sexta-feira, outubro 29, 2010

Globonews: um panfleto televisivo

Já tive oportunidade de dizer aqui e repito: a mística da neutralidade jornalística, da independência editorial e da imparcialidade da notícia é uma das grandes falácias sobre a qual se erigiram os impérios de comunicação do país. Ou seja, o jornalismo "verdade" se ergueu sobre rotundas mentiras.
No mundo real, todo jornalismo expressa um ponto de vista. Mesmo a chamada "notícia", que deveria "retratar o fato", retrata efetivamente uma leitura do fato e toda leitura para ser impressa ou publicada não só passa pelo filtro dos interesses políticos e econômicos dos donos da mídia mas também pelo modo de ver do próprio jornalista que escreve e descreve o ocorrido. Há um exercício simples para ver como o ponto de vista varia de pessoa para pessoa. Junte dez pessoas, olhe uma cena e depois peça que cada um descreva o que viu. Afora um elemento ou outro da cena, a leitura será diferente para cada um dos observadores. Por que? Porque o olhar é ideológico, ele retrata um modo de pensar. Coisas que chamam a sua atenção não necessariamente interessa à pessoa que está ao seu lado.
Há quem diga que com a vigência dos blogs o cenário de censura econômica ou política deixou de existir dando lugar a uma mídia "democrática", horizontal. Esqueça. Quem vende essa idéia são os impérios monopolistas da internet, como Google e Facebook. Quando falo de jornalismo falo de mecanismos de persuasão que influenciam centenas de milhares, como "organizadores coletivos"(Lenin). Internet não é mídia de massas no sentido como as teorias da comunicação interpretam o conceito. Ela tem um grande alcance pulverizado (é de massas pela quantidade) mas tem pouco impacto (é segmentada) e se presta, como se viu nessa eleição, mais para a difusão de boatos, baixarias e mentiras do que para o debate qualificado de idéias. Não forma opinião. Deforma opinião.
Também já tive a oportunidade de falar aqui de como a GloboNews perdeu completamente a vergonha e o discurso de imparcialidade para assumir de modo aberto nessas eleições a defesa da candidatura de José Serra, do PSDB, abrindo fogo sem piedade contra Dilma Rousseff, candidata do PT. Não importa se para isso é necessário não apenas distorcer os fatos, mas mentir de maneira deslavada. Dizer que o país corre o risco de "censura", por exemplo, apenas porque Lula criticou a parcialidade de certos veículos é parte da conduta desmedida da Globo e de seu jornalismo. Se há liberdade de expressão no país, por que razão ela valeria para os jornalistas da Globo e não valeria para o cidadão Luis Inácio Lula da Silva?
Hoje, mesmo diante de pesquisas que atestam uma diferença de 10 milhões de votos - no mínimo - para Dilma, o programa "Estúdio i" reuniu jornalistas de seu primeiro time para torcer pelo candidato tucano e provar, isso mesmo, provar que a eleição não está decidida e que Serra pode "protagonizar a maior virada da história". "Todas as pesquisas erraram", "Serra vai tirar a diferença em São Paulo e Minas", "Os votos de Marina [aliás, quem é Marina?] vão para Serra", disse Merval Pereira, uma espécie de comandante-em-chefe do comitê serrista no "Estúdio i".
A fantasia global é tamanha que seus jornalistas chegaram a debater o comportamento do PT como "oposição" e o reagrupamento de forças assim como a governabilidade de um suposto "governo Serra".
Eu não fumo, mas fumaria o mesmo que o jornalismo da Globo só para ver o mundo virado ao contrário da forma como eles vêem.