sexta-feira, novembro 13, 2009

O apagão mental da oposição

A mídia, esse ente abstrato mas cuja ação é concreta e objetiva, está em campanha aberta pelo retorno do PSDB ao centro do poder. E entrou no ritmo do vale-tudo.
Eu mesmo já escrevi aqui que uma das táticas é a de anunciar o apocalipse. Só a tática do medo pode levar a população a procurar a salvação no passado, no caso, no PSDB e seus aliados.
A tática do apocalipse é simples: a cada problema (e governar é administrar problemas) que surge no país, o fim do mundo é anunciado e atribuído ao governo. Dias a fio. Horas e horas. E sempre o Armagedon tem um único culpado: o governo Lula e, de uns meses para cá, a ministra Dilma Roussef.
Você deve lembrar. A queda do avião da TAM no Aeroporto de Congonhas, em São Paulo, já foi atribuída ao governo. A gripe suína já foi atribuída ao governo. As enchentes em São Paulo (fruto da falta de planejamento do governo tucano e da lentidão da administração municipal), também já foram colocadas nas costas do governo federal.
Mas o crescimento econômico, o fato do país ter sido o último a entrar e o primeiro a sair da crise econômica, a elevação do país no índice de desenvolvimento humano ou o aumento brutal da credibilidade internacional do Brasil, nada disso é atribuído ao governo. Esses são, todos, frutos do acaso, da sorte, da proteção divina e das ações "da sociedade civil".
O fim do mundo "da hora" foi a queda no fornecimento de energia em algumas regiões do país.
Antigamente, a imprensa chamava aos cortes do fornecimento de energia elétrica como ocorrido em Itaipu, de blecaute. Assim mesmo, em português. O de agora, atingiu 18 estados com cerca de quatro horas de duração. Logo depois o sistema retornou operante e nenhum outro problema foi registrado.
Tecnicamente, não teve a ver com falta de investimentos ou falta de planejamento do governo federal, com abastecimento insuficiente, mas sim com a falibilidade dos sistemas e um incidente natural: tempestades fortíssimas fizeram cair a rede.
A politização do problema é do jogo, mas nesse curto-circuito a imprensa está com o dedo na tomada. No choque, viu a oportunidade de criar uma confusão conceitual e o blecaute passou a se chamar "apagão", para dar oportunidade à imprensa de usar uma fala recente da ministra Dilma Roussef, na qual ela dizia que o país não corria o risco de voltar a ter um "apagão" - no sentido de voltar a ter racionamento de energia, como há hoje na Venezuela. A fala da ministra foi amplamente divulgada como "prova" de que ela mentia.
Qualquer pessoa bem informada sabe que o incidente de agora não tem parentesco com o patrocinado pelo governo tucano, em 2001, que marcou o início do racionamento de energia (apagão), trouxe prejuízos à economia e fulminou a chance de FHC eleger seu sucessor.
O apagão de 2001, que inaugurou o termo, foi sequela dos reservatórios baixos nas hidrelétricas, da escassez de investimentos em geração e transmissão e da falta de contingência. Até então "apagão" não era sinônimo de blecaute, mas designava o prenúncio de uma forte restrição no fornecimento de energia, um diagnóstico sistêmico de um problema que atravessava toda a estrutura de geração e distribuição de energia elétrica no país, levando a um intenso racionamento com graves conseqüências para a economia brasileira.
Na verdade, ficar horas sem energia elétrica em pleno século XXI por conta de um blecaute não é um “privilégio” do Brasil. Frequentes em países mais pobres, apagões atingiram recentemente milhões de pessoas nos Estados Unidos, no Canadá e na Europa. O maior dos blecautes recentes, entretanto, aconteceu em 2005, na Indonésia, quando 100 milhões de pessoas ficaram até 12 horas sem energia. 
O blecaute de 2009 não foi "apagão". Foi apenas um blecaute.

Apagão mesmo está sofrendo a oposição. Uma espécie de, por assim dizer, apagão mental. Esse sim, irreversível.