segunda-feira, junho 29, 2009

CBN subliminar

A rádio CBN, que pertence ao conglomerado Globo, acredita no poder da TV. Por isso está lançando uma campanha em que jornalistas de seu corpo de analistas e comentaristas simulam um "comício" em cima de um caixote, no meio de uma rua movimentada e ali, fazem um discurso politizado. Ouvi dizer que a campanha tem vários VTs, mas só vi um, tendo como personagem central a historiadora Lúcia Hypólito. O comercial é repetido incessantemente na TV fechada e aberta da vênus platinada.
Reproduzo aqui, de memória o texto da fala de Hypólito. Ela diz, com ênfase de quem está à caça de votos e antecipando a campanha eleitoral:
"Nós temos que aprender mais o valor do nosso voto... Por que é que o governo tem que tomar conta das nossas vidas e não nós declararmos ao governo aquilo que deve ser feito com o nosso dinheiro... Não podemos desistir... Alguma hora eles vão ter que nos ouvir..."
Em síntese: o povo não sabe o valor do seu voto e precisa ser "educado" para tal por uma elite possuidora do conhecimento; o governo, essa malta de "errados" terá, "mais cedo ou mais tarde" que nos ouvir...
Hypólito, em suas aparições públicas, não conta história e chama Lula de "idiota" e seu governo de "incompetente". Portanto, só pode achar que povo brasileiro não sabe votar ou, como diz de maneira transversa, "não aprendeu o valor do seu voto". Afinal, esse "zé povinho" votou massivamente em Lula nas duas últimas eleições.
Suponho que o recado de Hypólito no comercial da emissora global se destina a essa plebe ignara, na qual me incluo, já que votei em Lula e aprovo seu governo.
O restante do discurso segue a mesma lenga-lenga anarco-liberal, segundo a qual não precisamos de governo e todo governo (exceto os do PSDB, na opinião de Hypólito) é ruim, com agravantes que tendem a afastar as pessoas da atividade política, já que classifica a matéria como uma atividade "suja" e os políticos ("eles", como diz Hypólito) como "elementos suspeitos" até que provem sua inocência.
Esse discurso, aparentemente avançado é, na verdade, um discurso conservador que se estrutura em três pilares: a) o povo é ignorante e não sabe votar; b) as elites são sábias e sabem votar; d) assim sendo, as elites precisam indicar às massas o caminho do conhecimento e do voto "inteligente".
É um raciocínio reacionário de cima à baixo, sem paradas de reabastecimento. Não é à toa que o slogan da Rádio da Rede Globo é, simplesmente, "inteligência atrai inteligência". Ou seja, se você não ouve CBN e seus conselhos políticos, você é ignorante. É melhor eu não dizer que não poderia ser pior. Sempre pode.

Golpe intolerante

Ignorando que há democracias sólidas que prevêem mandatos presidenciais sem limites, uma frase infeliz do presidente do STF, Gilmar Mendes, ganhou destaque na imprensa brasileira. "A democracia não tolera terceiro mandato", disse Mendes. O golpe militar em Honduras, no último domingo, prova justamente o oposto: as ditaduras é que não toleram a democracia e suas regras, especialmente quando essas regras prevêem a predominância da sociedade civil sobre as instâncias seculares de poder.

sexta-feira, junho 26, 2009

Reflexão diante da morte de um ídolo pop

A humanidade ama mais os mortos do que os vivos.

quinta-feira, junho 25, 2009

O pesadelo do PSDB

Se o país dos horrores que o PSDB mostra em seus programas de TV existisse de fato, não haveria explicação racional para os altos índices de aprovação do governo e do presidente Lula. Teríamos que procurar, então, uma explicação mágica.
Um país onde nada está certo, tudo está errado e tudo o que dá errado é culpa do governo "incompetente" é uma fantasia ultra reacionária que o PSDB insiste em repetir ano após ano, enquanto reduz seu tamanho a cada eleição. É o marketing político do isolamento, que prova que a máxima de Leon Trotski continua valendo: a política é circular; em algum momento, a ultra-direita tangenciará a ultra-esquerda.
Com uma arrogância típica de burgueses decaídos, os dirigentes do PSDB não cansam de atacar a auto-estima do brasileiro, ousando comparar o Brasil, um país laico e plural, com a Índia, um país divido em castas e onde os índices de pobreza e concentração de renda são extremos.
Ou seja, os tucanos preferem o sistema de castas, que perpetua a pobreza, à política de distribuição de renda e inclusão social que se pratica no país desde 2002 e que está na raiz da aprovação recorde de Lula e seu governo.
Atacar o PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) é outro atalho equivocado, que tenta alcançar "lateralmente" a Ministra Dilma Roussef. Encontrar meia dúzia ou uma centena de obras do PAC que estejam atrasadas ou paradas não desqualifica o programa, apenas demonstra, uma vez mais, sua importância.
Um partido nadando contra a maré da história e perdendo o fôlego a cada braçada, é o que vi no tempo de antena da força política que dirigiu o país por longos e sofridos oito anos de submissão ao FMI e de desrespeito aos movimentos sociais e suas demandas.
Não é por acaso que o senador Ricardo Azeredo, do PSDB, é o autor de um projeto de lei que, de acordo com a revista Carta Capital, está sendo chamado de "o AI-5 da internet", propondo a censura no uso do meio de comunicação mais plural e democrático que existe. Não se entra na contra-mão da história impunemente.

EcoFont

Todos os dias gastamos muitos papéis fazendo os nossos impressos. Além disso, gastamos também muita tinta e, segundo a SPRANQ agência de comunicação (Utrecht, Holanda), parcialmente sem necessidade. Por isso, a SPRANQ criou uma fonte nova: a Ecofont.
Uma idéia boa é sempre fácil: olhando a forma de uma letra, em quanto podemos reduzí-la sem que fique ilegível? Uma pesquisa testou vários formatos e teve o seguinte resultado: tirar círculos pequenos. Assim foi possível criar uma fonte que economiza 20% em tinta. A Ecofont pode ser baixada e usada gratuitamente.
Entre no site http://www.ecofont.eu/splash_en_pro.html, escolha a língua de sua preferência e baixe sem custos a fonte ecologicamente correta

Colaborou: Moana Luri.

Pelo fim da obrigatoriedade do diploma de advogado

A decisão do Supremo Tribunal Federal que jogou por terra a exclusividade do exercício do jornalismo por detentores do diploma, poderia levantar questionamentos que estão passando ao largo do debate. Por exemplo: a razão levantada ali não valeria para outras profissões? Levados ao extremo os argumentos utilizados pelos juízes que abateram a exigência para jornalistas poderiam, facilmente, ser usados, por exemplo, para se abolir a exigência do diploma de Direito para o exercício da profissão de advogado. Apenas o notório saber, mediado pelo mercado e pelo órgão de representação de classe, seria o suficiente.
Sejamos francos. Com o advento da internet e a universalização das jurisprudências (na web há CDs com jurisprudência e formatos de petições, por área, sendo vendidos ao preço de R$ 15,00), a única coisa que nos obriga a contratar um advogado é a exigência legal da exclusividade do exercício profissional pelos detentores do diploma de bacharel em Direito. Qualquer pessoa alfabetizada pode, a rigor, redigir uma petição, ler casos jurídicos e sentenças e, a partir delas, construir analogias que se apliquem a cada caso.
Vladimir Lenin, o revolucionário russo, jamais pisou em um escola de direito e graduou-se estudando por conta própria, prestando os exames do órgão que, na Rússia dos czares, seria uma espécie de OAB. Afinal, se a graduação superior, em si, fosse um critério, não haveria razão alguma para que a regulamentação fosse feita por um órgão à parte, no caso a Ordem dos Advogados do Brasil. Quem sabe o Supremo não poderia aproveitar a deixa e anular mais essa "reserva de mercado"?

quarta-feira, junho 24, 2009

Jornalistas: regulamentação vira incógnita

A decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) de derrubar a exigência do diploma de curso superior para o exercício do jornalismo deixou incertezas sobre o futuro da profissão no país. A Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj) aguarda a publicação do acórdão do Supremo para avaliar o impacto da mudança sobre a categoria e definir uma estratégia para tentar reverter a derrubada do diploma.
A dúvida está no argumento utilizado pelo relator do voto, o presidente do Supremo, Gilmar Mendes, que afirmou que “o jornalismo é uma profissão diferenciada por causa da proximidade com a liberdade de expressão”, direito previsto na Constituição.
Caso a decisão do Supremo tenha ido além da derrubada do diploma, com uma desregulamentação mais generalizada, só uma mudança constitucional poderá tornar a exigência do diploma novamente obrigatória. O caminho para alterar a Constituição é mais complicado: exige a aprovação de 308 dos 513 deputados e de 49 dos 81 senadores, em dois turnos de votação em cada Casa.
Gilmar declarou que o registro profissional de jornalista no Ministério do Trabalho perdeu o sentido. "O registro existente não terá nenhuma força jurídica", disse. A desregulamentação deixa em aberto a exigência de requisitos mínimos para o exercício da profissão e questões trabalhistas, como piso salarial e carga horária.
“Além da exigência do diploma, que era o que para nós estava em jogo, o ministro Gilmar Mendes tem afirmado que acabou a regulamentação da profissão. Precisamos ver o acórdão publicado para ver se cabe PEC ou se precisamos de um projeto de lei”, explica o diretor da Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj) João Carlos Torves.
A Fenaj afirma que ainda não formulou nenhuma proposta para uma nova regulamentação profissional. A exigência do diploma em curso superior de jornalismo para o exercício da profissão estava em vigor há 40 anos, a partir do Decreto-lei 972/69, criado durante o regime militar brasileiro e considerado por sete dos 11 ministros do Supremo uma “afronta à Constituição Federal”, promulgada em 1988.

"11 de Setembro"

Para o deputado Emiliano José (PT-BA), jornalista há mais de 30 anos, o fim da obrigatoriedade do diploma deixou os jornalistas à mercê das empresas de comunicação. O parlamentar afirma que também aguarda a publicação do acórdão do STF para saber como o Congresso poderá se posicionar sobre o tema e adianta que deverá apresentar alguma proposta com novas regras regulamentadoras.
“Creio que agora temos que nos debruçar para saber quais as saídas. Eu tenho dito que estamos sob ataque de todos os lados, que estamos vivendo o nosso 11 de Setembro”, considera Emiliano. “Neste momento, os barões da mídia no Brasil estão muito felizes, mas essa desregulamentação também será prejudicial aos donos das grandes mídias”, avalia.
Emiliano é o autor de um requerimento apresentado pelo líder de seu partido, Cândido Vacarezza (PT-SP), ao presidente da Câmara, Michel Temer (PMDB-SP), para pedir a criação de uma comissão especial para debater uma nova lei de imprensa e regras para a regulamentação da profissão. O requerimento, apresentado em maio, está sob análise da Mesa Diretora.
“Primeiro, sofremos com a revogação da Lei de Imprensa, e agora com o fim da obrigatoriedade do diploma. Nós, neste momento, somos a única nação do mundo que não tem uma lei de imprensa e a mídia, em um Estado Democrático de Direito, tem que ser regida por alguma lei. A mídia tem que ser regulamentada como qualquer outra atividade. Ficou um vácuo”, afirma Emiliano.
Segundo João Carlos Torves, os novos critérios para a contratação de jornalistas ainda não estão claros. A entidade encaminhou ao Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), na última semana, um documento solicitando que sejam esclarecidos quais são as regras e os critérios que passarão a valer. “Já fizemos essa interpelação com o ministério, porque não sabemos agora quais são os critérios”, explica o diretor da Fenaj.

Consequências drásticas

Para o coordenador do Fórum Nacional dos Professores de Jornalismo, Edson Spenthof, professor da Universidade Federal de Goiás (UFG), a derrubada do diploma trará consequências “duras e drásticas” à profissão e enfraquecerá o meio acadêmico. O professor argumenta que a decisão do STF “menosprezou drasticamente uma atividade importante do regime democrático”, ao sustentar que “não se precisa de conhecimento estruturado e sistemático” para o exercício do jornalismo.
“Os ministros do STF disseram, claramente, que jornalismo não precisa de técnica, que é uma atividade meramente fruto da expressão intelectual, que se equipara no máximo à arte da literatura”, argumenta Spenthof. “Essa decisão trará consequências drásticas para a profissão e para a imprensa. Ela enfraquece o ambiente acadêmico, que sofre um baque moral ao ver sua profissão diminuída”, diz.
O coordenador do fórum afirma que houve um entendimento errado do STF na interpretação da profissão. “Ao dizer que precisa derrubar o diploma porque ele atinge a liberdade de pensamento e expressão, estão falando que o exercício da profissão de jornalismo é o exercício da opinião e não da formação técnica de produção e conhecimento. Julgou-se a atividade pelo que ela não é. O jornalista não deve manifestar o seu pensamento nas notícias”, explica.
Na avaliação do professor da UFG, a decisão da Suprema Corte deu às empresas o poder de regular a profissão. “Cabe agora às empresas fazer o filtro e dizer qual é o perfil do jornalista, quem são as pessoas que devem ou não exercer essa profissão. O presidente Gilmar Mendes chegou a dizer, inclusive, que seria ilegítimo não dar esse poder às empresas. E agora ele vem dizer que não precisa sequer registro no Ministério do Trabalho”, protestou.
“Se a Suprema Corte, a quem cabe a palavra final da ordem jurídica do país, está dizendo que é inconstitucional, fica difícil lutar contra essa regulamentação por outros caminhos. Uma nova lei pode instituir o diploma, mas é só vir alguém da rua e contestar que o STF derruba de novo o diploma”, prevê Spenthof.

Divergências

Ao ler seu voto, Gilmar Mendes disse que o Estado não está legitimado pra exercer limitações ao exercício profissional. Na visão do ministro, o decreto que regula a profissão cerceia o direito ao trabalho e ao acesso à liberdade de expressão. Na ocasião, o presidente do STF não deixou de fazer críticas indiretas à imprensa. "O poder da imprensa hoje é quase imensurável. As empresas hoje são aliadas à grandes grupos, existe uma submissão aos valores econômicos. Infelizmente é tênue a linha entre a informação e a difamação. Os efeitos dos erros são terríveis", criticou.
O ministro Marco Aurélio Mello, único a votar contra o recurso, disse que em 40 anos a sociedade se organizou em torno da obrigatoriedade do diploma. Ele advertiu que, com a derrubada do decreto, o país passará a ter jornalistas com graduações diversas. "Teremos jornalistas de nível médio e até de nível fundamental", afirmou.
Marco Aurélio defendeu que o jornalista deve ter uma formação básica que viabilize a atividade profissional que repercute na vida dos cidadãos em geral. "É possível o erro na medicina, no direito, e até nesta corte, que é obra do homem". Para ele, ter a obrigação do diploma "implica uma salvaguarda, uma segurança jurídica maior", opinou.

Com informações do site "Congresso em Foco"

terça-feira, junho 23, 2009

Deus não joga futebol

Os fundamentalismos são, todos, perigosamente segregacionistas.
Nenhum escapa a uma lógica perversa que dá aos donos da verdade o poder de decidir o que é certo e o que é errado, imputando rótulos às condutas e, por fim, incidindo sobre os diferentes, sobre os pensamentos discordantes, dando a eles o epíteto que resultará na morte, seja ela literal ou não.
Os entretenimentos, de um tempo para cá, vêm dando lugar a certas crenças primitivas e fundamentalistas, que vêem Deus saindo do céu e descendo às quadras, às pistas de atletismo ou de Fórmula 1. E, é claro, aos campos de futebol. Sempre tomando partido.
No último domingo, durante o jogo Brasil 3 X 0 Itália, enquanto o jogador Luis Fabiano comemorava um dos gols da partida, aproximou-se de um microfone na margem do gramado para homenagear sua filha Giovana, que aniversariara na semana anterior.
Oportunista, oculto por um cacho de braços que outros atletas que procuravam comemorar o tento, um dos jogadores brasileiros que se aproximou para abraçar o goleador gritou ao microfone: "Glória a Deus! Glória a Deus! Glória a Deus!".
Sentado em minha poltrona, me assustei. Me vi tomado por uma série de reflexões advindas daquela cena estranhamento familiar, que se perpetua em imagens como as de jogadores apontando para o céu após fazerem um gol, enquanto o goleiro adversário (talvez a representação do pecado e do mal) caminha para o inferno do fundo do gol. Mas a primeira e primordial reflexão era simples: o que levaria um jogador de futebol a atribuir à Deus a glória de um tento em um campo de futebol? A não ser que a Itália fosse a representação do demônio, o antagonista literário e mitológico de Deus, não haveria razão alguma para uma intervenção divina acontecer em uma disputa entre homens em um campo de futebol.
A egolatria humana é tamanha que não lhes ocorre a insignificância daquele momento. Era só um jogo, uma disputa alegórica, com 11 homens de um lado contra 11 homens de outro, buscando levar uma bola de couro até as redes do time adversário. A diferença entre Itália versus Brasil e uma partida de várzea é só a quantidade de dinheiro envolvida na primeira empreitada. De resto, força física, destreza, inteligência são as matérias-primas em uma disputa temporal circunscrita a um campo gramado. Nada ali, justificaria uma intervenção divina. Menos ainda a favor de um dos times. Achar que Deus está em campo poderia conduzir, por exemplo, a uma suposição que, pelo simplismo, revela-se claramente ridícula: a de que uma disputa futebolística nos gramados entre Irã e Brasil oporia no céu, Alá, o deus muçulmano, a Jeová, o deus cristão.
Fujamos do ridículo para fugir do fundamentalismo. Eu quero torcer pela seleção canarinha, a representação alegre de uma nação laica, heterogênea, multi-racial e, por isso, espaço de todas as crenças e não-crenças.
Manter a religião fora do campo é um bom caminho para garantir um futuro de respeito às diferenças. No futebol, como na vida.

quarta-feira, junho 10, 2009

Um fantasma no armário

Apenas a administração direta do governo federal investe mais de R$ 600 milhões em publicidade. Banco do Brasil, Petrobrás, Eletronorte e outros entes da administração indireta podem, sem grande esforço, fazer essa soma chegar a R$ 1,2 bilhão por ano. É pouco, se considerarmos que a legislação permite que 1% do orçamento bilionário do governo seja investido em comunicação. E é justo, posto que é direito do cidadão conhecer aquilo que está sendo feito com o dinheiro público e, nas sociedades de massas, só a publicidade pode cumprir essa tarefa hercúlea. Por isso o texto de Franklin Martins que reproduzimos na íntegra abaixo, é certeiro ao defender a regionalização da mídia, a forma mais barata de fazer com que a comunicação do governo fure os bloqueios da distância e alcance as pessoas até nos mais remotos lugares do país.
Contudo, resta um fantasma no armário: a vergonhosa concentração do grosso da verba publicitária nas mãos das agências de publicidade do sul-sudeste no país.
Mudam os governos, mudam as orientações ideológicas, mas lá estão as mesmas agências, das mesmas regiões, fazendo a mesma propaganda que qualquer agência de qualquer lugar do país poderia fazer. Aliás, a recente campanha do ProUni, dirigida por uma famosa cineasta, que mostrava casos reais de pessoas beneficiadas foi uma cópia descarada das peças que a Vanguarda Propaganda criou para o PT nacional e que foram ao ar em mídia nacional no horário partidário em 2008.
Então, não há razão para regionalizar a verba de mídia e não regionalizar a criação e a autorização dessas campanhas.
Nos Estados Unidos, que têm um investimento anual de US$ 184 bilhões, as 20 maiores agências concentram apenas 15% do total da verba. O bolo publicitário em nosso país é menor, mas está longe de ser desprezível: US$ 6 bilhões. Contudo, as 20 maiores agências detêm 60% desse montante. Das 1.800 agências existentes no Brasil, 1.318 têm pouco mais de meio por cento da receita.
Em época de fomento ao emprego e estímulo aos empreendedorismo, o governo federal ficou devendo a democratização das verbas de publicidade na fonte: as agências que autorizam a mídia.
O assunto já foi objeto de uma análise feita por mim e publicada na prestigiada revista About e na revista eletrônica "Portal da Propaganda", com o título "As pequenas agências merecem viver". Quatro anos depois, permanece mais atual do que nunca.

Para que criar fantasmas?

FRANKLIN MARTINS

A Secom adota hoje o princípio da mídia técnica: a participação na publicidade é proporcional à circulação ou à audiência

Na última semana, alguns colunistas e políticos da oposição abriram baterias contra a regionalização da publicidade do governo federal.
Não gostaram de saber que os anúncios da Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República (Secom), até 2003 concentrados em apenas 499 veículos e 182 municípios, em 2008 alcançaram 5.297 órgãos de comunicação em 1.149 municípios -um aumento da ordem de 961%.
Por incrível que pareça, conseguiram enxergar nesse saudável processo de desconcentração um ardiloso mecanismo de corrupção dos jornais e rádios do interior. Essa seria a explicação para as altas taxas de avaliação positiva do presidente Lula, registrada pelos institutos de opinião.
O raciocínio não tem pé nem cabeça. Vamos aos fatos.
As verbas publicitárias de todos os órgãos ligados ao governo federal permaneceram no mesmo patamar do governo anterior, em torno de R$ 1 bilhão ao ano. Desse total, 70% são investidos por empresas estatais, que não fazem publicidade do governo, mas de seus produtos e serviços, para competir com companhias privadas.
Além disso, os ministérios e autarquias, que respondem por 20% da verba publicitária federal, não podem fazer propaganda institucional, só campanhas de utilidade pública (vacinação, educação de trânsito, direitos humanos etc.). Apenas a Secom está autorizada a fazer publicidade institucional. Para esse fim, seu orçamento é igual ao do governo anterior (cerca de R$ 105 milhões).
Não houve aumento de verbas. O que mudou foi a política. Em vez de concentrar anúncios num punhado de jornais, rádios e televisões, a publicidade do governo federal alcança agora o maior número possível de veículos. Pelo mesmo custo, está falando melhor e mais diretamente com mais brasileiros. Acompanhando a diversificação que está ocorrendo nos meios de comunicação.
A circulação dos jornais tradicionais do eixo Rio-São Paulo-Brasília, por exemplo, está estagnada há mais de cinco anos, próxima dos 900 mil exemplares. No mesmo período, conforme o Instituto Verificador de Circulação, os jornais das outras capitais cresceram 41%, chegando a 1.630.883 exemplares em abril. As vendas dos jornais do interior subiram mais ainda: 61,7% (552.380). No caso dos jornais populares, a alta foi espetacular, de 121,4% (1.189.090 exemplares).
Por que deveríamos fechar os olhos para essas transformações? A Secom adota hoje o princípio da mídia técnica: a participação dos órgãos de comunicação na publicidade é proporcional à sua circulação ou audiência. Houve época em que eram comuns distorções, às vezes bastante acentuadas, a favor dos grupos mais fortes. Isso acabou.
Esses critérios técnicos, amplamente discutidos com o TCU e entidades do setor, têm favorecido a democratização, a transparência e a eficiência nos investimentos de publicidade do governo federal. Não há privilégios nem perseguições. Tampouco zonas de sombra. Muito menos compra de consciências.
É importante ressaltar ainda que a comunicação do governo não se dá principalmente pela publicidade. Esta apenas presta conta das ações mais importantes e consolida algumas ideias-força. O governo comunica-se com a sociedade basicamente por meio da imprensa, respondendo a perguntas, críticas e inquietações.
Para ter uma ideia, em 2008 o presidente Lula deu 182 entrevistas à imprensa, respondendo, em média, a 4,8 perguntas por dia, incluindo fins de semana e feriados. É pouco provável que exista um chefe de governo no mundo que tenha conversado tanto com a imprensa quanto o nosso. Atendendo a todo tipo de imprensa, pois não existe no Brasil só a imprensa do eixo Rio-São Paulo-Brasília. São várias, com percepções
e interesses diferentes. Cada uma fazendo o jornalismo que lhe parece mais apropriado e se dirigindo ao público que conseguiu conquistar.
Exemplo: quando Lula lançou em São Paulo o atendimento em 30 minutos aos pedidos de aposentadoria no INSS, os grandes jornais não destacaram o fato. Mas o tema foi manchete de quase todos os jornais populares e diários das demais capitais. O que para uns foi nota de pé de página, para outros foi a notícia do dia.
Por tudo isso, temos que ficar atentos às mudanças na forma como os brasileiros se informam. O crescimento da internet é um fenômeno que abre extraordinárias possibilidades e lança imensos desafios. Não podemos fechar os olhos para a realidade: os jovens, cada vez mais, buscam informações nos portais, nos blogs e nas redes sociais da internet.
Por último, não se sustenta o raciocínio de que as altas taxas de aprovação do governo Lula teriam a ver com um arrastão de compra de jornais e rádios no interior. Basta recorrer ao último Datafolha, que atribui 67% de ótimo e bom para o governo federal nas regiões metropolitanas e 71% no interior. A diferença está situada dentro da margem de erro da pesquisa. Os números são praticamente os mesmos. O resto é preconceito.
O mais provável é que as altas taxas de aprovação do governo tenham uma explicação bem mais simples: a maioria da população está satisfeita com seu trabalho. É legítimo que aqueles que não concordam com tal percepção recorram à luta política para mudá-la. O debate faz parte da democracia. E faz bem a ela. Mas é necessário criar fantasmas?
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FRANKLIN MARTINS, 60, jornalista, é ministro-chefe da Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República.

sábado, junho 06, 2009

Ditadura na França?

Uma frase infeliz do presidente do STF, Gilmar Mendes, ganhou destaque na imprensa brasileira no dia de hoje. A desinteligência da maioria dos órgãos de imprensa não permite considerar o erro estrutural da frase do presidente do Supremo.
"A democracia não tolera terceiro mandato", disse Mendes. Referia-se ao desejo latente da sociedade brasileira em dar ao presidente Lula a chance de seguir no comando do país por mais quatro anos.
Bem, ou Mendes ignora que a França, por exemplo, uma das democracias mais sólidas do mundo, "tolera" não apenas terceiro mandato, mas inúmeras reeleições sucessivas ou ele considera que o país governado por Sarkozy é uma ditadura. A embaixada da França deveria protestar.