quarta-feira, outubro 15, 2008

Milton Glaser: arte é trabalho

Talvez você pense que não conhece Milton Glaser.
Mas se você se interessa por publicidade, comunicação e artes gráficas (ou design gráfico, como se diz agora), então você conhece esse profissional que criou peças de grande impacto ao longo de muitas décadas de trabalho profícuo. Se você já viu o poster que retrata Bob Dylan e mostra sua silhueta escura ornada por uma cabeleira psicodélica multicolorida ou se você já viu a frase "I Love New York" com a palavra "love" substituída por um coração vermelho, então você conhece Milton Glaser.
Nascido em 1929, Glaser estudou na Cooper Union entre 1948 e 1951 e continuou sua formação na Academia de Belas Artes de Bolonha com o pintor Giorgio Morandi.
Em 1954, Glaser, junto com Reyonld Ruffins, Seymour Chwast e Edward Sorel, fundaram os Pushpin Studios.
Durante vinte anos Glaser e Chwast dirigiram o Push Pin, uma referência que guiava o mundo design gráfico. Em 1974 Glaser montou o seu próprio escritório.
Fez posters, revistas, design de jornais, design de interiores, logotipos, discos, ilustrações para revista e jornal, tipografia, desenhos, aquarelas, material impresso, brinquedos.
Seu trabalho é fortemente caracterizado por ilustrações feitas à mão, tendo um estilo muito eclético. A sua arte foi mais ornamentada e virtuosa do início, passou para uma concepção mais redutiva, simples, forte e direta — reflexo da sua maturidade e da assimilação do tempo que passou por ele deixando suas marcas profundas, influenciando seu trabalho de maneira marcante.
Hoje menos conhecido e estudado, ao longo da sua carreira Glaser teve um grande impacto na ilustração e design gráfico contemporâneo e foi um dos grandes nomes na base de minha formação profissional. Foi a grande figura de referência para os designers de sucessivas gerações até os anos oitenta do século passado.
E deixou sua digital em nosso país. Em 1995 a empresa de design WBMG, de Walter Bernard & Milton Glaser, foi contratada para a reformulação gráfica do jornal O Globo.

Push Pin Style

Nos anos 60, o estéril Estilo Internacional Suiço, muitas vezes limitador e elitista, dominava o mercado do design gráfico. Foi quando surgiu o Push Pin Style, que tornou-se uma referência do design gráfico, ao lado do Pentagram, de Herb Lubalin, outro estúdio que marcou época.
O Push Pin Style não se prendia apenas ao que era considerado o "bom design", com um estilo excêntrico muitas vezes inspirado na estética do século XIX e nas tendências da cultura pop.
Criou uma linguagem contemporânea, compatível com um design pós-moderno. No Push Pin foram projectados capas de disco, livros, cartazes, identidades visuais, tipografias originais e Revistas.
Glaser usou desde então e usa hoje ainda a sua arte para influenciar pessoas, para fazer um discurso político anti-belicista, anti-colonialista e pacifista. Faz de seu trabalho longevo um belo exemplo de comunicação militante.
Na frente de seu modesto estúdio em New York lê-se, em Garamond, sua máxima de vida: "art is work".

Aforismos

Há muito o que aprender com Glaser, como nessas sugestões e dicas que podem ser muito úteis para todos os profissionais da área de criação:

1. Menos não é necessariamente mais. Existem trabalhos que só ganham o verdadeiro impacto pelo trabalho que deram.
2. Não se deve confiar num estilo único. A realidade muda, e os estilos devem adaptar-se. Um estilo pode ser muito funcional em um momento, ou durante algumas décadas, mas pode vir por água abaixo após um tempo.
3. Você só deve trabalhar para quem você gosta. Todo trabalho realmente significativo surgiu de um relacionamento afectivo com o cliente. Compartilhar de informações em comum e gerar um laço afetivo torna o trabalho mais completo, estimulante, eficiente.
4. Algumas pessoas são tóxicas, mantenha distância. Observe quais pessoas lhe sugam ou renovam as energias, quais agregam e quais não acrescentam nada em sua vida.
5. Profissionalismo não é suficiente. Profissionais tendem a repetir o sucesso quando acertam. Isso significa reduzir a margem de risco. Porém, uma das coisas mais necessárias no nosso campo é transgredir, e correr o risco de apresentar algo novo, aceitar a possibilidade de falhar ou ouvir alguns ‘nãos’.
6. Dúvida é melhor que certeza. Quando você tiver certeza de qualquer coisa na sua vida, fique preocupado. A dúvida é o caminho para a evolução.
7. Não se feche em poucas referências. Devemos ser persistentes e consistentes e, principalmente, compreender as idéia a fundo e a amplitude e correlações entre elas. ‘A riqueza do entendimento vem da profunda idéia histórica e filosófica’.

Video

http://miltonglaser.com/pages/milton/mg_index.html

Bibliografia

Milton Glaser: Graphic Design. Ed. Overlook TP, 1983.
Milton Glaser: Art Is Work. Thames and Hudson, 2000.
MEGGS, Philip B. (ed.) 6 Chapters in Design. Chronicle Books, 1997.
Milton Glaser. The Design of Dissent : Socially and Politically Graphics. Rockport Publishers, 2005.
CHWAST, Seymour. Push Pin Graphic: A Quarter Century Of Innovative Design And Illustration. Chronicle Books, 2004.