quarta-feira, agosto 26, 2009

Estranhezas

O jornalista Elio Gaspari, fazendo coro com os que acham que vão vencer 2010 por antecedência, e no grito, escreveu: "Há os que saem, como os 12 da Receita; há os que ficam, como Mercadante".
É uma tentativa, embora trôpega, de diminuir a importância de Mercadante, o senador que teve cinco milhões de votos, comparando um homem público íntegro, que enfrentou a ditadura e ajudou a construir o maior partido de esquerda do ocidente, com uma turba de demitidos de cargos comissionados, capitaneados por uma ex-diretora da Receita, magoada por ter sido demitida por Guido Mantega.
O Brasil tem disso. O país é o primeiro dos países emergentes a sair da crise econômica que abalou a economia mundial, mas isso não tem importância alguma para a imprensa golpista, que quer pautar a nação a partir de seus próprios interesses.
Enquanto dão importância aos desimportantes, como Lina Vieira, fazem vista grossa aos descalabros cometidos pelo governo José Serra. O mais recente deles foi mobilizar a tropa de choque da PM para desalojar, na marra, centenas de famílias pobres, que tiveram que dormir ao relento enquanto seus barracos e seus pertences ardiam em chamas. Crianças, velhos, mulheres grávidas, ao relento, desamparados.
Procurei no noticiário uma única referência à ação da PM ou do governo Serra nesse episódio lamentável. Nenhuma citação. A imprensa trata o caso como se fosse uma intempérie, uma calamidade natural. Se o mesmo ocorresse no Pará, a governadora Ana Júlia estaria ardendo em uma fogueira e algum palhaço estaria em Brasília pedindo intervenção federal no Estado.
Diante da recorrência do tema político neste blog, um jovem amigo me perguntou, "mas o que isso tem a ver com comunicação?". Eu respondo: tudo.
Vide a teoria do agendamento, que já foi objeto de um post meu, aqui mesmo no CM.
A imprensa golpista acredita piamente em si mesma. Considera-se os olhos e a inteligência do país. Deu a si mesma o papel de polícia, tribunal e juiz do comportamento nacional e da conduta de nossas personalidades públicas.
O povo, felizmente, não lhe dá ouvidos. Desconfia do que vê e lê nessa mídia interesseira e parcial, que insiste em perpetuar aquilo que Nelson Rodrigues, com brilhantismo, denominou de "síndrome de cachorro vira-lata", a persistente ideologia das elites brasileiras que se configura em falar mal do país para inocular em nosso povo a idéia de que somos incapazes de fazer e acontecer.
Mas o Brasil, e seu povo, estão fazendo acontecer um país que dá orgulho aos brasileiros. Menos aos barões da imprensa, cada vez mais distantes da realidade nacional.