A crise nos mercados mundiais e a desaceleração do crescimento econômico colocarão, no mínimo, mais 5 milhões de pessoas na fila do desemprego no mundo em 2008. A projeção é da Organização Internacional do Trabalho (OIT), que divulgou ontem seu relatório sobre a situação do emprego no mundo. Ao contrário de outras crises, o maior número de desempregados adicionais deve ser visto nos países ricos. Mas, se a turbulência se transformar em recessão, a América Latina pode ser a próxima vítima em termos de criação de postos de trabalho. Para o diretor da OIT Juan Somavia, 2008 será o "ano das incertezas".
Segundo a organização, o mundo criou em 2007 45 milhões de novos empregos. Neste ano, serão 40 milhões. No total, o número de desempregados deve chegar ao fim do ano em 195 milhões de pessoas. Em 2007, eram 189,9 milhões de desempregados, ante 189,6 milhões em 2005.
A OIT alerta que essa nova onda de desemprego pode ser apenas o começo. As estimativas da organização para 2008 foram baseadas na revisão do Produto Interno Bruto (PIB) mundial feito pela Fundo Monetário Internacional (FMI), em setembro do ano passado.
Na revisão, o FMI reduziu a perspectiva de crescimento em 2008 de 4,9% para 4,8%. O resultado dessa queda seria 5 milhões de novos desempregados. Em termos porcentuais, o crescimento é pequeno, passando de 6% para 6,1% de desemprego. "Esse aumento pode parecer marginal, mas o incremento de 0,1% na taxa do desemprego mundial é algo de substantivo. Nas piores crises a taxa foi de 6,5%", explicou Dorothy Schmidt, autora do levantamento.
"Já estamos vendo a possibilidade de uma revisão do crescimento do PIB europeu, o que teria um impacto ainda mais sério na taxa de desemprego", disse o diretor-executivo da organização, José Manuel Salazar.
O que a OIT teme é que o próximo impacto seja sentido nos países em desenvolvimento, afetados por uma recessão nas economias ricas. Nos últimos anos, os emergentes têm compensado o baixo crescimento na Europa e nos Estados Unidos. Em 2007, um em cada quatro postos de trabalho foi criado na Ásia, o que compensou a crise no mercado de trabalho em outras regiões. Os países ricos, só no ano passado, ficaram com mais 600 mil desempregados.
Para os técnicos, uma recessão nos países ricos não vai poupar a América Latina. "Uma mínima revisão do crescimento econômico americano já afeta a América Latina. Neste ano, vimos a estagnação na criação de empregos na região e o impacto em 2008 pode ser importante", disse Dorothy.
Para a OIT, muitos países podem ter perdido os últimos cinco anos de forte crescimento econômico para melhorar sua situação no que se refere ao desemprego. "A partir de agora, o cenário será mais difícil. Não criamos um número de trabalhos decentes suficiente enquanto a situação econômica era favorável. Agora, a turbulência pode significar um limite para as políticas de desenvolvimento ", afirmou a autora do levantamento.
Em 2007, o número de desempregados aumentou em 3 milhões de pessoas em comparação a 2006, mesmo com um crescimento do PIB mundial de 5,2%. A OIT ainda destaca que cerca de 3 bilhões de pessoas (61,7% da população mundial) fizeram parte do mercado de trabalho em todo o mundo, uma cifra recorde.
"Crescimento econômico não gera empregos se não for sustentável. Por isso é que vemos que a eventual crise em 2008 pode ser perigosa. A esperança é que Ásia não seja atingida, continue a demonstrar crescimento e seja o motor da geração de empregos no mundo", afirmou Salazar.
Entre as regiões que tiveram maior desemprego no ano passado estão Oriente Médio e norte da África, com taxas de 11,8% e 10,9%, respectivamente. A América Latina divide a terceira posição com Leste Europeu e ex-repúblicas soviéticas com 8,5%.