O disseminado conceito popular de que "ninguém acredita em políticos" ganhou medição científica: pesquisa global do instituto Gallup International para o Fórum Econômico Mundial mostra que apenas 8% dos consultados confiam nos políticos. A reportagem é de Clóvis Rossi e publicada pelo jornal Folha de São Paulo, 18-01-2008. Na média mundial, 60% dizem que eles são desonestos, mas, na América Latina, a porcentagem sobe para 77%. Mesmo em países cujos presidentes gozam de alta popularidade (Colômbia, Venezuela e Bolívia), os que dizem que os políticos são desonestos chegam a 79% (Venezuela), 88% (Bolívia) e ao recorde (90%) na Colômbia. O Brasil não entrou na pesquisa, que ouviu 61.600 pessoas em 60 países, e é batizada de "A Voz do Povo". Segundo o Gallup, o levantamento representa o ponto de vista de cerca de 1,5 bilhão de cidadãos. A desonestidade atribuída aos políticos é uma característica habitual na "Voz do Povo", feita há cinco anos, mas subiu o número dos que desconfiam dos políticos: eram 48% em 2006, contra os 60% agora (a pesquisa foi realizada entre outubro e dezembro passados). A clientela básica do Fórum Econômico Mundial também se sai bastante mal na pesquisa: 43% dos pesquisados acham que os homens de negócio são desonestos, 42% acham que eles têm poder demais (e responsabilidade também) e 39% dizem que se comportam de maneira não-ética. Embora feita em um período em que a crise financeira global ainda não atingira o patamar inquietante do início de 2008, a maioria relativa dos consultados (36%) revelava pessimismo: acreditam que a próxima geração viverá em um mundo "muito" ou "um pouco" menos próspero. Um terço dos consultados acredita no contrário. O resultado é significativo se se considera que o mundo está vivendo cinco anos de inédito crescimento econômico, o que deveria levar a mais otimismo do que pessimismo. Na América Latina, os mais otimistas, disparadamente, são os venezuelanos: 55% crêem em mais prosperidade ("muito" mais ou "um pouco" mais) contra 20% de pessimistas. Na Argentina, ao contrário, só 26% esperam mais prosperidade, contra 31% que esperam piora. Também no quesito segurança predominam os pessimistas, neste caso com muito maior margem sobre os otimistas. Para apenas um quarto dos entrevistados a próxima geração viverá em um mundo mais seguro, ao passo que quase a metade (48% exatamente) acha que o mundo será muito menos ou um pouco menos seguro. A sensação de insegurança é mais disseminada justamente nas regiões mais ricas do mundo, Europa Ocidental e América do Norte. Mais de dois terços dos europeus ouvidos (69%) acham que o mundo será menos seguro, contra magros 11% que confiam em mais segurança. Nos EUA/Canadá, 62% são pessimistas a respeito da segurança e 13%, otimistas. Os resultados em ambos os quesitos (prosperidade e segurança) são bastante similares aos de anos anteriores. O temor quanto à segurança explica por que temas a ela ligados subiram na lista de prioridades que os pesquisados querem que seus líderes focalizem. Antes, ganhavam, ainda que por pequena margem, objetivos econômicos como eliminar a pobreza, promover o crescimento econômico e fechar a brecha ricos/pobres. Agora, somam-se a redução das guerras, o combate ao terrorismo e a proteção do ambiente. Ao contrário dos políticos, os professores merecem o mais alto nível global de confiança (34% acreditam neles). Mas, na África, são superados pelos líderes religiosos e, no Oriente Médio, por militares/policiais. Na América Latina, também, professores e líderes religiosos aparecem como os mais confiáveis, com, respectivamente, 20% e 17%, seguidos pelos jornalistas (11%). Os menos confiáveis na região são os advogados (apenas 3%), abaixo até dos políticos e dos sindicalistas, ambos com 4%.