana, entre elas, Estação Fitness, Human Fit, Triatlon Academia e outras três unidades da Nível A. "Proporcionamos a experimentação destes lançamentos num ambiente freqüentado pelo target exato do produto e no momento mais relevante, em que as pessoas realmente precisam utilizá-lo", diz Rafael Cordeiro, um dos diretores da ENOX, ao explicar que a dispersão de público é praticamente nula nesta ação.
Já o Rexona roll-on, com campanha voltada para o público feminino, pode ser visto em 15 academias, entre elas a Runner, Código do Corpo e Progress.

____________________________________________


* Só para não perder a oportunidade. A propaganda é o único negócio onde uma empresa com um nome como este, sem qualquer significado em qualquer língua viva e quase impronunciável, pode ser bem-sucedida; tente colocar um nome assim em uma padaria ou em uma indústria de confecção e prepare-se para a falência irreversível. No livro "Posicionamento", o clássico trabalho de Ries e Trout, há um capítulo inteiro sobre o tema. Chama-se "O poder do nome", onde os autores afirmam que a decisão mais importante que você pode tomar diz respeito ao nome, que sozinho tem um poder imenso em uma sociedade com excesso de comunicação. Pelo visto, o princípio não se aplica às agências de publicidade.

Vivo usa blogs para monitorar mercado

Inegavelmente, os blogs e as redes sociais se tornaram uma importante fonte de informação para os clientes. Mas as operadoras agora também passam a usar essas ferramentas como termômetro da aceitação de novas ofertas e também para monitorar os passos dos concorrentes. "Quando eu monitoro a concorrência eu olho para os blogs", afirma Paulo Cesar Teixeira, vice-presidente executivo de operações da Vivo.
A Vivo também experimentou um feedback em tempo real no lançamento do iPhone, que foi feito simultaneamente com a concorrente Claro. De acordo com Paulo César Teixeira, alguns minutos depois da divulgação dos planos e dos preços do iPhone os blogs já avaliaram as ofertas e, segundo Teixeira, diziam que a Vivo oferecia os melhores pacotes. "Se fôssemos contratar uma pesquisa de opinião não teríamos essa avaliação em tão pouco tempo", diz ele. Teixeira também diz que a partir das impressões retiradas de comunidades do Orkut é possível aperfeiçoar alguns produtos. "Muitas sugestões são positivas. Quando não há impossibilidade técnica ou comercial, nós podemos até acatá-las", diz ele, que reconhece a existência de comunidades do tipo "eu odeio a Vivo".
Segundo Teixeira, a Vivo escolheu alguns atendentes do call center que tinham maior interesse e familiaridade com tecnologia e fez o treinamento para a venda do iPhone disponibilizando o próprio aparelho para elas manusearem. Teixeira não soube dizer quantos aparelhos foram usados no treinamento.

Fonte: TI Inside Online

quarta-feira, outubro 29, 2008

Em defesa do rádio

Amarildo Augusto*

Em seu livro "O rádio na era da informação - teoria e prática do novo radiojornalismo", o jornalista Eduardo Meditsch diz que o rádio é um veículo que oferece proximidade e intimidade, portanto, verosimilhança. Credibilidade.
Pesquisa do Instituto Ipsos Marplan, especializado em mídia, mostra isso com clareza. Os números revelam que, para 54% dos entrevistados, a televisão é um veículo em que eles podem confiar. O rádio é confiável para 75% das pessoas ouvidas.
Meditsch também lembra que dez pessoas podem ouvir, juntas, uma mesma mensagem radiofônica, mas ela será apreendida individualmente. Tudo depende da forma como a mente de cada uma delas é capaz de decodificar a mensagem que está sendo transmitida. Aquilo que é informado por intermédio do veículo rádio, defende o autor, tem mais condições de permanecer gravado na memória do ouvinte porque exige dele uma participação efetiva e ativa. Por isso o rádio é interativo.
O rádio talvez seja o mais democrático meio de comunicação. Quem não tem em sua casa ao menos um aparelho de rádio? Pelo menos 99% dos lares brasileiros recebem as ondas curtas, médias ou de freqüência modulada das centenas de emissoras espalhadas pelo País. Comparando com o custo de um computador, fica fácil perceber qual dos dois é mais acessível economicamente. E nem estamos falando de veículos e escritórios, onde a presença do aparelho radiofônico é quase absoluta.
Pequeno, e de certa forma simples, o aparelho transmissor acompanha o ouvinte onde quer que ele esteja: no banheiro é possível ouvir rádio. No campo, também. Nos estádios de futebol. O rádio é companheiro de muitos. E grande parte é fiel a essa amizade. Outra vez a mesma pesquisa Ipsos Marplan mostra que as pessoas que ouvem rádio ficam sintonizadas entre três horas e meia a quatro horas por dia. E que um mesmo ouvinte permanece em média 45 minutos ligado na mesma emissora.
Embora não seja visto com os mesmos bons olhos pelo mercado publicitário, o poder de penetração do veículo é indiscutível. A comparação entre rádio e televisão é quase injusta, do ponto de vista das vantagens que um e outro oferecem aos anunciantes:

As pessoas passam mais tempo ouvindo o rádio do que televisão

Para convencer o consumidor o comercial tem que ser visto ou ouvido várias vezes ao dia. E as pessoas ouvem mais rádio que vêem TV. Sem contar o fato de que as pessoas absorvem o que ouvem (palavras) com mais facilidade do que o que assistem (imagens), principalmente quando a mensagem estiver em forma de jingle.

O rádio é imbatível durante o horário comercial

O rádio tem o triplo da audiência da televisão durante a manhã e mais que o dobro durante a tarde. Note que o rádio é imbatível justamente no horário em que as empresas e o comércio estão abertos, fazendo dele mídia obrigatória para quem quer efetuar uma venda. A TV só tem boa audiência à noite, quando o comércio está fechado e o cliente, em casa.

O rádio chega aonde a TV não vai

O rádio é o único veículo que atinge o consumidor em qualquer lugar: começando o dia com o rádio-relógio, como companhia no café da manhã, no ônibus e no carro, a caminho do trabalho, no restaurante ou na lanchonete, na praia, na fazenda, no cooper e na bicicleta com o walkman, ao lado enquanto navega na internet. Enfim, o rádio é o único veículo que tem um público exclusivo, enorme e pronto para receber uma mensagem.

O horário nobre do rádio dura 13 horas. O da TV, só três

O rádio é imbatível das 6 horas da manhã até às 19 horas. A TV alcança seu pico entre 19 e 22 horas. São quatro vezes mais eficiência a favor do rádio. E com um custo 15 vezes menor.

Um comercial de rádio pode mudar em menos de uma hora. Na TV isso não funciona assim

Um bom comercial de rádio pode ser produzido e estar no ar em menos de uma hora, enquanto na TV requer mais de um dia e a boa vontade da emissora. Não é à toa que vemos tantos comerciais "de Natal" sendo veiculados na TV após 25 de dezembro, coisa que não acontece no rádio porque nele o comercial já mudou na madrugada do dia 26.

Uma produção de alto nível no rádio custa 95% menos

Você pode usar dez helicópteros, 20 carros de Fórmula 1, uma fábrica inteira e milhares de pessoas em um comercial de rádio gastando quase nada e em prazo recorde. Isto porque o rádio usa a imaginação do consumidor, ao invés de usar o seu bolso. Tente fazer a mesma cena na televisão e ela se transforma em uma superprodução de alguns milhares de dólares e meses de filmagem. Além disso, quando você mostra uma "bela imagem" na TV, ela pode ou não agradar o consumidor. Mas se você diz a ele, no rádio, que ali está uma "bela paisagem", ele imagina a paisagem de seus sonhos.

Anunciar em rádio custa 15 vezes menos que na tevê

Não é necessário fazer comentários. Mesmo com todas estas vantagens, o mercado praticamente ignora o rádio. Citando novamente a pesquisa Ipsos Marplan, 60,4% das verbas publicitárias do País são direcionadas para a televisão. Outros 23,4% vão para os jornais. As revistas ficam com 8,9% desse bolo, enquanto 1,3% ficam com a mídia externa. Para o rádio vão apenas 4% dos recursos publicitários. É muito pouco para um potencial tão grande.
O jornalismo no meio do rádio é um caso a parte. Grandes emissoras, como a CBN (Central Brasileira de Notícias), Globo, Bandeirantes, Jovem Pan, para ficar apenas entre as paulistas, investem pesado em radiojornalismo. São, na maioria, seu carro chefe e compromisso com o ouvinte. Nessas emissoras, a independência financeira e a isenção política lhes permitem exercer um jornalismo sério, apartidário, sem rabo preso.
Embora, seja necessário lembrar que a corrente de analistas que vê o veículo hoje "correndo atrás" da tevê e das agências de notícias, essas emissoras vêm cumprindo bem o papel a que se dispuseram: informar a sociedade.
O mesmo não se pode dizer, com boas exceções, das emissoras menores, do interior do Estado e do País. A isenção do poder público, o distanciamento necessário para crítica construtiva, seu papel simultâneo de formador de opinião e porta voz da sociedade nem sempre estão no nível desejado. A dependência financeira das prefeituras e câmaras municipais impede que esse papel seja exercido a contento. Não por responsabilidade dos profissionais de radiojornalismo, mas pelos compromissos comerciais, muitas das vezes motivados por interesses menos nobres, outras por uma mera questão de sobrevivência.
Em que pese todas as dificuldades e vantagens, para o profissional que opta por se aventurar no veículo rádio, resta saber uma última face do poder do rádio: sua capacidade de seduzir o profissional. Por todas as suas características e desafios o rádio é apaixonante. Informar o ouvinte de viva voz, instantaneamente; receber o retorno quase que imediato dos ouvintes, entre outras emoções, não têm preço. É preciso estar preparado para enfrentar esse desafio, mas também é preciso saber que ele vale a pena.


*Amarildo Augusto, é repórter e produtor de rádio.

Em resposta a um questionário de alunos de comunicação

O que é marketing?

Os dicionários definem marketing como "a oferta de mercadorias ou serviços de modo a atender às necessidades dos consumidores".
Por essa definição, marketing compreende descobrir os desejos do cliente, fazendo com que os produtos de uma empresa atendam a essas exigências. Essa é uma definição mecanicista, que não apreende o espírito do conceito e sim o movimento mecânico dos processos de regulação de mercado.
Segundo essa abordagem, marketing bem-sucedido significa ter o produto certo disponível no lugar e no momento certos e assegurando que o cliente tenha consciência disso. Parece fazer sentido, mas isso não explica o que é marketing, apenas explica precariamente como ele funciona. É como você pedir para alguém explicar o que é uma televisão e o interlocutor dizer: "você liga a tomada na corrente elétrica, aperta o botão do play e espera um segundo até que a imagem apareça".
Na verdade, marketing é interação, é troca; e trocas acontecem entre equivalentes. Para que haja marketing, é preciso que os agentes queiram trocar entre si equivalentes em um ambiente (mercado) regulado pela relação entre oferta e procura. Os instrumentos de marketing são facilitadores de troca, regidos pelos objetivos de marketing.

O que é um “objetivo de marketing”?

Simplificando: os objetivos são o que queremos alcançar; as estratégias são a maneira como chegaremos lá.
Um objetivo de marketing preocupa-se com o equilíbrio entre os produtos e seus mercados: ele se relaciona a quais produtos queremos vender em quais mercados.
Os objetivos de marketing devem ser definíveis e quantificáveis de modo que haja um objetivo mensurável a ser alcançado.

O que é uma “estratégia de marketing”?

As estratégias de marketing são os meios pelos quais os objetivos de marketing serão alcançados.
As estratégias são os métodos em geral escolhidos para atingir determinados objetivos e designam os meios para que se alcancem esses objetivos dentro de uma escala de tempo definida.

O que é “planejamento de marketing”?

A expressão "planejamento de marketing" é usada para definir os métodos de aplicação dos recursos de marketing para alcançar os objetivos. O planejamento de marketing é usado para segmentar mercados, identificar a posição no mercado, prever a dimensão do público-alvo e planejar uma participação viável de seu produto dentro de cada um de seus segmentos. O planejamento de marketing deverá:
a) fazer melhor uso dos recursos da empresa para identificar oportunidades de marketing;
b) encorajar o espírito de equipe e identidade da empresa;
c) ajudar a empresa a prosseguir na realização de suas metas.

Planos de Ação são os desdobramentos da estratégia?

De certo modo, sim, mas não é um desdobramento mecânico, automático ou irreversível. Uma vez escolhidas as estratégias e táticas gerais para alcançar seus objetivos de marketing, é preciso converter essas estratégias em programas ou planos de ação que irão capacitá-lo a dar instruções claras ao seu pessoal em toda a cadeia de venda. Cada plano de ação deve incluir:
a) Posição atual: onde você se encontra no momento;
b) Objetivos: o que fazer, onde você precisa chegar;
c) Ação: o que você precisa fazer para chegar lá;
d) Pessoa responsável: quem irá fazer o que;
e) Data de início;
f) Data de conclusão; custo orçado.

Como podemos classificar o que se convencionou chamar de “Canais de Marketing”?

Os canais de marketing são todos os meios pelos quais uma empresa faz contato com os clientes potenciais.

Kommunikationsguerrilla

A cena política está apreensiva. As verdades mais secretas, suprimidas e encobertas nos cursos de teoria marxista dos anos 70 e 80 finalmente vieram à luz. Você sabia que Friedrich Engels e Karl Marx foram praticamente os primeiros a fazer comunicação-guerrilha (depois de Till Eulenspiegel* )? Eles forjaram resenhas do Das Kapital e foram os primeiros a demonstrar "falsas ocorrências que produzem eventos reais".
A renegada intelectual Sonja Bruenzels e o comissário para o uso correto dos significantes no espaço público, Luther Blisset, juntaram forças com o grupo autônomo a.f.r.i.k.a. e publicaram suas revelações no Manual da Comunicação-Guerrilha (Handbuch der Kommunikationsguerrilla).
Eles perguntam: "Quando há Comunicação-Guerrilha?" E dão uma boa risada em cima das fantasiosas reclamações daqueles que acreditam na força e glória da informação, mas ignoram as linguagens e lugares que determinam o sentido de palavras e signos. Na selva dos processos comunicacionais, eles seguem os caminhos exauridos e obscuros de emissores, códigos e receptores e buscam maneiras de erodir as bases do poder e da autoridade.

O que é Comunicação-Guerrilha?

O que os autores chamam de Comunicação-guerrilha é algo próximo do que conceituei, a partir de 2000, como “comunicação militante”, mas que tem um desdobramento diferenciado. É uma forma de ação política militante (politische Militanz). Difere da comunicação militante (autônoma) no sentido em que ela não somente visa destruir os códigos do poder e da soberania, mas objetiva efetivamente desfigurá-los.
Comunicação-guerrilha não é uma forma particular de comunicação política que apenas traz afirmações num texto direto (como flyers, slogans, pôsters). O objetivo não consiste na interrupção nem na permanente apropriação de um meio comunicacional. O objetivo é o assalto aos significados e a distorção de mensagens. Partem da premissa de que a importância da comunicação é não só o que é dito mas também a forma da própria comunicação.
Enquanto a comunicação militante é um instrumento para os que querem se fazer ouvir, para os "sem mídia", o objetivo da comunicação-guerrilha é deslegitimar o presente estado de poder e soberania. Para realizar isso, deve-se entender suas manifestações e estruturas multifacetadas. A comunicação-guerrilha tenta lidar com as estruturas de poder normativo das formas estabelecidas de comunicação assim como as estruturas de poder internalizadas ao nível do sujeito. Isto requer que sejam fabricadas situações em que se torna perceptível - por pelo menos um breve momento - que tudo poderia realmente ser bem diferente.

Por que Comunicação-Guerrilha?

A comunicação-guerrilha é um resultado das experiências com os antigos conceitos da esfera pública oposicionista (Gegenüffentlichkeitskonzepten) e práticas educacionais da esquerda. Nas sociedades do capitalismo tardio nada pode ser ganho a partir da livre difusão da verdade. A política tradicional da esquerda frequentemente parece contar com o poder persuasivo do argumento racional. A confiança de que a simples apresentação da informação representa uma forma efetiva de ação política ainda é inabalável. Supõe-se que o conteúdo crítico seja suficiente para romper a rede de mensagens manipuladas, com as quais a mídia influencia a consciência das massas. O principal problema aqui é a aceitação da idéia: "quem quer que possua os emissores pode controlar os pensamentos dos humanos". Esta hipótese vem de um modelo de comunicação muito simples que só põe o foco no "emissor" (no caso da comunicação de massas, no geral, central e industrialmente organizada), o "meio" que transporta a informação, e o "receptor".
A euforia em torno da sociedade da informação, tanto quanto sua oposição pessimista - que acredita no excesso de informação -, não encaram o problema crucial da democracia representativa dos cidadãos: fatos e informação não causam quaisquer conseqüências. Encare a coisa: mesmo que estórias de desastres, escândalos e disparidades estejam sendo publicados, eles não têm quase nenhuma conseqüência.

Lugares e Espaços para a Comunicação-Guerrilha

Pontos de partida para a comunicação-guerrilha são espaços públicos nos quais o poder está sendo negociado e reproduzido num nível cultural e simbólico. Primeiramente, isso se refere ao espaço público concreto, a cidade e as ruas. Ao mesmo tempo, isso abrange o espaço da mídia, que é caracterizado por um processo de comunicação de sentido único (um-para-muitos). Aqui a balança do poder é claramente visível: alguns têm o poder de determinar os assuntos da mídia e a maneira pela qual eles são tratados, outros só podem expressar sua opinião movendo os pés para votar ou com seus controles remotos, desligando sua televisão ou rádio. Um terceiro espaço, de alguma forma conectado, mas, em muitos aspectos, parte de uma estrutura inteiramente diferente, é o espaço virtual. O desenvolvimento de novas tecnologias de informação e comunicação resulta em modos qualitativamente novos, interativos, de comunicação.

Comunicação-Guerrilha não é Guerrilha de Mídia

O Manifesto da Kommunikationsguerrilla diz: “Não construímos nosso entendimento da comunicação na base de só um aparato técnico específico, ou seja, um meio. A comunicação-guerrilha não é, então, guerrilha de mídia. Comunicação-Guerrilha pode ser vista mais como uma forma de comunicação política, que requer uma energia e atitude subversiva, assim como uma intuição para as implicações das formas de atos comunicativos - de dentro da produção da ordem simbólica. Que resta fazer? Buscar e empacotar o subversivo na comunicação, com a intenção de equipar e suprir as forças emudecidas do público opositor com as estrondosas trombetas da distorção e da super-identificação! Até este momento, como aconteceu com as muralhas de Jericó, a fundação básica da ordem reinante logo irá desmoronar e implodir. O que só deixa uma instância: detone pra valer!”

Comunicação e teoria crítica

O livro "Comunicação e Poder: A presença e o papel dos meios de comunicação de massa estrangeiros na América Latina", de Pedrinho A Guareschi (Vozes, 13ª Edição) é uma leitura importante em tempos de explosão midiática e de sua crescente influência sobre a vida social.
O autor expõe didaticamente os principais estudos acerca da comunicação de massa realizados ao longo do século XX. O Funcionalismo, a Escola de Frankfurt, a Teoria Crítica Marxista de Louis Althusser, encadeiam-se para criar o cenário que jogará luz sobre a importância da ideologia na sociedade explicando de que forma os Meios de Comunicação de Massa (MCM) exercem papel preponderante na manutenção da coesão social e na reprodução das condições de manutenção do status quo.
Da preocupação com os efeitos e funções dos meios, lançando a idéia de utilidade e dominação, passa-se pelo enfoque à influência do consumismo na sensibilidade humana e chega-se no nível em que os MCM são colocados ao lado da escola e da religião, em relação ao seu poder de manipulação ideológica. Todos são aparelhos ideológicos de Estado, a fim de manter a ordem sem que o indivíduo perceba, ou seja, são mediadores velados da ação coercitiva dos dominantes (mercantilismo da comunicação).
O autor aborda formas de imperialismo cultural dos MCM sobre a América Latina. Há o investimento direto (as redes de TV CBS, ABC e NBC) e, o mais atual, o indireto (publicidade, filmes, desenhos como Os Flinstones, revistas como a Reader’s Digest e até programas ditos educativos). Este investimento indireto visa criar uma ilusão de igualdade, liberdade e supremacia natural do branco rico e norte-americano na sociedade capitalista.
A própria Disney é um símbolo de consumismo e influência ideológica. Há o estereótipo de que os habitantes de países subdesenvolvidos são selvagens (colonialismo), uma espécie de síndrome Pato Donald, em que o tesouro alheio é tomado e transportado aos Estados Unidos de forma natural, em uma exposição lúdica do fato (imperialismo), e o trabalhador braçal tendo seu perfil de criminoso traçado (classismo).
Fatos corriqueiros são carregados de ideologia. Não nos é permitido perceber tão facilmente os efeitos nefastos de sermos dominados. Perdemos nossa identidade cultural, somos levados a desacreditar em nosso potencial, esquecemos da riqueza do simples para exaltar o luxo, a abundância. Por estarmos imersos nesta cultura de dominação, tudo parece inofensivo.
O livro também enumera duas técnicas psicológicas muito empregadas pelos meios para substituir valores sociais vigentes:
1) Diluição: banaliza um fenômeno que agride a ordem social, isolando-o. Assim, não se dá atenção ao fato e este não se propaga.
2) Recuperação: utiliza um fenômeno perigoso ao corpo social, para justificar o sistema vigente, suas ações e valores.
O papel das agências de notícia, no processo de velada influência, é exposto com muita precisão. Há clara supremacia em relação a quem mais envia matérias prontas aos meios de comunicação. Dos 20 países da América Latina em que existe operação de agências noticiosas, as norte-americanas UPI e AP exercem influência sobre 16 e 14 países respectivamente. A LATIN é apontada como mais influente agência de origem latino-americana (13 países), seguida de longe pela ORBE.
As maneiras que a ICA, antiga USIS, agência do governo dos Estados Unidos, encontra para servir aos interesses capitalistas também merece destaque na obra de Pedrinho A. Guareschi. Há intenso interesse em abafar aspirações anti-capitalistas, em busca de autonomia e autodeterminação.
Enfim, "Comunicação e Poder", que surgiu de um trabalho complementar ao Curso de Comunicação de Massa realizado pelo autor, é de linguagem acessível e fácil compreensão, uma leitura que recomendo com entusiasmo. Vem apoiado por explicações em tópicos, que diminui o peso da leitura e é rica em ilustrações com dados estatísticos e comparativos. É uma crítica ao estigma do subdesenvolvimento incutido em nossa sociedade e sustentado pelos veículos de comunicação de massas.

Para quem gosta de desafios

De volta ao conceito: o que é Marketing de Guerrilha?

A História está cheia de casos sobre exércitos pequenos e mal equipados que derrotaram exércitos maiores e muito melhor equipados. A narrativa destas batalhas conta como as guerrilhas enfrentam uma guerra.
Existem casos semelhantes no mundo dos negócios. Um exemplo disso é "O Homem de Marlboro". Antes do surgimento dele, a marca de cigarros Marlboro ocupava o 31º lugar no ranking - quase o fundo do poço. Após a introdução do novo personagem e uma campanha de guerrilha para promoção da marca, Marlboro se tornou a marca nº1 na multi-bilionária indústria de cigarros americana.
Pode surpreender o número de "grandes empresas" que iniciaram a luta como pequenas empresas. A história da ascensão destes ícones é a história do marketing de guerrilha. Até 1984, os princípios do marketing de guerrilha eram conhecidos por um grupo seleto de pessoas no mundo. Eles ciosamente mantiveram em segredo esta informação num fervor quase fanático. E quem vai culpá-los? Se você detivesse algum conhecimento especial, que lhe permitiu ascender ao topo na sua área de atuação profissional, você gostaria que ele se tornasse público? Claro que não!
O equilíbrio de forças foi dramaticamente prejudicado por um gênio de marketing, chamado Jay Conrad Levinson - indiscutivelmente um dos mais respeitados homens de marketing no mundo.
Ele é o homem que cunhou o termo "marketing de guerrilha" e apresentou estes segredos aos comuns. Seus conceitos têm tanto êxito que ele já publicou 27 livros sobre o assunto (em 37 idiomas). Os livros de Jay Conrad Levinson são leitura obrigatória na maioria dos mais respeitáveis programas de MBA no mundo, e ele é hoje o autor de livros empresariais mais amplamente lido e respeitado no mundo. E ele fez tudo isso "do nada". Quer dizer, o sucesso da marca "Marketing de Guerrilha" é um testamento dos mesmos princípios que o próprio Jay ensina.
Tanto é assim, que ele também é um dos criadores do Homem de Marlboro. (Pense o que você quiser sobre a indústria de cigarro, mas você não pode negar o poder do marketing atrás de Marlboro - sem sombra de dúvida a campanha de marketing mais próspera da história e a marca mais reconhecida no mundo.
Então, afinal, o que é o Marketing de Guerrilha?
Vejamos um segmento do novo livro de Jay "Marketing de Guerrilha para o Novo Milênio" para descobrir que:
. "Marketing é absolutamente todos os mínimos contatos que qualquer parte de seu negócio tem com qualquer segmento de público. A tática de Guerrilha vê o Marketing como um círculo que começa nas suas idéias para gerar lucro e continua com a meta de acumular o maior número possível de clientes que retornam e que indicam seu produto ou serviço.";
. "As três palavras chaves no parágrafo acima são todos, retornar e indicar. Se seu marketing não é um círculo, é uma linha direta que conduzirá sua empresa diretamente à bancarrota.";
. "De que forma o Marketing de Guerrilha é diferente do Marketing Tradicional? Marketing de Guerrilha significa estratégias pouco convencionais, nada tradicionais, que não estão no manual e são extremamente flexíveis. São dezoito aspectos, citados por Jay, que fazem a diferença entre o Marketing de Guerrilha e o Marketing tradicional, e que você encontrará no livro recentemente publicado por ele e que não está a venda nas livrarias, somente na Internet."
As táticas de Guerrilha aplicam-se totalmente aos negócios eletrônicos pois a Internet não é apenas um novo campo de batalha para o Marketing de Guerrilha, mas o seu derradeiro.
Surgiram, nos últimos 5 anos, mais casos de pequenos empresários que obtiveram um mega-sucesso, que em toda a história do mundo dos negócios. E existem nitidamente dois fatores que influenciaram mais que qualquer outro para que isto ocorresse:
1. A Internet;
2. O Marketing de Guerrilha.
A razão para que grandes empresas ainda não tenham estourado online é porque eles não são pensadores de guerrilha. Estas grandes, inchadas pela burocracia, são lentas e emperradas no seu modo de ser. Isto significa que alguém como você pode entrar na competição online e ultrapassa-las. Cada vez mais as Grandes Empresas estão contratando pequenas empresas para ensina-las a fazer negócios online - os papéis se inverteram.
Assim, comece a pensar já como um guerrilheiro. Você está em vantagem - tudo o que você precisa é aprender e executar. Para começar seu ataque de guerrilha, adquira um plano fácil de seguir e que demonstrará passo-a-passo a essência do Marketing de Guerrilha, o novo livro de Jay Conrad Levinson.

*artigo de Mark Joyner, CIO da Aesop Marketing Corporation's.

terça-feira, outubro 28, 2008

Tipos de Propaganda

A propaganda moderna está presente em todos os setores da vida: econômico, social, político, religioso.
Tradicionalmente é conceituada como "o conjunto de técnicas e atividades de informação e persuasão destinadas a influenciar, num determinado sentido, as opiniões, os sentimentos a as atividades - do público receptor."
Podemos classificá-la de variadas formas, cada qual assumindo uma denominação distinta, que define o espaço de sua atuação.
Propaganda ideológica é a técnica de persuasão desenvolvida de maneira mais ampla do que os demais tipos. Sua função é a de influenciar a maior parte das idéias e convicções dos indivíduos e, com isso, orientar todo o seu comportamento social.
Propaganda política, de caráter permanente, visa difundir ideologias políticas, programas e filosofias partidárias e atuações dos governos. A propaganda política tornou-se um dos grandes fenômenos dominantes do século XX e um instrumental poderoso para a implantação do comunismo, do fascismo, do nazismo e da doutrina hegemonista norte-americana.
Propaganda eleitoral é sazonal. De utilização esporádica, objetiva conquistar votos para determinado postulante a um cargo eletivo. Os principais instrumentos das campanhas eleitorais são: comerciais de rádio e tv, pichação em muros, paredes; adesivos para automóveis, vitrines etc.; crachás; braçadeiras; camisetas e bonés; balões; faixas, que constituem um material indispensável em uma campanha eleitoral; mala-direta, levando notícias do candidato ao seu eleitorado; site de internet e blog opinativo e jornal próprio.
Já a propaganda governamental tem caráter permanente. É destinada a criar, reforçar ou modificar a imagem de um determinado governo, dentro e fora de suas fronteiras. A propaganda governamental feita pelo próprio governo ou por companhias estatais - representa aproximadamente 60% do volume de propaganda veiculada no Brasil, o que demonstra a preocupação do governo (em seus três níveis: federal, estadual a municipal) com a opinião pública.
Denominada por alguns autores americanos de propaganda de relações públicas (Public Relations Advertising), a propaganda institucional é uma área onde as atividades de Relações Públicas e de Propaganda interagem. A propaganda institucional tem por propósito preencher as necessidades de fixação de marca da empresa, aquelas diferentes de vender um produto. A propaganda institucional visa fixar a imagem intrínseca de uma determinada marca e não a função de um produto.
Propaganda corporativa é aquela que objetiva gerar opinião favorável a uma empresa ou marca. Segundo o Publishers Information Bureau (PIB), dos Estados Unidos, a propaganda pode ser definida como corporativa quando preenche um ou mais destes propósitos: 1. divulgar e informar ao público as políticas, objetivos, funções e normas da companhia; 2. construir uma opinião favorável sobre a companhia, destacando a sua administração, know-how, corpo técnico, tecnologia, aperfeiçoamentos nos produtos, a sua contribuição para o progresso social e o bem-estar público; por outro lado, contrabalançar a propaganda desfavorável e as atitudes negativas, e 3. desenvolver uma imagem de confiabilidade para os investimentos em ações da companhia ou para desenvolver sua estrutura financeira.
Propaganda religiosa é uma das mais antigas formas de propaganda. Em meu livro "Agência de Propaganda - o que é e como funciona" descrevo como o termo propaganda já era utilizado pela Igreja Católica, criadora da Congregatio de Propaganda Fide (Congregação para a Propagação da Fé). As religiões sempre exerceram influência sobre os povos utilizando-se fartamente dos mecanismos de comunicação social disponíveis, como formas de persuasão destinadas a influenciar, em um determinado sentido, as opiniões e os sentimentos do público-alvo.
Propaganda social é a propaganda voltada para as causas sociais: desemprego, adoção do menor, tóxicos, entre outras. Nos tempos em que vivemos, o social deve, mais do que nunca, ser a preocupação da propaganda.
Propaganda de produto ou mercadológica tem por objetivo divulgar um produto, levando o consumidor ao conhecimento a compra. É também chamada de propaganda comercial ou simplesmente "publicidade".
O responsável por sua veiculação é o produtor, isto é, o fabricante do bem.
Propaganda de serviços - procura "vender" serviços. Deve-se tomar cuidado na sua identificação, pois as empresas prestadoras de serviços praticam com bastante intensidade a propaganda institucional, que, como foi visto, tem características que a diferenciam da propaganda comercial.
Propaganda de varejo é um desdobramento da propaganda comerciais. Os produtos anunciados são patrocinados pelo intermediário no caso, o varejista.
Propaganda comparativa é um tema controverso no Brasil, onde a tradição não é a da confrontação aberta entre marcas e argumentos. Na propaganda comparativa são feitas alusões aos produtos e serviços dos concorrentes, pois o anunciante contrapõe a sua própria oferta à oferta da concorrência. Com o objetivo de demonstrar a inferioridade das mercadorias alheias em relação às suas próprias, o anunciante esforça-se por mostrar as diferenças existentes entre os seus produtos e os da concorrência.
Propaganda de promoção é simplesmente a divulga a Promoção de Venda através dos meios massivos: rádio, televisão, cinema, jornal (anúncios ou encartes), folhetos, revista a outdoor.

segunda-feira, outubro 27, 2008

Dicas para um bom relacionamento com a imprensa

Ter um contato livre de culpa com a imprensa é uma tarefa difícil, especialmente se vivemos na “Era do Escândalo”, quando personalidades, lideranças, corporações, organizações e até partidos políticos se desmancham no ar ao colocarem a nu suas intimidades ante o poder fulminante de veículos de comunicação cuja abrangência e alcance nunca antes assumiram tamanha dimensão.
A Revista Exame publicou tempos atrás reportagem com o tema “Empresa X Imprensa - Os segredos de um Bom Relacionamento”. Essa matéria foi encerrada com a publicação de um decálogo, que a seguir reescrevemos, por sua utilidade na compreensão das normas que permeiam a relação de empresários e jornalistas.

1- Pense no leitor (telespectador)

A matéria-prima da imprensa é a notícia ou informação que possa interessar aos leitores. A chave para se obter um bom relacionamento com a imprensa é municiá-la com fatos e notícias corretas e concretas. É válido eleger um determinado veículo para divulgar um fato específico. Mas estabeleça um rodízio na concessão deste privilégio, de forma a não marginalizar ninguém.

2- Crie canais de comunicação com os órgãos de imprensa.


E cuide de mantê-los abertos. Forneça informações úteis mesmo que a sua empresa não esteja sendo focalizada. Plante para o futuro. É importante que os jornalistas tenham acesso permanente e imediato a alguém na direção da empresa. Colabore.

3- Não evite a imprensa.

Na sociedade moderna, uma empresa, mesmo que queira, não pode e não deve se desligar da comunidade. Suas ações, sua estratégia e seus investimentos afetam toda a sociedade. A relação entre as empresas e a opinião pública deixou de ser um gesto magnânimo; é uma obrigação.

4- Não tente impedir a publicação de notícias desagradáveis.

Se o fizer, chamará ainda mais a atenção para o fato e ela ganhará mais destaque do que antes. O recomendável, nestes casos, é dar a melhor explicação possível. A versão da empresa pode colocar uma “pá-de-cal” no assunto.

5- Não minta.

Mesmo que a imprensa não possa checar as suas declarações na hora, a verdade acaba aparecendo. Se uma empresa mente ao público, corre o grave risco de ser desmoralizada.
Em casos limites, mantenha silêncio sobre informações confidenciais.

6- Não solicite cobertura através dos donos de veículos.


Na prática, os pedidos aos donos de empresas jornalísticas terminam sendo encaminhados à redação - a quem cabe a última palavra. E o by-pass evidentemente não é bem acolhido. Gera mal-estar. Portanto, o ideal é fazer contatos com os responsáveis diretos.

7- Não abuse de press-releases.

Este instrumento de comunicação de empresas com jornalistas está muito desgastado. Quase desmoralizado. As redações recebem centenas de releases por dia. E a tiragem é draconiana. Evite releases, de preferência quando tiver uma informação importante ou útil a transmitir. Quanto mais personalizado, específico e objetivo, maior a chance de aproveitamento de um release.

8- Não misture jornalismo com publicidade.

Na grande imprensa, não existe vínculo entre aplicação de verba publicitária e a cobertura editorial. Publicidade é uma coisa, redação é outra. O corte de anúncio não altera a linha ediorial e quem sai prejudicado é o próprio anunciante. Por extensão, não use a sua agência de publicidade para pressionar o editor ou a redação. É até possível que se consiga algum resultado imediato, mas tanto a empresa quanto a agência ganharão a antipatia da redação para sempre...

9- Não acredite em tráfego de influência.

Cuidado com oportunistas que se oferecem para contornar problemas de empresas junto a jornais e revistas. Ou, então, para impedir a divulgação de notícias desfavoráveis. Dizem conhecer jornalistas e cobram alto pelo serviço. Na verdade, evitam a publicação de reportagens que jamais existiram.

10- Nunca “peça a cabeça” de um jornalista.

Mesmo que o veículo ceda à pressão da empresa - o que é raríssimo - outro jornalista será indicado para cobrir o setor. E, certamente, o fará com “o pé atrás”. Além disso, haverá uma reação negativa por parte de toda a imprensa.

Porque a esquerda perdeu nos grandes centros

A desindustrialização empurrou a esquerda para fora das grandes cidades, sustenta o sociólogo Francisco de Oliveira, 74, professor titular do Departamento de Sociologia da USP. Segundo ele, a fuga das indústrias da capital paulista, por exemplo, converteu a cidade num pólo de serviços com um setor informal muito extenso, cujos integrantes não se identificam com o PT: "Em geral eles votam na direita devido ao imediatismo. É gente que quer receber benefícios imediatos, sem esperar por transformações estruturais". Crítico, Oliveira vê o Bolsa Família como uma "política conformista" que reflete o predomínio desse "exército informal que representa mais de 50% da força de trabalho".

O sociólogo sustenta ainda que, ao chegar ao poder, "o PT foi engolido pelo atraso", pois trocou uma política de classe, que buscava uma hegemonia intelectual, por uma política de combate à pobreza, que busca a maioria com atrativos materiais.

A entrevista é de Maurício Puls e publicada pelo jornal Folha de S. Paulo no dia 19 de outubro de 2008 talvez não seja expositora de posições unânimes, mas serve como instigante instrumentos de debate nesse momento pós-eleitoral.

Eis a entrevista.

Em novembro de 2004, o sr. publicou um artigo na Folha em que dizia que Marta Suplicy foi derrotada pelo governo Lula, pois sua política econômica era indefensável. Hoje Lula tem mais de 50% de aprovação na cidade de São Paulo. Como o sr. explica a rejeição a Marta? A criação das taxas? As políticas sociais do PT? Críticas moralistas?


Um pouco de tudo isso. Em primeiro lugar, naquela época o ataque da mídia ao governo Lula era muito intenso, e Lula não transferiu votos para Marta, transferiu a carga negativa. Agora a situação é a seguinte: a administração de Kassab está muito fresca na memória, enquanto a de Marta já tem quase quatro anos de distância. Isso hoje é muito importante devido à imediaticidade da mídia. É ela que faz a nossa consciência: é uma presentificação absoluta. A distância da administração da Marta esbarra na imediaticidade das avaliações positivas de Kassab. O fato de a avaliação do governo federal ser positiva na cidade de São Paulo não dissolve essa distância da Marta. E São Paulo é uma cidade bastante conservadora. Bastante conservadora. Se você retoma a história brasileira, o populismo paulista sempre foi de direita: Adhemar de Barros, Jânio Quadros, Paulo Maluf.

Ignácio Rangel dizia que o latifúndio gaúcho - Getúlio Vargas, João Goulart - conseguiu representar politicamente a indústria nacional, o que deu origem a um populismo de esquerda, progressista. Mas isso não aconteceu em São Paulo.

Isso nunca aconteceu. Mas não é só isso. Na verdade o que é importante no Rio Grande do Sul é a pequena propriedade, não é o latifúndio: o latifúndio enche nossas mentes, mas não forma... As ideologias populistas nascem no Rio Grande do Sul, mas é importante não esquecer que o Estado conheceu um positivismo muito especial, que é o que influi na legislação trabalhista. Vargas era positivista, a moçada formada nas escolas militares era positivista. Não é a toa que a divisa da bandeira brasileira é "Ordem e Progresso". E São Paulo não teve essa formação.

Mas por que a direita é especialmente forte em São Paulo? Devido à centralidade econômica da cidade, sede de grandes empresas, bancos, associações empresariais?

De fato, a centralidade econômica de São Paulo leva a cidade para a direita. Não é tautológico, mas é um fato.

Mas o PT continua sendo muito votado na periferia da cidade e nos demais municípios da região metropolitana. O sr. acha que a esquerda foi expulsa para fora da cidade - para a região metropolitana?


Foi, é verdade. Esse é um fenômeno político da maior importância. As indústrias saíram de São Paulo. São Paulo não é mais uma cidade proletária: é uma cidade de serviços e de um setor informal imenso, cuja identificação de classe é muito ambígua, muito perpassada pelo fenômeno da sobrevivência. É uma situação de classe muito difícil. São Paulo não é mais do proletariado clássico. Moro num bairro, a Vila Romana, que antigamente tinha várias indústrias. Hoje não tem mais nenhuma, todas foram para outros municípios.

Inclusive é uma área de forte investimento imobiliário.

Forte, muito forte. Não é uma zona rica, comparada a Higienópolis, mas é uma zona de investimentos imobiliários muito altos. E aqui você tinha a Matarazzo, a Saturnia, a Melhoramentos - hoje aqui só ficou o escritório -, a Parmalat... Era uma zona de fábricas, e hoje não tem mais nenhuma. Isso aconteceu com a cidade como um todo. A cidade se desproletarizou na forma clássica e ganhou um enorme exército de trabalhadores informais....

Que em geral não votam na esquerda...

Em geral eles votam na direita devido ao imediatismo. É gente que quer benefícios imediatos, sem esperar por transformações estruturais.

Apesar de sua provável derrota em São Paulo, o PT continua sendo o partido que mais cresceu no país. Em 2004 o sr. escreveu que isso mostrava o envelhecimento de um partido nascido para reformar o país. O sr. ainda mantém essa opinião: o PT foi engolido pelo atraso ou foi o atraso que se modernizou?

Eu acho que o PT, como força transformadora, foi engolido pelo atraso. Qual é a modernização que existe aí? É uma modernização de políticas sociais que são políticas de ajustamento, não são políticas sociais transformadoras - elas se ajustam à realidade. O Bolsa Família é uma política de ajuste, uma política conformista. E isso reflete essa situação um tanto ambígua de uma classe que não é classe, desse enorme exército informal que representa mais de 50% da força de trabalho. Então, o PT foi engolido pelo atraso. A modernização das políticas sociais é uma regressão da classe para a pobreza, enquanto o movimento histórico vai da pobreza para a classe. A extensão das políticas sociais focais é uma regressão da classe para a pobreza: elas são políticas para os pobres.

Os partidos social-democratas de tipo clássico se baseavam em seções territoriais, os núcleos de base. Hoje os núcleos do PT praticamente desapareceram. Essa transformação reflete a conversão de um "partido dos trabalhadores" em um "partido dos pobres"? O PT não é mais um partido social-democrata?


Não, não é. Isso reflete em parte essa mudança e, em parte, é um reflexo da chegada ao poder. Você se profissionaliza porque a gestão do Estado exige a profissionalização. Não é um Estado qualquer: é um Estado capitalista, todo permeado por relações patrimonialistas, mas na maior parte dos casos você tem que gerir dinheiro. E dinheiro não se gere passando a mão na cabeça. O partido profissionalizou-se e burocratizou-se no sentido weberiano - ele tem de tornar a gestão previsível, e por isso se profissionaliza. Isso é em parte o efeito da chegada ao poder, e em parte o efeito da regressão da classe para a pobreza.

Mas o PT ainda tem um vínculo razoavelmente estreito com os sindicatos. O sr. acha que ele se parece hoje mais com o Partido Democrata norte-americano, que ainda está ligado a uma central como a AFL-CIO, do que com os social-democratas europeus, que antes eram estruturados a partir dos sindicatos?


Não, não é mais o modelo europeu. É mais próximo realmente do modelo norte-americano, com algumas particularidades que a legislação brasileira conferiu, devido ao fato de que a influência do Estado na formação da economia levou à formação desses fundos estatais, que eram mecanismos de acumulação, e que estão na maior parte dos casos sob o controle de sindicalistas. É uma transformação da classe.

É aquilo que o sr. tinha descrito no "Ornitorrinco". O sr. acha que o partido hoje é controlado por uma nova classe social?

Eu acho. É uma expressão forte, porque os sociólogos têm muito medo de falar em classe social. Mas é uma nova fração de classe que tem um papel muito importante hoje.

O sr. fala de uma aproximação entre PT e PSDB. Mas o que opõe os dois partidos nas eleições? Qual é a fratura que divide os dois?


A fratura é parecida com a que existe nos Estados Unidos: embora democratas possam ser tão ricos quanto republicanos, essa fratura permanece nos EUA devido a origens históricas diferentes. Isso tem peso. Quem fez a paz no Vietnã foi um conservador. Os democratas não ousavam dar nenhum passo no Vietnã porque apareceriam como traidores. Origens históricas diferentes continuam a pesar, e o fato de que, a partir dessas origens diferentes, eles se inscreveram junto ao eleitorado como alternativas. Mas a aproximação entre eles é tão grande que em Minas tentou-se essa façanha, de eleger um tertius que representasse os dois partidos, PT e PSDB. Essa é a tendência. Mas não ocorrerá de forma absoluta devido a essas raízes históricas diferentes. Mas as diferenças reais são muito pequenas.

Mas, se há uma identidade absoluta, não haveria nenhum fundamento para uma escolha do eleitor. Existiria alguma coisa substantiva além das raízes históricas?

Existe. Ainda há diferenças. Mas do ponto de vista das políticas decisivas elas são quase irreais - as diferenças reais quanto ao rumo da política nacional são quase irrelevantes. Mas eles jamais vão se unir, porque em política a soma não é maior do que as partes, como o caso de Minas revelou: juntaram duas forças que aparentemente iam aplastar qualquer outra. E não resultou.