quarta-feira, dezembro 29, 2010

Feliz 2011

"O que é tudo isso diante da pólvora dessa paixão que se renova?" Herbert Vianna

terça-feira, dezembro 28, 2010

Universidade de Princeton: "bem-estar emocional está ligado à renda"

O ditado que dinheiro não compra a felicidade foi posto em questão pela academia.
O bem-estar emocional das pessoas – ou seja, felicidade – é proporcional à sua renda, até o patamar de 75 mil dólares anuais (cerca de 130 mil reais), de acordo com estudo publicado hoje no periódico científico Proceedings of the National Academy of Sciences (PNAS).
Para as pessoas que ganham menos que isso, Angus Deaton, economista do Centro de Saúde e Bem-Estar da Universidade de Princeton, diz: “Os problemas são tão imediatos que é difícil ser feliz. Isso interfere com o quanto o contentamento com a vida que se leva”.
Deaton e Daniel Kahneman analisaram uma pesquisa de opinião do Instituto Gallup, feita com 450 mil americanos em 2008 e 2009. Ela incluía perguntas sobre a satisfação com dia-a-dia e também com a felicidade geral com as suas vidas.
A felicidade aumentava conforme a renda crescia, mas o efeito parava aos 75 mil dólares, Deaton afirmou. Por outro lado, o sentimento geral de sucesso continua a crescer de acordo com o crescimento do poder aquisitivo depois daquele ponto.
“Dar mais dinheiro que 75 mil dólares não vai alterar significativamente o humor rotineiro de alguém, mas vai fazê-lo sentir que tem uma vida melhor,” disse o economista em uma entrevista.
Não é surpreendente que alguém que passe a ganhar o dobro do seu salário se sinta bem-sucedida, mas isso quer dizer que ela se sinta mais feliz, explica Deaton.
Os resultados foram semelhantes em outras instâncias. Por exemplo, as pessoas se sentiam mais felizes nos fins-de-semana, mas seu sentimento mais profundo de bem-estar não mudava.
Daniel Kahneman, que ganhou o prêmio Nobel de Economia em 2002, realizou o estudo com Deaton para entender melhor a relação entre políticas públicas e crescimento econômico. Alguns estudiosos questionam o valor do crescimento de uma economia aos indivíduos, e Deaton disse que a questão está longe de ser resolvida. Mas complementou: “Fazer este estudo me trouxe um grande bem-estar emocional. Como economista, eu tendo a crer que dinheiro faz bem, e foi bom descobrir provas disso”.
A pesquisa também reforçou o dado de estudos anteriores, de que, de maneira geral, as pessoas são bastante satisfeitas com suas vidas. Em outra pesquisa global do Gallup, os Estados Unidos e o Brasil estiveram entre as nações mais felizes, atrás dos países escandinavos, Canadá, Costa Rica, Suíça e Nova Zelândia.
A conclusão dos dados da pesquisa da Universidade estadunidense é que, para ser feliz, então, o importante não é ser rico, mas sim não ser pobre, segundo as entrevistas feitas com mais de 450 mil cidadãos dos Estados Unidos.
Isso, ao contrário do que possa parecer, não é um cheque em branco ao consumismo e ao capitalismo, mas uma denúncia velada de que, ao privar a maioria do necessário a uma existência digna, o capitalismo monopolista limita, sim, a possibilidade da felicidade individual dos seres humanos.

segunda-feira, dezembro 13, 2010

Frase

"Qual é o parasita mais resistente? Uma bactéria? Um vírus? Um verme intestinal? Uma idéia! Resistente, altamente contagiosa. Uma vez que ela se aposse do cérebro é praticamente impossível erradicá-la. Uma idéia que esteja totalmente formada, totalmente compreendida, fica na mente em algum lugar." (Coby, personagem de Leonardo DiCaprio no filme "A Origem", de Christopher Nolan, revigorando talvez involuntariamente os princípios da teoria do posicionamento, de Jack Trout e All Ries).

quinta-feira, novembro 18, 2010

Ação no STF propõe regulamentar comunicação

O PSOL propôs ao Supremo Tribunal Federal (STF) uma Ação Direta de Inconstitucionalidade por Omissão, ajuizada pelo jurista Fábio Konder Comparato, cuja petição inicial requer à Corte que determine ao Congresso Nacional a regulamentação de matérias existentes em três artigos da Constituição Federal (220, 221 e 223), relativos à comunicação social. Entre as providências, está a criação de uma legislação específica sobre o direito de resposta, a proibição de monopólio ou oligopólio dos meios de comunicação social e a produção e programação exibida pelos veículos. De acordo com a petição, a Constituição Federal brasileira admite o cabimento da ação direta de inconstitucionalidade por omissão de medida para tornar efetiva norma constitucional.
Uma ação com mesmo texto e objetivo foi protocolada pelo advogado no dia 18 de outubro, representando a Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj) e a Federação Interestadual dos Trabalhadores em Empresas de Radiodifusão e Televisão (Fitert).

Embasamento jurídico

Direito de resposta – De acordo com o artigo 5°, inciso V, Capítulo I (Dos Direitos e Deveres Individuais e Coletivos), Título II (Dos Direitos e Garantias Fundamentais), da Constituição Federal “é assegurado o direito de resposta, proporcional ao agravo, além da indenização por dano material, moral ou à imagem”.
Entretanto, a petição lembra que, em abril de 2009, o STF decidiu que a Lei de Imprensa, de 1967, havia sido revogada com a promulgação da Constituição Federal de 1988. Em função dessa interpretação, os juízes deixaram de contar com um parâmetro legal, embora o direito de resposta permaneça reconhecido no ordenamento jurídico.
Assim, Comparato pergunta “em quanto tempo está o veículo de comunicação social obrigado a divulgar a resposta do ofendido? Dez dias, um mês, três meses, um ano? É razoável que a determinação dessa circunstância seja deixada ao arbítrio do suposto ofensor?”
No caso dos jornais e periódicos, a ação questiona a publicação de respostas com letras menores do que aquelas que geraram a ofensa. No caso das emissoras de rádio e televisão, não há nenhum dispositivo que proíba a veiculação de resposta em programas diferentes ou em emissoras que pertençam a um mesmo grupo econômico.
A ação aponta também que até hoje não há regulação do direito de resposta na Internet e “quando muito, a Justiça Eleitoral procura, bem ou mal, remediar essa tremenda lacuna com a utilização dos parcos meios legais de bordo à sua disposição”.
Produção e programação – o segundo ponto de omissão legislativa que a petição cita é com relação aos princípios declarados no art. 221, no que concerne à produção e à programação das emissoras de rádio e televisão.
Para argumentar a necessidade da regulamentação, o jurista relembra que as emissoras de rádio e televisão servem-se, para as suas transmissões, de um espaço público. “Fica evidente, portanto, que os serviços de rádio e televisão não existem para a satisfação dos interesses próprios daqueles que os desempenham, governantes ou particulares, mas exclusivamente no interesse público; vale dizer, para a realização do bem comum do povo”.
Para cumprir essa função, o artigo 221 coloca os seguintes princípios para a produção e programação: I – preferência a finalidades educativas, artísticas, culturais e informativas; II – promoção da cultura nacional e regional e estímulo à produção independente que objetive sua divulgação; III – regionalização da produção cultural, artística e jornalística, conforme percentuais estabelecidos em lei, e IV – respeito aos valores éticos e sociais da pessoa e da família.
Em seguida, o texto conclui que passadas mais de duas décadas da entrada em vigor da Constituição Federal, nenhuma lei foi editada especificamente para regulamentar artigo 221, presumivelmente sob pressão de grupos empresariais privados.
Monopólio ou oligopólio – o terceiro ponto de omissão legislativa que a petição cita é com relação à proibição de monopólio ou oligopólio dos meios de comunicação social, disposta no artigo 220.
Sobre esse caso, a petição afirma que o abuso de poder econômico na comunicação social coloca em risco a democracia. “Na sociedade de massas contemporânea, a opinião pública não se forma, como no passado, sob o manto da tradição e pelo círculo fechado de inter-relações pessoais de indivíduos ou grupos. Ela é plasmada, em sua maior parte, sob a influência mental e emocional das transmissões efetuadas, de modo coletivo e unilateral, pelos meios de comunicação de massa”.
Comparato ressalta no texto que monopólio e oligopólio não são conceitos técnicos do Direito; são noções, mais ou menos imprecisas, da ciência econômica. Sendo assim, “pode haver um monopólio da produção, da distribuição, do fornecimento, ou da aquisição. Em matéria de oligopólio, então, a variedade das espécies é enorme, distribuindo-se entre os gêneros do controle e do conglomerado, e subdividindo-se em controle direto e indireto, controle de direito e controle de fato, conglomerado contratual (dito consórcio) e participação societária cruzada. E assim por diante.”
A falta de uma lei definidora de cada um desses tipos anula o direito do povo e a segurança das próprias empresas de comunicação social.

terça-feira, novembro 09, 2010

Martins: regulação da comunicação é prioridade

O ministro da Secretaria de Comunicação Social, Franklin Martins, defendeu que a regulamentação das telecomunicações e da radiodifusão precisa ser uma prioridade do próximo governo. Na abertura do Seminário Internacional das Comunicações Eletrônicas e Convergência de Mídias, ele comparou o "atraso" na legislação para a área à situação relacionada à energia no país no início do governo Lula. Martins vê a falta de normas atuais a respeito como um entrave ao crescimento econômico.
O cerne das preocupações é o cenário de convergência de mídia entre a telefonia e a radiodifusão e a necessidade de atualizar a regulamentação do setor. As empresas de radiodifusão temem que seja aberto espaço para empresas de telecomunicações. Em franca expansão, as companhias de telefonia representariam um concorrente forte e com recursos para tirar mercado da mídia convencional.
As empresas de telecomunicações e de radiodifusão têm interesses divergentes. Movimentos sociais e ONGs que trabalham com a questão possuem pontos de vista ainda divergentes, críticos da concentração estabelecida nas concessões de rádio e televisão.
Segundo Martins, a questão energética no início de 2003 apresentava um cenário de abandono, com uma demanda represada que comprometia o avanço econômico nacional. Ele defende que o governo de Dilma Rousseff, a partir de janeiro de 2011, deve entender a carência de regulação das comunicações como um atraso que demanda prioridade para ajudar no desenvolvimento de uma sociedade do conhecimento.
Em sua fala, o ministro criticou o atraso na legislação, citando que a Constituição de 1988 determina a regulação das telecomunicações e da radiodifusão, o que nunca aconteceu. Ele avalia que a sociedade brasileira tem vocação para o diálogo e para o entendimento e que chegou o momento para se construir um ambiente favorável à definição de um marco regulatório com base na busca de consensos.
Seria importante, diz Martins, que houvesse esse entendimento porque a regulação vai ter de ser feita de qualquer maneira. "Se não houver pactuação, quem vai regular será o mercado. No mercado, quem vai ganhar é o mais forte", salientou Franklin Martins.
Para ele, sem mudar a lei, as empresas de radiodifusão seriam "atropeladas pelas teles". A declaração tenta aproximar os interesses de rádios e TVs em relação à proposta do governo. A maior parte da mídia tem se manifestado criticamente ao projeto de mudar as normas do setor.
"O governo federal tem consciência de que é preciso dar proteção especial à radiodifusão”, disse Franklin Martins. Na opinião do ministro, a mudança no setor pode não ser benéfica para as classes mais pobres que ainda não têm acesso total às mídias eletrônicas, providas pelas empresas de telefonia.
Franklin Martins, que é jornalista, reconheceu o mérito do atual sistema de rádio e TV que conseguiu levar o sinal aberto (gratuito) a quase toda população. “Ter um sinal que chega a todos é de grande relevância.”
Ele lembrou que, na organização da Conferência Nacional de Comunicação (I Confecom), as empresas de radiodifusão deixaram o processo. Agora, o ministro espera que elas estejam dispostas a discutir e que não se assustem com o que chamou de "fantasmas", relacionadas ao suposto interesse em controlar a mídia e cercear a liberdade de imprensa.
"Os fantasmas passam por aí arrastando suas correntes e impedindo de ouvir", disse Franklin Martins ao pedir aos empresários para deixarem “os fantasmas no sótão” e ficarem tranquilos. "Não há nenhum problema com a liberdade de imprensa", garantiu Martins, sugerindo que os expositores sejam perguntados se a regulamentação em seus países, reconhecidos como democráticos, afetou a liberdade de imprensa.
O seminário internacional conta com convidados palestrantes da Argentina, dos Estados Unidos e da União Europeia (Reino Unido, França, Espanha e Portugal).

quinta-feira, novembro 04, 2010

Dilma reconhecida pela Forbes

A presidente eleita do Brasil, Dilma Rousseff, foi considerada a 16ª pessoa mais poderosa do mundo, de acordo com o ranking anual da revista "Forbes" divulgado nesta quarta-feira (3), à frente de líderes como o presidente francês Nicolas Sarkozy, que aparece na 19ª posição.
A publicação, uma das revistas econômicas mais prestigiadas do planeta, apresenta a trajetória de Dilma na política e reitera que a nova presidente comandará a maior economia da América Latina.
Em primeiro lugar, está o presidente da China, Hu Jintao, seguido por Barack Obama, seu colega americano.
O ranking da "Forbes" também cita o empresário brasileiro Eike Batista. O homem mais rico do Brasil, segundo a publicação, aparece em 58º lugar, apenas uma posição atrás do líder da rede terrorista da al-Qaeda, Osama Bin Laden, que, no ranking é considerado o 57º mais poderoso do mundo. A publicação se refere a Eike como um "amante dos superlativos, tanto na vida pessoal quanto na profissional".
Na 68º e última posição está Julian Assange, editor-chefe da organização WikiLeaks, que se notabilizou por divulgar documentos secretos do governo norte-americano.

segunda-feira, novembro 01, 2010

Três lições de Sun Tzu

1

A estratégia sem tática é o caminho mais lento para a vitória. Tática sem estratégia é o ruído antes da derrota.

2

A invencibilidade está na defesa; a possibilidade de vitória, no ataque. Quem se defende mostra que sua força é inadequada; quem ataca, mostra que ela é abundante.

3

Lutar e vencer todas as batalhas não é a glória suprema. A glória suprema consiste em quebrar a resistência do inimigo sem lutar.

Grandeza na vitória

Em meio à forte emoção ao se referir ao presidente Luis Inácio Lula da Silva, Dilma, a primeira presidenta da República Federativa do Brasil, demonstrou grandeza de espírito e firmeza de propósitos, além de garantir a manutenção das conquistas, tantas, do governo petista. A fala de Dilma funciona como um antídoto contra o veneno expelido por Serra, que quer afundar o país num clima de tensão eleitoral permanente.

Ruim até o fim

A fala de Serra, belicosa, após o resultado eleitoral, é um mau exemplo para o país. Ao invés de desarmar os espíritos, incita ao conflito, ao antagonismo. Lamentável.

sábado, outubro 30, 2010

Delfim Netto: Similitudes

Qualquer semelhança entre a agressão da mídia aos programas de Lula e as reações ao New Deal, nos anos 30, não é só coincidência.
Em abril de 2008, escrevi um comentário comparando o PAC e o Fome Zero do governo Lula aos programas de obras públicas e de combate ao desemprego abrigados sob o guarda-chuva do New Deal de F.D. Roosevelt, o presidente que conseguiu tirar a economia americana da Grande Depressão produzida a partir da quebra da Bolsa de Nova York, em outubro de 1929. Três quartos de século separam essas experiências: na primeira metade da década 1930-1940, os Estados Unidos e o mundo mergulharam numa crise sem precedentes.
Quando Roosevelt tomou posse, em 1933, para seu primeiro mandato, o PIB americano tinha sido reduzido a praticamente a metade (56,4 bilhões de dólares) do que era em 1929 (103 bilhões de dólares).
Apesar da tragédia do desemprego, que chegava a 30% da força de trabalho, os EUA eram uma nação próspera. Havia muita riqueza e uma boa parte da sociedade afluente aceitava o desemprego como contingência natural numa economia de mercado. A melhor coisa que os governos deviam fazer era ficar fora disso.
Roosevelt surpreendeu, já no discurso de posse, anunciando o fim da era da indiferença: “Temos 15 milhões de sujeitos passando fome e nós vamos dar de comer a eles. O governo entende que é sua obrigação providenciar trabalho para que eles mesmos voltem a sustentar suas famílias”.
Para escândalo de muitos, seu governo colocou em marcha dois enormes programas, nunca antes tentados naquele país, de amparo ao trabalho e combate à miséria, com investimentos públicos em obras, cuja principal prioridade era a absorção de mão de obra (uma espécie de PAC). O empreendimento-símbolo foi a criação da TVA (Tennessee Valley Authority), que construiu barragens para a produção de energia e gerenciou os projetos de irrigação para a produção de alimentos.
Esses programas sofreram pesado bombardeio da oposição conservadora, que, a título de defender a livre iniciativa, esconjurava a ingerência estatal no setor privado, porque interferia na oferta e procura de mão de obra, desvirtuando o funcionamento do mercado de trabalho… Um dado interessante é que os ataques da mídia republicana evitavam agredir o presidente (e seus altos níveis de popularidade), concentrando toda a fúria na figura de Harry Hopkins, principal mentor dos programas de amparo ao trabalhador e gerente das obras públicas, qualificado de “perigoso socialista”. Qualquer semelhança com agressões midiáticas recentes aos programas Fome Zero, Luz para Todos e ao PAC não é simples coincidência…
Hoje, ninguém duvida que o New Deal foi decisivo para a reconstrução da confiança dos americanos nos fundamentos do regime de economia de mercado. Suas ações ajudaram a salvar o capitalismo, na medida em que os milhões de trabalhadores que recuperaram os empregos voltaram “a acreditar na vontade e na capacidade do governo de intervir na economia para proporcionar uma igualdade mais substancial de oportunidades” (FDR numa de suas falas no rádio, Conversa ao Pé do Fogo.)
O fato é que o PIB americano cresceu durante o primeiro e segundo mandatos e, em 1940, havia recuperado o nível que perdera desde o início da grande crise, medindo 101,4 bilhões de dólares. Roosevelt completou um terceiro período presidencial e ainda foi eleito (no fim da Segunda Guerra Mundial), para um quarto mandato, mas faleceu antes de exercê-lo.
Quando Lula assumiu o primeiro mandato, em 2002, a economia brasileira não estava na situação desesperadora da americana de 1933, mas contabilizava algo como 12% de desemprego da população economicamente ativa e vinha de um período de quase 20 anos de medíocre crescimento, com a renda per capita praticamente estagnada. Seu governo pôs em prática os programas de combate à fome que prometera no prólogo de sua Carta aos Brasileiros e posteriormente o PAC, que soma o investimento público e obras privadas, com foco na recuperação da desgastada infraestrutura de transportes, da matriz energética e na indústria da habitação. Setores de grande demanda de mão de obra e de promoção do desenvolvimento.
Oito anos depois (e 15 milhões de empregos a mais), os resultados são visíveis: queda acentuada das taxas do desemprego (para menos de 7% da população economicamente ativa), crescimento da renda e dos níveis de consumo da população, recuperação da autoestima do trabalhador e uma sociedade que adquiriu condições de oferecer uma substancial melhora na distribuição de oportunidades. Isso, tendo atravessado a segunda pior crise da economia mundial dos últimos 80 anos, com o PIB crescendo em 2010 acima de 7%.

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Delfim Netto é economista. Formado pela USP e professor de Economia, foi ministro de Estado e deputado federal. Publica a coluna Sextante semanalmente na revista Carta Capital.

sexta-feira, outubro 29, 2010

Mino Carta: o tempo como invenção do homem

Questão levantada por Dilma Rousseff no debate na Band merece reflexão. Observou a candidata que a campanha eleitoral tucana estimulou um sentimento insólito no Brasil, o ódio. Há brasileiros e brasileiros. Os privilegiados e seus reservas, e os desvalidos em estágios diversos. As diferenças sociais são ainda profundas, a despeito de alguns avanços realizados à sombra de Lula.
A maioria brasileira não é capaz de ódio, mas sua característica mais pronunciada é a resignação. Já o ódio tem ibope elevado na minoria, aquele resistentemente alimentado em relação à maioria. O sulista feliz da vida enquanto mantém sua primazia e o remediado confiante em um futuro favorável à moda dos atuais privilegiados odeiam o nortista pobre. Incluam-se os miseráveis em qualquer latitude.
A frequentação da internet nestes dias ilumina a respeito, embora cause devastação na zona miasmática situada entre o fígado e a alma dos cidadãos conscientes e responsáveis. Colidimos com ferozes manifestações de ódio, insufladas pela mídia nativa, movida ela própria, ela antes dos seus leitores, ouvintes, espectadores, a puro ódio. Em outros tempos, chamava-se ódio de classe. Mas hoje os tempos são outros.
Há inúmeras décadas a mídia nativa, instrumento nas mãos da chamada elite (elite?) porta-se da mesma maneira. Desembainha os mesmos argumentos. Desde a oposição a Getúlio Vargas democraticamente eleito, a resistência à posse de Juscelino, a manipulação constitucional para que João Goulart substituísse o renunciatário Jânio ao aceitar a imposição do parlamentarismo, enfim, o golpe de 1964 e o golpe dentro do golpe de 1968. Até a rejeição da campanha das Diretas Já, a eleição indireta de 1985, a posse anticonstitucional de José Sarney, a eleição de Fernando Collor no seu papel de antídoto ao Sapo Barbudo.
Sempre e sempre, a mesma peroração, a favor das mesmas inaceitáveis razões, frequentemente em apoio de quem, em nome das conveniências, foi elevado aos altares da glória e hoje é atirado à poeira. É um festival de acusações sem prova, de omissões oceânicas, de mentiras que envergonhariam o bugiardo de Goldoni ou o tartufo de Molière.
Pergunto-me se esses heróis da velhacaria perceberam o quanto o Brasil e o mundo mudaram no período. Por uma série de eventos, a vincar as décadas. O Brasil, por exemplo, não é mais um dos ancoradouros preferidos da CIA. O embaixador americano Lincoln Gordon, depois de mandar mais que o presidente da nossa república, passou-se para outra. Na onda da Marcha da Família, com Deus (que deus seria este?) e pela Liberdade, perdemos a liberdade, com ele pequeno, por 21 anos, e a verdadeira, irmã da igualdade, ainda não a encontramos.
Deu-se ainda, neste tempo todo, que a Cuba de Fidel deixasse de ser aquela e, sobretudo, que o Muro de Berlim -ruísse e, com ele, o maniqueísmo da Guerra Fria, o abrupto loteamento do globo entre dois impérios. Aliás, sobrou um, que nos ensinou coisas boas e más, algumas muito más, e hoje não vai lá das pernas.
Os meus estarrecidos, porém lúcidos botões cuidam de me informar: os senhores todos continuam a querer um país de 20 milhões de habitantes e uma democracia sem povo, o tal de demos, como avisava Raymundo Faoro, o grande pensador, que faz falta não somente a mim. E não deixa de representar fenômeno extraordinário como o candidato José Serra se encaixou à perfeição no seu papel de udenista da última hora, de sorte a ganhar, de forma ainda mais clara que em 2002, o suporte da mídia de uma nota só.
Há momentos sublimes na interpretação do candidato tucano. Ele se prontifica a deglutir hóstias sagradas e se apresentar como derradeiro apóstolo de Jesus Cristo. Enquanto isso, a mídia concretiza a mais ampla, geral e irrestrita conciliação elitária da nossa história, na qual este gênero de arreglo invariavelmente nasceu do ódio à maioria e representou um capítulo fatal.
Recordo um debate entre figuras da imprensa, organizado em fins de 1976 por Ruth- Escobar no seu teatro paulistano. Inicialmente proibido pela ditadura por causa da minha presença entre os debatedores (incrível, não é mesmo?) e enfim liberado duas semanas após porque me caberia apenas o papel de moderador.
E o moderador, lá pelas tantas, perguntou a Ruy Mesquita, também presente, por que, diante da censura, os donos das empresas midiáticas não se tinham unido para protestar, assim como em uníssono haviam invocado o golpe. Ruy respondeu ser impossível um entendimento entre famílias tão díspares quanto Mesquita, de um lado, e Marinho, Frias, Nascimento Brito e Civita do outro. Pois agora, na esteira da candidatura Serra, e para espanto meu e dos meus botões, é possível.

TSE suspende "telemarketing do mal" de Serra

A ministra Nancy Andrighi, do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), concedeu liminar que suspende imediatamente o serviço de telefonia, realizado pela empresa Transit do Brasil S/A, em favor da candidatura do tucano José Serra. O serviço de telemarketing, denunciado nos últimos dias por vários eleitores, divulgava informações caluniosas contra a candidata Dilma Rousseff.
Eleitores e eleitoras de vários estados vêm recebendo diariamente ligações telefônicas com propaganda negativa contra a candidata Dilma Rousseff. O "telemarketing do mal" foi denunciado no começo do mês por meio de uma reportagem dos jornais Correio Braziliense e Estado de Minas, que o denominaram "telemarketing da calúnia". Trata-se de um novo procedimento dos adversários de Dilma, que espalharam uma série de boatos por e-mails e panfletos contra a candidata nos últimos meses.
Segundo o parecer, "a medida cautelar é necessária e premente, haja vista que tal propaganda irregular poderá causar estragos sem precedentes sobre a candidatura de Dilma Rousseff, do Partido dos Trabalhadores".
Os principais temas tratados na ligação dizem respeito ao aborto e ao caso Erenice Guerra. Segundo os telefonemas caluniosos, a candidata Dilma Rousseff seria a favor de que mulheres façam aborto, corrupta, chefe de quadrilha, outros termos.
Cardozo - O secretário-geral do PT, deputado José Eduardo Cardozo, comemorou a decisão. “Essa é uma das eleições em que infelizmente o subterrâneo, a calúnia e a difamação interferiram permanentemente e os nossos adversários se valeram de todos os recursos antiéticos para nos atingir”, lamentou Cardozo.
Segundo ele, com ações na Justiça, a campanha de Dilma Rousseff já conseguiu impedir a distribuição de panfletos difamatórios que estavam sendo impressos em uma gráfica ligada ao PSDB. “Tiramos o telemarketing também de circulação. E podemos nos preparar para outros ataques subterrâneos, caluniosos e difamatórios nos próximos dias”, afirmou o deputado.
No entanto, para Cardozo, a população já percebeu os instrumentos antiéticos usados pelos adversários. “Não nos intimidaremos. Nós continuaremos na Justiça lutando por nossos direitos enquanto nossos militantes, nas ruas, vão continuar defendendo nossa bandeira, nosso programa, para que no dia 31 façamos uma grande festa da vitória, porque elegeremos a primeira mulher presidente da República.”

Mercado publicitário brasileiro cresce

O mercado publicitário é um grande indicador da saúde financeira de um país. Se a economia vai bem, cresce o bolo do investimento em mídia que, inversamente, descreve quando a economia pára. Em um cenário positivo para a economia do país, o mercado brasileiro de mídia teve um crescimento de 21,4% nos primeiros nove meses deste ano de 2010. Nesse período, foram contabilizados R$ 54,350 bilhões de autorizações de mídia.
No mesmo espaço de tempo de 2009 o movimento foi de R$ 44,770 bilhões. Neste ano de Copa do Mundo e Eleições, houve incremento de ações de comunicação, sobretudo no primeiro semestre quando a elevação de negócios foi de 25%, aproximadamente.
A pesquisa do Ibope Monitor revela que a internet teve o maior crescimento entre os meios de mídia nesse período: 72%. No ano passado, as autorizações na web em nove meses chegaram a R$ 1,240 bilhão, e em 2010, a R$ 2,129 bilhões. O meio TV cresceu no período 23% com R$ 29,047 bilhões de faturamento contra R$ 23,658 bilhões de 2009. As TVs por assinatura, com 22%, também ocupam lugar de destaque na pesquisa: este ano com R$ 4,4 bilhões e R$ 3, 619 bilhões no ano anterior.
As revistas cresceram 15%, com R$ 4,379 bilhões, e os jornais, 14%, com R$ 11,484 bilhões. O meio rádio anotou 9%, cinema 8% e outdoor 11%. Neste ano o Ibope passou a calcular os investimentos em mobiliário urbano, mídia para a qual os anunciantes reservaram verba de R$ 310,221 milhões até o mês de setembro.

Globonews: um panfleto televisivo

Já tive oportunidade de dizer aqui e repito: a mística da neutralidade jornalística, da independência editorial e da imparcialidade da notícia é uma das grandes falácias sobre a qual se erigiram os impérios de comunicação do país. Ou seja, o jornalismo "verdade" se ergueu sobre rotundas mentiras.
No mundo real, todo jornalismo expressa um ponto de vista. Mesmo a chamada "notícia", que deveria "retratar o fato", retrata efetivamente uma leitura do fato e toda leitura para ser impressa ou publicada não só passa pelo filtro dos interesses políticos e econômicos dos donos da mídia mas também pelo modo de ver do próprio jornalista que escreve e descreve o ocorrido. Há um exercício simples para ver como o ponto de vista varia de pessoa para pessoa. Junte dez pessoas, olhe uma cena e depois peça que cada um descreva o que viu. Afora um elemento ou outro da cena, a leitura será diferente para cada um dos observadores. Por que? Porque o olhar é ideológico, ele retrata um modo de pensar. Coisas que chamam a sua atenção não necessariamente interessa à pessoa que está ao seu lado.
Há quem diga que com a vigência dos blogs o cenário de censura econômica ou política deixou de existir dando lugar a uma mídia "democrática", horizontal. Esqueça. Quem vende essa idéia são os impérios monopolistas da internet, como Google e Facebook. Quando falo de jornalismo falo de mecanismos de persuasão que influenciam centenas de milhares, como "organizadores coletivos"(Lenin). Internet não é mídia de massas no sentido como as teorias da comunicação interpretam o conceito. Ela tem um grande alcance pulverizado (é de massas pela quantidade) mas tem pouco impacto (é segmentada) e se presta, como se viu nessa eleição, mais para a difusão de boatos, baixarias e mentiras do que para o debate qualificado de idéias. Não forma opinião. Deforma opinião.
Também já tive a oportunidade de falar aqui de como a GloboNews perdeu completamente a vergonha e o discurso de imparcialidade para assumir de modo aberto nessas eleições a defesa da candidatura de José Serra, do PSDB, abrindo fogo sem piedade contra Dilma Rousseff, candidata do PT. Não importa se para isso é necessário não apenas distorcer os fatos, mas mentir de maneira deslavada. Dizer que o país corre o risco de "censura", por exemplo, apenas porque Lula criticou a parcialidade de certos veículos é parte da conduta desmedida da Globo e de seu jornalismo. Se há liberdade de expressão no país, por que razão ela valeria para os jornalistas da Globo e não valeria para o cidadão Luis Inácio Lula da Silva?
Hoje, mesmo diante de pesquisas que atestam uma diferença de 10 milhões de votos - no mínimo - para Dilma, o programa "Estúdio i" reuniu jornalistas de seu primeiro time para torcer pelo candidato tucano e provar, isso mesmo, provar que a eleição não está decidida e que Serra pode "protagonizar a maior virada da história". "Todas as pesquisas erraram", "Serra vai tirar a diferença em São Paulo e Minas", "Os votos de Marina [aliás, quem é Marina?] vão para Serra", disse Merval Pereira, uma espécie de comandante-em-chefe do comitê serrista no "Estúdio i".
A fantasia global é tamanha que seus jornalistas chegaram a debater o comportamento do PT como "oposição" e o reagrupamento de forças assim como a governabilidade de um suposto "governo Serra".
Eu não fumo, mas fumaria o mesmo que o jornalismo da Globo só para ver o mundo virado ao contrário da forma como eles vêem.

A direita religiosa vota Serra

No dia de Corpus Christi, umas das principais festas cristãs, o pré-candidato do PSDB, José Serra, recebeu a oração de cerca de 15 mil fiéis em uma missa no Santuário do Terço Bizantino, na capital paulista. Com ar sereno, o tucano acompanhou a cerimônia do alto de um palco-altar. Rezou, cantou e bateu palmas, acompanhado pelo prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab (DEM) e um de seus coordenadores de campanha, Caio Carvalho.
A reza de uma Ave-Maria por Serra e Kassab foi iniciativa do padre Marcelo Rossi, uma espécie de Tiririca da Igreja, que comandou a missa junto ao bispo da Arquidiocese de Santo Amaro, Dom Fernando Figueiredo. "Em ano de eleição, orem por nossos amigos, o prefeito Kassab e, de modo especial, por Serra", pediu padre Marcelo, autor de canções primárias e um dos padres mais ricos do país, explorando a boa fé de pessoas humildes.
A Igreja é uma organização política. Toda igreja o é. Não há qualquer divindade nisso. Não há santos em política, ainda quando ela toma a forma e o discurso da religião.
Que um setor da igreja assuma abertamente sua preferência pela direita é legítimo e não é novidade, vide a adesão de setores da igreja ao fascismo e ao nazismo durante a II Grande Guerra. A novidade é a truculência que passou a revestir essa luta política em um país democrático como o Brasil, com o uso aberto de cultos e templos para o proselitismo político e com o envolvimento de religiosos com práticas condenáveis, como a impressão de panfletos apócrifos ofensivos à Dilma e ao PT. Essa danação é resultante do avanço dos conservadores e do isolamento dos setores ligados à teologia da libertação, com a imposição do chamado "silêncio obsequioso" aos porta-vozes da vertente de esquerda da igreja católica, que levou alguns a romperem com a autoridade papal.
Vale destacar que não foi a direita religiosa que se aproximou de Serra, mas o contrário, foi Serra que rompeu com qualquer referência de esquerda para abraçar as bandeiras da extrema-direita, como a negação do direito das mulheres de decidir o que fazer com seu próprio corpo. Quando jovem, Serra militou na Ação Popular, organização católica contrária à ditadura e que depois se separaria da igreja para assumir a denominação APML (Ação Popular Marxista Leninista). Hoje está com a TFP (Tradição, Família e Propriedade), com os monarquistas (que propõem a restauraçào da monarquia no Brasil), com os Integralistas (movimento inspirado no fascismo italiano) e com a Igreja Católica Ortodoxa, aquela que se separou da Igreja Católica Apostólica Romana no século XI, além, é claro, dos católicos e avangélicos fundamentalistas, que defendem a perseguição a homossexuais e a condenação ao inferno de mulheres vítimas do aborto.
As sombras da Idade Média se projetam do corpo de José Serra, cobrindo seu séquito. Felizmente não cobrirão o país.

quinta-feira, outubro 28, 2010

Um ex-nazista faz boca de urna

De modo cínico, José Serra, cuja mulher confidenciou já ter feito aborto, manifestou apoio às declarações de Bento XVI, o papa que serviu nas fileiras da juventude nazista, segundo as quais os bispos católicos no Brasil deveriam recomendar votos contrários a quem defende o aborto e a eutanásia. Aconselhado pela extrema direita católica, o homem forte da igreja objetivava atingir o PT, alvo de calúnias e mentiras ao longo de todo esse processo eleitoral sujo. Mas como nenhum dos candidatos nesse segundo turno diz defender o aborto ou a eutanásia, a tentativa de boca de urna de Bento XVI caiu no vazio. O papa perdeu uma grande oportunidade de ficar calado e, como chefe de estado, evitar o constrangimento diplomático ao tentar interferir em questões internas de outra nação soberana.
Ratzinger, o nome verdadeiro por trás da alcunha papal, deve estar muito ocupado resolvendo questões pecuniárias. O Vaticano é um paraíso fiscal superior às Ilhas Cayman, além de ser proprietário de um quarto dos imóveis de Roma e de milhões de hectares de terras por todo o planeta. Isso explica Ratzinger ter esquecido o ensinamento milenar dos beneditinos, segundo o qual "o silêncio é de ouro".
Para entender melhor o que é, de fato, o Vaticano sob a administração Ratzinger, recomendo com entusiasmo a leitura de La Questua, ensaio que há meses lidera as estatísticas de vendas na Itália, embora seja ignorado pela maioria dos mass media. O volume é o fruto de anos de pesquisas realizadas por Curzio Maltese, jornalista investigativo do diário La Repubblica que há tempo indaga teimosamente sobre esses temas, batendo contra a parede de concreto e ouro das autoridades eclesiásticas.

Frase

“Em 2002 a esperança venceu o medo; agora, em 2010, a verdade vai vencer a mentira.” Leonardo Boff

quarta-feira, outubro 27, 2010

Chaui: tucanos preparam a derradeira armação

A filósofa Marilena Chaui denunciou uma provável articulação para tentar relacionar o PT e a candidatura de Dilma Rousseff à violência. De acordo com ela, alguns partidários discutiram no final de semana uma tática para usar a força durante o comício que o candidato José Serra (PSDB) fará no dia 29.
Segundo Chaui, pessoas com camisetas do PT entrariam no comício e começariam uma confusão. As cenas seriam usadas nas emissoras aliadas a Serra sem que a campanha petista pudesse responder a tempo hábil. "Dia 29, nós vamos acertar tudo, está tudo programado", disse a filósofa sobre a conversa. Para exemplificar o caso, ela disse que se trata de um novo "Caso Abílio Diniz". Em 1989, o sequestro do empresário dono do grupo Pão de Açucar foi usado para culpar o PT - chegaram a vestir um dos sequestradores com camiseta do partido - e o desmentido só ocorreu após estar sacramentada a eleição de Fernando Collor de Melo.
A denúncia foi feita durante encontro de intelectuais e pessoas ligadas à Cultura, estudantes e professores universitários e políticos, na USP, em São Paulo. "Não vai dar tempo de explicar que não fomos nós. Por isso, espalhem essa informação. Eles estão armando o derradeiro golpe"
Ela também criticou a campanha de Serra nestas eleições. "A campanha tucana passou do deboche para a obscenidade e recrutou o que há de mais reacionário, tanto na direita quanto nas religiões."

segunda-feira, outubro 25, 2010

O custo das promessas de Serra

Nutrido pela tensão eleitoral e por forte carga de oportunismo, o candidato a presidência do Brasil pelo PSDB, José Serra, vem fazendo promessas inconcebíveis para quem diz defender a redução dos gastos públicos. Abandonando a retórica da austeridade fiscal, Serra vem desfiando um rosário de promessas impossíveis de serem cumpridas sem abalar de maneira decisiva o equilíbrio das contas públicas.
A sociedade brasileira já começa a fazer as contas. Elevar o salário mínimo para R$ 600,00 custaria R$ 17,1 bilhões. Reajustar em 10% as aposentadorias custaria R$ 15,4 bilhões. Dobrar o atendimento do Bolsa-Família oneraria as contas em mais R$ 12,7 bilhões e criar o décimo terceiro para o Bolsa-Família não sairia por menos que R$ 1,04 bilhão. Apenas essas quatro promessas, se cumpridas, custariam R$ 46,2 bilhões, o equivalente a 1,3% do PIB.
Para o economista Marcelo Abi-Ramia Caetano, do Ipea, as medidas aprofundariam o deficit da Previdência, que já é de R$ 45 bilhões. Para o economista, essas promessas só poderiam ser cumpridas a duras penas cortando-se profundamente os gastos em educação, saúde e infra-estrutura, ou seja, piorando a competitividade internacional do país e reduzindo o tempo de vida e a escolaridade média das gerações futuras.

sábado, outubro 23, 2010

Rodrigo Vianna: as sombras contra Dilma

O jornalista Tony Chastinet é um especialista em desvendar ações criminosas. Sejam elas cometidas por traficantes, assaltantes de banco, bandidos de farda ou gangues do colarinho branco. Foi o Tony que ajudou a mostrar os caminhos da calúnia contra Dilma.
O Tony é também um estudioso de inteligência e contra-inteligência militar. E ele detectou, na atual campanha eleitoral, o uso de técnicas típicas de estrategistas militares: desde setembro, temos visto ações massivas com o objetivo de disseminar “falsa informação”, “desinformação” e criar “decepção” e “dúvida” em relação a Dilma. São conceitos típicos dessa área militar, mas usados também em batalhas políticas ou corporativas.
Na atual campanha, nada disso é feito às claras, até porque tiraria parte do impacto. Mas é feito às sombras, com a utilização de uma rede sofisticada, bem-treinada, instruída. Detectamos nessa campanha, desde a reta final do primeiro turno, 4 ondas de contra informação muito claras.
1) Primeira Onda – emails e ações eletrônicas: mensagens disseminadas por email ou pelas redes sociais, com informações sobre a “Dilma abortista”, “Dilma terrorista”, “Dilma contra Jesus”; foi essa técnica, associada aos sermões de padres e pastores, que garantiu o segundo turno.
2) Segunda Onda – panfletos: foi a fase iniciada na reta final do primeiro turno e retomada com toda força no segundo turno; aqueles “boatos” disformes que chegavam pela internet, agora ganham forma; o povão acredita mais naquilo que está impresso, no papel; é informação concreta, é “verdade” a reforçar os “boatos” de antes;
3) Terceira Onda – telemarketing: um passo a mais para dar crédito aos boatos; reparem, agora a informação chega por uma voz de verdade, é alguém de carne e osso contando pro cidadão aquilo tudo que ele já tinha “ouvido falar”.
4) Quarta Onda – pichações e faixas nas ruas: a boataria deixa de frequentar espaços privados e cai na rua; “Cristãos não querem Dilma e PT”; “Dilma é contra Igreja”; mais um reforço na estratégia. Faixas desse tipo apareceram ontem em São Paulo, como eu contei aqui.
O PT fica, o tempo todo, correndo atrás do prejuízo. Reparem que agora o partido tenta desarmar a onda do telemarketing. Quando conseguir, a onda provavelmente já terá mudado para as pichações.
Há também a hipótese de todas as ondas voltarem, ao mesmo tempo, com toda força, na última semana de campanha. Tudo isso não é por acaso. Há uma estratégia, como nas ações militares.
O que preocupa é que, assim como nas guerras, os que tentam derrotar Dilma parecem não enxergar meio termo: é a vitória completa, ou nada. É tudo ou nada – pouco importando os “danos colaterais” dessas ações para nossa Democracia.
Reparem que essas ondas todas não foram capazes de destruir a candidatura de Dilma. Ao contrário, a petista parece ter recuperado força na última semana. Mas as dúvidas sobre Dilma ainda estão no ar.
Minha mulher fez uma “quali” curiosa nos últimos dias. Saiu perguntando pro taxista, pro funcionário da oficina mecânica, pro vigia da rua de baixo, pra moça da farmácia: em quem vocês vão votar? Nessa eleição, pessoas humildes- quando são indagadas por alguém de classe média sobre o assunto - parecem se intimidar. Uns disseram, bem baixinho: “voto na Dilma”, outros disseram “não sei ainda”. Quando minha mulher disse que ia votar na Dilma, aí as pesoas se abriram, declararam voto. Mas ainda com algum medo de serem ouvidos por outros que chamam Dilma de “terrorista”, “vagabunda”, “matadora de criancinhas”.
O que concluo: as técnicas de contra-inteligência de Serra conseguiram deixar parte do eleitorado de Dilma na defensiva. As pessoas – em São Paulo, sobretudo - têm certo medo de dizer que vão votar em Dilma.
Esse eleitorado pode ser sensível a escândalos de última hora. Não falo de Erenice, Receita Federal, Amaury – nada disso.
Tony teme que as o desdobramento final da campanha (ou seja a “Quinta Onda”) inclua técnicas conhecidas nessa área estratégico-militar: criar fatos concretos que façam as pessoas acreditarem nos boatos espalhados antes.
Do que estamos falando? Imaginem uma Igreja queimando no Nordeste, e panfletos de petistas espalhados pela Igreja. Imaginem um carro de uma emissora de TV ou editora quebrado por “raivosos petistas”.

Paranóia?

Não. Lembrem como agiam as forças obscuras que tentaram conter a redemocratização no Brasil no fim dos anos 70. Promoveram atentados, para jogar a culpa na esquerda, e mostrar que democracia não era possível porque os “terroristas” da esquerda estavam em ação. Às vezes, sai errado, como no RioCentro.
Por isso, vejo com extrema preocupação o que ocoreu hoje no Rio: militantes do PT e PSDB se enfrentaram numa passeta de Serra. É tudo que o que os tucanos querem na reta final: a estratégia, a lógica, leva a isso. Eles precisam de imagens espataculares de “violência”, da “Dilma perigosa”, do “PT agitador” – para coroar a campanha iniciada em agosto/setembro.
Espero que o Tony esteja errado, e que a Quinta Onda não venha. Se vier, vai estourar semana que vem: quando não haverá tempo para investigar, nem para saber de onde vieram os ataques.
Tudo isso faz ainda mais sentido depois de ler o que foi publicado aqui , pelo ”Correio do Brasil”: uma Fundação dos EUA mostra que agentes da CIA e brasileiros cooptados pela CIA estariam atuando no Brasil – exatamente como no pré-64.
Como já disse um leitor: FHC queria fazer do Brasil um México do sul (dependente dos EUA), Serra talvez queira nos transformar em Honduras (com instituições em frangalhos).
Os indícios estão todo aí. Essa não é uma campanha só “política”. Muito mais está em jogo. Técnicas de inteligência militares estão sendo usadas. Bobagem imaginar que não sejam aprofundadas nos dez dias que sobram de campanha.
Por isso, o desespero do PSDB com as pesquisas. Ele precisa chegar à ultima semana com diferença pequena. Se abrir muito, até a elite vai desconfiar das atitudes das sombras, vai parecer apelação demais.
Por último, uma pergunta: por que o “JN” adiou o Ibope – que deveria ter sido divulgado ontem? Porque Serra estava na bancada do jornal.
A Globo não quis constranger Serra com uma pesquisa ruim? Imaginem as pressões sobre Montenegro, de ontem pra hoje? O PSDB precisa segurar a diferença em 8 pontos no máximo.Para que a estratégina de ataque final, na última semana, tenha chance de surtir efeitos.
Estejamos preparados pra tudo. E evitemos entregar à turma das sombras o que ela quer: agressões contra Serra, contra Igrejas, contra carros de reportagem.
O Brasil precisa respirar fundo e passar por esse túnel de sombras em que acampanha de Serra nos lançou.

por Rodrigo Vianna

sexta-feira, outubro 22, 2010

Retórica serrista

Quando Dilma vê seu percentual de intenção votos reduzido em uma pesquisa, o jornalismo da Globo comemora: ¨Dilma caiu¨. Isso ocorreu na primeira pesquisa publicada no segundo turno, do instituto Sensus. Quando o mesmo ocorre com Serra, ou seja, quando os percentuais atribuídos ao tucano minguam, como se tornou recorrente nas últimas semanas, o jornalismo da Globo aplica um generoso ¨o candidato do PSDB oscilou negativamente¨.

PSOL: nenhum voto em Serra

A Executiva Nacional do PSOL definiu sua posição para o 2º turno das eleições presidenciais: nenhum voto a Serra, reconhecendo a possibilidade de voto nulo ou voto crítico a Dilma por parte da militância. O deputado federal Ivan Valente, assim como toda a bancada federal do partido na Câmara, declarou voto crítico na candidata Dilma. Ivan discorda da visão que iguala as duas candidaturas. “A eleição de Serra será um desastre para o debate político na América Latina, significará o avanço ainda maior das privatizações, como vimos na atuação da bancada do PSDB/DEM no debate sobre o pré-sal, e uma repressão sem tréguas aos movimentos sociais, além de abrir espaço para o fundamentalismo religioso carregado de ódio e preconceito”, disse.

Mino Carta: a grande mídia e sua vocação ficcional

Nunca na história eleitoral brasileira a mídia nativa mostrou tamanho pendor para a ficção.
Há quatro meses CartaCapital publicou a verdade factual a respeito do caso da quebra do sigilo fiscal de personalidades tucanas. Está claro que a chamada grande imprensa não quer a verdade factual, prefere a ficcional, sem contar que em hipótese alguma repercutiria informações veiculadas por esta publicação. Nem mesmo se revelássemos, e provássemos, que o papa saiu com Gisele Bündchen.
Furtei a expressão verdade factual de um ensaio de Hannah Arendt, lido nos tempos da censura brava na Veja que eu dirigia. Ela é o que não se discute. Diferencia-se, portanto, das verdades carregadas aos magotes por cada qual. Correspondem às visões que temos da vida e do mundo, às convicções e às crenças. Às vezes, às esperanças, às emoções, ao bom e ao mau humor.
Por exemplo: eu me chamo Mino e neste momento batuco na minha Olivetti. Esta é a verdade factual. Quatro meses depois da reportagem de CartaCapital sobre o célebre caso, a Polícia Federal desvenda o fruto das suas investigações. Coincide com as nossas informações. O sigilo não foi quebrado pela turma da Dilma, e sim por um repórter de O Estado de Minas, acionado porque o deputado Marcelo Itagiba estaria levantando informações contra Aécio Neves.
Nesta edição, voltamos a expor, com maiores detalhes, a verdade factual. E a mídia nativa? Desfralda impavidamente a verdade ficcional. Conta aquilo que gostaria que fosse e não é. Descreve, entre o ridículo e o delírio, uma realidade inexistente, porque nela Dilma leva a pior, como se a própria candidata petista fosse personagem de ficção. Estamos diante de um faz de conta romanesco, capaz talvez de enganar prezados leitores bem-postos na vida, tomados por medos grotescos e frequentemente movidos a ódio de classe.
Ao sabor do entrecho literário, pretende-se a todo custo que o repórter Amaury Ribeiro Jr. tenha trabalhado a mando de Dilma. Desde a quarta 20, a Folha de S.Paulo partiu para a denúncia com uma manchete de primeira página digna do anúncio da guerra atômica. Ao longo do dia, via UOL, teve de retocá-la até engatar a marcha à ré.
Deu-se que a Polícia Federal entrasse em cena para confirmar com absoluta precisão os dados do inquérito e para excluir a ligação entre o repórter e a campanha petista.
O recorde em matéria de brutal entrega à veia ficcional cabe, de todo modo, à manchete de primeira página de O Globo de quinta 21, obra-prima de fantasia ou de hipocrisia, de imaginação desvairada ou de desfaçatez. Não custa muito esforço constatar que o jornal da família Marinho acusa a PF de trabalhar a favor de Dilma, com o pronto, inescapável endosso do Estadão. Texto da primeira página soletra que, segundo “investigação da PF, partiu da campanha de Dilma Rousseff a iniciativa de contratar o jornalista”. Aqui a acusação se agrava: de acordo com o jornalão, o diretor da PF, Luiz Fernando Corrêa, a quem coube apresentar à mídia os resultados do inquérito, é mentiroso.
Seria este jornalismo? Não hesito em afirmar que nunca, na história das eleições brasileiras pós-guerra, a mídia nativa permitiu-se trair a verdade factual de forma tão clamorosa. Tão tragicômica. Com destaque, na área da comicidade, para a bolinha de papel que atingiu a calva de José Serra.
A fidelidade canina à verdade factual é, a meu ver, o primeiro requisito da prática do jornalismo honesto. Escrevia Hannah Arendt: “Não há esperança de sobrevivência humana sem homens dispostos a dizer o que acontece, e que acontece porque é”. Este final, “porque é”, há de ser entendido como o registro indelével, gravado para sempre na teia misteriosa do tempo. A verdade factual é.
Dulcis in fundo: na festa da premiação das Empresas Mais Admiradas no Brasil, noite de segunda 18, o presidente Lula contou os dias que o separam da hora de abandonar o cargo e deixou a plateia de prontidão para as palavras e o tom do seu tempo livre pós-Presidência. Não mais “comedido”, como convém ao primeiro mandatário. E palavras e tom vai usá-los em CartaCapital. Apresento o novo, futuro colunista: Luiz Inácio Lula da Silva.
Por enquanto, ao presidente e à sua candidata não faltou na festa o apoio de dois qualificadíssimos representantes do empresariado. Roberto Setubal falou em nome dos seus pares. Abilio Diniz, de certa forma a representar também os consumidores, em levas crescentes na qualidade de novos incluídos.
A mídia nativa não deu eco, obviamente, a estes pronunciamentos muito significativos.

Datafolha reconhece: Dilma vai vencer

O instituto Datafolha divulgou na madrugada de hoje nova pesquisa presidencial no segundo turno das eleições deste ano. Segundo o instituto, a candidata do PT, Dilma Rousseff, tem 56% dos votos válidos (que excluem brancos, nulos e indecisos), e o candidato do PSDB, José Serra, 44%.
A margem de erro da pesquisa é de dois pontos percentuais para mais ou para menos. Isso significa que Dilma pode ter de 54% a 58%, e Serra, de 42% a 46%.
Na primeira pesquisa realizada pelo Datafolha no segundo turno, divulgada no último dia 10, Dilma registrou 54% dos votos válidos contra 46% de Serra. Na segunda pesquisa realizada pelo instituto, divulgada no último dia 15, os números se repetiram: Dilma também registrou 54% dos votos válidos, e Serra, 46%.
A pesquisa foi encomendada pela TV Globo e pelo jornal “Folha de S.Paulo” e está registrada no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) com o número 36.535/2010. O Datafolha fez 4.037 entrevistas na quinta-feira (21) em 243 cidades.
Votos totais - Considerando-se os votos totais (que incluem brancos, nulos e indecisos), a petista tem 50%, e o tucano, 40%. Brancos e nulos somam 4%, e 6% disseram não saber em quem votar. Na pesquisa anterior, Dilma registrou 47%, e Serra, 41%. Brancos e nulos somaram 4%, e indecisos, 8%.

quinta-feira, outubro 21, 2010

Hipocondria

José Serra representa o máximo da hipocondria: teve a cabeça atingida por uma bolinha de papel durante um tumulto no Rio e correu para fazer uma tomografia computadorizada. Se tiver uma bronquite vai querer fazer transplante de pulmão.

quarta-feira, outubro 20, 2010

Zé Dirceu: Globo esconde os fatos

Impressionante, mas a cobertura da Rede Globo sobre a campanha presidencial esconde ao máximo um dos principais escândalos desta reta final da disputa. Seus telejornais não veiculam as denúncias feitas pelo próprios tucanos de que o principal arrecadador de campanhas do candidato José Serra (PSDB-DEM-PPS), Paulo Vieira de Souza, o Paulo Preto, teria sumido com R$ 4 milhões obtidos ilegalmente junto a empresas.
O que se constata é que mais de 30 anos depois, a Rede Globo não aprendeu nada com os tempos em que defendia a ditadura militar (1964-1985) e nem com o escamoteamento na cobertura das Diretas Já (que escondeu por completo), quando se ouvia nas ruas e praças de todo o Brasil o refrão que virou palavra de ordem: "o povo não é bobo, fora a Rede Globo".
De nada adiantou nem mesmo a lição que ela deveria ter aprendido daquele repúdio unânime do Oiapoque ao Chui diante do apoio que dava ao regime militar e a censura explícita que se auto-impôs em sua cobertura à campanha das Diretas.
Poderia aprender, ou pelo menos lembrar-se que mesmo diante de sua autocensura, a mobilização popular se impôs e ao final ela foi obrigada a noticiar tanto a derrocada do regime militar quanto o êxito da campanha pela volta das eleições diretas (já) de presidente da República. Assim como se impôs no impeachment do presidente Fernando Collor de Mello, obrigando a emissora mais uma vez a noticiar a verdade e os fatos que inicialmente escondeu.
A realidade de novo vai se impôr, mesmo que ainda vivamos e assistamos nessa campanha eleitoral para presidente da República a reedição da autocensura da Rede Globo e ao uso descarado e aberto do seu noticiário para apoiar determinado candidato.
A vocês que acompanham o noticiário, precisam e merecem ser bem informados, eu aponto uma alternativa: a Rede Record de TV está dando um banho nas concorrentes, particularmente na Rede Globo, e sua cobertura da campanha dá amplo espaço até a escândalos que envolvem a campanha tucana, inclusive ao caso Paulo Vieira de Souza. Não deixem de vê-la.

Do Blog de Zé Dirceu

Blog do Nassif: Dossiê Serra foi armado por Aécio

Para entender melhor o inquérito da Polícia Federal sobre a quebra do sigilo fiscal dos tucanos.
As investigações foram encerradas na semana passada, inclusive com a tomada de depoimento do repórter Amaury Jr por mais de dez horas.
A conclusão final do inquérito foi a de que Amaury trabalhou o dossiê a serviço do Estado de Minas e do governador Aécio Neves - como uma forma de se defender de esperados ataques de José Serra.
Em negociação com o Palácio, a cúpula da Polícia Federal decidiu segurar as conclusões para após as eleições, para não dar margem a nenhuma interpretação de que o inquérito pudesse ter influência política.
No entanto, a advogada de Eduardo Jorge - que tem acesso às peças do inquérito por conta de uma liminar na Justiça - conseguiu as informações. Conferindo seu conteúdo explosivo, aparentemente pretendeu montar um antídoto. Vazou as informações para a Folha, dando ênfase ao acessório - a aproximação posterior de Amaury com a pré-campanha de Dilma - para diluir o essencial - o fato de que o dossiê foi fogo amigo no PSDB.
Neste momento - segundo informações de repórteres de Brasília com acesso a investigadores - discute-se na PF a oportunidade ou não de uma coletiva para colocar as peças no devido lugar.
Aparentemente, a operação de Eduardo Jorge acabou sendo um tiro no pé. A partir de agora, não haverá como a velha mídia ignorar o inquérito e suas conclusões.

Do Blog do Nassif

segunda-feira, outubro 18, 2010

A danação da mídia e os mineiros chilenos

Inegavelmente um drama humano, o confinamento e resgate de 33 mineiros no Chile ganhou a mídia de uma forma absolutamente exagerada e não teve o desdobramento óbvio: uma forte denúncia internacional e correspondente cobrança mundial devido às péssimas condições de trabalho a que são submetidos os trabalhadores da mineração no país vizinho.
Passada a comoção fanática que se gerou em torno da questão – houve quem dissesse que os 33 mineiros eram 33 como representação da idade de Cristo e que isso simbolizava uma espécie de mensagem divina codificada - a cobertura do resgate, realizada por vários veículos de mídia locais e estrangeiros, começa agora a gerar críticas em artigos e sites de universidades, que questionavam a relevância e o exagero na abordagem do assunto.
O professor da Universidade de Nova York, Jay Rosen, declarou: "É uma boa história, mas 1,3 mil jornalistas corresponde à realidade?" Até mesmo jornais, como o The Guardian e o The New York Times, relataram os excessos cometidos pelos meios de comunicação, e deram como exemplo a rede britânica estatal BBC, que extrapolou seu orçamento ao realizar a cobertura do resgate.
O professor da Universidade Lehigh, Jeremy Littau, também comentou em seu blog o exagero da mídia ao acompanhar, minuto a minuto, as operações na mina San José. Littau disse que a imprensa se preocupa "apenas com a audiência", mas é mais grave: a imprensa agiganta um fato menor para transformá-lo em comoção e com isso gerar audiência. "Mil e trezentos jornalistas! Imagina o que poderíamos fazer com isso? Por que cada canal de TV precisa ter sua própria câmera e seu próprio repórter na era do satélite? O que vejo é uma indústria desperdiçando recursos financeiros e humanos", escreveu Littau.
No Brasil, três canais pagos de notícias - GloboNews, BandNews e Record News - transmitiram o resgate ininterruptamente em tempo real. Além disso, entre as emissoras abertas, a Band conseguiu aumentar sua audiência em 5 pontos nos horários entre 23h29 às 23h55 e de 0h05 às 0h18, entre terça (12) e quarta (13), momento em que as primeiras imagens do resgate começaram a ser veiculadas.
Nenhuma dessas emissoras olhou para o fato relevante dessa questão: se houvesse fiscalização da segurança e leis trabalhistas severas a empresa e o país estariam sendo linchados internacionalmente. Mas o que ocorre é o contrário.
O exagero começa com as chamadas, que rotulam os mineiros de “heróis”. Para os Gregos, que inventaram a palavra, o herói situa-se na posição intermédia entre os deuses e os homens, sendo, em geral filho de um deus e uma mortal. Um herói é, portanto, um semideus, um ser acima dos homens e mulheres comuns.
O herói é marcado por uma projeção ambígua: por um lado, representa a condição humana, na sua complexidade psicológica, social e ética; por outro, transcende a mesma condição, na medida em que representa as facetas e virtudes que o homem comum não consegue, mas gostaria de atingir. Já os 33 homens presos em um buraco lutaram por sua própria sobrevivência; apenas isso. Coisa que qualquer mortal comum faria e faz, a cada dia. Os mineiros chilenos foram vítimas e não heróis.

sexta-feira, outubro 15, 2010

Glória e tragédia

Golpe de estado; resistência e assassinato de Allende; tortura e execução de presos políticos; terremotos, terremotos, terremotos; sobreviventes dos Andes comendo carne humana; mineiros soterrados.. Se Shakespeare fundasse um país, ele se chamaria Chile.

O país ardendo na fogueira

Em que pese o avanço das forças conservadoras, acredito no Brasil e por isso acredito na vitória de Dilma, que comanda as fileiras do bem nessa fronteira improvável entre o século XXI e a Idade Média. Mas me confesso surpreso. Eu acreditava que um certo discurso, movido pelo ódio e alimentado pelo preconceito, havia sido varrido desse Brasil que se pôs de pé depois que um operário, um simples operário, assumiu o comando da nação. Esse país que cresce, que superou a crise, que se agigantou diante do mundo, não pode ser refém dos preconceitos direitistas que levaram aos golpes de estado que cortaram fundo a nossa história ao longo do século XX. Comemorei cedo demais. Minha caixa de mensagens é a prova de que o mal existe e nunca esteve tão ativo, tão excitado. O que tenho recebido de mensagens eivadas de ódio e preconceito contra o PT, contra a esquerda, contra Lula e Dilma, contra os pobres, é a prova de que esse Brasil obscuro e triste ainda vive e tem, sim, a capacidade de, mais uma vez, atrasar a roda da história. É preciso reagir. Sobretudo, com altivez. É preciso levantar a cabeça, erguer o punho e enfrentar os fascistas de frente. Mas onde está o inimigo? A internet tem o inconveniente de ser um labirinto propício ao jogo sujo, ao acobertamento do anomimato, aos dissimulados. Os ratos procriam sem limite na arena digital. Do email mf1396825@gmail.com recebi um libelo de ódio. O remetente assina com a alcunha "Christus". Um biltre que se diz cristão, mas está na contra-mão dos ensinamentos de amor ao próximo e se vale do medo, do atraso, para suscitar apoio político a José Serra, o símbolo de um país que nos envergonhava a todos. "Que país é esse?", perguntavam os jovens quando Serra e FHC comandavam o Brasil. A pergunta voltará e com ela o estranhamento, caso eles retomem os postos de mando. Entre outros temas dos emails do mal, o predileto dos reacionários: o aborto. Para atacar Dilma e o PT, se valem da mentira e da desinformação. Esquecem, contudo, de lembrar que quem autorizou o aborto legal no Brasil foi José Serra, quando Ministro da Saúde de Fernando Henrique. Mas isso para eles é só um detalhe. Para os reacionários o que vale não é a verdade dos fatos, mas colocar lenha na fogueira e ver arder a carne alheia. No que depender dos conservadores, é a volta da selvageria religiosa como arma política, em uma eleição onde a imprensa e a direita não debatem nada que não seja a melhor forma de fazer o país andar para trás. Eu creio. O Brasil será mais forte que eles. Para o bem do Brasil.

quinta-feira, outubro 14, 2010

Frase

“Nada é tão inacreditável que a retórica não possa tornar aceitável”. Marco Túlio Cícero

Frase

"O sucesso é mais duradouro quando o conquistamos sem destruir nossos princípios". Walter Cronkite.

sexta-feira, outubro 08, 2010

Boff: os movimentos sociais unem Dilma e Marina

O Brasil está ainda em construção. Somos inteiros, mas não acabados. Nas bases e nas discussões políticas sempre se suscita a questão: que Brasil finalmente queremos?

É então que surgem os vários projetos políticos elaborados a partir de forças sociais com seus interesses econômicos e ideológicos com os quais pretendem moldar o Brasil.

Agora, no segundo turno das eleições presidenciais, tais projetos repontam com clareza. É importante o cidadão consciente dar-se conta do que está em jogo para além das palavras e promessas e se colocar criticamente a questão: qual dos projetos atende melhor às urgências das maiorias que sempre foram as "humilhadas e ofendidas" e consideradas "zeros econômicos" pelo pouco que produzem e consomem.

Essas maiorias conseguiram se organizar, criar sua consciência própria, elaborar o seu projeto de Brasil e digamos, sinceramente, chegaram a fazer de alguém de seu meio, Presidente do país, Luiz Inácio Lula da Silva. Foi uma virada de magnitude histórica.

Há dois projetos em ação: um é o neoliberal ainda vigente no mundo e no Brasil apesar da derrota de suas principais teses na crise econômico-financeira de 2008. Esse nome visa dissimular aos olhos de todos, o caráter altamente depredador do processo de acumulação, concentrador de renda que tem como contrapartida o aumento vertiginoso das injustiças, da exclusão e da fome. Para facilitar a dominação do capital mundializado, procura-se enfraquecer o Estado, flexibilizar as legislações e privatizar os setores rentáveis dos bens públicos.

O Brasil sob o governo de Fernando Henrique Cardoso embarcou alegremente neste barco a ponto de no final de seu mandato quase afundar o Brasil. Para dar certo, ele postulou uma população menor do que aquela existente. Cresceu a multidão dos excluídos. Os pequenos ensaios de inclusão foram apenas ensaios para disfarçar as contradições inocultáveis.

Os portadores deste projeto são aqueles partidos ou coligações, encabeçados pelo PSDB que sempre estiveram no poder com seus fartos benesses. Este projeto prolonga a lógica do colonialismo, do neocolonialismo e do globocolonialismo, pois sempre se atém aos ditames dos países centrais.

José Serra, do PSDB, representa esse ideário. Por detrás dele estão o agrobusiness, o latifúndio tecnicamente moderno e ideologicamente retrógrado, parte da burguesia financeira e industrial. É o núcleo central do velho Brasil das elites que precisamos vencer pois elas sempre procuram abortar a chance de um Brasil moderno com uma democracia inclusiva.

O outro projeto é o da democracia social e popular do PT. Sua base social é o povo organizado e todos aqueles que pela vida afora se empenharam por um outro Brasil. Este projeto se constrói de baixo para cima e de dentro para fora. Que forjar uma nação autônoma, capaz de democratizar a cidadania, mobilizar a sociedade e o Estado para erradicar, a curto prazo, a fome e a pobreza, garantir um desenvolvimento social includente que diminua as desigualdades. Esse projeto quer um Brasil aberto ao diálogo com todos, visa a integração continental e pratica uma política externa autônoma, fundada no ganha-ganha e não na truculência do mais forte.

Ora, o governo Lula deu corpo a este projeto. Produziu uma inclusão social de mais de 30 milhões, e uma diminuição do fosso entre ricos e pobres, nunca assistido em nossa história. Representou em termos políticos uma revolução social de cunho popular, pois deu novo rumo ao nosso destino. Essa virada deve ser mantida, pois faz bem a todos, principalmente às grandes maiorias, pois lhes devolveu a dignidade negada.

Dilma Rousseff se propõe garantir e aprofundar a continuidade deste projeto que deu certo. Muito foi feito, mas muito falta ainda por fazer, pois a chaga social dura já há séculos e sangra.

É aqui que entra a missão de Marina Silva com seus cerca de vinte milhões de votos. Ela mostrou que há uma faceta significativa do eleitorado que quer enriquecer o projeto da democracia social e popular. Esta precisa assumir estrategicamente a questão da natureza, impedir sua devastação pelas monoculturas, ensaiar uma nova benevolência para com a Mãe Terra. Marina em sua campanha lançou esse programa. Seguramente se inclinará para o lado de onde veio, o PT, que ajudou a construir e agora a enriquecer. Cabe ao PT escutar esta voz que vem das ruas e com humildade saber abrir-se ao ambiental proposto por Marina Silva.

Sonhamos com uma democracia social, popular e ecológica que reconcilie ser humano e natureza para garantir um futuro comum feliz para nós e para a humanidade que nos olha cheia de esperança.

(*) Leonardo Boff é teólogo

2010 não é 1964

Os noticiários de TV e os mais importantes jornais impressos do país vivem uma euforia similar àquela que tomou conta das elites brasileiras em março-abril de 1964. Marcham com entusiasmo e levam em seus estandartes negros palavras de ordem que só olham para o passado. Marcham de costas para o futuro. À frente disso, uma legenda que foi fundada sob a égide de uma nova ética. Por isso não deixa de ser lamentável ver como o PSDB de José Serra abraçou sem qualquer constrangimento um discurso antes só audível na boca da extrema direita. No eco desse burburinho golpista retorna com ferocidade ao centro da cena o entusiasmo direitista que se apresentou pela primeira vez em 2005, quando tendo como porta-voz a revista Veja, se pediu a derrubada do presidente legitimamente eleito pela esmagadora maioria dos brasileiros e se quis fazer dos brasileiros uma massa de manobra ativa para que o país fosse novamente entregue aos mesmos de sempre e reconduzido ao passado. Vivemos a danação dos preconceitos. Contra os pobres, contra as mulheres, contra a esquerda. Dilma, lutadora e sobrevivente da ditadura pós-64, é só a vítima da hora. Os ataques às conquistas sociais, aos mais pobres e suas escolhas proliferam, assim como se propagam mentiras descabidas, disparadas na latrina da internet, assacadas contra o PT e sua candidata, as mesmas aliás que antes eram arremessadas contra o operário Luis Inácio Lula da Silva - aquele teimoso trabalhador que fundara um partido e vivia obcecado pela idéia de ser presidente. É triste ver que os abonados que animam a direita considerem que vivem em um país de tiriricas, figuras frágeis e risíveis, manipuláveis e burlescas. Não sabem que o país é outro. O povo brasileiro não é mais esse instrumento da ideologia que perpetua a miséria. Não mais. 2010 não é 1964. Não passarão! Não passarão!

quarta-feira, outubro 06, 2010

O voto dos mais pobres vale menos?

O jornal O Estado de São Paulo teve uma atitude que considero digna: explicitou aos leitores que apoia o candidato Serra na presente eleição. Fica assim mais honesta a discussão que se faz em suas páginas. O debate eleitoral que nos conduzirá às urnas está acirrado. Eleitores se declaram exaustos e desiludidos com o vale-tudo que marcou a disputa pela Presidência da República. As campanhas, transformadas em espetáculo televisivo, não convencem mais ninguém. Apesar disso, alguma coisa importante está em jogo este ano. Parece até que temos luta de classes no Brasil: esta que muitos acreditam ter sido soterrada pelos últimos tijolos do Muro de Berlim. Na TV a briga é maquiada, mas na internet o jogo é duro.

Se o povão das chamadas classes D e E - os que vivem nos grotões perdidos do interior do Brasil - tivesse acesso à internet, talvez se revoltasse contra as inúmeras correntes de mensagens que desqualificam seus votos. O argumento já é familiar ao leitor: os votos dos pobres a favor da continuidade das políticas sociais implantadas durante oito anos de governo Lula não valem tanto quanto os nossos. Não são expressão consciente de vontade política. Teriam sido comprados ao preço do que parte da oposição chama de bolsa-esmola.

Uma dessas correntes chegou à minha caixa postal vinda de diversos destinatários. Reproduzia a denúncia feita por "uma prima" do autor, residente em Fortaleza. A denunciante, indignada com a indolência dos trabalhadores não qualificados de sua cidade, queixava-se de que ninguém mais queria ocupar a vaga de porteiro do prédio onde mora. Os candidatos naturais ao emprego preferiam viver na moleza, com o dinheiro da Bolsa-Família. Ora, essa. A que ponto chegamos. Não se fazem mais pés de chinelo como antigamente. Onde foram parar os verdadeiros humildes de quem o patronato cordial tanto gostava, capazes de trabalhar bem mais que as oito horas regulamentares por uma miséria? Sim, porque é curioso que ninguém tenha questionado o valor do salário oferecido pelo condomínio da capital cearense. A troca do emprego pela Bolsa-Família só seria vantajosa para os supostos espertalhões, preguiçosos e aproveitadores se o salário oferecido fosse inconstitucional: mais baixo do que metade do mínimo. R$ 200 é o valor máximo a que chega a soma de todos os benefícios do governo para quem tem mais de três filhos, com a condição de mantê-los na escola.

Outra denúncia indignada que corre pela internet é a de que na cidade do interior do Piauí onde vivem os parentes da empregada de algum paulistano, todos os moradores vivem do dinheiro dos programas do governo. Se for verdade, é estarrecedor imaginar do que viviam antes disso. Passava-se fome, na certa, como no assustador Garapa, filme de José Padilha. Passava-se fome todos os dias. Continuam pobres as famílias abaixo da classe C que hoje recebem a bolsa, somada ao dinheirinho de alguma aposentadoria. Só que agora comem. Alguns já conseguem até produzir e vender para outros que também começaram a comprar o que comer. O economista Paul Singer informa que, nas cidades pequenas, essa pouca entrada de dinheiro tem um efeito surpreendente sobre a economia local. A Bolsa-Família, acreditem se quiserem, proporciona as condições de consumo capazes de gerar empregos. O voto da turma da "esmolinha" é político e revela consciência de classe recém-adquirida.

O Brasil mudou nesse ponto. Mas ao contrário do que pensam os indignados da internet, mudou para melhor. Se até pouco tempo alguns empregadores costumavam contratar, por menos de um salário mínimo, pessoas sem alternativa de trabalho e sem consciência de seus direitos, hoje não é tão fácil encontrar quem aceite trabalhar nessas condições. Vale mais tentar a vida a partir da Bolsa-Família, que apesar de modesta, reduziu de 12% para 4,8% a faixa de população em estado de pobreza extrema. Será que o leitor paulistano tem ideia de quanto é preciso ser pobre, para sair dessa faixa por uma diferença de R$ 200? Quando o Estado começa a garantir alguns direitos mínimos à população, esta se politiza e passa a exigir que eles sejam cumpridos. Um amigo chamou esse efeito de "acumulação primitiva de democracia".

Mas parece que o voto dessa gente ainda desperta o argumento de que os brasileiros, como na inesquecível observação de Pelé, não estão preparados para votar. Nem todos, é claro. Depois do segundo turno de 2006, o sociólogo Hélio Jaguaribe escreveu que os 60% de brasileiros que votaram em Lula teriam levado em conta apenas seus próprios interesses, enquanto os outros 40% de supostos eleitores instruídos pensavam nos interesses do País. Jaguaribe só não explicou como foi possível que o Brasil, dirigido pela elite instruída que se preocupava com os interesses de todos, tenha chegado ao terceiro milênio contando com 60% de sua população tão inculta a ponto de seu voto ser desqualificado como pouco republicano.

Agora que os mais pobres conseguiram levantar a cabeça acima da linha da mendicância e da dependência das relações de favor que sempre caracterizaram as políticas locais pelo interior do País, dizem que votar em causa própria não vale. Quando, pela primeira vez, os sem-cidadania conquistaram direitos mínimos que desejam preservar pela via democrática, parte dos cidadãos que se consideram classe A vem a público desqualificar a seriedade de seus votos.

Maria Rita Kehl - O Estado de S.Paulo

TV volta a ser mídia dominante no Reino Unido

A televisão se recuperou no mais recente raio-x do mercado de propaganda no Reino Unido. Depois de ter perdido o posto para a internet em termos de investimentos publicitários em 2009, o meio voltou a liderar como maior mídia no país. As informações são do site do jornal britânico Financial Times.

Dados recentemente publicados pelo Interactive Adverstising Bureau mostram que nos primeiros seis meses do ano de 2010 a TV teve média de 25,5% participação frente a 24,3% da internet, 17,3% de meios impressos. O restante pertence a outras mídias.

O resultado, entretanto, não significa propriamente um declínio do meio digital. A internet teve aumento de 10% na verba no primeiro semestre de 2010, frente a 4,2% marcados no mesmo período do ano passado, total de 2,64 bilhões de dólares. Entretanto, a TV cresceu mais: 16%. De forma geral, o mercado se saiu bem no país, melhorou em 6,3% o investimento em relação aos seis primeiros meses de 2009.

De acordo com os dados do IAB, a TV não é o único meio tradicional que demonstra melhoras em relação à internet. Cinema e outdoor cresceram 12% e 16%, respectivamente, e se recuperaram frente ao resultado do ano anterior. A propaganda de classificados, por sua vez, voltou a registrar resultados negativos.

A aposta da consultoria Ender Analysis, ouvida pela reportagem, é de que o mercado britânico de propaganda deva crescer 3,7% até o fim do ano e atingir 23,8 bilhões de dólares, embora a previsão seja de que em 2001 haja queda de pouco mais de 1%. "Um sentimento de apreensão paira sobre 2011, em meio a alertas precoces de desaceleração do crescimento económico no Reino Unido e os nossos parceiros comerciais", comentou a empresa.

No âmbito digital, os dados o IAB apontam para maior investimento em sites de vídeos online, como o YouTube, e redes sociais como Facebook e Twitter. Isso além, é claro, do forte investimento de propaganda no modelo de links patrocinados.

De acordo com o FT, empresas de entretenimento e mídia, finanças e bens de consumo foram os maiores anunciantes da internet no primeiro semestre. Destaque para Procter & Gamble e Unilever, que cada vez mais dispendem investimentos no mundo digital. A expectativa, segundo a reportagem, é que a internet cresça 9,8% até o fim de 2010, número que deve cair para 7,4% em 2011.

Movimentos que dominam a propaganda

Publicitária brasileira, Suzana Apelbaum escreveu artigo publicado no Adweek no qual comenta o que dá as cartas atualmente na propaganda. Diretora de Criação da StrawberryFrod de NY, EUA, Suzana alerta para a necessidade de marcas engajarem cada vez mais os consumidores por meio de ações e movimentos e não apenas pelo meio tradicional.

Confira a tradução publicada na revista Exame:

Movimento de marketing em sua essência

Marca de conteúdo, entretenimento de marca, cross-media marketing, marketing em nuvem, marketing viral, marketing de causa ou marketing de guerrilha - você pode estar cansado dos nomes. Eu estou.

Mas a verdade é que, a fim de se manter em alerta com os comportamentos dos consumidores em constante mutação, a publicidade deve continuar a reinventar-se ou vestir-se com nomes e abordagens diferentes.

A mais nova etiqueta? Movimento de marketing. É uma virada de jogo - ou a saída é apenas vestir uma fantasia?

Ao contrário da publicidade tradicional, o marketing de movimento começa por encontrar uma ideia sobre a ascensão dentro da cultura e tenta capturá-lo dramaticamente e emocionalmente. Basicamente, movimentos que necessitam de escala a ser formulada no "agora". A marca, em seguida, define e declara o seu ponto de vista, paixões e convida os consumidores a participar e co-criar com a marca.

Em termos de marketing de movimento, o objetivo é fazer com que as pessoas sintam que não estão apenas comprando uma marca, mas se "juntam" à marca que compartilha seus valores pessoais.

Movimentos de "pensar grande" acontecem porque as pessoas gostam de ser parte de algo emocionante e inspirador. Neste contexto, as pessoas têm uma relação positiva com a marca que as preparam para a sua abordagem próxima ou inovação.

Grandes empresas já estão descobrindo que os movimentos são mais valiosos do que as campanhas. A Apple percebeu isso anos atrás. A Dove tem feito isso com o seu movimento "Beleza Real", que na verdade é um dos mais poderosos de uma marca feminina. (Eles ainda chamam de "Campanha pela Real Beleza", no entanto, provavelmente um resquício de "publicidade de idade.")

A Pepsi Refresh Project | TBWA Chiat Day é um grande exemplo de como a capacidade do público para criar e fazer coisas importantes acontecem em grande escala e é mais possível do que nunca. O objetivo do movimento era mudar o mundo, permitindo que a Pepsi - voltada para uma nova visão, uma nova geração e revolução - use sua marca de forma genuína e conecte profundamente com seu público-alvo jovens. São milhares de pessoas em movimento. E apesar do uso de mídias tradicionais para aumentar o alcance, creio que teria sido tão impactante se confiasse apenas na internet e boca a boca.

Outro exemplo, da StrawberryFrog Brasil, é o movimento criado para o achocolatado Toddy, da Pepsi. A loja levou o mascote da marca de vaca e transformou-o em um movimento cultural, incentivando os jovens a usar a palavra "Muuuuuu" como uma maneira de dizer: "Corta o absurdo." A ação tornou-se uma linha de sucesso e nas conversas dos jovens, ao passo que elevou a participação do produto no mercado por três trimestres consecutivos.

segunda-feira, outubro 04, 2010

Do bem?

José Serra, o candidato do PSDB, empolgado por ter ido ao segundo turno graças a votos que não são seus, proferiu raivoso discurso, onde enfatiza seus preconceitos contra o PT e a esquerda e diz que os que estão com eles são "brasileiros e brasileiras do bem". Levando-se em conta que Dilma obteve 46% dos votos e Marina aproximadamente 20%, isso quer dizer que, na opinião do candidato do PSDB, 66% dos brasileiros estão alinhados com as forças do mal. 18 estados deram vitória a Dilma; Marina venceu no Distrito Federal e Serra venceu em apenas 8 estados. O candidato tucano representa, de longe, o pior que a política pode produzir. Amargo, dissimulado, mentiroso e ardiloso, o homem que um dia foi progressista hoje quer ganhar a eleição com base na invenção de factóides, em geral eivados de preconceitos. É dele a idéia de tentar imputar ao presidente Lula, o governante latino-americano que mais respeito tem pela liberdade de imprensa, a acusação vil de estar "ameaçando" a "imprensa livre". A retórica de Serra, emprestada da guerra fria e do anti-comunismo, mostra o quanto de naftalina é necessário para que possamos respirar no mesmo ambiente que esse cidadão do mal.

sexta-feira, outubro 01, 2010

Sem lógica

José Serra, o candidato do PSDB à presidência, diz que Lula nada mais fez do que continuar aquilo que havia sido iniciado no governo de FHC, do qual fez parte. Se é assim, qual a razão de Serra ser, então, oposição à Lula?

terça-feira, setembro 28, 2010

Torcida

Na GloboNews, o anúncio da queda de Dilma nas pesquisas está sendo comemorado como se fosse um gol da seleção. A seleção deles. Ali se torce pelo pior. O desejo de fazer o país voltar ao tempo da dependência do FMI, dos salários arrochados, do desemprego, da falta de moradia e crédito e do apagão é maior que a capacidade de ver que o Brasil nunca andou tão bem como no período de 2002 até aqui e que a ruptura dessa trajetória pode atrasar nosso desenvolvimento em décadas. Quem diz isso são as principais autoridades e analistas internacionais, que destacam o Brasil como um fenômeno de superação mesmo entre os países do chamado BRIC, o bloco de países emergentes composto por Brasil, Russia, China e Índia, que apresentaram grande capacidade de recuperação de sua base produtiva e de sua capacidade de competição apesar dos abalos da crise econômica mundial. Indiferente a isso, os partidários do "agendamento" que dirigem o jornalismo da Globo têm se aplicado na tarefa de tirar oxigênio da candidata do PT. Uma das ações mais elaboradas levadas a cabo no período foi a montagem de uma estrutura de jornalismo intinerante que viaja pelos rincões do país, denominado "JN no ar", com o obejtivo de mostrar um país pobre e repleto de necessidades. Mas as cidades escolhidas no estado de São Paulo foram exemplares de um Brasil moderno e próspero. O objetivo político-eleitoral da ação é não apenas evidente mas óbvio. A isso, eles chamam de jornalismo.

sábado, setembro 25, 2010

Frase

"A abelha fazendo o mel vale o tempo que não voou". Beto Guedes.

Qual é o objetivo da campanha de Serra?

Mal havia postado o texto sobre a lógica do "bateu, levou" e recebi a ligação de um amigo que polemizou comigo defendendo a tese de que Serra, que desferiu o ataque, não usufruiu dos votos que migraram de Dilma, mas sim Marina Silva. E esse fato, na opinião de meu amigo, desqualificaria a necessidade do revide. Desculpe, mas não é bem assim. É verdade que há um ônus no ataque. Mas, como se diz no capitalismo avançado, não existe almoço grátis. É preciso pagar a conta. Para entendermos o que fez Serra e que o resultado desejado está sendo alcançado temos que compreender que o objetivo dele não é ganhar a eleição agora. Esse seria um objetivo futuro. O que ele objetiva é produzir o segundo turno. Essa não é a tática. É a estratégia, o objetivo máximo dele nessa etapa. Se houver segundo turno, ele irá para a tentativa de composição de forças políticas, buscando agregar toda a oposição sob o seu comando. Ele está certo? Sim. Ele sabe que poderia perder alguns pontos com o ataque e que Marina poderia subir. Mas Marina não sobe na velocidade suficiente para ultrapassá-lo e o que ele quer é que os anti-Dilma somem 50% dos votos mais um. Se entendemos que esse é o objetivo, podemos dizer que ele calculou corretamente o que poderia perder e ganhar com os ataques. Foi um cálculo frio. E correto do ponto de vista de sua estratégia de marketing, que se apresenta subdivida em etapas. Arrisco dizer que Dilma vencerá no primeiro turno mesmo assim, porque o tempo dos ataques e do impacto deles não foi sincronizado. Votarei em Dilma, mas como especialista devo admitir que a eficiente estratégia de Serra, ainda que parcialmente, produziu o efeito desejado.

A Lei de Newton aplicada ao marketing político

"Toda ação provoca uma reação de igual intensidade, mesma direção e em sentido contrário", afirma a terceira lei de Newton. É uma lei natural. O boxeador em treinamento dá socos em um saco de areia bem pesado; a força que os punhos do boxeador exercem sobre o saco é igual a força exercida pelo saco sobre seus punhos. Em marketing político essa lei ganhou uma tradução popular: bateu, levou. Quando a ação não produz reação, o ponto fixo que sofre a ação absorve o impacto, se danificando. Os mais recentes números da pesquisa de intenção de voto para a eleição presidencial são eloquentes ao demonstrar que ignorar a Terceira Lei de Newton pode produzir danos irreparáveis. Embora ainda se mantenha uma larga distância entre Dilma, a candidata do PT, e José Serra, o candidato do PSDB, a ação ofensiva da campanha tucana produziu em Dilma a perda de cinco pontos percentuais, colocando em sério risco a vitória no primeiro turno. Acredito que o tempo é curto para que se produza um efeito em escala que permita o segundo turno, mas o episódio reinventa a roda em se tratando de marketing eleitoral. Digo, a principal lição que fica desse episódio é o sepultamento definitivo de uma lógica cínica inaugurada no Brasil por um cidadão hoje obscuro que já posou como "o rei do marketing político" e que diz "quem bate perde". Essa frase não apenas nega a terceira Lei de Newton, mas vai na contra-mão da vida. Não faz nenhum sentido e está eivada de comodismo, como se fosse uma vacina contra a rebeldia. "Cale-se enquanto eu bato em você" é o espírito norteador da frase "quem bate perde". Inverta a frase e a outra leitura para ela é "quem apanha vence". Que modalidade de esporte é essa? Onde isso aconteceu? A frase correta seria "quem bate, bate; quem apanha, apanha". E quem apanha sem revidar, absorve sim a negatividade do ataque que está sofrendo, já que a lógica do entendimento médio é que se deve revidar aos ataques pessoais. Na vida privada é assim que se age. Se alguém o calunia, você revida. Ou não? Se você é um cidadão de bem e é chamado de ladrão, de terrorista, de bandido, você leva esse desaforo para casa? Duvido. Então se um candidato é atacado e não revida é porque há verdade naquele ataque. Isso é de uma lógica cartesiana e apenas a imbecilidade ou a covardia pode recusar a clareza desse raciocínio. A inação da campanha do PT em relação aos ataques brutais e até mesmo desleais da campanha tucana desfere contra Dilma - com pleno eco na imprensa golpista - produziu um rombo na fuselagem da campanha petista por onde está escoando centenas de milhares de votos. Não estou dizendo que Dilma deveria ter revidado a isso em primeira pessoa. Mas sua campanha ficou devendo ao eleitor um contra-ataque à altura. "Para cada ação há sempre uma reação, oposta e de mesma intensidade", é uma Lei irrevogável.

sexta-feira, setembro 24, 2010

As 3 leis para ser um redator publicitário incrível

1. Ler dezenas de centenas de milhares de títulos (isso quer dizer: leia quantos você puder).
Concentre-se nos bons–encontrados em anuários e premiações, mas leia alguns comuns também. Uma mente treinada está mais apta a responder de maneira inovadora quando confrontada com os fatos;
2. Saiba sobre tudo. De culinária árabe à invasão mongol. Joseph Sugarman disse que os melhores
redatores do mundo têm sede de conhecimento, são curiosos e não têm medo do trabalho. Saia da frente do computador, vá para a rua, converse com as pessoas, veja como agem, ouça o que dizem. A vida não começa nem termina na frente de seu computador. Ele é só um meio.
3. Praticando! Sarah Hogshead precisou criar mais de 80 títulos (para uma única campanha) para ter uma de suas peças premiadas. Mire-se no exemplo de Thomas Edson, que tentou mais de cinco mil vezes seu principal invento até conseguir obter um resultado favorável.
Afinal, títulos vendem? O que é um título poderoso? Um título tem que ser mais criativo ou mais vendedor? São questões recorrentes que se condensam em uma única questão: é possível medir a eficiência de um título?
John Caples, a pessoa mais importante para a publicidade mundial segundo a AdAge, catalogou 119 títulos comprovadamente eficientes em seu livro Tested Advertising Methods.
O livro que completou 1 década no ano passado é uma das raras ocasiões onde a publicidade se encontra com a ciência (embora essa distância parece estar diminuindo nos últimos anos).
Não sei qual foi o método utilizado por Caples, mas segundo o famoso redator muitos títulos alcançaram o seu objetivo. Muitos catalogados foram os que funcionaram dentre centenas de outros que não. O começo da seduçao de um anúncio está no título!

segunda-feira, setembro 20, 2010

Frase

"Só quero saber do que pode dar certo. Não tenho tempo a perder". Torquato Neto.

segunda-feira, setembro 13, 2010

Fato jornalístico II

Qual a razão de se dar tanta ênfase ao suposto "uso da máquina pública" e ao fictício "projeto de eternização no poder", que recheiam as denuncias contra o PT, e não se dar qualquer nota à mexicanização da política em São Paulo e Minas, onde o PSDB aparelha a máquina pública desde os anos 80 e onde a oposição é silenciada em nome de um cretino discurso de "eficiência administrativa" e "choque de gestão"?

Fato jornalístico

Qual a razão que leva a maior parte da imprensa brasileira a omitir o fato de que Verônica Serra, filha do candidato tucano, e sua empresa, a "decidir.com", expuseram os dados bancários de 60 milhões de brasileiros, obtidos em acordo questionável durante o governo FHC, conforme noticiou a revista Carta Capital?

sexta-feira, setembro 10, 2010

Perguntas impertinentes?

1. Se houve quebra de sigilo fiscal dos amigos ou parentes de José Serra, se essa quebra de sigilo foi feita antes de Dilma ser candidata (informaçao que a imprensa tucana omite), se tantos tiveram acesso a esses dados, o que poderia haver de tão importante ali que merecesse a atenção de funcionários da Receita Federal?
2. É ilegal que funcionários da Receita acessem dados fiscais? Funcionários da Receita Federal não podem acessar os dados de qualquer cidadão? Se não podem, como fazem para investigar irregularidades? Se podem, o que há de irregular em um funcionário da Receita Federal, devidamente empossado de suas funções, acessar, de um computador da Receita, dados de qualquer cidadão?
3. Se houve quebra de sigilo ou "vazamento" de informações, por que essas informações "vazadas" não foram publicadas em lugar algum?
4. A imprensa informou que nas ruas de São Paulo vendem-se CDs com dados fiscais para a construção de malas diretas e montagem de bancos de dados. Se isso é verdade, por que alguém precisaria "violar" o que quer que seja para acessar algo que está a venda no mesmo tabuleiro que os DVDs piratas, no meio da via pública?


Feitas essas perguntas e omitidas outras, uma conclusão: estão transformando nada em pauta jornalística e contando, para isso, com a colaboração voluntária de autoridades constituídas e do próprio PT, que coloca seu presidente para dar declarações sobre um episódio puramente administrativo, servindo como avalista da crise artificialmente criada.
Homem maduro e vivido, o presidente do PT contudo não percebe que são suas próprias declarações em nome do partido que retroalimentam a imprensa do suposto sentido "político" do episódio que deveria ser tratado pela Receita e não pelos contendores nesse pleito. Dando provas de que pode ser pautado, o PT comprou a agenda da oposição a partir da pressão da imprensa. Respondeu a essa pressão como um cordeirinho, cedendo sua voz para avalisar a "crise". Transformou, assim, um factóide em fato. O PT poderia ser parte da solução e acabou se tornando parte do problema.
Para os que querem saber a razão das coisas, sugiro pesquisar aqui mesmo no CM ou mesmo no Google o conceito de "agendamento". Está ali, na teoria da comunicação, a metodologia desse esquema golpista para tentar ganhar uma eleição na marra usando com suporte os media.

quarta-feira, setembro 01, 2010

O último suspiro de José Serra

Cercado pelos fatos e pelas circunstâncias que levam o processo eleitoral para uma decisão definitiva em primeiro turno, revelando de maneira inequívoca o peso fundamental de Lula na alma brasileira de agora, o candidato José Serra (PSDB) resolve ir para o ataque.
Tudo indica, um ataque de nervos.
O porta-voz oficial da campanha tucana da GloboNews chama-se Gerson Camarotti, denominado pela emissora como "comentarista político", mas na verdade posicionado na barricada 45 desfechando pedregulhos com uma funda contra a campanha petista desde quando Dilma ainda era pré-candidata.
O vislumbrar da derrota, contudo, está levando Camarotti e seus parceiros de campanha à danação. O pedregulho da hora é a suposta quebra do sigilo fiscal de algumas pessoas ligadas ao esquema tucano que dá suporte à campanha de Serra.
Tudo indica que esse é o último suspiro da campanha tucana, que já está na TV e no rádio na fase da baixaria desenfreada, tentando criar o terror de sempre contra o PT, buscando reviver velhos medos contra petistas e requentando as denúncias feitas pela imprensa em 2005 e que tinham por objetivo armar um golpe de estado contra o governo Lula.
Considera Camarotti que a quebra do sigilo fiscal de tucanos será o novo 11 de setembro. Terá, afirma o comentarista, "um efeito bombástico" na campanha de Dilma, com "evidentes prejuízos" para a candidata petista. A situação seria tão grave que Dilma teria "fugido" da questão, enquanto Serra teria "demonstrado toda a sua indignação" na patética entrevista que deu ao Jornal da Globo, na noite de ontem, onde, mais uma vez, o ex-governador de São Paulo perdeu uma grande oportunidade de demonstrar equlíbrio mental e emocional ao eleitorado brasileiro.
A tentativa de levar essa questão da Receita Federal para o âmbito eleitoral é mais uma bobagem que revela a fragilidade dos nervos dos condutores da campanha de Serra. Qualquer pessoa minimante informada sabe que esse factóide passará como um navio na noite e, no extremo, não tiraria um único voto da candidata apoiada pela liderança política mais influente do país.
Dilma caminha para o Planalto. Enquanto a matilha faz barulho. O povo assiste ao desespero tucano, por assim dizer, "de camarote".

sexta-feira, agosto 13, 2010

Frase

"Creo que la esencia del fanatismo reside en el deseo de obligar a los demás a cambiar". (Amos Oz)

segunda-feira, agosto 02, 2010

Para que o futebol volte a ser um esporte coletivo

Escândalos envolvendo atletas eram fato raro quando o futebol era um esporte coletivo.
Dito de outro modo: quando valia mais o espírito de grupo e o único escudo no uniforme era do clube ou da seleção correspondente, o futebol gerava mais atletas com um nível de desempenho e compromisso que expressavam uma ética coletiva. Há, no panteão do futebol, ídolos que sempre defenderam um mesmo clube, identificados com a camisa e o escudo dessa equipe para sempre. Eram heróis individuais que expressavam o coletivo.
Hoje, o futebol é mercenário. Inútil para a glória coletiva. Serve ao enriquecimento fácil de jovens despreparados para a vida, de empresários ávidos por dinheiro profuso ou de cartolas inescrupulosos que não suam a camisa. Serve às marcas e aos cartolas, campeões de frustrações.
Esse futebol-empresa é cinza, triste e gera, à sua volta, quadrilhas que se ocultam em falsas paixões clubísticas, sejam de diretores de agremiações ou de bandos para-militares que se autodenominam "torcidas organizadas" - na verdade organizam a violência individual e a insanidade mental contra "o inimigo" das torcidas adversárias. Essas hordas nutridas pelo ódio ou pela ganância não sabem que são, apenas, sub-produtos de um capitalismo doentio. São dejetos que se pensam heróis, como os jovens atletas do Santos, que em frente a uma webcam demonstraram seu analfabetismo funcional, sua linguagem chula e sua completa falta de educação, xingando torcedores e ironizando colegas de profissão em um português irreconhecível.
Fora do campo, reina o mal exemplo. Dentro de campo, reinam o individualismo e o fundamentalismo religioso.
Apontar para os céus e dedicar o gol a Deus, atribuindo ao adversário uma consistente pobreza "da graça divina" tornou-se prática dominante nessa modalidade de esporte empurrada materialmente pelo enriquecimento fácil e, ideologicamente, pela crença de que, em campo, atletas empreendem uma "guerra santa" contra o "demônio" representado pelo contendor.
Ora, o que explicaria um deus qualquer torcer por um clube e não por outro, facilitando a marcação de um gol para agraciar um filho de deus que seria mais filho de deus do que os que vestem as cores adversárias?
Nada. Esse raciocínio é puramente irracional. Mas atende a um objetivo: reforçar o individualismo, a crença de que alguns podem mais que os outros, de que isso é "natural", talvez divino, e de que o coletivo só serve para dar suporte a esses poucos escolhidos. Desumanizada, a distinção entre massa e herói é o meio caminho entre a sanidade e a demência. Os brunos da vida e os moleques do Santos são ao mesmo tempo algozes e vítimas dessa danação que fabrica e destrói ídolos no atacado.
No último domingo, Corinthians e Palmeiras se enfrentaram no Pacaembu, empatando em um gol.
Ao final da partida, a imprensa chamou a atenção para a declaração do técnico do Palmeiras, Felipão, que afirmou não ter "a obrigação de ganhar sempre". Não tem mesmo. Especialmente porque não existe time que nunca perde. A dialética entre vitórias e derrotas é que forma a lógica real de qualquer contenda, esportiva ou não.
Para mim, a atenção se voltou para um gesto que passou como invisível aos olhos dos especialistas.
Apesar da posição duvidosa do finalizador, o gol do Corinthians mereceria ser validado como obra de arte, pela arquitetura primorosa que o antecedeu.
Somando passes criativos, velocidade, habilidade na conclusão, o lance culminou com o arranque fulminante de Bruno Cesar pela direita até cruzar com precisão para Jorge Henrique marcar, de letra.
Uma pintura. Um gol "de placa" como se dizia no tempo em que o futebol era um esporte coletivo.
Feito o gol, aí então vem a cena lamentável.
Jorge Henrique corre e, ao invés de abraçar Bruno Cesar e os demais companheiros que concorreram para o gol, empurra com violência o companheiro que lhe deu o passe e que apareceu duas vezes na jogada decisiva e, se desvencilhando, corre para comemorar sozinho com a torcida.
Um gesto fortuito? Não. Uma síntese. Uma lamentável síntese de um tempo.