No dia de Corpus Christi, umas das principais festas cristãs, o pré-candidato do PSDB, José Serra, recebeu a oração de cerca de 15 mil fiéis em uma missa no Santuário do Terço Bizantino, na capital paulista. Com ar sereno, o tucano acompanhou a cerimônia do alto de um palco-altar. Rezou, cantou e bateu palmas, acompanhado pelo prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab (DEM) e um de seus coordenadores de campanha, Caio Carvalho.
A reza de uma Ave-Maria por Serra e Kassab foi iniciativa do padre Marcelo Rossi, uma espécie de Tiririca da Igreja, que comandou a missa junto ao bispo da Arquidiocese de Santo Amaro, Dom Fernando Figueiredo. "Em ano de eleição, orem por nossos amigos, o prefeito Kassab e, de modo especial, por Serra", pediu padre Marcelo, autor de canções primárias e um dos padres mais ricos do país, explorando a boa fé de pessoas humildes.
A Igreja é uma organização política. Toda igreja o é. Não há qualquer divindade nisso. Não há santos em política, ainda quando ela toma a forma e o discurso da religião.
Que um setor da igreja assuma abertamente sua preferência pela direita é legítimo e não é novidade, vide a adesão de setores da igreja ao fascismo e ao nazismo durante a II Grande Guerra. A novidade é a truculência que passou a revestir essa luta política em um país democrático como o Brasil, com o uso aberto de cultos e templos para o proselitismo político e com o envolvimento de religiosos com práticas condenáveis, como a impressão de panfletos apócrifos ofensivos à Dilma e ao PT. Essa danação é resultante do avanço dos conservadores e do isolamento dos setores ligados à teologia da libertação, com a imposição do chamado "silêncio obsequioso" aos porta-vozes da vertente de esquerda da igreja católica, que levou alguns a romperem com a autoridade papal.
Vale destacar que não foi a direita religiosa que se aproximou de Serra, mas o contrário, foi Serra que rompeu com qualquer referência de esquerda para abraçar as bandeiras da extrema-direita, como a negação do direito das mulheres de decidir o que fazer com seu próprio corpo. Quando jovem, Serra militou na Ação Popular, organização católica contrária à ditadura e que depois se separaria da igreja para assumir a denominação APML (Ação Popular Marxista Leninista). Hoje está com a TFP (Tradição, Família e Propriedade), com os monarquistas (que propõem a restauraçào da monarquia no Brasil), com os Integralistas (movimento inspirado no fascismo italiano) e com a Igreja Católica Ortodoxa, aquela que se separou da Igreja Católica Apostólica Romana no século XI, além, é claro, dos católicos e avangélicos fundamentalistas, que defendem a perseguição a homossexuais e a condenação ao inferno de mulheres vítimas do aborto.
As sombras da Idade Média se projetam do corpo de José Serra, cobrindo seu séquito. Felizmente não cobrirão o país.