quarta-feira, setembro 30, 2009

As razões da viralização

Hoje a conectividade é usada como uma ferramenta de expressão de ideias, permitindo a ampliação de propagação de conteúdos por afinidade, independente de limitações geográficas ou sociais. Agora, por que as pessoas contam algo umas para as outras? Por que elas escolhem repassar ou não determinadas informações? Possivelmente pelo status de ser pioneiro ao deter aquela notícia e fazer com que se torne um e conteúdo de sua autoria pela exclusividade.
Caso o conteúdo não seja bom por si só, além de não se conseguir a viralização, pode ocorrer que o público se volte contra uma tentativa de torná-lo popular. Mesmo com o avanço do buzz marketing e do marketing de guerrilha, a divulgação de material viral não é necessariamente online, até porque, nenhum material “nasce” viral, ele possui um estímulo para que a mensagem se espalhe, caso ela valha a pena. Na verdade, o meio digital apenas possibilita a distribuição da mensagem de forma mais ágil, ficando por conta do intermediário da informação a decisão de replicá-la.
Entre tentativas falhas de viralização, podemos citar o case do Burguer King que, na luta contra o McDonalds, tentava provar que as pessoas que preferem o concorrente o fazem por influência da propaganda ou porque estão acostumadas e não por ser realmente melhor.  Nesse contexto, vale listar algumas sugestões para não errar no momento em que se pensa em criar um viral, como por exemplo:

1. não tentar enganar o consumidor fingindo que não está fazendo propaganda;
2. dispor de uma boa verba para a produção;
 
3. não apenas comunicar, mas também engajar o público;
 
4. não entrar na moda de vídeos só porque estão todos fazendo e sim porque essa ferramenta pode ser considerada importante no processo de interatividade com o target;
 
5. pensar que o viral pode dar um retorno maior do que as campanhas comuns e, principalmente, abandoná-las e acreditar que os virais podem dar conta por si só.

Como elementos básicos para viralização, pode-se considerar que é possível distribuir gratuitamente produtos e serviços com certo valor; não demanda esforço de envio para outros; é facilmente escalável do pequeno para o grande; é capaz de explorar motivações e comportamentos comuns entre os que repassam; a viralização utiliza como plataforma redes de comunicação já existentes, como twitter, plurk e afins; e por fim, é capaz de tirar proveito de recursos de terceiros, ou seja, reproduz conteúdo já publicado, mas que anteriormente não havia gerado interesse.
As pessoas não repassam nada a não ser que realmente a tenham compreendido; tenham vontade de espalhá-la e acreditem que propagar a ideia irá aumentar seu poder (reputação, receita, amizades). Vamos viralizar com base em argumentos viáveis de atração? Pense nisso e veja o quão importante esta estratégia pode ser em seu processo de comunicação.

Por Lívia Cretaz, colaboradora da página Mundo do Marketing
 

Frase

"O segredo da criatividade é saber como esconder suas fontes." Albert Einstein

Pequeno e útil guia da criatividade

Hoje em dia, é mais fácil do que nunca ser criativo, criar, imaginar e fazer o que é imaginado tornar-se realidade.
É também mais difícil do que nunca, pois as distrações que nos rodeiam agem como nunca antes havia se imaginado.

Não importa que tipo de criativo você é - escritor, pintor, músico, comerciante, blogueiro, fotógrafo, designer, pai,
empresário - você provavelmente sempre está procurando por inspirações, por novas formas de expressar sua criatividade.

Já que existem milhões de dicas sobre criatividade na internet, resolvi compartilhar com vocês as que considerei
mais úteis - as que eu testei e experimentei para descobrir se são verdadeiras.

Aqui estão elas, sem qualquer tipo de ordem:

  • Brinque.
  • Não consuma e crie, ao mesmo tempo - separe os processos.
  • Desligue-se do mundo exterior.
  • Reflita sobre a sua vida e o trabalho diariamente.
  • Procure por inspiração ao seu redor, nos lugares mais pequenos.
  • Comece pequeno.
  • Submeta a idéia, não importa o quão horrível seja o primeiro esboço.
  • Não tente ser perfeito. Submeta a idéia as pessoas e obtenha o quanto antes a opinião delas.
  • Dê o seu melhor e sempre faça melhor do que antes.
  • Ignore os pessimistas.
  • Mas deixe as críticas ajudá-lo a crescer.
  • Ensine e você vai aprender.
  • Balance, jogue e vire tudo de cabeça pra baixo para ver as coisas de novas maneiras.
  • Aplique as coisas em campos diferentes a que estão destinadas, usando caminhos que ainda não foram percorridos.
  • Beba uma ridicula quantidade de café.
  • Escreva todas as idéias imediatamente.
  • Transforme seu trabalho em uma brincadeira.
  • Brinque com crianças.
  • Saia, mude, veja coisas novas, fale com novas pessoas.
  • Leia coisas totalmente diferentes. Especialmente coisas que você discorda.
  • Descanse bastante. Excesso de trabalho mata a criatividade.
  • Não force. Relaxe, brinque e as idéias vão começar a fluir.
  • Permita que sua mente viaje sem rumo. se distraia quando estiver à procura de inspiração.
  • Em seguida, concentre-se novamente quando você for criar.
  • Faça quando você estiver com tesão.
  • Quando você não estiver, encontre alguma coisa que o faça ficar com tesão.
  • Não tenha medo de parecer estúpido e bobo.
  • Pequenas idéias são boas. Você não precisa mudar o mundo - basta mudar uma única coisa.
  • Quando algo está matando a sua criatividade, mate isso.
  • Pare de ler conselhos sobre criatividade, se livre de tudo e apenas crie.
  • Acima de tudo, se divirta desenvolvendo sua criação.
Enviado por Phernando Silva.

terça-feira, setembro 29, 2009

Respeitar os limites da Terra


Ir além, explorar, dominar, conquistar, apropriar-se e superar os limites que a natureza impõe sempre foram desafios à humanidade. Desses desafios nasceram tecnologias revolucionárias e de ponta, indicadores, inventários, mapeamentos, valores máximos ou limite superior e valores mínimos ou limite inferior, entre tantos outros. Na matemática, assim como na educação formal ou mesmo informal, temos conhecimento do significado de limites. No entanto, é preciso incorporar à nossa conduta e postura esse significado, para mantermos uma relação mais amigável com o meio ambiente. Equivocadamente, os homens, apoiados pela visão mecanicista do mercado, conferem à natureza o “status” de meio de obtenção de lucros, usufruindo de recursos naturais sem se preocupar com a finitude dos mesmos.
Estamos no vermelho. Usando o cheque especial de um banco chamado “Natureza” que nos emprestou recursos sem cobrança de juros, e, que, por descuido de todos, tornou-se inadimplente, à beira da falência. Hoje, o Planeta é insustentável. Até o ano de 2000, o Planeta ainda supria as necessidades básicas do homem. Prestava os serviços ambientais e desempenhava funções em 37 diferentes modalidades como: polinização garantida pelas abelhas e insetos, regulação do clima, regulação da água, biodiversidade com poucas perdas etc.. Com o aumento da população mundial de 1,6 bilhão em 1900, para 6,7 bilhões em 2009, os recursos naturais considerados infinitos, passaram a ser finitos. As políticas públicas adotadas pelo capitalismo contemplaram apenas 20% da humanidade, acentuando ainda mais as desigualdades sociais.
Segundo Leonardo Boff, estamos diante de quatro crises: duas conjunturais – a econômica e a alimentar e duas estruturais – a climática e a energética, sendo esta última, para o Brasil, de grande expectativa no potencial de atendimento a uma maior demanda no futuro. Diante das crises, poucos são os que colocam a questão de forma axial: afinal, se trata de salvar o sistema ou resolver os problemas da humanidade? Segundo Leonardo, a discussão dominante se restringe a presente questão: que correções importam fazer para salvar o capitalismo e regular os mercados? Quanto tempo demandará a reciclagem de idéias e a tomada de decisão para mudar o paradigma?
É bom lembrar que a degradação da natureza eleva a 40% o que a Terra já não é mais capaz de produzir. O ciclo de vida de cada produto da natureza não é respeitado. Ele é interrompido antes mesmo que seja finalizado o tempo previsto para o seu amadurecimento.
Exemplos divulgados na mídia televisiva são a pesca predatória e a pesca em período de defeso, respectivamente, quando são retiradas de seu habitat espécies com dimensões inferiores aos estabelecidos na legislação ambiental brasileira ou no período de reprodução, infração prevista também na Lei de Crimes Ambientais. Praticar atos ilícitos como estes impedem que as populações restantes supram a demanda cada vez maior do produto no mercado. Já ultrapassamos alguns limites da Terra e comprometemos os demais. Provavelmente um incomensurável colapso nos espera.
Já estamos a pleno vapor das mudanças climáticas, com 150.000 mortes por ano em desastres naturais, aumento da temperatura em 0,6º C, frequência de ocorrência maior de furacões nos continentes, registro de enchentes e enxurradas anuais em muitas cidades do Planeta. Miguel d’Escoto, atual Presidente da Assembléia Geral da ONU, em seu discurso inaugural em meados de outubro de 2008, afirmou que de todas as formas , mesmo mitigado, o aquecimento global vai produzir transtornos significativos no equilíbrio climático da Terra e provocar, nos próximos anos, cerca de 200 milhões de refugiados climáticos.
Voltamos à mesma tecla: onde estão os limites da Terra? Onde estão os limites do capital? Vimos que, segundo Leonardo Boff, o limite de uma coincide com o limite do outro. Sem biodiversidade não há alimento e muito menos indústria.
Um convite ao verdadeiro dever de casa que todos temos que fazer é: obedecer aos limites impostos pela ciência e pela experiência. Até então, não se tinha falado sobre os limites da natureza ou fronteiras planetárias. Surge, porém, Johan Rockström, pesquisador da Universidade de Estocolmo, e outros cientistas que propuseram três dos nove Limites da Terra, as chamadas Fronteiras Planetárias que a Revista Nature divulgou em 24/09/2009.
Os limites da Terra dizem respeito a nove processos sistêmicos principais: mudanças climáticas; acidificação dos oceanos; influência dos ciclos globais de nitrogênio e de fósforo; uso da água potável; alterações no uso do solo; carga de aerossóis atmosférica; poluição química. Espera-se que a sensibilização e conscientização para os graves problemas ambientais surgidos a partir da Revolução Industrial, motivem pesquisadores e governos a buscarem criativas soluções e mecanismos de sustentabilidade para uma rápida mudança de paradigma, já que agora a conhecemos. Espera-se, também, impedir que os valores se situem no limite superior de cada processo aqui citado e que o bom senso impere nas reuniões da COP-15, em dezembro, na Dinamarca, sobre as Mudanças Climáticas – o calcanhar de Aquiles do Século XXI.
Copyleft por Carol Salsa, engenheira civil, colaboradora e articulista do site EcoDebate.

sexta-feira, setembro 25, 2009

De volta ao marketing de guerrilha

Entrevista concedida por Chico Cavalcante, no dia 23 de setembro de 2009, às estudantes Laís Veloso, Marina Eiró e Daniela Gonçalves, da Universidade da Amazônia.


1- A mudança no perfil do consumidor moderno implica na criação de novas estratégias de marketing para atender essa demanda de “consumidores multimídia”. Como exemplo desse tipo de estratégia, temos a ação realizada pelo canal Fox para o seriado 24h, na cidade de São Paulo. Em sua opinião, esse tipo de estratégia seria bem aceito pelo consumidor paraense? Por quê?


CC – Seria bem aceito pelo consumidor, sim, desde que não fosse invasiva e que não se tornasse a forma dominante de comunicação, já que o contato direto e persistente com o público pode, sempre, implicar em reações inesperadas, como a interpretação de que essa forma de propaganda é inadequada porque extrapola o limite da privacidade das pessoas. A propaganda via mensagem de celular, uma forma de guerrilha, é um exemplo de propaganda invasora e inconveniente e que, na minha opinião, produz mais efeitos negativos que positivos para quem a usa. É uma das formas mais antipáticas de contato com o público. Você comprou o celular e paga a sua conta para ter o direito de se comunicar, não para servir de canal de recepção de propaganda que você não optou por receber.
A guerrilha não é necessariamente invasiva. Ela pode usar mídia de permissão e pode chegar ao público da forma em que esse público a aceite. A guerrilha é filha da hipercomunicação, do mundo saturado de propaganda. Por isso, para entender o surgimento dessa estratégia e seus mecanismos de abordagem é preciso, antes, entender que não foi só o perfil do consumidor que mudou. Mudou o capitalismo. A base produtiva se alterou através de uma sucessão de revoluções tecnológicas e com elas houve um giro que remontou o marketing, alterando seus paradigmas. A priori a ênfase era dada ao preço, as pessoas eram motivadas fundamentalmente pelo preço, quanto menor o preço, mais atrativo era o produto/serviço. Posteriormente vieram status, hoje podemos dizer que a ênfase é dada à qualidade do produto/serviço e ao atendimento. Antes, Henry Ford podia dizer que o cliente poderia escolher qualquer cor para o seu carro desde que fosse “preto”; hoje o cliente influencia até sobre o design dos modelos que saem das montadoras. Logo, o Marketing da organização deve concentrar os 5p's (praça, preço, produto, promoção e pessoas) na qualidade do serviço oferecido ao cliente.  No velho paradigma do marketing, conceitos-chave, tais como target (público-alvo), mídias tradicionais (como TV, Rádio, Jornais e Revistas) e anúncios/comerciais, faziam parte do jargão de todos aqueles que trabalhavam com comunicação, seja no lado da empresa, agência ou cliente. Fenômenos como Google, Youtube, Second Life, Wikipedia e Blogs têm menos de 10 anos de existência mas já produziram uma revolução. Como pensar em ações de Marketing na atualidade sem considerar essas possibilidades de conteúdo e mídia?Além destes sites e novas ferramentas de base micro-eletrônica, como o email marketing ou CRM – Customer Relationship Management (Gerenciamento do Relacionamento com Clientes) o consumidor atual possui uma rede de pontos de atenção muito maior. Pergunte ao adolescente o que ele prefere: ficar sem computador ou televisão?


2- Segundo pesquisas realizadas nos Estados Unidos, cada pessoa vê em média 1,5 mil mensagens comerciais diariamente (pesquisa feita em grandes metrópoles). Isso diminui consideravelmente o poder e a eficácia das peças publicitárias. Em Belém, em sua opinião, já existe esse congestionamento de informação de mídias tradicionais? Se sim, qual a maneira que as agências estão encontrando para driblar esse excesso de informação?


CC - 1,5 mil mensagens acontecem em lugares onde a publicidade está condicionada a um aparato legal que a limita. Em Belém esse número é maior. Em cidades onde o adensamento urbano é desordenado e onde a legislação de ocupação dos espaços é permanentemente desobedecida ou simplesmente não existe, a poluição produzida pela propaganda suja gera um ruído, auditivo e visual, muito maior. Veja, por exemplo, o caos das placas de lojas que avançam para o meio fio ou que tomam a totalidade das fachadas das lojas ou as placas de outdoor claudicantes que ameaçam desabar sobre as pessoas e estranhamente “fazem curvas” nas esquinas, para não perder nem um centímetro da área pública ocupada pela mensagem publicitária. A propaganda precisa ser permissiva para ser assimilada como algo que não agride o público que pretende influenciar. O maior problema da propaganda suja que se vê nas ruas é que, diante da gritaria generalizada da concorrência, a maior parte das agências de publicidade sugere a seus clientes gritar mais alto, produzindo mais ruído e, portanto, menor percepção das mensagens. Para driblar esse ruído é preciso fazer comunicação com planejamento, ter foco no conceito e, também, sugerir alternativas de mídia.


3- A sua agência praticou ou pratica alguma ação de marketing de guerrilha?


CC - Diariamente fazemos guerrilha, embora as ações efetivamente de guerrilha em nossa cidade sejam incipientes porque a cultura da mídia de massas ainda é a que prevalece.
Por exemplo, desenvolvemos, recentemente, uma ação de guerrilha com armas on-line usando email marketing (uma das táticas de guerrilha) para nosso cliente Farmácia Formosa. A ação consistiu no envio de uma mala direta nominal e leve para parte de nosso banco de dados. Disparamos cerca de mil e quinhentos emails focais (para um público efetivamente fidelizado) mostrando uma promoção relâmpago de produtos Nívea. A mala sugeria que o cliente fosse à farmácia em até 24 horas para usufruir dos descontos. Geramos 15% a mais de procura pelos produtos com um único clique, sem poluir as ruas ou o meio ambiente nem gerar embaraços para transeuntes. O custo da ação por ticket foi de fração de centavos.
Há pessoas que leram os textos sobre guerrilha de maneira equivocada e pensam que fazer guerrilha é fazer gracinha. Fazer guerrilha é gerar, a um custo baixo, um resultado alto para o cliente, seja isso através da mídia convencional ou alternativa. È isso que ensina Levinson. É isso que entendo por guerrilha.
Um exemplo do que não fazer é executar ações que geram visibilidade e ao mesmo tempo produzem antipatia. Fantasiar pessoas para distribuir panfletos nos sinais é um mau exemplo clássico, mas não é o único. Outro dia eu estava no aeroporto de Belém vindo de uma longa viagem; eu estava cansado e, no meio da esteira de malas, havia uma mala de papelão totalmente adesivada com o logotipo de uma rede de supermercados local. A mala girando na esteira impedia que malas reais se movessem mais rápido e isso aumentava o tempo de espera de quem estava ali querendo pegar sua bagagem e ir embora para casa. A reclamação contra a “palhaçada” era geral. Isso não é guerrilha. É “fogo amigo”; é atirar contra si mesmo. A agência vendeu para o cliente essa palhaçada como sendo “ação de guerrilha”, algo moderno e “bacana”. Mas não é. É só marketing ruim.
Um exemplo grandioso desse tipo de ação amalucada camuflada de guerrilha foi a campanha assinada pela Turner Broadcasting, que parou boa parte da cidade de Boston com os pacotes deixados para divulgar o cartoon “Aqua Teen Hunger Force”.  A força policial isolou as áreas achando que os pacotes continham bombas e isso gerou um caos no trânsito da cidade. A dupla contratada para deixar os pacotes pela cidade foi presa pela polícia. A agência conseguiu o buzz. Mandou o nome do desenho animado e da agência pro mundo inteiro. Mas junto, associaram o nome do cliente e o da agência ao fantasma social que mais assusta os estadunidenses: o terrorismo. Novamente, parecia guerrilha mas era só marketing ruim.


4- Que tipo de cliente, em sua opinião, seria adequado para desenvolver esse tipo de estratégia?


CC - Tendo sido criada para ajudar pequenas empresas a gerarem visibilidade e lucro com baixo investimento de mídia, a guerrilha evoluiu e hoje se aplica indistintamente para todo tipo de cliente. No primeiro livro sobre o tema, Levinson menciona um artigo da Harvard Business Review, assinado por Welsh e White, que diz que pequenos negócios não são versões menores de um grande negócio. Por causa da falta de recursos dos pequenos negócios, estes precisam utilizar diferentes tipos de estratégias de marketing e táticas. Mas os recursos se tornaram escassos para todos e os congestionamentos das vias de comunicação mudaram o cenário. Hoje, tanto grandes corporações, lojas de esquina quanto organizações não governamentais podem se beneficiar da tática.


5- Hoje, todos os profissionais de marketing vêm enfrentando o mesmo problema: como atingir os consumidores, cada vez mais resistentes às propagandas tradicionais, com orçamentos menores e mais retorno. A partir disso, surgiram o Buzz Marketing, o Marketing Viral e o Marketing de guerrilha. A PQ Media, uma empresa de pesquisas americana, calcula que os marqueteiros gastaram só nos Estados Unidos, US$ 1,35 bilhão em marketing de boca a boca no ano passado, 38% a mais que no ano anterior (pesquisa realizada em 2008). Em Belém, já existe certa confiança por parte dos anunciantes em investir nesse tipo de estratégia? 


CC - Marketing viral e buzz marketing (boca-a-boca) são elementos táticos dentro de uma estratégia de guerrilha. São meios. Guerrilha não é um meio, é uma estratégia, ou seja, uma disciplina que se vale de diferentes táticas, de múltiplos meios. Um cartão de visita inovador ou uma atendente de telefone de bom humor são gestos tão guerrilheiros quanto descer um prédio de rapel para vender o seriado 24 horas, mas essa lição básica que está nos ensinamentos de Levinson parece letra morta diante da adrenalina de sair à rua e tentar impactar o público “na marra”. Embora alguns autores tentem distinguir viral e buzz como sendo uma “disciplina” de marketing, não são. São ferramentas, apenas.
Alguns autores falam da “guerrilha”, enquanto interferências visuais no espaço urbano. Entre estas interferências, citam o graffiti, stencil (desenho grafitado através de uma máscara), lambe-lambe, adesivos de rua e outras. Trata-se de um modelo mais delimitado, uma segmentação, mas essas ferramentas podem ser guerrilha ou não de acordo com seus objetivos mercadológicos. Ou seja, não são guerrilha em si, mas podem ser guerrilha para si, se são incorporados a um arsenal de vendas que se abriga sob o escopo de uma estratégia de guerrilha.
Em Belém  não há cultura de investir em ações alternativas como centrais em campanha de mídia a não ser em ONGs e em partidos políticos em tempos de eleições. No dia a dia, as grandes e pequenas empresas locais seguem investindo 99% de sua verba em mídia de massas.


6- O Marketing de guerrilha provém de mídia espontânea, que é causar impacto no público com um baixo custo. O objetivo é o buzz, ou seja, que todos saiam falando do produto e da maneira que foi divulgada esse produto, no marketing de guerrilha, é importante que se crie uma ilusão de espontaneidade, assim, cria-se a imagem de marca inusitada, diferente e descontraída. Dentro do mercado paraense (Belém), existe uma grande quantidade de micro, pequenas e médias empresas que muito poderiam se utilizar das estratégias do marketing de guerrilha para anunciar seus serviços. Porém isso não ocorre, por quê?  


CC - Nem toda marca, nem todo produto, nem todo cliente quer ter uma imagem “inusitada”, “diferente” e “descontraída”. Esse objetivo não é universal, nem deve ser. O que todo cliente quer é vender o seu produto ou serviço e edificar sua marca. A guerrilha é uma ótima ferramenta para ajudar a vender produtos e edificar marcas, seja de uma empresa conservadora como a Ford, McDonald ou as Casas Bahia ou de empresas de vanguarda, como o Greenpeace, Apple ou Unilever.
Embora a mídia espontânea seja desejável em qualquer modalidade de marketing, ela não é uma pré-condição para uma boa ação de guerrilha.
Essa pré-condição é uma leitura recente e controversa que se faz hoje, mas não recordo que essa pré-condição esteja nos pilares dos ensinamentos de Levinson sobre o tema. Por exemplo, no livro “Marketing de guerrilha com armas on-line” Levinson apresenta recursos que tornarão mais interessantes e eficientes a presença online, como endereço e assinatura de e-mail, posicionamento do logotipo da empresa, uso correto de embalagens e auxílios audiovisuais. São armas que garantem o conforto do cliente, facilitam os pedidos, aumentam a rapidez das entregas, aperfeiçoam o pagamento, a formação de preços, os mecanismos de feedback mas não se fala ali em “mídia espontânea” ou de ocupação gratuita de espaço na mídia de massas, ferramentas típicas das Relações Públicas e que podem ser apropriados pela guerrilha mas não são, digamos, mecanismos nativos da guerrilha.
Do mesmo modo, a “ilusão de espontaneidade” não é uma necessidade vital da guerrilha, mas sim de uma de suas táticas, o Ambush Marketing, termo que define aquelas ações artificiais que simulam movimentos sociais reais, como a feita pela Oi, que ao vender celulares desbloqueados simulou a existência de um “movimento” a favor do desbloqueio de aparelhos. Quando veio a lei que exigia o desbloqueio, eles comemoram como se fosse tudo produto do “movimento” pela liberdade de escolha que haviam criado artificialmente.
Por que empresa que poderia usar guerrilha como o centro de sua estratégia de comunicação negligencia seu uso? É simples: porque estão presas ao passado, quando só se podia fazer comunicação efetiva através dos meios de comunicação de massas.

Chega de saudade

Honduras é um pequeno país quase sem importância, não fosse o fato de estar confortavelmente implantado acima de uma reserva petrolífera considerável. A confirmação do potencial energético se deu com prospecções profundas feitas por uma empresa norueguesa há um ano, a pedido do governo hondurenho.
No exercício de seu mandato presidencial, Manuel Zelaya, um homem da centro-direita nacionalista, acionou judicialmente as empresas estadunidenses que vendiam petróleo caro a seu país e se aproximou do grupo Petrocaribe, criado pela Venezuela.
A reforma constitucional proposta pelo governo não previa apenas uma consulta popular para dar ao povo do país a oportunidade de reeleger o presidente, mas principalmente previa que os recursos naturais de Honduras não poderiam ser entregues para outros países. Era a senha para se armar um golpe. Ou, como se dizia nos anos 60, era "a receita para o caos".
Do choque de interesses econômicos e do realinhamento político de Zelaya, veio o golpe militar em 28 de junho, que depôs o presidente e colocou em seu lugar um fantoche em quem ninguém votou, ladeado por uma junta governativa nomeada pelos militares.
Milhares de hondurenhos iniciaram em diversas regiões do país, caminhadas em direção à capital Tegucigalpa e à cidade de San Pedro Sula, no norte, para exigir a restituição do presidente eleito, Manuel Zelaya, deposto em pelas Forças Armadas. As marchas foram organizadas pela Frente Nacional de Resistência Contra o Golpe de Estado, formada por dezenas de organizações civis que, desde que Zelaya foi tirado do poder, mobilizam-se contra o governo auto-proclamado, liderado por Roberto Micheletti.
As manifestações foram duramente reprimidas pelas forças armadas hondurenhas.
A comunidade internacional rejeitou o golpe e passou a desconhecer o governo golpista. O Brasil assumiu a vanguarda na denúncia do golpe e na defesa do retorno do presidente eleito ao poder. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva reivindicou, na Assembléia Geral da ONU, o imediato retorno ao poder de Manuel Zelaya e que a comunidade internacional fique alerta sobre a inviolabilidade da Embaixada do Brasil em Tegucigalpa, a capital do país.
Lula pediu mais “vontade política” para confrontar situações que conspiram contra a paz, o desenvolvimento e a democracia, e citou o golpe de Estado de 28 de Junho nas Honduras, cujo líder, disse, tem “refúgio garantido” na Embaixada do Brasil em Tegucigalpa.
Mas existe um lugar onde o golpe hondurenho tem uma saudosista acolhida: o noticiário da rede Globo. Na noite de 24  de setembro, no Jornal Nacional, uma matéria tentava justificar o golpe como uma decisão da "Suprema Corte", ou seja, os militares não deram um golpe, apenas "cumpriram uma decisão judicial".
Ontem, 23 de setembro, Arnaldo Jabor, cronista do Jornal da Globo, criticou o governo brasileiro pela postura democrática e obediente à tradição de nossa diplomacia – a acolhida a Zelaya na embaixada do Brasil – e afirmou, desavergonhadamente, que o que aconteceu no pequeno país foi um “golpe brando”, já que foi revestido de decisão da suprema corte.
Jabor esquece que todo golpe militar esconde-se nos escaninhos escuros da legalidade. O mesmo aconteceu em 1964 no Brasil, em 1973 no Chile e é uma característica dos golpes de estado: exibir o porrete em uma mão e o código civil em outra. Nenhum golpe assume sua ilegalidade. Afirma-se, ao contrário, na defesa dos preceitos constitucionais. O golpe é feito em nome da lei, embora a viole. É um mecanismo de dissimulação clássico. E persistente.
A rigor, uma ditadura não precisaria de leis, já que possui a força. Mas na prática não é assim. A lei serve para dar suporte social e político aos seus desmandos. O AI-5 era uma necessidade política dos militares brasileiros para seguir prendendo, torturando e matando a sombra de nossos compêndios legais e do silêncio de uma imprensa covarde. A mesma imprensa que considera branda a ditadura hondurenha e classifica como “ditabranda” a ditadura sanguinária que se instaurou no Brasil em abril de 1964.
A saudade da Globo é justificada.
A TV Globo foi fundada exatamente um ano depois do golpe de 64.

Senado aprova limite de verba publicitária

A verba destinada à publicidade do governo federal brasileiro poderá ser apenas 0,1% maior do que a utilizada no ano anterior. A determinação é um complemento de um projeto de Lei aprovado nessa última quarta-feira, 23, pela Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado.
Com a nova regulamentação, os investimentos em propaganda dos Estados poderão subir somente 0,3% em relação ao ano anterior, enquanto o dos municípios não poderá ultrapassar uma margem de aumento de 0,5%. A restrição, entretanto, não é válida para a publicidade obrigatória, como a publicação e divulgação de editais e balanços de empresas públicas.
Apesar de restringir o aumento da verba de publicidade, a proposta não prevê nenhuma forma de punição para quem burlar ou desrespeitar a regra. No último mês de agosto, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva havia vetado a emenda da Lei de Diretrizes Orçamentárias, que restringia o montante investido em publicidade no ano de 2009. De acordo com as estimativas do governo, e verba reservada para a publicidade no ano de 2010 chega a R$ 699 milhões, quantia 19% maior do que o autorizado para uso em 2009.
No debate, o senador Aloizio Mercadante (PT-SP) manifestou posição contrária ao projeto. Alegou, entre outras razões, o fato de a proposta não prever punição para quem burlar as regras sugeridas, o que tornaria "inócuas" as medidas. Mesmo assim, desistiu do pedido de vista que chegou a considerar, depois de ouvir do presidente da CCJ, senador Demosténes Torres (DEM-GO), de que o debate poderá ser reaberto na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE), onde o texto ainda será examinado, em decisão terminativa.
Depois de ser aprovado pela CCJ, o complemento da Lei será encaminhado à Comissão de Assuntos Econômicos para a avaliação e seguirá, posteriormente, para a votação na Câmara. Se a regra passar pelo Congresso, as novas medidas passarão a constar como um dos artigos da Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF), a Lei Complementar 101, de 2000.

quarta-feira, setembro 23, 2009

Aprendendo a ver e a escrever com Bergman

Um dia no princípio de Maio, em plena Primavera, faz calor.

(...)

Subitamente, Émilie surge à entrada da cozinha, muito bem vestida com um terno cinzento claro de mangas transparentes e traz um cinto largo, bordado. Dirige-se a Alexandre com voz grave.

ÉMILIE: Quando acabares de beber o chocolate, gostava de falar contigo. (...) Vamos os dois à biblioteca para cumprimentar alguém que veio visitar-nos. 
(Silêncio) É alguém que te quer falar. (Silêncio) Não é preciso chorares.

ALEXANDRE: Mas o que é que eu fiz?

ÉMILIE: Sabes melhor que ninguém. Anda, vamos à biblioteca.

A mãe levanta-se, e pega no filho pela mão. Dirigem-se os dois à biblioteca. Ali encontra o bispo que folheia um livro do pai, e que imediatamente olha e sorri para os que entram. Visto da perspectiva de Alexandre, Edvard Vergérus é impressionante: alto, ombros largos, rosto comprido com mossas e envolto numa cabeleira cinzenta clara, barba, e olhos dum azul intenso. Veste uma casaca de pastor e a sua cruz de ouro cintila no tecido escuro. Estende uma mão a Alexandre. Alexandre faz-lhe uma vénia profunda. A mãe senta-se no enorme canapé de couro.

EDVARD VERGÉRUS: Bom-dia, Alexandre.

ALEXANDRE: Bom-dia.

EDVARD: Tu e eu já nos encontramos. 
(Silêncio) Em circunstâncias dolorosas. (Silêncio) Quando enterrei o teu pai.

ALEXANDRE: Sim.

EDVARD: A partir daí a tua mãe, que não tem apoio masculino, já me consultou algumas vezes para me fazer saber das suas preocupações. O que é perfeitamente natural. Sou um amigo íntimo da tua avó e o pastor desta paróquia.

ÉMILIE: Durante este período difícil, Monsenhor foi muito bom para mim e não sei como conseguiria aguentar sem a sua ajuda.

EDVARD: Também falamos de ti, pequeno.

O bispo está sentado no sofá em frente da mesa da biblioteca, puxou dum estojo de cabedal e retirou dele um cachimbo e um saquinho cheio de tabaco. Enche cuidadosamente o cachimbo e acende-o nas costas do sofá e observa Alexandre com os olhos a brilhar, dum azul intenso.

ÉMILIE: Já disse ao senhor Bispo como me sinto orgulhosa e feliz com os meus filhos queridos.

EDVARD: Ouvi dizer que tu e as tuas irmãs vão bem na escola. Que sois atentos, trabalhadores e tiveram boas notas pelo Natal. É assim, Alexandre?

ALEXANDRE 
(murmura): É.

EDVARD: Não precisas de ter medo. Sou teu amigo e só te quero bem. Acreditas ou não?

ALEXANDRE: 
(quase a chorar): Acredito.

EDVARD: Mas trabalhar bem e ter boas notas não é tudo na vida.

ÉMILIE: Alexandre, assoa-te.

Alexandre assoa-se.

ÉMILIE: Tens o lenço todo sujo! A Maj não te deu hoje um lenço limpo?

ALEXANDRE: Deu. (Assoa-se e murmura) Sujidade de merda.

EDVARD 
(que é surdo dum ouvido): Como te dizia, trabalhar bem e ter boas notas não é tudo na vida.

ÉMILIE: Ouve o que diz Monsenhor, Alexandre.

EDVARD: Mas ele está a ouvir-me. Não estás, Alexandre? E estás um pouco apreensivo com o que vou dizer, não é?

Alexandre resmunga.

EDVARD: Estás a crescer, Alexandre. Por isso vou falar contigo como um adulto falaria com outro adulto. És capaz de me dizer, és capaz de me explicar o que é mentira e o que é verdade? És capaz?

Alexandre continua calado.

EDVARD: Talvez penses que é uma pergunta estúpida, e de facto é. Estava apenas a brincar. Tu sabes muito bem o que é mentira e o que é verdade.

ALEXANDRE: Sei.

EDVARD: Muito bem, meu rapaz, muito bem. E também sabes por que se mente.

ALEXANDRE: Porque não se quer dizer a verdade.

EDVARD: Essa é uma resposta astuta, meu caro. Mas não te safas assim tão facilmente. Por isso te pergunto: Por que é que não se quer dizer a verdade?

ALEXANDRE: Não sei.

Alexandre olha para o chão, sente o esqueleto a liquefazer-se lentamente, a abandoná-lo pela planta dos pés e a espalhar-se sobre o tapete oriental da biblioteca. O bispo sorri sozinho, mergulha um comprido dedo amarelado no fornilho do cachimbo para acamar o tabaco. Émilie, com ar desalentado, olha para o filho recalcitrante.

EDVARD: Temos muito tempo, Alexandre e a tua resposta interessa-me de tal maneira que vou esperar por ela o tempo que for preciso. Não acreditas, mas é verdade.

ALEXANDRE: Mente-se para se conseguir ua vantagem.

EDVARD: Bem respondido, meu rapaz. Bem e de forma concisa. Agora vou continuar com o meu interrogatório e perdoa-me se te vou fazer algumas perguntas um pouco mais pessoais. Podes contar-nos, a mim e à tua mãe, por que mentiste na escola?

ALEXANDRE: O quê?

ÉMILIE: O teu professor escreveu-me a dizer que andas a espalhar na aula as mais incríveis mentiras.

ALEXANDRE: O quê?

ÉMILIE: Vais negar... que andaste a dizer aos teus colegas que... que eu te tinha vendido a um circo ambulante 
(lê a carta) e que no fim deste trimestre as pessoas do circo te vêm cá buscar? Que te vão ensinar a ser acrobata e a montar a cavalo com uma cigana da tua idade chamada Tamara.

Alexandre fica calado, vencido.

EDVARD: Como deves compreender, a tua mãe sentiu receio e pena quando leu esta carta. Não sabia o que fazer. Eu propus-lhe discutir contigo este assunto tão aborrecido, por isso aqui estou.

ÉMILIE: Devias ficar reconhecido por Monsenhor perder o seu tempo por tua causa, Alexandre. Não achas?

Alexandre baixa a cabeçe.

EDVARD: Dizíamos há pouco que aquele que mente quer, graças à sua mentira, obter uma vantagem. Agora, segundo toda a lógica, eu pergunto-te: que vantagem achavas tu que obtinhas ao dizeres que a tua mãe te tinha vendido a um circo?

ALEXANDRE: Não sei.

EDVARD 
(sorrindo): Acho que sabes muito bem, mas que tens vergonha de dizer. Tens vergonha, é isso? Está bem, meu caro. Está muito bem. Isso só demonstra que no futuro evitarás deixar-te levar por tais fantasias. Agora vais pedir perdão à tua mãe pelo desgosto e pela inquietação que lhe provocaste. Vá, pede perdão à tua mãe. (Silêncio) Estás a ouvir o que te digo, Alexandre?

Alexandre mantém os ombros crispados e a cabeça baixa, não chora mais, cerra os punhos e acaba por se dirigir à mãe.

ALEXANDRE: Mamã, peço perdão por ter mentido e prometo não voltar a fazê-lo.

A mãe beija um Alexandre completamente petrificado e puxa-o para si, sentando-o nos joelhos. Alexandre deixa-se ficar assim, inerte, como uma marioneta sem fios.

EDVARD: Está bem, Alexandre. O assunto está resolvido e não vamos falar mais nisto. Sabes que a imaginação é algo de magnífico, é uma força enorme, um dom de Deus. Entre os homens, são os grandes artistas, os poetas, os músicos, que se servem dela.

O bispo pôs-se de pé e dá pancadinhas na cabeça de Alexandre com a mão enorme e ossuda. 



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Ingmar Bergman, Fanny & Alexandre; Excertos.

Os sete passos de Jay Levinson para uma propaganda persuasiva





1. Encontre o drama inerente em sua oferta - Afinal, você planeja ganhar dinheiro vendendo um produto ou serviço ou ambos. As razões que as pessoas têm para comprar de você devem dar uma dica do drama inerente ao seu produto ou serviço. Alguma coisa em sua oferta precisa ser inerente ao interesse de alguém ou você não iria por à venda. Para a bebida energética para atletas, é a alta concentração de líqüidos revitalizantes e sais minerais.


2. Traduza o drama inerente em um benefício ou vantagem real - Lembre-se sempre que as pessoas compram benefícios, e não características. As pessoas não compram xampu; as pessoas compram um bom visual ou limpeza ou cabelos manuseáveis. As pessoas não compram carros; as pessoas compram velocidade, status, estilo, economia, performance e poder. Uma mãe não compra cereais; ela compra nutrição, apesar que muitas compram qualquer coisa que suas crianças comam – qualquer coisa. Então, encontre o maior beneficio em sua oferta e escreva-o. Deve vir direto da característica inerente ao drama. E mesmo que você tenha quatro ou cinco benefícios, fique com apenas um ou dois – três, no máximo.
3. Apresente seus benefícios de forma tão plausível quanto possível - Existe um mundo de diferenças entre honestidade e plausibilidade. Você pode ser 100% honesto (aliás, como sempre deve ser) e as pessoas ainda não acreditarem em você. Você deve ir mais além da honestidade, além das barreiras que a propaganda erigiu com sua tendência de exagerar, e apresentar seu benefício de uma forma que seja aceito sem qualquer dúvida. Uma empresa de cereais poderia dizer, “uma tigela de nosso produto provê sua criança com quase a mesma quantidade que uma pílula de complemento vitaminar”. Esta frase começa com o drama inerente, transforma-o em beneficio e é apresentado de forma plausível. A frase soa como uma verdade incontestável.
4. Chame a atenção das pessoas - As pessoas não prestam atenção às propagandas. Elas só prestam atenção às coisas que lhes interessam. E, às vezes, elas encontram essas coisas numa propaganda. Então você consegue interessá-las. E enquanto você está aí, faça com que este interesse se volte para seu produto ou serviço, não só o seu anúncio. Tenho certeza de que você se lembra de algum anúncio interessante, mas não se lembra do produto. Muitos publicitários criam anúncios mais interessantes do que o produto que estão anunciando. Você pode evitar esta armadilha, memorizando esta frase: Esqueça o anúncio… O produto ou serviço é interessante? A companhia de cereais poderia colocar seu ponto de vista, mostrando uma imagem de duas mãos quebrando uma cápsula de vitaminas de onde caem cereais em uma tigela de visual apetitoso.
5. Motive sua audiência a fazer alguma coisa - Convide-os a visitar sua loja, como a empresa de alimentos faria. Diga-lhes para telefonar, preencher um cupom, enviar uma embalagem ou código de barras, fazer uma degustação ou pedir uma demonstração gratuita. Não se contente com pouco. Para fazer o marketing de guerrilha funcionar, você precisa dizer às pessoas exatamente o que você quer que elas façam.
6. Esteja certo de se comunicar claramente - Talvez você saiba do que está falando, mas e os seus leitores e ouvintes? Note que as pessoas não estão realmente pensando no seu negócio e que não irão prestar atenção totalmente no seu anúncio – mesmo quando elas estiverem prestando atenção. Coloque-se como alguém de fora para ter certeza que está passando sua mensagem. Você poderia mostrar o anúncio para 10 pessoas e perguntar qual o ponto principal para elas. Se uma pessoa não entendeu, quer dizer que 10% das pessoas poderão não entender. E se você rodar o anúncio para 500.000 pessoas, pode ser que 50.000 não venham a entender o ponto principal. Isso é inaceitável. Cem por cento da audiência deve entender o ponto principal. A empresa de cereais poderia fazer isso começando com um título ou subtítulo dizendo “Dar nosso produto a suas crianças é como lhes dar vitaminas – só que muito mais gostoso”. Tolerância zero à ambigüidade!
7. Meça sua peça de publicidade em função de estratégia criativa - Sua estratégia criativa deve servir como guia e vai fornecer dicas para o conteúdo do seu anúncio. Se você não fizer isso, você acaba criando as peças de publicidade no vácuo. E isso não é ser criativo. Se o anúncio vai na linha de sua estratégia, então você pode julgá-lo contra outros elementos. Não se deixe enganar pela simplicidade deste método. Ele funciona perfeitamente com qualquer produto ou serviço e pode transformar seu negócio porque aborda a natureza humana.
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 Jay Conrad Levinson é o criador do conceito "Marketing de Guerrilha"

sexta-feira, setembro 18, 2009

Relendo J.B. Thompson II

J. B. Thompson concebe o poder enquanto capacidade conferida institucionalmente ao indivíduo ou ao grupo para levar a cabo a defesa de certos interesses ou a concretização de propósitos previamente definidos. Essa capacidade manifesta‑se principalmente nas esferas política, militar e económica, as quais, constituindo embora cada uma um universo referencial próprio, estão estreitamente interligadas e condicionam‑se reciprocamente, como o demonstrara Bertrand Russell. Este filósofo britânico procuraria contornar a prevalecente ideia marxista de que a economia é o motor da História, apresentando como alternativa a sede de poder, condição sine qua non de toda a evolução política. Na análise que faz em finais da década de trinta das várias formas de poder que marcaram até então o presente século, denunciaria não só as articulções existentes entre os interesses económicos, a expansão territorial e a intervenção militar, mas também — à semelhança de Foucault, mais tarde — o facto de a verdade funcionar como o mais eficaz instrumento do poder político.
Ao contrário de Russell, porém, Foucault, na sua “arqueologia” da verdade, não se limitaria à abordagem dos efeitos da propaganda sobre a opinião pública. O autor de Surveiller et Punir e de la Volonté de savoir encontrará igualmente no próprio discurso científico um dos traços constitutivos da “economia política da verdade”. Enquanto sistema de procedimentos orientados para a produção e circulação de proposições, a verdade é, de acordo com Foucault, indissociável dos sistemas de poder que a regulam. Daí ser legítimo falar de um regime de verdade.
O poder revela‑se, portanto, como um elemento estruturador e consolidativo da ordem social, determinando o estatuto hegemónico deste ou daquele grupo, que o mesmo é dizer, definindo o grau de dominação, de repressão e de influência exercidas, ainda que inconscientemente, sobre os restantes grupos. No seio desse grupo circula uma linguagem própria — a que Roland Barthes deu o nome de encrática — emanada do poder, incrustrada de dogmas e, por vezes, doxomaníaca, que não admite contradição nem coexistência com outras linguagens, suas contestatárias. Assim, as relações assimétricas que, no interior do tecido social, se constróem de acordo com os ditâmes do poder, são justificadas e naturalizadas dentro de um vocabulário que vai buscar os seus significantes à ideologia dominante. É nesse sentido que Terry Eagleton irá argumentar que toda a ideologia marca o ponto em que o poder penetra e se instala no cerne dos discursos, intervindo activamente nos processos de construção de sentidos.
Note‑se, todavia, que nem todos os discursos partilham do poder. Roland Barthes, embora admitindo não haver texto sem ideologia, reconhece que no interior da logosfera (‘le monde du langage’) é impossível aspirar a uma harmonização ideológica dos diferentes sociolectos — linguagens alimentadas por certas ficções, ou, como ousará ainda qualificar, por certas ‘paranóias’  — que entre si competem pela hegemonia.

quinta-feira, setembro 17, 2009

10 razões para legalizar as drogas


1 – ENCARAR O VERDADEIRO PROBLEMA - Os burocratas que constroem as políticas sobre drogas têm usado a proibição como uma cortina de fumaça para evitar encarar os fatores sociais e econômicos que levam as pessoas a usar drogas. A maior parte do uso ilegal e do uso legal de drogas é recreacional. A pobreza e o desespero estão na raiz da maioria do uso problemático da droga, e somente dirigindo-se a estas causas fundamentais é que poderemos esperar diminuir significativamente o número de usuários problemáticos.
2 – ELIMINAR O MERCADO DO TRÁFICO - O mercado de drogas é comandado pela demanda e milhões de pessoas demandam drogas atualmente ilegais. Se a produção, suprimento e uso de algumas drogas são criminalizados, cria-se um vazio que é preenchido pelo crime organizado. Os lucros neste mercado são de bilhões de dólares. A legalização força o crime organizado a sair do comércio de drogas, acaba com sua renda e permite-nos regular e controlar o mercado (isto é prescrever, licenciar, controle de venda a menores, regulação de propaganda, etc..).
3 – REDUÇÃO DRÁSTICA DO CRIME - O preço de drogas ilegais é determinado por um mercado de alta demanda e não regulado. Usar drogas ilegais é muito caro. Isto significa que alguns usuários dependentes recorrem ao roubo para conseguir dinheiro (corresponde a 50% do crime contra a propriedade na Inglaterra e é estimado em 5 bilhões de dólares por ano). A maioria da violência associada com o negócio ilegal da droga é causada por sua ilegalidade. A legalização permitiria regular o mercado e determinar um preço muito mais baixo acabando com a necessidade dos usuários de roubar para conseguir dinheiro.Nosso sistema judiciário seria aliviado e o número de pessoas em prisões seria reduzido drasticamente, economizando-se bilhões de dólares. Por causa do preço baixo, os fumantes de cigarro não têm que roubar para manter seu hábito. Não há também violência associada com o mercado de tabaco legal.
4 – USUÁRIOS DE DROGA ESTÃO AUMENTANDO - As pesquisas na Inglaterra mostram que quase a metade de todos os adolescentes entre 15 e 16 anos já usou uma droga ilegal. Cerca de 1,5 milhão de pessoas usa ecstasy todo fim de semana. Entre os jovens, o uso ilegal da droga é visto como normal. Intensificar a guerra contra as drogas não está reduzindo a demanda. Na Holanda, onde as leis do uso da maconha são muito menos repressivas, o seu uso entre os jovens é o mais baixo da Europa. A legalização aceita que o uso da droga é normal e que é uma questão social e não uma questão de justiça criminal. Cabe a nós decidirmos como vamos lidar com isto. Em 1970, na Inglaterra, havia 9.000 condenações ou advertências por uso de droga e 15% de novas pessoas tinham usado uma droga ilegal. Em 1995 os números eram de 94.000 e 45%. A proibição não funciona.
5 – POSSIBILITAR O ACESSO A INFORMAÇÃO VERDADEIRA E A RIQUEZA DA EDUCAÇÃO - Um mundo de desinformação sobre drogas e uso de drogas é engendrado pelos ignorantes e preconceituosos burocratas da política e por alguns meios de comunicação que vendem mitos e mentiras para benefício próprio. Isto cria muito dos riscos e dos perigos associados com o uso de drogas. A legalização ajudaria a disseminar informação aberta, honesta e verdadeira aos usuários e aos não-usuários para ajudar-lhes a tomar decisões de usar ou não usar e de como usar. Poderíamos começar a pesquisar novamente as drogas atualmente ilícitas e descobrir todos seus usos e efeitos – positivos e negativos.
6 – TORNAR O USO MAIS SEGURO PARA O USUÁRIO - A proibição conduziu à estigmatização e marginalização dos usuários de drogas. Os países que adotam políticas ultra-proibicionistas têm taxas muito elevadas de infecção por HIV entre usuários de drogas injetáveis. As taxas de hepatite C entre os usuários no Reino Unido estão aumentando substancialmente. No Reino Unido, nos anos 80, agulhas limpas para usuários e instrução sobre sexo seguro para jovens foram disponibilizados em resposta ao medo do HIV. As políticas de redução de danos estão em oposição direta às leis de proibição.
7 – RESTAURAR NOSSOS DIREITOS E RESPONSABILIDADES - A proibição criminaliza desnecessariamente milhões de pessoas que, não fosse isso, seriam pessoas normalmente obedientes às leis. A proibição tira das mãos dos que constroem as políticas públicas a responsabilidade da distribuição de drogas que circulam no mercado paralelo e transfere este poder na maioria das vezes para traficantes violentos. A legalização restauraria o direito de se usar drogas responsavelmente e permitiria o controle e regulação para proteger os mais vulneráveis.
8 – RAÇA E DROGAS - As pessoas da raça negra correm dez vezes mais risco de serem presas por uso de drogas que as pessoas brancas. As prisões por uso de droga são notoriamente discriminatórias do ponto de vista social, alvejando facilmente um grupo étnico particular. A proibição promoveu este estereótipo das pessoas negras. A legalização remove um conjunto inteiro de leis que são usadas desproporcionalmente no contato de pessoas negras com o sistema criminal da justiça. Ajudaria a reverter o número desproporcional de pessoas negras condenadas por uso de droga nas prisões.
9 – IMPLICAÇÕES GLOBAIS - O mercado de drogas ilegais representa cerca de 8% de todo o comércio mundial (em torno de 600 bilhões de dólares ano). Países inteiros são comandados sob a influência, que corrompe, dos cartéis das drogas. A proibição permite também que os países desenvolvidos mantenham um amplo poder político sobre as nações que são produtoras com o patrocínio de programas de controle das drogas. A legalização devolveria o dinheiro perdido para a economia formal, gerando impostos, e diminuiria o alto nível de corrupção. Removeria também uma ferramenta de interferência política das nações estrangeiras sobre as nações produtoras.
10 – A PROIBIÇÃO NÃO FUNCIONA - Não existe nenhuma evidência para mostrar que a proibição esteja resolvendo o problema. A pergunta que devemos nos fazer é: Quais são os benefícios de criminalizar qualquer droga? Se após analisarmos todas as evidências disponíveis concluirmos que os males superam os benefícios, então temos de procurar uma política alternativa. A legalização não é a cura para tudo, mas nos permite encarar os problemas criados com o uso da droga e os problemas criados pela proibição. É chegada a hora de uma política pragmática e eficaz sobre drogas.


Texto original de: Comandante John Grieve - Unidade de Inteligência Criminal, Scotland Yard, Channel 4 1997. (traduzido por Luis Verza)

Tipografia para apaixonados

Um tesouro me chegou às mãos por um importador de livro. Trata-se de "Tipografia: origens, formas e usos das letras", do português Paulo Heitlinger, editado em 2006 pela Dinalivros, de Lisboa.
Paguei seu peso em ouro e valeu cada centavo.
Profusamente ilustrado com mostruários e exemplos de aplicação prática, Tipografia serve para orientar os que buscam inspiração para resolver as suas tarefas diárias de paginação, edição e desenho gráfico. É uma obra-prima editorial, fazendo da trajetória da tipografia uma forma de contar a história do homem e da comunicação humana.
Tipografia foi escrito para os que produzem e para os que consomem informação impressa em papel ou apresentada na tela. Para quem, como eu, é apaixonado pelo tema, o livro apresenta-se como um itinerário social que atravessa os séculos apresentando, a cada passagens, personagens grandiosos e geniais aos quais deveríamos render eterna homenagem, como Frederic Goudy, Aldus Manutius, Francesco Griffo, Claude Garamond, Willian Caslon, John Barkerville, François Didot, Giambatista Bodoni, Eric Gill, Herbert Bayer, Paul Renner ou Jan Tshichold, todos eles designers fabulosos cuja motivação primordial era tornar a leitura, em si, uma forma de arte.
Na apresentação, o ator afirma que a obra dirige-se aos estudantes e profissionais que elaboram documentos ou que fazem design editorial ou publicitário. Mas não só. Sabendo que esta temática ainda não tinha sido aprofundada por autores em língua portuguesa, o autor enquadrou o tema numa visão alargada, para assim captar o interesse de todos os que apreciam temas sócio-culturais, estéticos e históricos.
Além de discutir a funcionalidade das letras, Tipografia põe em evidência a estética dos caracteres; ambos são assuntos pouco discutidos entre nós. Em Portugal, como no Brasil, a cultura tipográfica só timidamente começa a mostrar o seu potencial.
Muitos comunicadores, designers e editores não estão a par da produção dos typeface designers nacionais e internacionais.
O livro é uma das primeiras obras de referência para todos os que necessitam uma visão crítica sobre as peculiaridades formais e funcionais das tipologias tipográficas. Uma obra essencial para quem trabalha conscientemente com letras e para os que vêem, nelas, uma fonte de prazer estético sem par.