terça-feira, dezembro 11, 2007

De volta à definição do conceito

Durante o debate realizado no Dia Internacional da Propaganda, na Feapa, em Belém, surgiu uma vez a polêmica sobre o conceito de "propaganda" e seu correlato, em português, "publicidade".

Tenho uma idéia formada sobre essa questão e que distingue claramente os dois conceitos. Publicizar é tornar público, "dar ao publico conhecimento de". A "publicidade" é uma atividade profissional dedicada à difusão pública de idéias associadas a empresas, produtos ou serviços, especificamente, a publicidade comercial. Esse é o sentido literal do termo. Recentemente alguns autores, como All Ries, passaram a conceituar como "publicidade" também toda atividade de relações públicas, que "dão publicidade a pessoas e marcas". Já a propaganda é um meio utilizado para fazer alguém aceitar um principio, uma teoria, uma doutrina através das emoções. Os propagandistas apelam não para a razão, mas sempre para a emoção e o instinto. A própria palavra propaganda só apareceu em 1622, quando o Papa Gregório XV convocou uma Comissão de Cardeais para orientar a difusão da palavra cristã pelas missões estrangeiras. A comissão foi chamada Congregatio de Propaganda Fide - Congregação para a Propagação da Fé, e funcionava como uma comissão de qualquer outra sociedade missionária - escolhendo missionários e despachando-os para o estrangeiro. Mas não demorou para que a palavra ganhasse significados outros que não propagação de crenças religiosas, como, por exemplo, agressão nacional, proselitismo político, deturpação de fatos e censura por supressão, coisas muito convenientes para Hitler. Essas sinistras atividades não tinham nada de novas. O Oráculo de Delfos do mundo antigo, pela hipnose, comandara as empresas colonizadoras dos atenienses. Tucidides, em sua história da Guerra do Peloponeso, revelou que as facções em confronto aumentavam seu domínio sobre os não convencidos pela contínua deturpação dos fatos. Platão, em sua República, preconizava o banimento de todos os escritores cuja influência fosse desagregadora, e que para o lugar deixado por eles fossem nomeados publicistas de tendência republicana; as paredes de Pompéia estavam cheias de lemas de propaganda eleitoral e a Inquisição Espanhola armou-se com todas as formas de censura que ajudassem seus objetivos. Evidentemente; a relativa inocência de um conceito como o do Papa Gregório pode ser conspurcada por qualquer regime totalitário, pois é tão fácil propagar as mentiras quanto as verdades.

Portanto, a propaganda, como William Albig diz acertadamente em seu livro Public Opinion, "aparecia sempre que qualquer liderança tentava unir as opiniões de um povo, desde a propaganda política de um Júlio César à propaganda da Igreja Católica Romana, à propagação da Lenda Napoleônica, ao propagandismo de Potemkin em favor de Catarina a Grande, à propaganda panfletária de Sam Adam para a Revolução Americana, à propaganda do Norte e do Sul na Guerra Civil Americana, às propagandas que proliferaram, em todos os lados, na Segunda Guerra Mundial".
Em síntese, a "propaganda" é a atividade que tende a influenciar as pessoas, com o objetivo religioso, político ou cívico, ou seja, ideológico. "Propaganda", portanto, é a propagação de idéias, mas, sem finalidade comercial. Já a "publicidade", que é uma decorrência do conceito de "propaganda", é também persuasiva, mas com objetivo comercial bem caracterizado. Portanto, a "publicidade" pode ser definida como a arte de despertar no público o desejo de compra, levando-o à ação e isso a distingue de todas as formas de "propaganda".