quarta-feira, outubro 29, 2008

Kommunikationsguerrilla

A cena política está apreensiva. As verdades mais secretas, suprimidas e encobertas nos cursos de teoria marxista dos anos 70 e 80 finalmente vieram à luz. Você sabia que Friedrich Engels e Karl Marx foram praticamente os primeiros a fazer comunicação-guerrilha (depois de Till Eulenspiegel* )? Eles forjaram resenhas do Das Kapital e foram os primeiros a demonstrar "falsas ocorrências que produzem eventos reais".
A renegada intelectual Sonja Bruenzels e o comissário para o uso correto dos significantes no espaço público, Luther Blisset, juntaram forças com o grupo autônomo a.f.r.i.k.a. e publicaram suas revelações no Manual da Comunicação-Guerrilha (Handbuch der Kommunikationsguerrilla).
Eles perguntam: "Quando há Comunicação-Guerrilha?" E dão uma boa risada em cima das fantasiosas reclamações daqueles que acreditam na força e glória da informação, mas ignoram as linguagens e lugares que determinam o sentido de palavras e signos. Na selva dos processos comunicacionais, eles seguem os caminhos exauridos e obscuros de emissores, códigos e receptores e buscam maneiras de erodir as bases do poder e da autoridade.

O que é Comunicação-Guerrilha?

O que os autores chamam de Comunicação-guerrilha é algo próximo do que conceituei, a partir de 2000, como “comunicação militante”, mas que tem um desdobramento diferenciado. É uma forma de ação política militante (politische Militanz). Difere da comunicação militante (autônoma) no sentido em que ela não somente visa destruir os códigos do poder e da soberania, mas objetiva efetivamente desfigurá-los.
Comunicação-guerrilha não é uma forma particular de comunicação política que apenas traz afirmações num texto direto (como flyers, slogans, pôsters). O objetivo não consiste na interrupção nem na permanente apropriação de um meio comunicacional. O objetivo é o assalto aos significados e a distorção de mensagens. Partem da premissa de que a importância da comunicação é não só o que é dito mas também a forma da própria comunicação.
Enquanto a comunicação militante é um instrumento para os que querem se fazer ouvir, para os "sem mídia", o objetivo da comunicação-guerrilha é deslegitimar o presente estado de poder e soberania. Para realizar isso, deve-se entender suas manifestações e estruturas multifacetadas. A comunicação-guerrilha tenta lidar com as estruturas de poder normativo das formas estabelecidas de comunicação assim como as estruturas de poder internalizadas ao nível do sujeito. Isto requer que sejam fabricadas situações em que se torna perceptível - por pelo menos um breve momento - que tudo poderia realmente ser bem diferente.

Por que Comunicação-Guerrilha?

A comunicação-guerrilha é um resultado das experiências com os antigos conceitos da esfera pública oposicionista (Gegenüffentlichkeitskonzepten) e práticas educacionais da esquerda. Nas sociedades do capitalismo tardio nada pode ser ganho a partir da livre difusão da verdade. A política tradicional da esquerda frequentemente parece contar com o poder persuasivo do argumento racional. A confiança de que a simples apresentação da informação representa uma forma efetiva de ação política ainda é inabalável. Supõe-se que o conteúdo crítico seja suficiente para romper a rede de mensagens manipuladas, com as quais a mídia influencia a consciência das massas. O principal problema aqui é a aceitação da idéia: "quem quer que possua os emissores pode controlar os pensamentos dos humanos". Esta hipótese vem de um modelo de comunicação muito simples que só põe o foco no "emissor" (no caso da comunicação de massas, no geral, central e industrialmente organizada), o "meio" que transporta a informação, e o "receptor".
A euforia em torno da sociedade da informação, tanto quanto sua oposição pessimista - que acredita no excesso de informação -, não encaram o problema crucial da democracia representativa dos cidadãos: fatos e informação não causam quaisquer conseqüências. Encare a coisa: mesmo que estórias de desastres, escândalos e disparidades estejam sendo publicados, eles não têm quase nenhuma conseqüência.

Lugares e Espaços para a Comunicação-Guerrilha

Pontos de partida para a comunicação-guerrilha são espaços públicos nos quais o poder está sendo negociado e reproduzido num nível cultural e simbólico. Primeiramente, isso se refere ao espaço público concreto, a cidade e as ruas. Ao mesmo tempo, isso abrange o espaço da mídia, que é caracterizado por um processo de comunicação de sentido único (um-para-muitos). Aqui a balança do poder é claramente visível: alguns têm o poder de determinar os assuntos da mídia e a maneira pela qual eles são tratados, outros só podem expressar sua opinião movendo os pés para votar ou com seus controles remotos, desligando sua televisão ou rádio. Um terceiro espaço, de alguma forma conectado, mas, em muitos aspectos, parte de uma estrutura inteiramente diferente, é o espaço virtual. O desenvolvimento de novas tecnologias de informação e comunicação resulta em modos qualitativamente novos, interativos, de comunicação.

Comunicação-Guerrilha não é Guerrilha de Mídia

O Manifesto da Kommunikationsguerrilla diz: “Não construímos nosso entendimento da comunicação na base de só um aparato técnico específico, ou seja, um meio. A comunicação-guerrilha não é, então, guerrilha de mídia. Comunicação-Guerrilha pode ser vista mais como uma forma de comunicação política, que requer uma energia e atitude subversiva, assim como uma intuição para as implicações das formas de atos comunicativos - de dentro da produção da ordem simbólica. Que resta fazer? Buscar e empacotar o subversivo na comunicação, com a intenção de equipar e suprir as forças emudecidas do público opositor com as estrondosas trombetas da distorção e da super-identificação! Até este momento, como aconteceu com as muralhas de Jericó, a fundação básica da ordem reinante logo irá desmoronar e implodir. O que só deixa uma instância: detone pra valer!”