sábado, janeiro 16, 2010

O fiasco de Copenhague pertence a Obama

O presidente estadunidense estava numa posição privilegiada para liderar o mundo no que respeita às alterações climáticas e desperdiçou todas as oportunidades.

Artigo de Naomi Klein

Ao contrário das inúmeras notícias, o desastre de Copenhague não foi culpa de todos. Não aconteceu por que os seres humanos são incapazes de estabelecer acordos ou são inerentemente auto-destrutivos. Também não foi apenas culpa da China nem das infelizes Nações Unidas.
Existe muita culpa para distribuir mas havia um único país que possuía um poder singular para mudar o jogo. E não o usou. Se Barack Obama tivesse ido a Copenhague com um compromisso transformador e inspirador para tirar a economia dos EUA da dependência dos combustíveis fósseis, todos os outros grandes emissores teriam seguido. A União Européia, o Japão, a China e a Índia indicaram que estariam dispostos a aumentar as suas metas de acordo, mas apenas se os EUA tomassem a iniciativa. Em vez de liderar, Obama chegou com metas embaraçosamente baixas e os grandes emissores imitaram-no.
(O "acordo" que foi arranjado à última da hora não é nada mais que um pacto sujo entre os maiores emissores mundiais: Eu vou fingir que estás a fazer alguma coisa pelas alterações climáticas se tu fizeres o mesmo por mim. De acordo? De acordo. )
Compreendo todos os argumentos sobre as promessas que ele não pode cumprir, sobre a disfunção do Senado norte-americano, sobre a arte do possível. Mas poupem-me a lição sobre o pouco poder que o pobre Obama tem. A nenhum presidente desde Frankin Delano Roosevelt (FDR) foram dadas tantas oportunidades para transformar os EUA em algo que não ameace a estabilidade da vida neste planeta. Ele recusou usar toda e qualquer uma delas. Vejamos as três maiores:

Oportunidade Desperdiçada número 1: O Pacote de Estímulo
Quando o Obama chegou à presidência, ele tinha mão livre e um cheque em branco para estabelecer um pacote de gastos no sentido de estimular a economia. Podia ter usado esse poder para determinar o que muitos chamaram o New Deal Verde - construir o melhor sistema público de trânsito e os esquemas mais inteligentes do mundo. Pelo contrário, tentou desastrosamente chegar aos Republicanos, baixando o tamanho do estímulo e estragando grande parte do mesmo em cortes fiscais. Claro, gastou algum dinheiro na impermeabilização, no entanto, os transportes públicos foram inexplicavelmente pouco modificados enquanto que as auto-estradas que perpetuam a cultura do carro ganharam bem.

Oportunidade Desperdiçada número 2: Os financiamentos da indústria automóvel
Por falar em cultura do carro, quando Obama tomou posse também se encontrou reponsável de dois dos três maiores fabricantes de carros e de todas as emissões pelas quais são responsáveis. Um líder visionário determinado em lutar contra o caos climático teria obviamente usado esse poder para reestruturar esta indústria ineficiente de forma a que as fábricas construíssem as infra-estruturas verdes de que o mundo tão desesperadamente precisa. Todavia, Obama assumiu o papel de um pouco inspirador em redutor-chefe de expectativas, deixando as questões essenciais desta indústria na mesma.

Oportunidade Desperdiçada número 3: Os financiamentos da Banca
Vale a pena recordar que, quando Obama chegou ao poder, também os bancos estavam de joelhos - houve um enorme esforço para nacionalizá-los. Mais uma vez, se Obama se tivesse atrevido a usar o poder que lhe foi entregue pela história, teria mandado os bancos fornecer empréstimos às fábricas para que estas se modernizassem e para que novas estruturas verdes fossem construídas. No entanto, ele declarou que o governo não devia dizer aos bancos falidos como gerir os seus negócios. As empresas verdes dizem que agora é mais difícil que nunca obter empréstimos.
Imagine-se que este três gigantes da economia - os bancos, a indústria automóvel e o pacote de estímulo - tivessem sido subordinados a um visão verde comum. Se tivesse acontecido, a exigência de uma lei complementar da energia teria sido parte coerente de uma agenda transformativa.
Tivesse ou não sido aprovada, na altura de Copenhaga, os EUA já estariam a caminho de cortar dramaticamente as suas emissões, inspirando, em vez de desapontar, o resto do mundo.
Foram poucos os presidentes dos EUA que desperdiçaram tantas oportunidades de uma geração como Obama. Mais do que a qualquer outro, o fiasco de Copenhague é responsabilidade sua.

Publicado originalmente no Guardian.co.uk, 21 de Dezembro de 2009. Tradução de Sofia Gomes


sexta-feira, janeiro 15, 2010

O poder dos blogs

A governadora do Pará, Ana Júlia Carepa, acaba de lançar seu blog, seguindo o exemplo de outros governadores, como José Serra, Sérgio Cabral, Aécio Neves e Jacques Wagner, que contabilizam resultados positivos dessa relação direta com o público.
Por que os blogs são tão atraentes e demonstram tanto poder?
Em uma definição genérica, o blog é uma página da web, de fácil manipulação, fácil atualização e inserção de conteúdo, o que o torna uma fonte de informação especializada ou simplesmente um diário on-line disponível ao acesso público.
O blog proporciona um poder de comunicação bidirecional instantâneo, com um alto valor agregado, porque possui leitura agradável, custa muito pouco, é de fácil navegação, disponibiliza a troca de comentários e links, é personalizado e permite a criação de uma comunidade em torno de um tema ou de uma pessoa, uma fonte de informação sobre determinado assunto.
Os blogs podem ser usados para intensificação de ações de relações públicas, pois possuem uma comunicação aberta e de fácil acesso para jornalistas e mídia em geral.

Muitos opõem o Twitter aos blogs tradicionais, o que é um erro.
O Twitter tem origem nos blogs, mas, pela facilidade de acesso, redução de conteúdo e pelo uso diversificado, parece outra coisa. Aliás, a definição “micro-blog” usada para o Twitter ajuda a circunscrever o escopo de sua relação direta com os blogs tradicionais. O Twitter é o blog que tem pressa.
Blog é uma poderosa ferramenta de mídia, pois, ao mesmo tempo em que abre informação e cria em torno de si uma rede de usuários, simultaneamente agrega valor e fortalece marcas e imagens, tornando-a quem assina o blog uma referência no assunto ali abordado.
O que os blogs compartilham com a mídia tradicional é seu “poder de influência”, que tanto pode ser limitado a um punhado de fãs incondicionais quanto atingir centenas de milhares de pessoas todos os dias. Há casos em que os blogs especializados têm mais leitores do que, por exemplo, algumas revistas setoriais impressas.
Diferentemente de um website, o blog possui uma característica informal. Isso torna a leitura agradável, já que o excesso de formalidade poder dificultar a interação com público. O blog é, por natureza, um espaço de opinião e não uma vitrine virtual com finalidade exclusiva de promover uma publicidade direta.

Não anistie os torturadores

Para assinar o Manifesto contra a anistia aos torturadores da ditadura militar, acesse este link: http://www.ajd.org.br/contraanistia_port.php
Aqui, a íntegra do Manifesto.
APELO AO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL: NÃO ANISTIE OS TORTURADORES!
Exmo. Sr. Dr. Presidente do 
Supremo Tribunal Federal
 
Ministro Gilmar Mendes

Eminentes Ministros do STF: está nas mãos dos senhores um julgamento de importância histórica para o futuro do Brasil como Estado Democrático de Direito, tendo em vista o julgamento da ADPF (Argüição de Descumprimento de Preceito Fundamental) nº 153, proposta em outubro de 2008 pelo Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil, que requer que a Corte Suprema interprete o artigo 1º da Lei da Anistia e declare que ela não se aplica aos crimes comuns praticados pelos agentes da repressão contra os seus opositores políticos, durante o regime militar, pois eles não cometeram crimes políticos e nem conexos.
Tortura, assassinato e desaparecimento forçado são crimes de lesa-humanidade, portanto não podem ser objeto de anistia ou auto-anistia.
O Brasil é o único país da América Latina que ainda não julgou criminalmente os carrascos da ditadura militar e é de rigor que seja realizada a interpretação do referido artigo para que possamos instituir o primado da dignidade humana em nosso país.
A banalização da tortura é uma triste herança da ditadura civil militar que tem incidência direta na sociedade brasileira atual.
Estudos científicos e nossa observação demonstram que a impunidade desses crimes de ontem favorece a continuidade da violência atual dos agentes do Estado, que continuam praticando tortura e execuções extrajudiciais contra as populações pobres.
Afastando a incidência da anistia aos torturadores, o Supremo Tribunal Federal fará cessar a degradação social, de parte considerável da população brasileira, que não tem acesso aos direitos essenciais da democracia e nesta medida, o Brasil deixará de ser o país da América Latina que ainda aceita que a prática dos atos inumanos durante a ditadura militar possa ser beneficiada por anistia política.
Estamos certos que o Supremo Tribunal Federal dará a interpretação que fortalecerá a democracia no Brasil, pois Verdade e Justiça são imperativos éticos com os quais o Brasil tem compromissos, na ordem interna, regional e internacional.
Os Ministros do STF têm a nobre missão de fortalecer a democracia e dar aos familiares, vítimas e ao povo brasileiro a resposta necessária para a construção da paz.
Não à anistia para os torturadores, sequestradores e assassinos dos opositores à ditadura militar.
Comitê Contra a Anistia aos Torturadores
PRIMEIRAS ASSINATURAS
Antonio Candido de Mello e Souza 
- crítico literário

Helio Bicudo 
- jurista e ex-membro da Comissão Interamericana de Direitos Humanos

Chico Buarque de Holanda 
- cantor e compositor

Leandro Konder 
- filósofo

Fábio Konder Comparato 
- professor emérito da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo

José Celso Martinez Corrêa 
- dramaturgo, presidente da Associação Teatro oficina Uzyna Uzona

Frei Betto 
- frade dominicano e escritor

Maria Rita Khel 
- psicanalista

Maria Victoria Benevides 
- professora USP

Michael Löwy 
- sociólogo (CNRS – França)

Milton Hatoum 
- escritor

João Pedro Stedile 
- coordenador do MST

Marilena Chauí 
- filósofa e professora da FFLCH a USP

Morre Daniel Bensaid

A esquerda socialista perde um de seus mais brilhantes pensadores ainda em atividade. Faleceu Daniel Bensaid, filósofo, militante político e dirigente do NPA (Novo Partido Anticapitalista) da França, organização que surgiu a partir da fusão da Liga Comunista Revolucionária (LCR) com pequenos grupos de esquerda.
Reproduzo aqui nota publicada por Franciso Louçã, dirigente do Bloco de Esquerda de Portugal, sobre a morte de seu companheiro de militância e amigo:

"Nascido em Toulouse há 64 anos, foi um dos dirigentes mais destacados do Maio de 68, sendo um dos iniciadores do Movimento 22 de Março, ao lado de Cohn Bendit e de outros ativistas.
Fundador da LCR francesa e depois do NPA (Novo Partido Anticapitalista), Bensaid acompanhou directamente a revolução portuguesa colaborando com a LCI e PSR e participando em comícios e outras actividades políticas nos anos de 1974 e 1975 e posteriores. Teve uma intensa cooperação com o Bloco de Esquerda desde a sua criação.
Publicou vários livros de ensaio político, de debate e de filosofia, sobretudo sobre Karl Marx, Walter Benjamim e o pensamento socialista contemporâneo, e afirmou-se como um dos mais importantes pensadores revolucionários dos anos do combate ao Império, à guerra e ao liberalismo selvagem que é o capitalismo realmente existente.
Foi também um amigo e um camarada, e lamento profundamente o seu desaparecimento. A paciência impaciente das suas ideias é um convite à resistência e à rebeldia: assim foi Daniel Bensaid, até ao fim, na luta contra a doença como na luta pela vida toda".

terça-feira, janeiro 12, 2010

Quem tem medo dos Direitos Humanos

O programa de Direitos Humanos apresentado pelo Governo Federal prevê, entre outras diretrizes, a consolidação de modelo de desenvolvimento sustentável com inclusão social e econômica e ambientalmente equilibrado, integração democrática entre Estado e sociedade civil, garantia de direitos humanos de forma universal, promoção dos direitos de crianças e adolescentes e combate às desigualdades estruturais.
Também prevê a transparência e participação popular no sistema de segurança pública e justiça criminal, prevenção da violência e profissionalização da investigação de crimes, garantia dos direitos de vítimas de crimes e proteção das pessoas ameaçadas, modernização da política de execução penal, melhoria do sistema penitenciário, prioridade para aplicação de penas e medidas alternativas às penas de prisão e promoção de um sistema de justiça mais acessível, ágil e efetivo.

Então por que a matéria está provocando tanta polêmica?
Simples. Porque religiosos ainda querem impor seus símbolos em ambientes públicos; porque ruralistas ainda querem criminalizar as ações políticas dos movimentos sociais no campo; porque torturadores e executores de militantes de esquerda durante a ditadura militar querem continuar impunes; porque veículos de comunicação querem ser proprietários de concessões públicas de rádio e tevê e não querem se submeter a nenhum tipo de fiscalização e controle, como existe em todo o primeiro mundo.
Para alguns, o Programa Nacional de Direitos Humanos expões o governo a um “desgaste desnecessário”. Para mim, expôs o verdadeiro espírito de esquerda que nutre Lula e seu governo: o de abraçar a boa luta e levantar as polêmicas necessárias para o avanço da cidadania.
Se você é a favor de um estado laico, de inibir a violência no campo e avançar na reforma agrária, de punir torturadores e assassinos fardados ou não e de inibir a ação irresponsável e descontrolado dos órgãos de comunicação, que querem continuar a manter concessões públicas como propriedade privada e hereditária, então você é a favor do Programa Nacional de Direitos Humanos de Lula.

sexta-feira, janeiro 08, 2010

Frase

"Em 2010, a unica coisa mais difícil de vender do que um jornal será uma empresa jornalística." Michael Kinsley

quinta-feira, janeiro 07, 2010

Deu no New York Times



Weatherproof Garment viu Obama em uma foto utilizando um de seus casacos. Sem pedir autorização, colocaram o homem em plena Times Square e já mandaram um slogan com trocadilho“A leader in style”.
Mas não é só. Para quem ninguém pudesse confundir o modelo na hora de comprar, apelidaram logo a peça de “the Obama jacket” em seu catálogo online.
A foto, que pertence a Associated Press, foi solicitada pelo CEO da Weatherproof em alta resolução. Ele então usou uma lupa para confirmar que o casaco era mesmo de sua marca, verificando o logo e o zíper.
A Casa Branca declarou que não autorizou o uso da foto, e o outdoor provavelmente não vai ficar exposto por muito mais tempo. De qualquer forma, serviu para colocar a Weatherproof Garment no  NY Times.


Postado por Carlos Merigo, no Brainstorm9.

quarta-feira, janeiro 06, 2010

As Três Peneiras de Sócrates

Um homem foi ao encontro de Sócrates levando ao filósofo uma informação que julgava de seu interesse:
- Quero contar-te uma coisa a respeito de um amigo teu!
- Espera um momento – disse Sócrates. Antes de contar-me, quero saber se fizeste passar essa informação pelas três peneiras.
- Três peneiras? Que queres dizer?
- Vamos peneirar aquilo que queres me dizer. Devemos sempre usar as três peneiras. Se não as conheces, presta bem atenção. A primeira é a peneira da VERDADE. Tens certeza de que isso que queres me dizer é verdade?
- Bem, foi o que ouvi outros contarem. Não sei exatamente se é verdade.
- A segunda peneira é a da BONDADE. Com certeza, deves ter passado a informação pela peneira da bondade. Ou não?
Envergonhado, o homem respondeu:
- Devo confessar que não.
- A terceira peneira é a da UTILIDADE. Pensaste bem se é útil o que vieste falar a respeito do meu amigo?
- Útil? Na verdade, não.
- Então, disse-lhe o sábio, o que queres me contar não é verdadeiro, nem bom, nem útil. Assim, é melhor que o guardes apenas para ti.