quinta-feira, dezembro 29, 2011

É a economia, estúpido

Estudo divulgado por prestigiado organismo internacional de pesquisa econômica indica que o Brasil conseguiu arrebatar ao Reino Unido o sexto lugar na lista das maiores economias mundiais. O estudo, realizado pelo Centre for Economics and Business Research (CEBR) mostra também um avanço dos países asiáticos e um recuo dos europeus na tabela das economias globais.
Em entrevista à rádio BBC, o executivo-chefe do CEBR, Douglas McWilliams, confirmou que o fato faz parte de uma tendência, que se acentuou nos últimos dez anos. “Creio que é parte de uma grande alteração econômica, na qual não apenas vemos uma transferência de ocidente para oriente, mas também vemos países que produzem artigos essenciais – comida, energia e coisas do género – se desenvolverem e gradualmente subirem na tabela da liga económica”, disse McWilliams.
A imprensa tucana torceu o nariz para a notícia que chamou a atenção do mundo. O comentarista econômico Celso Ming, em seu blog no jornal O Estado de São Paulo, tentou minimizar o fato, alegando que seria "natural" que o PIB brasileiro ultrapassasse a soma de toda riqueza que "um país menor" produz, ou, em suas palavras, superasse "o tamanho da economia de países bem mais acanhados (sic) em massa consumidora e extensão".
Minc ilustra: "tamanho do PIB é como o tamanho de caneca. E o Brasil tem quatro vezes a população do Reino Unido e 35 vezes a sua área territorial".
Realmente as metáforas deveriam ser deixadas para profissionais.
Poucas vezes li opiniões tão estúpidas em se tratando de economia, uma área pródiga de análises, previsões e opiniões estúpidas.
Do alto de sua estupidez, a afirmação de Minc não resiste a nenhum exercício lógico. Se seu raciocínio fizesse algum sentido, a China e a Índia já seriam os países mais ricos do mundo há pelo menos dois séculos e o Pará e o Amazonas seriam, na atualidade, os estados mais ricos do Brasil. A simples adição de território e população nem sempre geram riquezas. Aliás, a regra e o bom senso têm sistematicamente negado essa ilação.
Lançada por um dos marqueteiros de Bill Clinton durante a campanha eleitoral que em 1992 interrompeu um longo reinado republicano na Casa Branca, a frase que dá o título à este post poderia ser um alerta a Minc e a seus pares de tucanato: enquanto o mundo afunda em sua pior crise econômica dos últimos 100 anos, o Brasil cresce com distribuição de renda. Está perfeito? Não, não está. Longe disso. Mas está melhor do que quando quem mandava no país mandava também em Celso Minc.

quarta-feira, dezembro 21, 2011

Privataria Tucana: a entrevista

A Geração Editorial, feliz editora que lançou "A Privataria Tucana" – cujo conteúdo investigativo denuncia a pirataria praticada com o dinheiro público em benefício de fortunas privadas, tendo o ex-governador José Serra e o ex-diretor da área internacional do Banco do Brasil e ex-tesoureiro das campanhas eleitorais de Serra e de FHC, Ricardo Sérgio de Oliveira, como personagens principais – acertou na mosca ao trocar noite de autógrafos por um Twitcam com o autor do livro, o jornalista Amaury Ribeiro Jr., em São Paulo. Logo o vídeo transformou-se em comunicação viral.
São mais de 140 minutos de entrevista a um seleto grupo de blogueiros e jornalistas. E, logo no início do vídeo, a primeira resposta dada aos entrevistadores pelo mais que serendipitoso jornalista autor das denúncias revela que não é somente a fina flor de políticos piratas que terá de se haver com a opinião pública. A grande imprensa, que silenciou diante das graves denúncias do jornalista, está devendo muitas explicações aos cidadãos brasileiros.
O link para o vídeo está aqui: http://www.youtube.com/watch?v=ufUjcYOY_iE

O marketing do tiro no pé

O jornalista Marcelo Cabral informa na revista IstoÉ que a Diageo, uma das maiores fabricantes mundiais de bebidas alcoólicas, com receita mundial de R$ 28 bilhões por ano, decidiu processar e anular o registro de marca de uma pequena indústria mineira de cachaça, chamada João Andante. Segundo a companhia reclamante, a marca João Andante "configura uma imitação" de sua famosa marca de uísque Johnnie Walker, a mais vendida do planeta e pode "atingir os esforços de consolidação do produto". Seria, assim, "uma tentativa de pegar carona na marca, criando uma associação indevida na mente dos consumidores", diz um comunicado da Diageo reproduzido pelo jornalista.
Seja qual for o veredicto a Diageo já conseguiu fazer o impossível: tornar conhecida uma desconhecida marca de cachaça mineira sem que esta tenha investido um único real em sua divulgação. Do nada, a pinga feita de maneira artesanal se tornou uma das mais requisitadas do país. "Antes do processo, vendíamos 200 garrafas por mês", diz Gabriel Silva, um dos sócios da marca. "Agora chegamos a duas mil unidades por mês".
Além da antipatia que gera um processo de uma gigante contra uma pequena indústria que faturava apenas R$ 8 mil com esse produto, o ataque à João Andante é desproporcional. "Os produtos são de nichos distintos, não havendo ameaça de perda de mercado", disse Gilberto Galan, da ESPM de São Paulo a Marcelo Cabral.
Na briga dos caminhantes quem perdeu foi o bom senso.

Na Suíça, download é legal

O jornalista Felipe Marra Mendonça, da revista Carta Capital, comenta na edição de 21 de dezembro, estudo feito pelo governo suíço para analisar o impacto da pirataria - downloads ilegais - na economia daquele país. As reclamações da indústrias do entretenimento e do Senado suscitaram a pesquisa.
A conclusão do estudo é de que os que "pirateiam" arquivos na internet também gastam dinheiro para comprar produtos da indústria do entretenimento. Assim, o governo decidiu não mexer nas leis de direitos autorais vigentes na Suíça. A lei suíça considera que fazer downloads é uma atividade legal, desde que para uso pessoal, ou seja, que não gere lucro com o ato, mas apenas o usufruto do conteúdo.
O estudo, minucioso, mostra que o alarde feito pela indústria, que relata perdas de postos de trabalho e receitas cada vez menores, é falácia. Um terço dos cidadãos suíços com mais de 15 anos baixam músicas, filmes e jogos pirateados na internet. Esses mesmos usuários mantêm gastos constantes com a indústrias do entretenimento e o ato de baixar conteúdo ou é complementar ou é uma forma de experimentar o produto antes de adquiri-lo. Além disso, os que baixam músicas ilegalmente gastam mais dinheiro indo a shows e bandas menos conhecidas conseguem maior exposição quando suas músicas são pirateadas e difundidas.
O estudo coloca uma pá de cal no alarmismo que começou quando o Senado do país decidiu investigar o que poderia ser "uma crise emergente na criatividade cultural suíça".
Esta é uma luta que a indústria já perdeu. Se levassem para cadeia todas as pessoas que baixam conteúdo na internet, teriam que construir um presídio do tamanho da África.

terça-feira, dezembro 20, 2011

Os superestimados

Encontrei em meus arquivos um artigo denominado “Os superestimados do Brasil”, publicado pelo jornalista Dagomir Marquezi em 2008 na revista Época.
A releitura do artigo logo me trouxe à memória a razão de tê-lo guardado: era uma provocação exemplar, dessas que levam à reflexão.
O artigo toma como referência a idéia original da revista norte-americana Entertainment Weekly, que publica todo ano uma lista de artista que considera “overrated”.
Não existe uma tradução exata em português. Marquezi sugere que a mais próxima em nossa língua seria “superestimado”.
São obras e pessoas que, por alguma razão, costumam ser julgadas melhores do que são; que quando são colocadas sob os holofotes fazem você pensar “Esse cara não está com essa bola toda”. Na lista da revista estadunidense uma sequencia de mitos sagrados da cultura ianque, como a série Friends, considerada “infernalmente irritante”.
Com base na lógica criada pelo periódico, Marquezi cria sua própria lista de brasileiros superestimados.
Lembra Chico Buarque, que é visto como um semideus, mas o auge de sua carreira aconteceu há 30 anos e agora é mais lembrado pela cor dos olhos, por escrever livros que ninguém lê ou por estar namorando uma garota que poderia ser sua neta, do que por algo relevante que tenha produzido depois da primeira eleição direta pós-64.
A verve de Marquezi alcança Fernanda Montenegro, a primeira dama do teatro brasileiro, unanimidade nacional e patrimônio cultural do Brasil restaurado com perícia por Pitangui. O jornalista afirma, sem tergiversar, que Montenegro “há muito tempo faz o mesmo papel”, se tornando, ela própria, um personagem que se repete, na mesma impostação, nos mesmos trejeitos, na mesma pose maternal. Montenegro faz sempre o papel de Montenegro.
A lista chega ao rock de butique e encontra Pitty, que, longe de ser a última Coca-Cola do deserto, “entrou no mercado sendo tratada como dona de um talento espantoso e mostrando a arrogância de uma prima-dona”, mas cuja obra é ruim e puramente descartável.
O escritor finaliza sua lista com Glauber Rocha, símbolo do cinema anti-conformista nos anos 1960, representante máximo do mantra “uma idéia na cabeça e uma câmera na mão”, mas ninguém agüenta ver sequer “dois minutos seguidos de qualquer um de seus filmes” a não ser que tenha forte tendência masoquista ou precise fazê-lo por obrigação profissional.
Marquezi conclui desafiando o leitor a fazer ele próprio sua lista. Eu fiz a minha, mas nunca publiquei aqui por receio de ser queimado em praça pública.
O que dizer, por exemplo, de Luan Santana, um dos aclamados ídolos musicais do país e cujo maior sucesso parece ser um plágio de uma música da Xuxa? Ou de Maria Gadu, desafinada como um serrote, posando de Cassia Eller ressuscitada? Ou de Luana Piovani, um saco de celulites e de ignorância, que se acredita mais bela que Gisele Bundchen e mais inteligente que Einstein? Ou de Rafinha Bastos, analfabeto funcional com grave déficit de atenção, que faz sucesso nas redes sociais recebendo jabá para opinar sobre tudo e sobre todos como se fosse reencarnação de Sócrates - o filósofo, não o jogador de futebol. Ou mesmo de Arnaldo Jabor, cineasta fracassado que se tornou o porta-voz do mais abominável conservadorismo? Superestimados? Sim. Com certeza.
Os superestimados estão entre nós. Em todas as áreas, em todos os lugares, para todos os gostos. Faça sua própria lista. No mínimo servirá como uma reflexão de que tão fácil como construir mitos, é começar a questioná-los.

segunda-feira, dezembro 19, 2011

Frase

"São Paulo parece uma versão real do filme Blade Runner (Ridley Scott, 1982). A cidade agora tem 70 heliportos, com os ricos voando num outro nível que os pobres". Slavoj Zizek, filósofo.

Frase

"Pode ser que Paulo Coelho não faça grande literatura, mas o certo é que fundou um culto literário. O escritor exerce o dom da automultiplicação". Nirlando Beirão, jornalista.

terça-feira, dezembro 13, 2011

Uma lição às avessas

Os uniformes dos alunos de educação básica da rede estadual de ensino, em Alagoas, devem passar a contar com logomarcas de empresas a partir de 2012. É o que indica a lei nº 7.288, publicada no Diário Oficial do Estado na última semana. A lei, sancionada pelo governador Teotonio Vilela Filho (PSDB), foi, com razão, criticada por educadores.
Segundo a lei aprovada, as empresas devem pagar pelos uniformes e fazer melhorias nas unidades de ensino. Assim, como fazendeiros que marcam o gado do pasto que conservam, elas terão direito a estampar sua marca nas roupas dos estudantes.
É a danação do capitalismo e, a um só tempo, a falência do estado. Quando empresas se oferecem para sujar uniformes escolares com suas marcas e o Estado usa esse desvario para aceitar que esses entes privados "reformem unidades escolares" está na hora de decretar falência.
Teotônio Vilela Filho deveria renunciar. A oposição a ele deveria pedir seu lugar. Quem não tem capacidade sequer de reformar unidades escolares e oferecer uniformes limpos aos alunos tem que pegar o chapéu e desocupar o lugar.
Para a vice-presidente do Sinteal (Sindicato dos Trabalhadores da Educação de Alagoas), Consuelo Correia, a lei não irá salvar a educação pública alagoana do caos em que se encontra. "A categoria rejeita esta ideia de transformar alunos em outdoors ambulantes, porque, na verdade, o que o Estado pretende com isso é se livrar das obrigações que tem para com a educação em Alagoas, quem sabe já pensando numa tentativa de privatização do ensino público”, disse a educadora.
O governador e os deputados de Alagoas fazem escola. Às avessas.

segunda-feira, novembro 21, 2011

O valioso tempo dos maduros

Contei meus anos e descobri que terei menos tempo para viver daqui para a frente do que já vivi até agora.
Tenho muito mais passado do que futuro.
Sinto-me como aquele menino que recebeu uma bacia de cerejas.
As primeiras, ele chupou displicente, mas percebendo que faltam poucas, rói o caroço.
Já não tenho tempo para lidar com mediocridades.
Não quero estar em reuniões onde desfilam egos inflamados.
Inquieto-me com invejosos tentando destruir quem eles admiram, cobiçando seus lugares, talentos e sorte.
Já não tenho tempo para conversas intermináveis, para discutir
assuntos inúteis sobre vidas alheias que nem fazem parte da minha.
Já não tenho tempo para administrar melindres de pessoas, que apesar da idade cronológica, são imaturos.
Detesto fazer acareação de desafectos que brigaram pelo majestoso cargo de secretário-geral do coral.
"As pessoas não debatem conteúdos, apenas os rótulos". Meu tempo tornou-se escasso para debater rótulos, quero a essência, minha alma tem pressa.
Sem muitas cerejas na bacia, quero viver ao lado de gente humana, muito humana; que sabe rir de seus tropeços, não se encanta com triunfos, não se considera eleita antes da hora, não foge de sua mortalidade.
Caminhar perto de coisas e pessoas de verdade.
O essencial faz a vida valer a pena. E para mim, basta o essencial.


Mário Pinto de Andrade
Escritor e político angolano (1928-1990)

sexta-feira, outubro 21, 2011

Barbárie não é parteira da democracia

As cenas, gravadas em um telefone celular barato, mostrando a prisão, o espancamento e o assassinato do líder líbio Muamar Kadafi, manietado e desarmado, por bandos armados pelas Nações Unidas e pela aliança Atlântica (uma coligação de nações interessadas no petróleo farto e de boa qualidade daquele país), mostra que a Líbia que surgirá depois da queda do ditador não será melhor do que aquela em que Kadafi governou. Mudou a bandeira, mudaram os bárbaros, mas segue o cortejo da barbárie que, ignorando o passar dos séculos, parece ser a marca indelével da política daquela região. Não se engane: o que houve na Líbia não foi uma revolução popular, mas apenas a mudança de guarda autoritária de um país rico e ao mesmo tempo miserável, sob a égide de uma única lógica: a de manter a intolerância como forma suprema de impor vontades e interesses.

sábado, setembro 24, 2011

De volta aos estudos

"Back to the British Museum" é o slogan proposto pelo filósofo norueguês Jon Elster para a nova esquerda, fazendo referência ao auto-exílio de Karl Marx no museu britânico para escrever O Capital. É hora de estudar criativamente e ter novas idéias.

sexta-feira, agosto 19, 2011

Frase

"O Facebook é a máquina de espionagem mais apavorante já inventada e está tudo acessível aos serviços americanos de inteligência". Julian Assange, do Wikileaks, ao jornal Russian Today.

quinta-feira, agosto 11, 2011

Dias de fúria

Direto de Liverpool, Cecília Toledo relata os motins que atingiram as principais cidades inglesas nos últimos dias.

Tudo indica que foi uma execução pura e simples; a polícia inglesa fazia uma de suas constantes “batidas” nos bairros onde majoritariamente vive a comunidade negra em Londres procurando justamente por Mark Duggan, que, segundo a polícia, fazia parte de uma gangue. Duggan estava em um táxi quando os policiais o surpreenderam, pararam o carro e atiraram nele, a sangue frio. Não existe nenhuma evidência de que Duggan tenha atirado contra os policiais, mas segundo a polícia, Duggan portava uma arma e atirou. Segundo todas as testemunhas, a família, os vizinhos, toda a comunidade, Duggan não andava armado.
O fato é que Duggan foi assassinado. Isso ocorreu na quinta-feira, dia 4 de agosto, à noite. Na sexta-feira, o bairro de Tottenham, ao norte de Londres, já amanheceu em chamas. A comunidade, informada da morte de Duggan, reagiu com ódio, foi para as ruas e começou a protestar. A polícia cercou toda a região com a cavalaria e centenas de policiais armados até os dentes com cassetetes, gás lacrimogêneo e balas de borracha. A repressão foi violenta, centenas de pessoas foram presas e feridas, mas nem assim a polícia conseguiu conter a revolta. Quanto mais a polícia batia e prendia, mais gente ia para as ruas. Uma multidão formada sobretudo pela juventude negra passou a enfrentar os policiais atirando pedras e queimando pneus, incendiando casas e carros. Nos três dias seguintes os protestos se alastraram para outros bairros pobres de Londres, como Hackney, Lewisham e Peckham. Em Lewisham, grupos de jovens atearam fogo em carros e contêineres, enquanto as ruas adjacentes foram interditadas pela polícia; em Peckha, também no sudeste de Londres, um ônibus foi queimado, segundo uma porta-voz do serviço de transportes londrino.
Mais de 220 pessoas foram presas acusadas de participar dos distúrbios, entre eles, um jovem de 11 anos. Estima-se que o prejuízo causado pelos danos seja superior a 115 milhões de euros.
No distrito de Croydon, sul de Londres, um incêndio de grande proporção, aparentemente provocado por grupos de jovens, assustou os moradores. Imagens exibidas pela BBC mostravam um prédio incendiado no centro do distrito. Os bombeiros levaram mais de uma hora para conter as chamas. O local também registrou saques, confrontos entre manifestantes e policiais, além de incêndios em carros e ônibus e em outros prédios. A polícia abandonou as balas de festim e passou a atirar de verdade. Um jovem de 26 anos foi morto. Na madrugada desta terça, a violência chegou aos bairros mais centrais, como Notting Hill, Clapham, Ealing, Camden e Hampstead e apesar de a maioria dos manifestantes ainda serem negros, os jovens brancos começaram a se somar aos protestos.
Na segunda-feira jovens em outras importantes cidades da Inglaterra, como Liverpool, Manchester e Birmingham, também aderiram aos protestos, segundo informações da rede britânica BBC. Em Birmingham, a segunda cidade mais populosa do país, pelo menos cem pessoas foram presas e dezenas acabaram hospitalizadas. Grupos de jovens mascarados destruíram lojas e restaurantes na cidade, incluindo McDonald's e uma boutique da grife Armani, além de atear fogo em carros e caixas de correio. A polícia local disse ainda que uma delegacia no centro da cidade foi incendiada.
No início dos protestos, a polícia foi orientada a tentar negociar, já que os protestos estavam ainda circunscritos a Tottenham, e os principais prédios atacados eram ainda pertencentes à própria comunidade. Mas quando os conflitos se alastraram, os bairros mais ricos também ficaram ameaçados a polícia recebeu ordens de partir para o ataque direto, inclusive com armamento pesado. O primeiro-ministro britânico, David Cameron, que havia sido criticado por estar de férias na Itália enquanto Londres pegava fogo, voltou correndo ao país e fez uma declaração ameaçando os jovens negros: "Vocês vão sentir a força da lei. Se vocês têm idade suficiente para cometer esses crimes, têm idade suficiente para enfrentar as punições", disse o premiê, numa reunião de emergência do gabinete. Cameron também anunciou uma série de medidas para lidar com a crise, entre elas a suspensão de férias e folgas de policiais, o aumento do número de oficiais nas ruas de 6 mil para 16 mil e a reconvocação do Parlamento, que está em recesso (The Guardian, 9/8).
Depois de sofrer críticas por sua ausência, o prefeito de Londres, Boris Johnson, também resolveu suspender as férias. O grande temor é que Londres será a sede das Olimpíadas em 2012, e a Federação Inglesa de Futebol está cobrando medidas urgentes do prefeito. Na manhã da última terça-feira, a Football Association (FA) decidiu cancelar um amistoso entre Inglaterra e Holanda, que seria realizado na quarta-feira no estádio de Wembley, no noroeste de Londres, com expectativa de atrair 70 mil torcedores.
Tudo isso fez que com as forças de segurança da capital britânica e de outras partes do país fossem em massa para as ruas. Segundo a Polícia Metropolitana de Londres (conhecida como Scotland Yard), nos últimos três dias pelo menos 334 pessoas foram presas e 69 indiciadas. Cerca de 1,7 mil policiais tiveram de ser trazidos de outras regiões para reforçar o policiamento nas ruas. "A violência que vimos é simplesmente imperdoável. As vidas de pessoas comuns foram viradas de cabeça para baixo por esta selvageria estúpida. A polícia vai fazer com que todos os responsáveis enfrentem as consequências de suas ações e sejam presos", disse a comandante da Scotland Yard Christine Jones.
Enquanto ela declarava isso em todos os canais de TV, os tumultos explodiam no bairro de Hackney, no norte de Londres, depois que um homem foi parado e revistado pela polícia, que não encontrou nada. Em protesto, grupos de pessoas começaram então a lançar pedras e latas contra os policiais e a atacar carros da polícia com pedaços de madeira e barras de ferro. Lojas foram saqueadas e destruídas.
Segundo a Scotland Yard, três policiais foram feridos em Hackney e dois em Bethnal Green, mas não há informações sobre moradores feridos. Segundo informações da polícia, os jovens se organizaram por meio do Twitter e de mensagens no celular, que agora estão sendo monitorados pela polícia na tentativa de prever onde os protestos vão ocorrer.

Quem era Mark Duggan

Mark Duggan era inglês e tinha 29 anos. Casado e pai de três crianças pequenas, no momento de sua morte estava sendo investigado pela polícia como suspeito de um crime. A polícia, com ajuda da “imprensa marrom”, vem tentando criminalizar a figura de Duggan, como se ele fosse um gangster. Mas segundo todas as testemunhas e milhares de pessoas que a todo momento são entrevistadas pelas redes de TV, Duggan era muito querido por todos na comunidade. Em meio a centenas de buquês de flores que a todo momento eram colocados em frente à casa de Duggan, familiares dele se recusavam a falar com os jornalistas, protestando contra a cobertura da mídia por "distorcer a verdade" e falar "todas essas mentiras" sobre Duggan. "Ele era um bom homem. Ele era um pai de família," disse um familiar ao jornal The Guardian (9/8).
A companheira de Duggan, Simone Wilson, admitiu que Duggan era visado pela polícia, mas negou que ele já tivesse sido preso. Disse que Mark, que ela conhece há 12 anos, era "um bom pai" e "idolatrava os filhos". Os dois tinham planos de casar-se em breve e sair de Tottenham para "começar uma nova vida juntos" com seus três filhos: Kemani, de 10 anos, Kajaun, 7 e Khaliya, de 18 meses.
Em um depoimento ao Channel 4 News, Simone Wilson disse que seu companheiro não era um gangster e que jamais atiraria contra a polícia. "Se ele tivesse uma arma – coisa que não acredito – Mark teria corrido. Mark é um corredor. Ele teria preferido sair correndo do que atirar, e isso eu digo do fundo do meu coração. Eles estão dizendo que Mark era um gangster. Mark não era um gangster. Ele inclusive nem conhece qualquer gangster ou qualquer gangue. Ele não era assim como estão dizendo."
Um irmão de Mark, Shaun Hall, disse aos jornalistas que era "uma loucura total" afirmar que Duggan pudesse ter atirado contra os policiais: "Meu irmão não era esse tipo de pessoa. Ele não era tão estúpido ao ponto de atirar na polícia, isso é ridículo."

Uma longa lista de mortes

Em um artigo publicado no jornal The Guardian (9/8), o jornalista Alex Wheatte compara os conflitos em Tottenham com aqueles ocorridos em outra comunidade negra chamada Brixton, em 1981. Wheatte é negro e participou ativamente dos confrontos com a polícia nessa época. Ele ainda lembra da brutalidade da polícia e da impunidade com que agia contra os jovens negros. Os conflitos em Brixton também tiveram início com a morte de um jovem, David Moore, de 22 anos, assassinado pela polícia depois de uma perseguição na comunidade negra. Os conflitos se espalharam por três bairros, Brixton, Toxteth e Moss Side, e a polícia agiu com extrema brutalidade, centenas de pessoas ficaram feridas e outras presas. “As circunstâncias são idênticas: crise econômica, jovens sem trabalho, cortes profundos nos serviços públicos e deterioração nas relações entre a juventude negra e a polícia”, diz Alex Wheatte.
Segundo ele, “Mark Duggan é o ultimo de uma longa lista de mortes causadas pela polícia. Recentemente o cantor de reggae Smiley Culture foi acusado de ter tirado a própria vida com uma faca de cozinha em sua própria casa enquanto estava sobre custódia da polícia. A comunidade negra inteira se recusa a acreditar nisso. O assassinato de John Charles de Menezes em Stockwell ainda intriga muita gente. A polícia sempre diz que está investigando, mas nada ocorre”.

Governo tenta “isolar” o conflito

Submerso em uma enorme crise econômica, envolvido em escândalos políticos de envergadura, como o caso Murdoch, ainda sem solução, o governo conservador de Cameron vem procurando de todas as formas passar a idéia de que esse é um conflito isolado, provocado por uma gangue de jovens negros raivosos e descontrolado. O vice-prefeito de Londres, Kit Malthouse, disse que a violência é culpa de um pequeno número de criminosos motivados pela ganância, e não pela conduta da polícia ou de problemas sociais mais amplos causados pela lenta recuperação econômica do Reino Unido. “Isso é um grupo relativamente pequeno de pessoas dentro de nossa comunidade em Londres que, francamente, estão procurando coisas para roubar. Eles estão escolhendo tipos de lojas específicas, porque querem um novo par de tênis ou o que for”, disse ele à rede Sky News.
É verdade que todo jovem gostaria de ter um novo par de tênis. E deveria ter direito a isso. Mas entre querer um par de tênis e ocupar um país inteiro, enfrentando as balas da polícia, vai uma enorme distância. Mesmo porque, é muito difícil convencer alguém com uma inteligência mínima de que uma briga por um novo par de tênis possa ser a causa de tantos dias de fúria. É chamar as pessoas de imbecis, no mínimo. Mas o governo tenta convencer as pessoas mesmo assim, porque não tem outro jeito, não tem nada a dizer de concreto à população. Não tem como explicar a enorme crise econômica que vem solapando algumas das principais e sagradas conquistas dos trabalhadores ingleses, como um sistema público de saúde de boa qualidade, transportes públicos decentes, serviços de água, luz e gás que funcionam e que até pouco tempo atrás (antes da chegada de M.Thatcher ao poder) eram praticamente de graça na Inglaterra. Tudo isso vem sendo privatizado num ritmo alucinante, num piscar de olhos, talvez para que ninguém se dê conta. Esses cortes nos serviços públicos e também na seguridade atingem em cheio as comunidades mais pobres, aquelas que há anos vêm padecendo a dura vida de desemprego, miséria e abandono. Calcula-se que entre as comunidades negras, cerca de 50% dos jovens estão desempregados ou apenas fazem bicos, trabalhos precários e eventuais. O preconceito racial, que cresce a cada dia na Inglaterra, é outro fator de opressão sobre as comunidades. Os jovens negros são os mais perseguidos pela polícia e já virou anedota por aqui as constantes “batidas” policiais nos bairros negros. “Se estão em um automóvel, os jovens negros fatalmente serão parados pela polícia”, disse um homem negro de 60 anos em um programa de TV. E quase todo dia, um deles aparece morto, sem que a polícia dê qualquer explicação convincente.
O governo procura desvincular os conflitos em Londres de toda essa terrível situação, como se fossem dois mundos distintos. Mas neste momento, em que o conjunto dos trabalhadores na Inglaterra vem se levantando e se mobilizando contra os ataques do governo, fica cada vez mais difícil cair nesse conto da carochinha. E como ocorreu em Brixton, em 1981, os trabalhadores precisam entender esses protestos como parte de sua luta contra os ataques do governo, como uma reação mais do que justificada à situação terrível em que vivem as comunidades negras, oprimidas e perseguidas de forma ainda mais brutal pela polícia do que os trabalhadores brancos. Esta é uma luta do conjunto da classe trabalhadora inglesa, portanto, cabe agora às trade-unions jogar todo o seu peso em apoio aos conflitos, somar-se aos protestos e correr em socorro das comunidades negras, exigindo que o governo pare de reprimir, liberte os presos e esclareça imediatamente o assassinato de Duggan, punindo com rigor os responsáveis pelo crime.

sexta-feira, agosto 05, 2011

Escândalo Murdoch expõe métodos da grande imprensa

Um escândalo agita a Inglaterra. E dele ninguém se salva. Tudo começou em 2006, quando vieram à tona os métodos pouco ortodoxos que o jornal britânico News of the World, de propriedade do magnata da mídia, Rupert Murdoch, usava no dia a dia da reportagem : detetives contratados com cachês milionários e escutas telefônicas ilegais para interceptar mensagens deixadas nas caixas postais de determinados celulares, no intuito de conseguir informações em primeira mão. Entre as vítimas estão celebridades, políticos e até membros da família real. O telefone de Diana estava grampeado, assim como o de Jean Charles, que morreu assassinado no metrô de Londres. Mas o caso só virou escândalo no início de julho, quando se soube que entre os telefones espionados estava o de uma menina que havia sido recentemente assassinada de forma misteriosa; parentes de soldados mortos no Afeganistão e Iraque e até vítimas do atentado terrorista de 11 de setembro de 2001, nos Estados Unidos, também foram vítimas de espiões.
Desde então, dez pessoas já foram presas – e soltas sob fiança –, incluindo Andy Coulson, ex-assessor de comunicação do primeiro-ministro da Inglaterra, David Cameron, e dois altos comissários da sempre tão “pulcra” Scotland Yard já caíram. Na terça-feira, Murdoch, seu filho James, a ex-diretora do grupo, Rebekah Brooks, e os dois ex-chefes da Scotland Yard foram interrogados no Parlamento. Os deputados queriam saber se estavam envolvidos nos grampos telefônicos “em escala industrial” (expressão usada pela imprensa inglesa), se fizeram pagamentos ilegais à polícia em troca de informações e uso de equipamentos de escuta e se tentaram “comprar” certos políticos tanto do Partido Conservador quanto do Partido Trabalhista. Como era de se esperar, todos negaram tudo.
Mas mesmo assim o conglomerado News Corporation está abalado e teve de fechar as portas do tabloide News of the World, um dos mais vendidos na Grã-Bretanha. Sob pressão do Parlamento e de David Cameron, Murdoch também foi obrigado a retirar sua oferta para comprar todas as ações da plataforma de televisão BSkyB - a Sky britânica -, que ele vinha ambicionando há tempos.

Quem é Murdoch?

Rupert Murdoch nasceu na Austrália, mas se naturalizou norte-americano. É um dos homens mais poderosos da imprensa mundial e também um dos mais ricos e influentes. Hoje com 80 anos, é o presidente da News Corporation, empresa herdada de seu pai e da qual é importante acionista. À época, era apenas uma empresa medíocre, controladora de um jornal australiano na cidade de Adelaide, sem muito renome. Mas com a administração ambiciosa de Murdoch e uma série de aquisições bem sucedidas, conseguiu transformá-la em um dos maiores conglomerados de mídia do mundo, tornando-a controladora dos estúdios de cinema e dos canais de TV paga FOX, das operadoras de TV por assinatura SKY e DirecTV (incorporada no final de 2003 pela News), do site de relacionamentos My Space, do jornal New York Post, entre outros. O grupo News Corporation também é dono do primeiro jornal exclusivo para o iPad, o The Daily, lançado recentemente nos EUA. A entrada em cena do The Daily é uma tentativa de Robert Murdoch para reescrever o negócio do jornalismo, depois da queda das receitas de circulação e publicidade nos jornais tradicionais.
Em agosto, Murdoch definiu o The Daily como “uma verdadeira mudança na apresentação de notícias” e o seu projeto “número um, o mais interessante”. A equipe editorial do jornal será “modesta” e englobará jornalistas de outros órgãos da News Corporation, como o Wall Street Journal. O jornal obrigará a um investimento inicial de 30 milhões de dólares (cerca de 23 milhões de euros).
De acordo com a revista Forbes, Murdoch está posicionado em 117º dentro do ranking das pessoas mais ricas do mundo, com uma fortuna estimada em 6,3 bilhões de dólares. Agora, além de tentar assumir o controle total da Sky, Murdoch vinha atacando a BBC, como forma de destruir seu poder na Inglaterra.
Reconhecido como direita linha dura, Murdoch usava seus veículos de comunicação para fazer um jornalismo escandaloso, que apelava para os escândalos sexuais, estampava em seus tabloides sensacionalistas os conflitos familiares como forma de assédio moral contra este ou aquele adversário. Seus jornais faziam campanha declarada contra os negros, os homossexuais e os imigrantes, chamando abertamente a que deixassem o país por serem pessoas indesejadas e apelando ao governo para que os reprimissem.
São conhecidos também seus ataques contra a classe trabalhadora. Os jornais e emissoras do grupo Murdoch sempre lançaram seu veneno mais corrosivo diante de qualquer movimento dos trabalhadores. Seus jornais sempre tiveram uma postura agressiva, de ataque às greves e manifestações sindicais, e usava seu poder midiático para lançar todo tipo de ataques pessoais contra as lideranças e os ativistas de esquerda, criminalizando suas ações e influenciando a opinião pública contra eles.
Também é muito conhecida na Inglaterra a ação de Murdoch para eleger e para derrubar os políticos; ele soube usar os grampos telefônicos, as páginas de seus jornais e sua imensa fortuna para apoiar o Partido Trabalhista em 1997 e com isso ajudou a eleger Tony Blair como primeiro-ministro. Sustentou o governo trabalhista durante todo o seu período, incluindo a intervenção de Blair e Bush na Guerra do Iraque e Afeganistão. Depois, em 2007, ajudou a eleger o sucessor de Blair, Gordon Brown, que também estava na lista dos “grampeados” e, em 2010, Murdoch passou a apoiar os Tories (Conservadores) e jogou todo o seu prestígio na campanha de David Cameron e dos Democratas Liberais.

Governo britânico envolvido até o pescoço

Tudo isso vinha correndo a olhos vistos. Os métodos pouco confiáveis de Murdoch de conduzir seu império, as mentiras e confabulações nos corredores do governo corriam soltos. Mas a coisa engrossou quando veio à tona que o governo do primeiro-ministro David Cameron estava envolvido até o pescoço com Murdoch. No mínimo, ele sabia de tudo e não fez nada. O maior vexame é que Cameron, em meio à enorme crise econômica que vem abalando a Europa, incluindo a Inglaterra, teve de engolir mais esse sapo: explicar diante do Parlamento por que havia sido citado em todos os depoimentos daqueles que o antecederam, ou seja, o próprio Murdoch, seu filho James, a ex-diretora do grupo Rebekah Brooks e os dois ex-chefes da Scotland Yard, a polícia metropolitana londrina. A ligação entre Murdoch e Cameron veio por intermédio de Andy Coulson, assessor de comunicação do primeiro-ministro. Agora Cameron diz que Coulson agia por baixo dos panos, mas pouca gente acredita nisso.
Dois dias depois de explodir o escândalo, um dos mais importantes repórteres do jornal News of the World apareceu morto em casa, em circunstâncias misteriosas. Sean Hoare, que cobria o show business, vinha denunciando os grampos e todos os métodos pouco convencionais de fazer as reportagens impostos pela empresa e, por isso, vinha sendo perseguido. Depois de afirmar em uma entrevista que o assessor de Cameron, Andy Coulson, sabia de tudo, seu cadáver apareceu, para piorar ainda mais as coisas para o governo. A polícia está tentando encobrir o caso, dizendo que Hoare era viciado em drogas e alcoólatra, mas até agora não deu qualquer explicação convincente para a morte do repórter. (The Independent, 19/7/2011)
Em seu depoimento, Cameron teve de assumir a responsabilidade por ter contratado Andy Coulson como assessor de comunicação. O jornalista, ex-diretor do News e acusado de aprovar os grampos e corromper policiais, foi preso e solto após pagamento de fiança. “Assumo a responsabilidade por ter contratado Coulson, mas não respondo pelo que ele fez”, disse Cameron, empurrando com a barriga e alegando que agora é hora de “limpar a bagunça”, pois o escândalo abalou a confiança do público na polícia e na imprensa. Ele fez questão de defender toda a sua equipe, afirmando que todos agiram “de maneira correta”, inclusive seu chefe de gabinete, Ed Llewellyn, que teria omitido algumas informações do premiê sobre o caso no início das investigações. “Eu disse repetidamente que eles deviam seguir as pistas a fundo e conduzir a investigação como achassem melhor. Meu funcionário agiu corretamente. Não era apropriado que eu tivesse nenhuma informação privilegiada.” Sobre Coulson, disse que, se for comprovado seu envolvimento no caso, ele deverá pedir desculpas e pode até ser processado.
Mas a coisa não para aí. Cameron é acusado também de manter uma relação muito próxima com a família Murdoch e com a ex-diretora da companhia, Rebekah Brooks. O magnata admitiu, inclusive, no seu depoimento, que chegou a fazer com ele uma reunião a portas fechadas, para a qual entrou “pela porta dos fundos”. A reunião teria sido feita para acertar as formas de como o governo poderia influenciar nas negociações de compra da totalidade de ações da TV BSkyB por parte de Murdoch.
Sem chance de escapar ileso, Cameron vem atirando pra todo lado e assumindo uma postura mais agressiva ao afirmar que a oposição também tem culpa pelo escândalo, uma vez que, segundo ele, ambos os partidos “exageraram nos encontros com a imprensa” e deixaram de lado os esforços para uma maior regulação do setor de comunicações. Para ele, a culpa, neste sentido, deveria ser dividida, pois afirma que seus antecessores, os ex-premiês Tony Blair e Gordon Brown, mantinham um “relacionamento mais próximo com o império Murdoch” do que ele.
Ele assume ainda que a imprensa alertou várias vezes tanto o Parlamento quanto a polícia de que haveria algo errado na News International - filial britânica do grupo norte-americano News Corporation -, mas que nenhum dos partidos, quando governantes, fez nada a respeito. “O Partido Trabalhista teve 13 anos para abrir um inquérito sobre isso e não o fez. Não fez o que eu estou fazendo agora”, declarou ele, definindo-se como “muito mais transparente” que os premiês anteriores. “A oposição poderia ter assumido sua participação neste escândalo e nos ajudar a limpar essa bagunça. Em vez disso, só apareceram aqui com teorias da conspiração.”
Cameron também culpou seu antecessor Gordon Brown pela contratação de Coulson. Disse que a primeira pessoa a contatar Coulson foi Gordon Brown. Coulson foi o redator-chefe do News of the World entre 2003 e 2007, período em que os grampos já haviam sido adotados como prática comum no tabloide, mas que ele garantia não ter nenhum envolvimento. Em 2007, foi contratado como assessor de imprensa por Cameron e continuou na equipe do líder conservador, que venceu a eleição seguinte e assumiu o cargo em 2010.
O fato é que ambos – conservadores e trabalhistas – não conseguiram se livrar do envolvimento no escândalo. Ed Milliband, principal dirigente do Labour (Trabalhistas), vem dando seguidas declarações à imprensa dizendo que não tem nada a ver com isso, mas a realidade é que durante todo o governo de Blair e Gordon o partido não fez absolutamente nada para impedir as ações de Murdoch.

Trabalhadores não estão calados

A relação promíscua entre a imprensa, a polícia e o governo é algo comum em todos os países do mundo, e isso afeta diretamente a classe trabalhadora. Tanto é assim que os trabalhadores ingleses vêm se manifestando contra o escândalo. A mídia empresarial tornou-se uma das mais importantes instituições do Estado burguês ao ser controlada pelo empresariado, o grande capital, bancos e empresas, tornando-se praticamente um apêndice das grandes corporações financeiras.
A maioria dos jornais e emissoras está nas mãos de poucos proprietários, em geral milionários que mantêm estreitas relações com o governo, já que ambos têm o mesmo programa de confronto contra a classe trabalhadora. Com isso, a grande mídia passou a ser porta-voz da burguesia e usar seus métodos para conseguir o que quer. Quando o caso envolve um dos homens mais poderosos do mundo, como Murdoch, cujos negócios estão espalhados por três grandes países como Estados Unidos, Austrália e Inglaterra, essa ligação da imprensa com o poder fica ainda mais evidente e os estilhaços atingem um maior poder de fogo. Um jornal que usa grampos para espionar celebridades pode muito bem usar os mesmos grampos para espionar os sindicatos e os ativistas de esquerda, ou fazer coisas piores, como vinha fazendo Murdoch com sua “imprensa marrom”.
Em meio a um clima de luta contra o governo e a política de cortes nos serviços públicos, que vem provocando grandes mobilizações de rua na Inglaterra, o escândalo Murdoch assume um outro caráter, com os trabalhadores se envolvendo nas discussões. É o caso, por exemplo, dos funcionários públicos federais (Public Civil Service), que lançaram no último dia 14 uma declaração afirmando que é preciso ter sindicatos fortes para prevenir outro escândalo de grampos telefônicos:
“As recentes revelações sobre as atividades ilegais da News International chocaram o país, mas não foi surpresa para ninguém. Como muitos, nós não esqueceremos a propaganda da misoginia, do anti-bem-estar (anti-welfare), da anti-imigração e do antissindicalismo com que o News of the World enchia suas páginas semana sim, semana não. Mas, acima de tudo, nós condenamos a decisão de simplesmente fechar o jornal e colocar centenas de empregos em risco, enquanto os reais culpados - os Murdochs e Rebekah Brooks – mantêm seus empregos.
Os funcionários públicos federais exigem um sistema mais efetivo de regulamentação da imprensa, mas dizem que a melhor forma de garantir que outros escândalos similares não ocorram é assegurar a forte presença do sindicato em todas as redações de jornais e emissoras.
Em solidariedade à NUJ (sindicato dos jornalistas) e outras associações de trabalhadores da mídia, nós lutamos por uma imprensa mais efetiva, mais ética, mais livre para poder investigar e cobrar dos poderes públicos.”

Em defesa da liberdade de imprensa

É preciso ter claro que, enquanto tivermos um governo burguês, será difícil conseguir uma imprensa mais ética e mais livre, porque ela sempre será uma empresa capitalista, dependente do poder e do dinheiro do Estado. No entanto, os trabalhadores devem ser intransigentes na defesa da mais ampla liberdade de imprensa para todos, porque essa é a única maneira de a verdade dos fatos vir à tona. Como dizem os funcionários federais em sua declaração, é preciso fortalecer os sindicatos e, sobretudo, a imprensa dos trabalhadores, para que a população tenha uma contraposição às informações veiculadas pela imprensa burguesa e não tenha acesso apenas a um lado da questão.
Por outro lado, é preciso lutar contra o fechamento do News of the World porque isso significa que centenas de jornalistas e outros funcionários perderão seus empregos. Muita gente na Inglaterra acha que esse é um jornal “sujo” e deve ser fechado. Então, para sermos coerentes, deveríamos exigir o fechamento do The Sun, outro tabloide “marrom” de Murdoch, bem como de todos os jornais de seu grupo, além de vários jornais de outros grupos de mídia. Com isso, milhões de trabalhadores perderiam seus empregos e o problema não seria resolvido, porque a burguesia cria outros jornais ou outras emissoras para não perder seus lucros.
Neste momento, sobretudo, o que os trabalhadores britânicos precisam é ficar atentos para que o governo não use o “caso Murdoch” para distrair a atenção dos graves problemas econômicos que o país vem atravessando, como o pacote de medidas vorazes que vêm cortando salários, empregos e privatizando os serviços sociais. Como disse Emily Thornberry, porta-voz do Partido Trabalhista para assuntos da Saúde, “hoje é um bom dia para o governo anunciar o plano de privatização do serviço de saúde porque todo mundo está preocupado com os grampos telefônicos. Eles acham que assim ninguém vai perceber” (The Guardian, 20/7/11). Apesar de ser do Partido Trabalhista, que uma vez no governo não defendeu os interesses dos trabalhadores, Emily tem razão.

Um novo momento na Inglaterra

Mas hoje se vive um momento diferente na Inglaterra. Os trabalhadores vêm se mobilizando contra os cortes e as privatizações, e esse escândalo pode ajudar a desmascarar o governo perante as massas. Mas, para isso, as organizações mais combativas dos trabalhadores precisarão, diante do escândalo, retomar os tradicionais métodos de combate da classe operária inglesa, fortalecendo ainda mais suas lutas, unindo a reivindicação de expropriação do império Murdoch à luta contra os cortes e as privatizações.
O governo alega que não tem dinheiro para manter os serviços públicos. Então, é preciso expropriar a fortuna de Murdoch, inimigo declarado dos trabalhadores, bem como outras imensas fortunas que foram sendo acumuladas por uns poucos milionários às custas da exploração dos trabalhadores.
O governo está metido até o pescoço no caso e, portanto, é um governo corrupto, que usa seu poder para atacar os direitos da classe trabalhadora, usa a grande imprensa para atacar os imigrantes, os homossexuais e criminalizar as nossas lutas.
Expropriação do império Murdoch! Dinheiro para garantir a saúde pública e de boa qualidade para todos! Fortalecer a organização dos trabalhadores (os sindicatos e as Comissões Internas)! Construir uma forte imprensa operária para que a verdade dos fatos possa vir à tona e melhor lutar contra o governo Cameron e impedir os cortes e as privatizações! Essa deve ser a alternativa dos trabalhadores neste momento histórico, quando a valorosa classe trabalhadora inglesa se esforça para retomar seu passado de lutas, quando obteve grandes conquistas sociais!


Cecília Toledo, autora deste post, é também autora do livro “Mulheres: O gênero nos une, a classe nos divide”

Mulheres pagam caro pela crise européia

O peso da crise vem recaindo sobre seus ombros, já que elas conformam a parte mais vulnerável da classe trabalhadora. Na Inglaterra, além dos cortes nos serviços púbicos, as mulheres estão sendo obrigadas a voltar correndo para o mercado de trabalho. O número de mulheres que têm recorrido à Agência de Empregos cresce a cada dia e os últimos gráficos publicados pelo Office for National Statistics (agência oficial de estatística) mostram que o número de mulheres à procura de emprego cresceu pelo décimo segundo mês consecutivo. (The Guardian, 13/7/2011)
Um analista desatento poderá arriscar a dizer que isso é um bom sinal, já que as mulheres sempre são maioria entre os desempregados. Nada mais longe da verdade. Nesse movimento de “volta” ao mercado de trabalho, as mulheres só estão encontrando pela frente problemas e mais problemas. Na Inglaterra, dois terços da força de trabalho nos setores públicos, sobretudo saúde e educação, é feminina; e esses são justamente os setores da economia inglesa mais afetados pela política de austeridade lançada pelo governo este ano. Por isso, não é nenhuma surpresa que as mulheres que já estão empregadas nesses setores estejam sendo duramente atingidas pelos ataques do governo nos salários e empregos.
Esse é o fator mais importante que tem afetado as mulheres e o emprego, embora haja muitos outros fatores influenciando as taxas de desemprego, exigindo um número maior de vagas e empregos mais viáveis. Os últimos números do ONS (Office for National Statistics) mostram que em média 65,5% das mulheres estão empregadas. Os gráficos indicam que 13,566 milhões de mulheres estavam empregadas durante os meses de março a maio de 2011 contra 15,713 milhões de homens. O número de mulheres desempregadas, por incrível que pareça, é mais baixo que o dos homens, com as mulheres atingindo a marca de 7% e os homens, 8,3%.
Outro número interessante é a taxa de inatividade. Entre as mulheres essa taxa é muito superior a dos homens, chegando a 29,4% nos dias de hoje. Há também mais mulheres do que homens que são economicamente inativos, sendo 5,933 milhões de mulheres contra 3,396 milhões de homens. A principal razão para a inatividade das mulheres é o cuidado com a família e a casa, que subiu 0,7% no semestre. Em contrapartida, essa taxa entre os homens saltou 1,4%. Os homens, além dos motivos de estudo, ficam mais tempo afastados do trabalho por razões de saúde. Eles também costumam alegar desânimo como motivo para não ir ao trabalho, muito mais do que as mulheres.
Os números trazem outra característica interessante: a imensa maioria das mulheres que estão buscando emprego são mães que estavam fora do mercado de trabalho devido ao serviço doméstico e cuidado com os filhos. Dados de julho do ano passado mostram que a crise econômica está fazendo com que as pessoas coloquem as finanças antes do cuidado com a família na ordem de prioridades. Cerca de 100 mil mães já foram forçadas a voltar ao trabalho desde que a crise econômica começou. E os economistas dizem que esse número vai continuar aumentando, porque as mulheres não têm outra opção a não ser lutar por um salário. Desde agosto de 2007, quando a crise do crédito começou, o número de mulheres que ficam em casa cuidando da família caiu para 97 mil. E continua caindo, sendo que em média 20 mil mulheres deixaram o lar entre março e maio deste ano. Na verdade, as estatísticas dizem que as mulheres “abandonaram o lar”, ou “trocaram o lar pelo escritório”, quando o que de fato ocorre é que elas estão assumindo a dupla jornada de trabalho. Como a maior parte das poucas vagas oferecidas nesta época de crise se constitui de empregos precários, em tempo parcial e sem qualquer tipo de vínculo empregatício, as mulheres vão levando as duas coisas ao mesmo tempo, a casa e o emprego.
Algumas mulheres à procura de emprego são forçadas a aceitar qualquer coisa diante do fato de que seus maridos ficaram desempregados. Outras porque o salário do marido não é o suficiente para pagar as contas no final do mês. Em muitos casos, as finanças da família se reduziram porque as contas subiram e o salário do marido ficou congelado. Jill Kirby, diretora do Centro de Estudos de Planejamento e autora do livro The Price of Parenthood (O Preço da Paternidade), diz que o dinheiro exerce uma ditadura sobre a vida de inúmeras famílias. “As mulheres estão indo ao mercado de trabalho em uma época de grande dificuldade financeira. Mas poucas mães têm a opção de ficar em casa”.
Michael Connellan, do Instituto da Família e Paternidade (Family and Parenting Institute), diz que “as mães, inclusive muitas de família de classe média, disseram que estão tendo que voltar ao trabalho muito antes do que gostariam devido às atuais pressões financeiras”. E acrescenta: “O custo da criação de um filho está aumentando”. O Child Trust Fund (fundo para auxílio a crianças carentes) foi abolido, os créditos para quem tem filhos estão sendo cortados para muitas famílias pobres e os benefícios para a infância estão congelados. Enquanto o número de mães que ficam em casa cuidando dos filhos vem caindo, o número de pais que ficam em casa vem subindo, e saltou de 25 mil para 213 mil desde o início da crise.
Essa situação na Inglaterra, que com certeza atinge toda a Europa, mostra mais uma vez que a condição subalterna das mulheres na sociedade não é um problema apenas da desigualdade de gênero. É um problema estrutural do capitalismo, que usa e abusa da classe trabalhadora conforme seus negócios andam bem ou andam mal. As mulheres, tradicionalmente confinadas ao exército industrial de reserva, como mão de obra disponível, em épocas de crise são forçadas a vender sua força de trabalho a um preço miserável, ocupando cargos precários e sem qualquer direito trabalhista, para suprir as carências da família diante do desemprego dos homens. Como parte fundamental e mais oprimida da classe trabalhadora, as mulheres precisam assumir seu lugar na luta contra os ataques do governo e da patronal, somando-se às grandes manifestações que vêm ocorrendo em toda a Europa e também na Inglaterra.

Por Cecília Toledo, de Liverpool

Deficit dos Estados Unidos é uma bomba prestes a explodir

Mundo vai continuar pagando o déficit público norte-americano e financiando lucros dos bancos e das grandes empresas.
O acordo anunciado pelo governo Obama entre republicanos e democratas para dar fim ao impasse e elevar o teto da dívida dos EUA, hoje em 14,3 trilhões de dólares, está longe de pôr fim à crise econômica e política que toma conta do país. Após semanas de duras negociações sob um ambiente de acirrada polarização, que incluiu negociações ininterruptas por todo o final de semana, o presidente Barack Obama finalmente anunciou um acordo no final da noite de domingo.
O acordo, aprovado pela Câmara dos Representantes, de maioria republicana, na noite dessa segunda-feira, 1º de agosto, garante a elevação do endividamento em 2,1 trilhão de dólares. Em contrapartida, impõe uma redução de 1 trilhão nas despesas do governo para os próximos 10 anos. Uma comissão composta por 12 parlamentares deve ficar responsável ainda por definir, até novembro, um corte adicional de 1,5 trilhão.

Vitória dos conservadores

Apesar de Obama ter anunciado o acordo como um entendimento entre os dois partidos, ele representa uma clara vitória da ala republicana. Isso porque o impasse criado em torno do déficit gira em torno do que fazer para o país continuar conseguindo pagar as suas dívidas. Enquanto o Partido Democrata defendia cortes no Orçamento e, a fim de contemplar parcela de seu eleitorado, aumento nos impostos dos mais ricos e redução de subsídios, os republicanos exigiam que o ajuste se concentrasse exclusivamente na redução de despesas. E é isso o que está sendo aprovado.
A líder dos democratas na Câmara, Nancy Pelosi, claramente constrangida, chegou a definir como “desconcertante” o ajuste fiscal colocadas a voto. O conjunto de medidas que está sendo aprovado desagrada até mesmo a ala mais à direita dos republicanos e boa parte do Tea Party, que insistiam em um corte de gastos mais agressivo. Nessa batalha entre o governo e as duas alas do congresso, todos saíram chamuscados.

Desaceleração e crise

O tão temido calote dos EUA não ocorreu, mas a crise está longe do fim. Enquanto parlamentares se enfrentavam para resolver o nó do déficit, os índices da economia norte-americana desse segundo semestre reafirmavam a desacelaração e a quase estagnação da atividade do país, mais longa que do era esperada. O crescimento do primeiro semestre deste ano é o mais lento desde a primeira metade de 2009, quando oficialmente os EUA saíram da recessão.
A indústria, por sua vez, mostra sinais de arrefecimento. O desemprego, em históricos 9%, não dá sinais de recuperação. Todo esse cenário de crise só vai piorar com os cortes anunciados pelo governo. Alguns analistas temem que o país refaça a trajetória dos anos 1930 quando, logo após a recuperação do crash de 1929, um ajuste fiscal jogou a economia numa duradoura recessão que só teve fim com a 2ª Guerra Mundial.
Os trabalhadores e a maioria da população, sobretudo a mais pobre, devem ser mais uma vez os maiores atingidos pelo ajuste, já que as áreas sociais serão alvos preferenciais dos cortes trilionários.

Mundo vai continuar pagando pelo déficit americano

O gigantesco déficit fiscal dos EUA foi gerado durante o governo W. Bush e usado para financiar os cortes nos impostos dos mais ricos, subsidiar empresas e pagar as guerras do Iraque e Afeganistão. Com a crise econômica deflagrada em 2008, a dívida deu um salto brutal com os pacotes de ajuda ao setor financeiro. Os 14,3 trilhões do déficit representam hoje nada menos que o equivalente a um quarto do PIB mundial (62 trilhões de dólares).
Essa conta é paga por aqueles que detem os títulos da dívida pública norte-americana, em ordem decrescente: China, Japão, Reino Unido, um fundo conjunto de países petroleiros e, finalmente, o Brasil, que detêm 200 bi em títulos. Isso significa que o mundo sustenta o enorme déficit norte-americano. E quem são os maiores beneficiários? O jornal mexicano La Jornada dá uma pista quando informa que os lucros das empresas no país aumentaram 264 bilhões nos últimos três anos, principalmente os do setor financeiro. Isso em uma conjuntura de recessão ou economia cambaleante.
Já o senador democrata Bernie Sanders, em artigo no Wall Street Journal, afirma que os impostos sobre os mais ricos nos EUA estão nas taxas mais baixas da história moderna. Nunca os ricos pagaram tão pouco impostos como agora. “De fato, enfermeiras, professores e bombeiros pagam mais impostos que alguns multimilionários”, afirma.
O déficit norte-americano, financiado pelo restante do mundo, paga os lucros dos bancos, das empresas, dos mais ricos e sustenta a presença militar dos EUA no Oriente Médio. O problema para Obama é que ela está se tornando insustentável.
A medida que está sendo aprovada no Congresso, porém, além de não resolver esse rombo, vai bloquear de vez a recuperação e pode jogar o país novamente em uma recessão. O ano de 2008 mostrou o que acontece com o restante do mundo quando a maior economia do planeta ameaça ruir. A crise política aberta nos últimos meses, por outro lado, é um outro importante fator de instabilidade que se soma à economia no coração do império.

Por Diego Cruz

terça-feira, julho 26, 2011

Reflexão sobre Oslo

Uma vez mais a direita e suas idéias produzem pilhas de cadáveres à sombra do racismo e de referências primitivas, como a superioridade racial e a xenofobia. Estamos vendo a reprise do primeiro terço do século XX, onde nasceram o nazismo e o fascismo. Será o solo europeu o mais fértil a esse tipo de idiotia?

Manifesto do Marketing de Guerrilha

1. SEJA VOCÊ MESMO - Saiba no que você é bom.
2. ARISQUE-SE - Ou fique sem tentar e morra.
3. SE EXPONHA - Seja honesto; não tenha medo de fazer inimigos.
4. TENHA UM POSICIONAMENTO FIRME - Posicionar-se é construir imagem; sem isso você não é ninguém.
5. DEIXE-OS QUERENDO MAIS - Não entregue o pulo do gato. Esse é seu trunfo.
6. NÃO SE PROSTITUA - O cliente é importante, mas nem sempre tem razão.
7. ESQUEÇA A CONCORRÊNCIA - Seu foco tem que estar em sua estratégia e não na estratégia do adversário.
8. MENSAGEM É MENSAGEM. O meio não é a mensagem. Se você confunde os dois, está perdido.
9. SEJA SIMPLES - Mas não seja simplório. Enquanto a simplicidade está a serviço da comunicação, o simplismo depõe contra a sua imagem.
10. TENHA QUALIDADE - Nunca faça algo abaixo da expectativa de quem está pagando a conta.

quinta-feira, julho 07, 2011

Visibilidade é uma coisa; credibilidade é outra

Uma das estratégias mais espantosamente equivocadas colocadas em curso por grandes companhias é o uso intenso do humor como estratégia de venda. A confusão evidente entre entretenimento e marketing está na raiz desse erro, que ganha força com a contratação de comediantes de stand-up (aqueles que contam piada em pé, sem qualquer recurso cênico adicional) e de apresentadores de programas de humor de gosto duvidoso, como CQC ou Furo MTV, para estrelar comerciais ou ocupar espaço nas redes sociais com infames "tuítes patrocinados" - comentários de encomenda para motivar usuários do Twitter a consumirem o que o palhaço indica; uma espécie de falsidade ideológica bem gratificada e de resultados reais questionáveis a não ser para o vilipendio da ética.
Esse equívoco se alimenta em uma premissa amadora, que confunde visibilidade com credibilidade. Recentemente a marca Bombril saiu do semi-anonimato na internet para expressivos 14 mil "fãs" no Facebook e 1.500 no Twitter. A palavra "fã" é uma daquelas que têm um significado na vida real e outro na internet. Na vida real, fã é uma palavra derivada de "fanático", que significa alguém que daria a vida por algo ou por alguém. Na internet, pode se tratar não de "seguidores", mas de perseguidores, como é o caso. A maioria dos "fãs" da Bombril reclamaram na internet do tom agressivo da campanha mal educada que, na TV e no Youtube, supostamente defendia um ponto de vista feminino contra o ponto de vista masculina sobre... tarefas domésticas. O texto, colocado na boca de celebridades do humor como Marisa Orth, Monica Iozzi e Dani Calabresa, era eivado de preconceito contra a própria mulher. Custou 40 milhões e não envolve apenas os comerciais, mas também um site onde a linguagem chula e os preconceitos são reiterados. Na ficha técnica da agência DPZ, que criou a campanha, apenas homens assinam a campanha que queria expressar o ponto de vista das mulheres. O número de reclamações de consumidores e consumidoras contra a marca foram do site para o Procon e de lá para o Cenp - Conselho de Autoregulamentação Publicitária, uma espécie de OAB da propaganda brasileira.
Um porta-voz da companhia, com um riso idiota no rosto, comemorou a visibilidade. "Os anúncios foram os mais vistos da história de 63 anos da Bombril; 200 mil vezes só no Youtube". Equivale a um linchado comemorar que havia 200 mil apedrejadores no evento.
A ideia de migrar a publicidade para o humor, ainda que politicamente incorreto, se baseia em leitura analfabeta de uma pesquisa realizada pelo Instituto Ipsos segundo a qual, no Brasil, "anúncios engraçados tem 23% mais chance de ser lembrados" enquanto 27% dos consumidores latino-americanos consideram o humor "muito importante" em qualquer anúncio. A leitura torta desses números mostra que temos cada vez mais pesquisas e cada vez menos bons leitores e tradutores de pesquisa. Lembrar os anúncios não significa lembrar as marcas que os assinam. Dizer que o humor tem importância não significa que tem importância para produzir o desejo de compra de determinado produto. As marcas premium, como BMW, Lamboghini e Mercedes, por exemplo, nunca usaram humor e são campeãs em faturamento em seu segmento. No estrato inferior, Casas Bahia, o maior anunciante privado do país, também não usa humor e vende mais que todos os concorrentes juntos. Em propaganda como em qualquer outro segmento, estabelecer dogmas pela leitura torta de um texto sagrado pode levar ao fundamentalismo.
Em defesa do humor como panaceia, João Livi, da Talent, teoriza: "Ao se divertir com um vídeo, o consumidor espontaneamente repassa o material aos outros".
A pergunta é: e daí? Eu e o juri de Cannes consideramos o comercial "cachorro-peixe", exibido em 2008, uma peça genial. A versão internacional (para prêmios), ao contrário da nacional, não continha narração e ficou ainda melhor. O filme é igual, mas sem texto, só finalizando com o título: “Anything you imagine”.
Você lembra do comercial? Provavelmente. Você lembra que marca assina o comercial? Provavelmente não. A imagem em si do elemento central da peça é tão forte que turva ou obscurece a marca e o produto. Fica a lembrança do cachorro-peixe; vai-se a lembrança do carro que estava sendo vendido. A intensidade do brilho criativo foi maior que o necessário para vender a marca e o produto, mas encanta o público. Essa dicotomia nem sempre é entendida pelos especialistas e nem tem razão para ser percebida pelo público.
A publicidade é uma atividade propícia a mal-entendidos. Popularidade, por exemplo, pode ser confundida com aceitação ou aprovação, mas são conceitos distintos e nem sempre andam juntos.
Se é verdade que o humor mal educado e agressivo típico da classe média alta tem ajudado a entreter um público específico na internet e na televisão e tem ajudado empresas sérias como Vivo, Bombril, Tim, Oi e até Coca-Cola a fazer barulho entre os mais jovens, também é verdade que o espectro dessas marcas (aquilo que foi criado em décadas de investimento de marketing e de logística para posicionar essas marcas) é o que garante, ao fim e ao cabo, o resultado que essas companhias ostentam. O humor entretém, mas não sustenta marcas. Ou como diria David Ogilvy, "ninguém compra nada de um palhaço".
As reclamações no Conar e no Procon contra o humor grosseiro mostram que o consumidor está batendo com o cabo da vassoura no forro. Esse barulho está começando a incomodar.

segunda-feira, julho 04, 2011

Quem precisa de media training?

Se você já gaguejou durante entrevistas, teve a sensação de estar num beco sem saída ou até se negou a responder perguntas de jornalistas realmente precisa ser treinado para o contato com a imprensa. Não adianta adiar, negar ou deixar para segundo plano: a necessidade da prática existe e quem não treina não aprende. Falar com a imprensa requer a mesma dinâmica de qualquer outro desafio: conhecer como deve funcionar o relacionamento e aprender a se relacionar. Em toda relação existem particularidades que, se familiarizadas, são facilmente vencidas.
Falando assim sobre o assunto até parece que dar uma entrevista para a imprensa é coisa do outro mundo. É certo que alguns dizem ter traumas da experiência, mas existe muita fantasia também. A ideia de que o jornalista vai preparar o seu fim a partir de uma conversa é pura mania de perseguição. Quem deve, pode até temer, mas não deveria se esconder e evitar o contato. O que todo porta-voz tem que entender é que precisa da imprensa. Por um motivo ou outro, o político, executivo, profissional liberal, artista ou atleta busca exposição na imprensa: para ganhar votos, novos clientes, fãs ou simpatizantes. É claro que o objetivo é sempre o da visibilidade positiva. Mas se a negativa aparecer, melhor que você saiba administrar o caos da forma mais adequada. E de novo, vai precisar da imprensa para se defender, explicar, justificar e mostrar a sua verdade. Se não aproveitar a oportunidade, vai cair na história do ‘quem cala, consente’ e o público vai fazer o juízo que quiser do que aconteceu.
Portanto, não há saída: a imprensa é o melhor caminho para se divulgar, aparecer, se mostrar. A comunicação leva à exposição, à visibilidade. E para conseguir clientes, eleitores e fãs, a melhor alternativa é ter postura adequada diante da câmera e do microfone. Um dos aspectos do treinamento de mídia, conhecido como media training, é treinar o porta-voz para ter sucesso na tarefa. Para começar a entender o processo, confira as dicas abaixo. Se as orientações teóricas não forem suficientes, o melhor é praticar, simular as entrevistas para adquirir segurança e transmitir credibilidade.

Dicas práticas:

1 A lente da câmera não é espelho, portanto não fique olhando diretamente na lente, se estiver sendo entrevistado por um jornalista. É pra ele que você tem que olhar, em respeito e consideração à oportunidade de estar sendo ouvido. Exceção para horário político: durante a gravação você deve olhar diretamente à câmera, como se estivesse olhando nos olhos do eleitor.
2 Se o microfone for direcional, não pegue no equipamento de jeito nenhum. O repórter tem que ficar autônomo para movimentar o microfone a qualquer momento. É o jornalista que vai dirigi-lo a você. Se o microfone for o de lapela, um técnico vai instalá-lo na gola da sua camisa ou paletó. Cuide para não bater as mãos no microfone, nem tossir em direção a ele.
3 E por falar em movimentos, cuidado com gestos exagerados. Segurar as mãos para trás não é uma boa pedida, porque pode restringir sua liberdade. O melhor é dosar a movimentação das mãos e da cabeça, sem afetação. O corpo nunca se mexe. Quando estiver em pé, abra um pouco as pernas e mantenha-as em paralelo para facilitar o equilíbrio. Se estiver sentado, capriche na postura.
4 É a linguagem não-verbal, que também poderá ser notada, se você não prestar atenção nesse tipo de manifestação, ou seja, regule gestos, caretas, movimentos com a sombracelha e, principalmente, com a cabeça.
5 É fundamental apresentar visual limpo e asseado na hora da entrevista. Roupa amassada ou com manchas de suor devem ser trocadas. Para as mulheres, não à transparência ou decotes sensuais que comprometem a credibilidade e tiram a atenção do telespectador. Os cabelos devem ter bom corte e estar penteados.
6 Para não sobrar tecido do blazer nos ombros, estique a peça nas costas e sente-se na sobre do tecido. Assim você prende a roupa e fica na estica!
7 As cores também têm que ser estudadas. Se o fundo do estúdio é azul royal, não apareça com uma camisa ou terno da mesma cor: corre o risco de ficar transparente. Tecidos listrados, quadriculados ou com estampas grandes provocam o efeito de ‘batimento’ que ‘borra’ a imagem no vídeo. Portanto prefira as cores lisas e tecidos sem brilho.
8 É no uso do vocabulário que o porta-voz tem que fazer bonito. Nada de reduzir palavras no final, engolir ‘ésses’ ou errar a concordância verbal. Independente do seu cargo ou ocupação, o português tem que ser falado corretamente.
9 O tom de voz é o termômetro para o seu humor. Se falar forte, com raiva, vai parecer que está bravo. Se falar muito macio (para as mulheres), pode mostrar sensualidade fora de hora. Encontre o tom de voz que passa firmeza e credibilidade, com simpatia. Se for necessário demonstrar alegria, sorria e fale: vai apresentar uma voz simpática e feliz.
10 Para os homens, a maquiagem é necessária quando o local da gravação é o estúdio. Para as mulheres, se houver o costume a maquiagem cai bem, mas não se deve usar o artifício com exagero para parecer que foi feita uma produção para a entrevista.
Outras dicas estão no Manual do Porta-Voz, que pode ser baixado gratuitamente no site www.treinamentodemidia.com.br
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By Aurea Regina de Sá, jornalista, pós graduada em Comunicação Empresarial e especialista em Media Training.

segunda-feira, junho 27, 2011

Opinião alheia: "O cérebro e suas metáforas"

"Se olharmos para os séculos recentes, veremos que o cérebro foi descrito como uma máquina hidrodinâmica, um relógio e um motor a vapor. Quando eu era criança, nos anos 50, li que o cérebro humano era uma central telefônica. Depois, ele se tornou um computador. Recentemente, alguém me fez a pergunta que eu esperava havia anos: "O cérebro humano é como a internet?". O cérebro sempre parece ser a mais avançada tecnologia que nós, humanos, dispomos em determinado momento. As metáforas que usamos no passado não resistiram, e duvido que a metáfora atual - de uma rede de computadores - resista por muito tempo. Suspeito que, em algum momento, ainda criaremos metáforas melhores e menos computacionais, que poderão ter implicações importantes em nossa capacidade de entender o mundo." Rodney Brooks, especialista em inteligência artificial do MIT.

sexta-feira, junho 24, 2011

Frase

"Mantenha seus inimigos próximos". Nelson Mandela

Tu já tens o que ler no fim de semana?

Vale a pena conferir. O portal Domínio Público (http://www.dominiopublico.gov.br/), mantido pelo Governo Federal, contém um bom número de obras em texto, som e imagem para baixar grátis. Não é pirataria. Por se tratar de um site com a chancela do governo federal, é uma fonte segura. Eis a lista dos 49 mais baixados em ordem de popularidade. A lista é por si só uma preciosidade, cheia de pérolas. Boa leitura!

A Divina Comédia - Dante Alighieri
Poemas de Fernando Pessoa - Fernando Pessoa
A borboleta azul - Lenira Almeida Heck
A Comédia dos Erros - William Shakespeare
Romeu e Julieta - William Shakespeare
Mensagem - Fernando Pessoa
A Bruxa e o Caldeirão - José Leon Machado
O peixinho e o gato - Lenira Almeida Heck
Dom Casmurro - Machado de Assis
Sonho de Uma Noite de Verão - William Shakespeare
O Eu profundo e os outros Eus. - Fernando Pessoa
A Cartomante - Machado de Assis
Poesias Inéditas - Fernando Pessoa
Cancioneiro - Fernando Pessoa
A Megera Domada - William Shakespeare
Tudo Bem Quando Termina Bem - William Shakespeare
O galo Tião e a dinda Raposa - Lenira Almeida Heck
A Tragédia de Hamlet, Príncipe da Dinamarca - William Shakespeare
A Carteira - Machado de Assis
Dom Casmurro - Machado de Assis
Do Livro do Desassossego - Fernando Pessoa
No reino das letras felizes - Lenira Almeida Heck
Histórias da Avózinha - Alberto Figueiredo Pimentel
Macbeth - William Shakespeare
O pastor amoroso - Fernando Pessoa
A Igreja do Diabo - Machado de Assis
A Tempestade - William Shakespeare
O galo Tião e a vaca Malhada - Lenira Almeida Heck
Elementos de Geometria - Euclides
Livro do Desassossego - Fernando Pessoa
O Plano de Desenvolvimento da Educação: razões, princípios e programas - Ministério da Educação
O Mercador de Veneza - William Shakespeare
Memórias Póstumas de Brás Cubas - Machado de Assis
A Carta - Pero Vaz de Caminha
Cancioneiro - Fernando Pessoa
O Guardador de Rebanhos - Fernando Pessoa
Trabalhos de Amor Perdidos - William Shakespeare
Os Lusíadas - Luís Vaz de Camões
A Carta de Pero Vaz de Caminha - Pero Vaz de Caminha
Este mundo da injustiça globalizada - José Saramago
A Carteira - Machado de Assis
Conto de Inverno - William Shakespeare
A Cartomante - Machado de Assis
Histórias que acabam aqui - Maria Teresa Lobato Fernandes Pereira Lopes
Muito Barulho Por Nada - William Shakespeare
Poemas Traduzidos - Fernando Pessoa
A Metamorfose - Franz Kafka
A Mão e a Luva - Machado de Assis
Americanas - Machado de Assis
Otelo, O Mouro de Veneza - William Shakespeare

Opinião alheia: "A internet liberta?"

"O presidente da China, Hu Jintao, disse certa vez que fortalecer a cultura da internet ajudará a estender a frente de batalha da propaganda e do trabalho ideológico. Se eu tivesse lido essas palavras há poucos anos, elas teriam me soado ridículas. Parecia óbvio que a internet se opunha ao tipo de poder centralizado chinês. A rede de computadores representava a tecnologia de libertação pessoal. Agora, percebo que eu era ingênuo. Vemos sinais claros de que, enquanto a net pode ser um sistema de comunicação descentralizado, sua operação realmente promove a centralização do poder. Observe, por exemplo, a crescente concentração do tráfego da web. Ou como o Google continua a expandir sua hegemonia sobre a pesquisa na rede. Executivos do Yahoo! e da Sun Microsystems preveem que a infra-estrutura da internet cairá em poucos anos nas mãos de cinco ou seis organizações". Nicholas Carr, escritor.

Hackers não! Criminosos.

Originalmente hackers (singular: hacker) denominava indivíduos que elaboram e modificam software e hardware de computadores, seja desenvolvendo funcionalidades novas, seja adaptando as antigas. O termo "hacker", é erradamente confundido com "cracker", que são peritos em informática que fazem o mau uso de seus conhecimentos, utilizando-o tanto para danificar componentes eletrônicos, como para roubo de dados, sejam pessoais ou não. Conceitualmente, portanto, Hackers seriam aqueles que usam seus conhecimentos para ajudar a aprimorar componentes de segurança.
No Brasil, por uma razão qualquer, o termo "hacker" passou a ser associado a um tipo de crime: a invasão de sistemas computadorizados para roubar ou alterar de modo criminoso informações confidenciais ou simplesmente derrubar os servidores que sustentam determinados sites ou portais. Essas pessoas não são hackers, são deliquentes comuns, ou seja, criminosos.
A imprensa internacional noticiou que um grupo desses delinqüentes digitais atacou na tarde desta quarta feira (22) o site da Petrobras, uma das maiores empresas petrolíferas do mundo, deixando-o fora do ar.
Um grupo italiano reivindicou a autoria do ato e de outros dois ataques que deixaram os sites “presidência.gov.br” e “brasil.gov.br” com o mesmo problema durante a madrugada de quinta-feira (23).
Responsáveis pela segurança de informações do governo brasileiro comprovaram que o ataque partiu de provedores italianos, mas os autores do crime podem estar em qualquer lugar do mundo.
O grupo que reivindicou autoria da ação criminosa usou um site de relacionamentos para se exibir, justificando o movimento contra a Petrobras diante do alto preço da gasolina.
O site do exército brasileiro também foi invadido no sábado e informações de senhas de acesso dos militares foram parar na internet. Segundo a corporação, não houve prejuízo às forças de segurança do país.
Autoridades brasileiras especulam que o ataque foi perpetrado por grupos de ultradireita, em represália à recusa do Brasil em entregar o exilado político Cesare Batisti, acusado pelo governo italiano e julgado à revelia por terrorismo. O ex-ativista de esquerda, condenado na Itália à prisão perpétua acusado de envolvimento em homicídios na década de 1970, estava preso no Brasil desde 2007. O Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu libertar Battisti, negando recurso da Itália contra a decisão do executivo brasileiro de não extraditar o ex-ativista, a quem o governo havia concedido asilo político. A decisão irritou a direita italiana, conduzindo a ações de intolerância contra nosso país, seus cidadãos e seus símbolos.
No dia 15, uma dupla brasileira de jogadores enfrentou um grosseiro protesto político durante a partida no Campeonato Mundial de vôlei de praia, em Roma. Militantes de ultradireita, vestidos de negro como faziam os fascistas de Mussolini, atiraram laranjas na arena durante o confronto de Alison e Emanuel contra os dinamarqueses Soderberg e Hoyer.
A bravata da direita italiana é só isso: bravata. Abalada por uma profunda crise econômica e pela queda vertiginosa da posição do país no ranking das economias importantes, a Itália nada pode fazer contra o Brasil a não ser o vexame de atos criminosos, que desabonam ainda mais a imagem da bota perante o resto do mundo; imagem, aliás, já não é das melhores, abalada pela incompetência em combater o desemprego e a xenofobia e pelos escândalos de corrupção e de desvios de conduta de seus dirigentes.

Mobile politics: marketing político via celular

Scott Goodstein atuou na campanha de Barack Obama dedicando-se exclusivamente ao uso de telefones celulares como instrumento de marketing político. Durante o 1º Seminário de Estratégia de Comunicação e Marketing da George Washington University ele falou que o desafio em atuar com a comunicação via celular na política é o alto custo do serviço de transmissão de dados. No período em que a campanha analisada por ele foi realizada, nos EUA grande parte da população não tinha acesso à tecnologia 3G, o que restringiu a atuação dos possíveis apoiadores do candidato.

Internet e política na opinião de Ben Self

Ben Self, que foi um dos consultores da campanha presidencial de Dilma Rousseff, é outro nome associado à estratégia da campanha de Barack Obama. Aqui, ele ressalta a importância da internet nas campanhas políticas e nas relações sociais. Ben destaca que, atualmente, as pessoas buscam estreitar suas relações pela web, tendo como base experiências que proporcionam a interação e o engajamento. E essa não é uma exclusividade da política. Assista ao vídeo abaixo e saiba mais.

Internet, política e televisão

Muitos estudantes de comunicação me procuram para saber minha opinião sobre o papel da internet no processo eleitoral. Responder a essas questões é sempre uma forma de refletir sobre elas. Para auxiliar na compreensão do tema, publico aqui a fala de Jason Ralston - um dos responsáveis pela criação da publicidade da campanha presidencial de Barack Obama - sobre como aliar política, internet e televisão. O pronunciamento aconteceu durante o 1º Seminário de Estratégia de Comunicação e Marketing da George Washington University. Ali, o estrategista ressaltou que a TV continua sendo o meio mais eficaz para convencer os eleitores. O grande papel da internet, segundo a opinião dele que também é a minha, seria organizar os apoiadores do candidato. Além disso, o fato de usar novas tecnologias na campanha reforça a ideia de que o candidato é adepto a novidades, o que de certo modo faz com que o meio se torne parte da mensagem. Algumas das opiniões de Jason estão no vídeo abaixo:

quinta-feira, junho 16, 2011

Como se tornar uma pessoa interessante

Em um texto fantástico publicado no seu blog, Russel Davies - planejador de marketing que todos deveriam conhecer - conta que o futuro nos negócios criativos está reservado às pessoas interessantes. Segundo ele, as pessoas empregarão e trabalharão com gente interessante. Diante disso, com a propriedade de quem já foi diretor de marca da Nike e diretor de planejamento da Wieden + Kennedy, ele dá 10 dicas preciosas para quem quiser se enquadrar nesse contexto. Segundo o Russel, colocando-os em prática, você já se sentirá mais interessante em questão de semanas. Vale a pena.

Para elaborar seus pontos, ele se baseou em duas premissas:

Para ser interessante é preciso ser interessado: Você tem que encontrar o lado interessante de tudo. Você deve ser bom em perceber as coisas, em ouvir, em encontrar pessoas (e coisas) interessantes – e eles também te acharão interessantes.

Pessoas interessantes são boas em compartilhar: Você não consegue se interessar por alguém que não te conta nada. Compartilhar, porém, não tem nada a ver com falar, falar e falar. Significa compartilhar suas ideias, deixar as pessoas brincarem com elas, e ser bom em contá-las sem ter que falar de si mesmo.

Seguem as dicas:

1. Tire pelo menos uma foto todo dia. Poste-a no Flickr.
Carregue sempre uma câmera. Se tem uma no telefone celular, já ajuda. O ato de levar sua câmera a todo lado e sempre manter os olhos abertos para possíveis fotos mudará a maneira como você vê o mundo. Isso faz com que você perceba mais coisas. Deixa você ligado em tudo ao seu redor. Além disso, postar suas fotos no Flickr (ou outros sites de compartilhamento de fotos) significa que você estará compartilhando. Fica público. Isso fará você pensar um pouco mais sobre o que irá fotografar e gerará diálogos sobre suas imagens.

2. Monte um blog. Escreva nele pelo menos uma frase por semana.
È muito fácil. Além disso, vai ser impossível você se limitar a uma só frase. Você vai querer escrever mais. É fácil rotular blogs como uma forma de jornalismo banal, mas, de certa forma, isso é uma força a seu favor. Blogueiros não saem para investigar coisas (a maioria), não estão em lugares chiques, ninguém dá histórias a eles e, portanto, tem que construir com o conteúdo presente na própria vida. Isso fará você perceber as coisas que os outros não vêem. Ao sentir a necessidade de escrever sobre algo, fará você prestar mais atenção às coisas, sair e ver novidades, carregar um notebook – deixará você antenado no mundo.

3 – Mantenha um scrapbook
Todas as pessoas interessantes e criativas com quem trabalhei já tiveram scrapbooks. Eles são sempre estimuladores de ideais e o aspecto físico desses cadernos trazem benefícios para o processo. Além disso, conjunções inesperadas que você terá com a aleatoriedade dos scrapbooks podem te levar a algumas das suas melhores ideias.

4. Toda semana, leia uma revista que nunca leu antes.
Pessoas interessantes são interessadas em todo tipo de coisa. Isso quer dizer que exploram todos os tipos de mundo, vão a lugares que não esperariam gostar, e buscam sempre o que há de bom e interessante lá. Uma ótima maneira de fazer isso é por meio das revistas. Revistas especializadas permitem que, da poltrona da sua casa, você explore o sistema solar das atividades humanas . Experimente. È fantástico.

5. Uma vez por mês, entreviste alguém por 20 minutos e descubra como elas se tornaram interessantes. Faça podcasts das conversas.
Mais uma vez, ser interessante é ser interessado. Entrevistar é fazer que a outra pessoa se torne uma estrela. Poder ser qualquer um: um amigo, um colega, um estranho, qualquer um. Encontre o que há de interessante a respeito de cada um deles. Entrevistar fará você parar um pouco e te forçará a escutar. Uma boa coisa para praticar. Criar Podcasts é compartilhar. Compartilhar é algo com o qual você deve se acostumar.

6. Colecione algo
Pode ser qualquer coisa. Mas prefira se tornar um especialista em algo inesperado e que poucos colecionem. Desenvolva uma paixão. Aprenda como comunicar isso a outras pessoas sem assustá-las. Encontre as outras poucas pessoas que dividem esse mesmo interesse. Aprenda a se tornar útil nessa comunidade.

7. Uma vez por semana, sente-se em um café por uma hora e ouça a conversa dos outros. Faça anotações. Poste sobre esses assuntos no seu blog (com muito cuidado).
Passeie um pouco pela vida das pessoas. Ouça seus discursos padrões e suas preocupações. Coloque-as no papel. Mas não deixe que as pessoas o vejam – tente não apanhar. Também não aja de forma forçada, pulando de mesa em mesa para ouvir a melhor conversa. Apenas escute as que surgirem no seu caminho.

8 – Mensalmente, escreva 50 palavras sobre uma peça de arte visual, um texto, uma música e um trecho de filme. Se puder, faça o mesmo para outros tipos de arte. Poste-as no seu blog.
Se quiser trabalhar em negócios criativos (e logo todos serão assim), terá que se acostumar a ter um ponto de vista sobre coisas artísticas. Mesmo se não for tão ligado às artes, você terá que se sentir confortável em expressar uma opinião sobre coisas que não sabe como fazer ou criar, como música ou poesia. Com a prática, você melhorará cada vez mais. Compartilhando esses pensamentos, a evolução será ainda maior.

9. Crie coisas
Faça alguma coisa manual. Crie algo do nada. Podem ser nós, lego, um bolo ou mesmo tricô. Tire um tempo para se desligar e sair um pouco do seu pensamento. O ideal é optar por algo que você não tem ideia de como fazer. Não ligue se tiver dificuldade no início. As pessoas adoram gente que cria coisas. Compartilhe essas criações no seu blog.

10. Leia:

Desvendando os Quadrinhos: história, criação, desenho, animação, roteiro. (Understanding Comics) - Scott McCloud
The Mezzanine - Nicholson Baker
The Visual Display Of Quantitative Information - Edward Tufte

Todos esses livros são bons, cada um por um motivo diferente. O que importa, no entanto, é que são ótimos exemplos de pessoas que são realmente interessadas por coisas que os outros acham banais. Neles, elas explicam suas paixões de uma maneira que também acabamos nos apaixonando pelo assunto.

segunda-feira, junho 06, 2011

Bandidos desmoralizam sistema "suja notas"

Em São Paulo, hoje, a polícia prendeu quadrilha que limpava dinheiro machado pelo sistema anti-furto usado nos caixas eletrônicos. As cédulas ficavam como novas. O sistema inventado pelos bancos e anunciado como a solução para a destruição dos caixa-eletrônicos consiste em um tubo de vidro que, ao ser detonado, derrama tinta cor de rosa nas cédulas, inutilizando-as. Cidadãos de bem já foram considerados bandidos por usarem notas manchadas, que às vezes saem dos próprios caixa-eletrônicos do sistema bancário, por falha na vedação da tinta. Na humilde casa onde a quadrilha atuava, nenhuma fórmula sofisticada ou laboratório avançado foi encontrado. Apenas detergentes comuns, desses que se vendem em supermercados. O sistema "suja notas" criado pelos bancos custou milhões de reais em projeto, desenvolvimento e instalação. O sistema "limpa notas" dos bandidos custou um punhado de reais no supermercado da esquina. Está claro que temos aqui uma desvantagem considerável entre a inteligência de segurança usada pelos bancos e pela polícia e a inteligência dos delinqüentes. À favor dos bandidos, diga-se. A idéia de sujar as notas e destruir as cédulas para evitar assaltos aos caixa-eletrônicos é mais ou menos como sugerir explodir o pulmão de alguém para impedir que volte a fumar. É uma das concepções mais imbecis que já foram colocadas em prática e, é claro, logo seria desmoralizada em público. Cheguei a pensar que os bandidos levariam seis a oito meses para driblar o mecanismo "suja notas". Levaram três meses e essa inteligência de baixa tecnologia já deve ter sido passada adiante via twitter ou msn, em telefones celulares pré-pagos. O fato prova, uma vez mais, que todo problema complexo tem uma solução simples. E ela invariavelmente está errada.

quinta-feira, junho 02, 2011

Frase

"Prefiro a disciplina do conhecimento à anarquia da ignorância". David Ogilvy

quarta-feira, junho 01, 2011

O neologismo da moda: coaching

A palavra da moda é "coaching". Todo texto de administração e negócios que quer ser levado a sério precisa apresentar esse termo, em geral em um contexto onde ele parece brilhar. Exemplo aleatório: "O líder coaching pode ser comparar com um maestro, que em alguns momentos trabalha com apenas com um integrante, em outros orienta todos à distância e, em outros, corta os vínculos para que possam se desenvolver em áreas completamente fora do seu escopo. Você as leva a aprender e a treinar regularmente, ajuda-as a canalizar sua paixão pela aprendizagem para as melhores oportunidades e harmonizar a participação delas e dos demais integrantes da organização". Esse e outros estrangeirismos demonstram o quanto o nosso idioma elaborado está perdendo espaço para um idioma primitivo como o inglês. O que hoje chamam de coaching é, simplesmente, o que chamamos em português de educação - que em inglês não tem o mesmo sentido que em português, indicando "ensino", aprendizado formal escolástico; em nosso idioma "educação" indica sistema, assimilação e transmissão de conhecimento de modo abrangente que atravessa todo o tecido social. Usar caaching para substituir educação é de um subdesenvolvimento cultural colossal. Afinal, o que é educação? É o processo contínuo de equipar as pessoas com as ferramentas, o conhecimento e as oportunidades de que precisam para se desenvolver e se tornar mais efetivas, reflexivas e eficazes. É essa justamente essa a definição de coaching na maioria dos textos sobre o tema. Qual a razão de usar um estrangeirismo para definir algo que em português se define melhor? Na tradução livre do inglês para português coaching significa “treinador”. O termo foi adaptado para expressar um modo de treinar no intuito de instruir a carreira profissional. Ou seja, educar para o mercado.
O que esses textos chamam de “coaches” nós chamamos de educadores, pessoas que não desenvolvem pessoas (as pessoas desenvolvem-se por si mesmas), mas dão condições para que elas se auto-desenvolvam através do conhecimento e do senso crítico. Raramente um educador terá tempo para se envolver com cada aspecto do desenvolvimento humano. E raramente terá todas as informações, habilidades e a sabedoria de que alguém pode precisar para garantir esse desenvolvimento. Felizmente, não há necessidade de ser perfeito para ser um educador efetivo. Pelo contrário, todo educador é um catalisador do desenvolvimento. O processo educativo, que os idiotas no Brasil e em Portugal chamam de “coaching”, nada mais é que um processo pedagógico contínuo, não uma conversa eventual ou a transmissão de um acontecimento isolado. “Educar”, escreveu William Butler Yeats, “não é encher um balde, mas acender uma chama”.
Quando alguém disser "coaching" reaja. Ele quer dizer "educador".

sábado, maio 28, 2011

Reduzindo a diletância

Reuniões, todos sabem, nem sempre são produtivas. O pior é quando elas são improdutivas e demoradas, alongando-se em assuntos paralelos e consumindo o tempo que poderia estar sendo dedicado a resolução de problemas. Uma empresa brasileira especializada em TI desenvolveu um método para tornar as reuniões mais rápidas e produtivas e para isso não precisou usar nenhuma ferramenta de alta tecnologia. A empresa, que se chama Simples, decidiu desde o ano passado abolir as cadeiras das reuniões. Todos, inclusive o presidente, passaram a conversar em pé. As reuniões, que eram semanais, se tornaram diárias e duram no máximo 20 minutos. "De pé as pessoas tendem as ser mais objetivas, evitando assuntos de pouca relevância para o momento", destaca Érico Andrei, presidente da empresa. "O número de tarefas concluídas antes do prazo aumentou para 30%", destaca. As casas legislativas e os tribunais superiores bem que poderiam adotar o método.

Na cama com Madonna

"Deitamos um ao lado do outro com nossos BlackBerrys debaixo do travesseiro". A frase é da pop-star Madonna, revelando que ela e o marido costumam dividir a cama com a tecnologia.

Siga aquele Bluetooth!

Vassilis Kostakos, da Universidade de Bath, na Inglaterra, foi o responsável por uma interessante pesquisa que prova ser possível identificar hábitos de donos de aparelho celular a partir do rastro que seu Bluetooth deixa quando ativado em tempo integral. O pesquisador instalou receptores em locais estratégicos e, após quatro meses, 10 mil aparelhos foram rastreados. Debruçado sobre a massa de dados gerada a partir daí, foi possível identificar itinerários e locais que os donos dos aparelhos freqüentaram, como bares, lojas e motéis. O pesquisador defende-se quando é acusado de invasão de privacidade: "Não se trata disso, mas de encontrar vias simples e baratas para identificar hábitos de consumo", afirma.

Foco: um banco só para mulheres

Para quem ainda duvida que marketing é, antes de tudo, foco, o mundo está cheio de lições para dar.
Um exemplo vem do México, que mesmo no período mais agudo da maior crise econômica desde 1932, viu um de seus bancos crescer de maneira vertiginosa, embora aplicando taxas de juros bem menores que a concorrência. O banco Compartamos teve sua base de clientes ampliada em 25%, aumentando para 2,5 milhões de pessoas operando em sua carteira. Receitas e lucros aumentaram 30% e o valor de suas ações dobrou. O que chama mais atenção, para além de números tão expressivos, é a principal característica e marca da instituição: o Compartamos só empresta dinheiro para mulheres, que devem estar agrupadas em unidades de negócios com pelo menos 12 e no máximo 50 pessoas. A fórmula deu certo ao ponto da instituição já fazer planos para chegar a outros países, inclusive o Brasil.

sábado, maio 14, 2011

Frase

"O fracasso ensina mais que o sucesso, mas você tem que falhar rápido, sem gastar muito; e não errar duas vezes". Alan G. Lafley, presidente mundial da Procter&Gamble.

terça-feira, maio 10, 2011

Carinhoso? De novo?

Sinceramente, deveria ser proibido usar a música "Carinhoso" como jingle. Feita para expressar uma emoção, a música está se banalizando com o uso abusivo que a propaganda sem imaginação dá a ela. A música já foi usada para vender exames cardíacos, chocolates, roupas infantis, fraldas geriátricas, planos de saúde, iogurte, etc, etc, etc. Se você tem um produto e não tem uma idéia, dá-lhe "Carinhoso". Nos países de língua inglesa costuma-se dizer que, se você não tiver uma idéia, é só lançar mão de uma canção dos Beatles, colocar qualquer imagem de fundo e pronto, terá um comercial elogiável. Aqui, penso, querem fazer o mesmo com "Carinhoso". Não cola. Os Beatles têm centenas de canções como opção. "Carinhoso" é uma só. Já deu.

e-Guerrilha: emails que acertam no alvo

Nossos clientes nos relatam os resultados excelentes em suas campanhas de e-Guerrilha com seguindo algumas regras básicas e importantes.

Confira:

1. INVISTA EM SUA BASE DE E-MAILS:

De nada vale ter uma listagem enorme e irrelevante para o negócio. "Já tivemos mailing de 25 mil e-mails e não sabía-mos nem o nome das pessoas", diz Maurício Renner, editor de site de tecnologia da informação. "Depois de constatar que muitas mensagens não eram sequer abertas, fizemos uma campanha de recadastramento e temos hoje uma base consistente de 8.700 assinantes."

2. ABRA UM CANAL PARA OPT-OUT:

Em todos os e-mails que enviar, disponibilize um link para descadastramento, caso contrário, a sua empresa corre o risco de ficar associada ao desrespeito e à prática de spam.

3. ACERTE NA FREQUÊNCIA:

A não ser que tenha autorização do cadastrado para envios mais frequentes, atenha-se aos e-mails quinzenais ou no máximo semanais. O excesso de e-mails pode gerar uma imagem negativa.

4. SEJA RELEVANTE:

Analise os links clicados pelos destinatários para identificar grupos de interesse. Se houver tribos bem distintas, segmente sua base de contatos, de modo a criar e-mails efetivamente relevantes para quem recebe.

5. POSSIBILITE A TROCA:

Não se restrinja a enviar mensagens. Apresente para o destinatário um canal de aprofundamento e interação, seja por e-mail, fone, site ou blog. Em sites e blogs, disponibilize formulários de cadastro e apresente a possibilidade de indicar amigos.

6. DOSE O TAMANHO DOS ARQUIVOS:

Não carregue os e-mails com imagens ou anexos pesados. Caso queira disponibilizar arquivos grandes para o destinatário, gere um link que conduza a eles.

7. SEJA OBJETIVO:

Tenha títulos e mensagens objetivas. Seu e-mail concorre com várias outras mensagens, você tem poucos segundos para atrair quem lê.

8. DRIBLE O ANTI-SPAM:

Antes de liberadas pelos provedores, as mensagens passam por filtros anti-spam. Existem palavras ranqueadas em mecanismos específicos, se uma delas atinge certa pontuação, é interpretada como lixo. Palavras como: "Sexo", "Viagra", "Clique Aqui" e links para o Orkut, por exemplo, alcançam muitos pontos. Em períodos de programa Big Brother Brasil, "BBB" é um termo que também assusta. Antes de disparar várias mensagens eletrônicas convém testar o envio para endereços de provedores distintos. Uma vez aprovadas, tudo OK para o restante do grupo.

9. INVISTA NO ENVIO:

Há empresas especializadas em envio de e-mail. Elas têm pacotes econômicos para envios reduzidos, como mil mensagens mensais. O disparo "doméstico" costuma ser barrado pelos provedores.

10. MENSURE OS RETORNOS:

e-Guerrilha não é mero instrumento para divulgação. Trata-se de um modo de conhecer melhor o cliente e identificar suas preferências. Tome as mensurações feitas por empresas de marketing como formas para incrementar seu negócio. Você pode inclusive fazer testes, enviando diferentes mensagens para dois grupos e comparando os retornos obtidos.

segunda-feira, maio 09, 2011

As lições de Rupert Murdoch

Rupert Murdoch, o magnata da mídia dono da News Corp, atraiu milhares de leitores para sua edição on-line do Times londrino para, de uma hora para a outra, decidir fechar a porteira e limitar o acesso apenas a assinantes.
Cerca de 150 mil leitores aceitaram registrar-se no site do Times, pouco mais de 12% do número de leitores on-line durante o período gratuito. Desses, somente 15 mil aceitaram pagar pelo acesso ao conteúdo. Ou seja, Murdoch conseguiu perder 98,8% dos leitores do site do Times ao passar a cobrar pelo acesso aos textos do jornal. Um fracasso retumbante.
Poderia, simplesmente, ampliar as possibilidades de publicidade no site, vendendo sua audiência como público-alvo para anunciantes e com isso garantir a rentabilidade do empreendimento.
No entanto, o cidadão Kane do século XXI acredita liderar uma cruzada em defesa dos direitos autorais, outra utopia burguesa ferida de morte pela internet. Acusa as ferramentas de busca de "plagiarem" o conteúdo de seus jornais. “São as pessoas que simplesmente pegam tudo e saem correndo, que roubam nossas matérias, que as pegam sem pagar. É o Google, é a Microsoft, é o Ask.com, um monte de pessoas”, indigna-se o barão da imprensa.
Com a medida, Murdoch queria impedir o que chama de plágio - na verdade, a difusão, a propagação da notícia por outras ferramentas - e obrigar os leitores de seu site a pagar pelo material consumido. Para ler, você precisa pagar.
Não deu certo. Não poderia dar. Seria como tentar cobrar de quem ouve uma piada e proibi-la de passar a piada adiante. Parece uma boa idéia, mas é impossível de operacionalizar o controle e a cobrança. Mais ainda: é impossível contar com a aceitação passiva das pessoas a isso.
Como a longa agonia da indústria fonográfica demonstra, a fórmula analógica não serve para lidar com os conteúdos digitais.
Os veículos de Murduch não são a única fonte de informação e a maioria absoluta das outras fontes está disponível gratuitamente.
Simplesmente querer cobrar pelo ar não obriga ninguém a pagar para poder respirar.