quarta-feira, novembro 21, 2007

De homens, lucro e memória

A preservação do patrimônio histórico é a preservação não do que é antigo, mas do que é eterno: os traços humanos sobre a superfície do planeta, as nossas digitais. Para alguns, preservar o patrimônio histórico se presta a atrair turistas. Bobagens. Há mais casarios antigos em uma única via do centro antigo de Lisboa do que em Belém inteira. Não é isso. É mais além. Preservar o patrimônio histórico não tem objetivos econômicos, tem objetivos ético-culturais que transcendem o mercantilismo e os motivos e valorações que o capitalismo tabula para fazer qualquer debate. É por entender que a preservação do patrimônio histórico é a preservação de nossa fisionomia como cidade (e como cultura) é que tenho, entre as minhas preocupações, a do registro dos traços arquitetônicos dessa Belém tão européia e ao mesmo tempo tão amazônica que se guarda nos casarios do final do século XIX e início do século XX em Belém. E dói, profundamente, ver que, em nome da especulação imobiliária e da sede de lucro, abrem-se fendas no telhado secular de uma casa em plena Av. Magalhães Barata (onde por anos funcionou a escola "Pequeno Príncipe") para que, por obra e ação do tempo, degrade-se a histórica e venha ao chão a memória. O que dizer ou sentir diante dessa barbárie silenciosa, da qual fazem parte não apenas os proprietários ávidos por transformar passado em renda, mas também nossas autoridades, que permitem que o mal seja perpetrado?