sexta-feira, novembro 20, 2009

Frase

"Além das mulheres-fruta, o mundo está cheio de gente carambola: azeda, cheia de aresta e que se fatia todo pra parecer estrela". Rosana Hermann

sexta-feira, novembro 13, 2009

O apagão mental da oposição

A mídia, esse ente abstrato mas cuja ação é concreta e objetiva, está em campanha aberta pelo retorno do PSDB ao centro do poder. E entrou no ritmo do vale-tudo.
Eu mesmo já escrevi aqui que uma das táticas é a de anunciar o apocalipse. Só a tática do medo pode levar a população a procurar a salvação no passado, no caso, no PSDB e seus aliados.
A tática do apocalipse é simples: a cada problema (e governar é administrar problemas) que surge no país, o fim do mundo é anunciado e atribuído ao governo. Dias a fio. Horas e horas. E sempre o Armagedon tem um único culpado: o governo Lula e, de uns meses para cá, a ministra Dilma Roussef.
Você deve lembrar. A queda do avião da TAM no Aeroporto de Congonhas, em São Paulo, já foi atribuída ao governo. A gripe suína já foi atribuída ao governo. As enchentes em São Paulo (fruto da falta de planejamento do governo tucano e da lentidão da administração municipal), também já foram colocadas nas costas do governo federal.
Mas o crescimento econômico, o fato do país ter sido o último a entrar e o primeiro a sair da crise econômica, a elevação do país no índice de desenvolvimento humano ou o aumento brutal da credibilidade internacional do Brasil, nada disso é atribuído ao governo. Esses são, todos, frutos do acaso, da sorte, da proteção divina e das ações "da sociedade civil".
O fim do mundo "da hora" foi a queda no fornecimento de energia em algumas regiões do país.
Antigamente, a imprensa chamava aos cortes do fornecimento de energia elétrica como ocorrido em Itaipu, de blecaute. Assim mesmo, em português. O de agora, atingiu 18 estados com cerca de quatro horas de duração. Logo depois o sistema retornou operante e nenhum outro problema foi registrado.
Tecnicamente, não teve a ver com falta de investimentos ou falta de planejamento do governo federal, com abastecimento insuficiente, mas sim com a falibilidade dos sistemas e um incidente natural: tempestades fortíssimas fizeram cair a rede.
A politização do problema é do jogo, mas nesse curto-circuito a imprensa está com o dedo na tomada. No choque, viu a oportunidade de criar uma confusão conceitual e o blecaute passou a se chamar "apagão", para dar oportunidade à imprensa de usar uma fala recente da ministra Dilma Roussef, na qual ela dizia que o país não corria o risco de voltar a ter um "apagão" - no sentido de voltar a ter racionamento de energia, como há hoje na Venezuela. A fala da ministra foi amplamente divulgada como "prova" de que ela mentia.
Qualquer pessoa bem informada sabe que o incidente de agora não tem parentesco com o patrocinado pelo governo tucano, em 2001, que marcou o início do racionamento de energia (apagão), trouxe prejuízos à economia e fulminou a chance de FHC eleger seu sucessor.
O apagão de 2001, que inaugurou o termo, foi sequela dos reservatórios baixos nas hidrelétricas, da escassez de investimentos em geração e transmissão e da falta de contingência. Até então "apagão" não era sinônimo de blecaute, mas designava o prenúncio de uma forte restrição no fornecimento de energia, um diagnóstico sistêmico de um problema que atravessava toda a estrutura de geração e distribuição de energia elétrica no país, levando a um intenso racionamento com graves conseqüências para a economia brasileira.
Na verdade, ficar horas sem energia elétrica em pleno século XXI por conta de um blecaute não é um “privilégio” do Brasil. Frequentes em países mais pobres, apagões atingiram recentemente milhões de pessoas nos Estados Unidos, no Canadá e na Europa. O maior dos blecautes recentes, entretanto, aconteceu em 2005, na Indonésia, quando 100 milhões de pessoas ficaram até 12 horas sem energia. 
O blecaute de 2009 não foi "apagão". Foi apenas um blecaute.

Apagão mesmo está sofrendo a oposição. Uma espécie de, por assim dizer, apagão mental. Esse sim, irreversível.

sexta-feira, novembro 06, 2009

Inteligência no Twitter

Já comentei aqui que o Twitter é a nova lata de lixo da internet. E confirmo. Uma quantidade impressionante de bobagens, algumas disfarçadas de aforismos, prolifera ali sem qualquer mediação. 99,9% daquilo é puro dejeto humano, espécies de hai-kais nutridos a lactopurga. A proliferação da ferramenta parece favorecer aquela sensação ficcional e terrível de que estamos ouvindo tudo o que as pessoas pensam. E isso não poderia dar certo. Afinal, até mesmo os gênios só foram geniais pontualmente.
Mas, como para toda regra há uma contra-regra, ofereço para vocês algumas twitadas inteligentes de Walter Longo, consultor de marketing e um dos dirigentes do grupo NewComm, que reúne diversas agências de publicidade, com destaque para a Y&R, uma das maiores do país.
- Moral é uma uma reflexão sobre o próprio comportamento. Já o moralismo é sobre a vida dos outros. 
- Estudiosos afirmam: numa grande empresa você tem mais chance de ser bem sucedido se errar de vez em quando do que se acertar sempre.
- Fala-se muito de mídia interativa, mas a maioria das pessoas quando está na frente da TV ainda prefere interagir com a geladeira!
- Ao ler um livro de suspense começo sempre pelo meio. Assim, fico curioso duplamente: como vai terminar e também como começou.
- Para polícia bandido é meliante, crime é delito, pessoa é elemento, carro é viatura e faca é instrumento pérfuro-inciso. Que língua é essa?
- Nobre deve ser a vida das pessoas, e não o horário da TV.
- Dizem que, para a mulher, o casamento significa trocar a atenção de muitos pela desatenção de apenas um. Há exceções.
- O futuro não está nos jornais. Na verdade, o futuro está nas coisas que não mudam. É na não-notícia que se percebe o que está por vir.

Caetano, go home!

Em entrevista à jornalista Sonia Racy, o cantor e compositor Caetano Veloso anunciou sua opção pela candidatura de Marina Silva, a senadora que se elegeu pelo PT e recentemente filiou-se ao PV. "Não posso deixar de votar nela", disse o cantor. "Marina é Lula e é Obama ao mesmo tempo. Ela é meio preta, é uma cabocla. É inteligente como o Obama, não é analfabeta como o Lula, que não sabe falar, é cafona falando, grosseiro."
Caetano quer ser polêmico.  Aliás, Caetano quer ser intelectual. Já quis ser cineasta, escritor, pintor.  Fracassou em todas essas empreitadas. Deveria ser humilde e voltar a fazer o que gerou sua fama e fortuna:  deveria voltar a ser cantor e compositor. Mas isso não é fácil. O moto contínuo da juventude não existe mais e a experiência da terceira idade o inquieta. Para ganhar o centro da cena, ataca quem tem o que ele não tem mais: popularidade. No caso, o presidente Lula.
A última grande obra de Caetano foi o álbum "Estrangeiro", lançado no distante 1989. De lá para cá, álbuns medíocres, nulidades sonoras, covers e mais covers, alguns absolutamente desnecessários como os das músicas descartáveis de Peninha, Fernando Mendes e Claudinho e Bochecha. Profissionalmente, travou. Politicamente assumiu seu conservadorismo direitista, aliás já revelado em sua ótima relação com Toninho Malvadeza, o coronel baiano também conhecido como Antonio Carlos Magalhães.
Fui ao último show de Caetano em Belém, na Assembléia Paraense e sai quando o "espetáculo" já consumira meia hora de minha preciosa vida. Eu esperava muito, mesmo que parecesse ser modesto. E sai com quase nada. Um lixo.
Displicente, desrespeitoso, Caetano sub-tona, desafina, bate nas cordas de naylon de seu violão como um pedreiro desbasta tijolos e é acompanhada de uma banda de aprendizes, todos jovens moços, bem ao gosto do baiano.
O PT não fez bem em oficializar uma resposta a essa provocação de um artista decadente. Deveria, simplesmente, deixá-lo imerso em sua triste agonia do fim.

quinta-feira, novembro 05, 2009

Neruda, sempre

É proibido não transformar
sonhos em realidade;
não viver cada dia como se
fosse um último suspiro.

terça-feira, novembro 03, 2009

713 milhões para veicular propaganda ruim

Não mantenho esse espaço para comentar propaganda. Como estou no ramo e tenho agência de publicidade - duas, aliás - seria um tanto tendencioso eu tratar do tema comentando o que outros fazem. Mas, meu deus do céu, como é ruim a propaganda das Casas Bahia, o maior anunciante de varejo do país.
Tradicionalmente, o grupo varejista aplica 3% do faturamento previsto para o mês seguinte, em marketing. No ano passado a empresa comprou R$ 713,169 milhões em mídia, segundo o raking Agências & Anunciantes. Em qualquer quadrante, é muito dinheiro. Então por que essa massa monetária não produz boas idéias e sim barulho e propaganda ruim?
A conta publicitária das Casas Bahia pertence à Y&R, uma das maiores agências do mundo cujo braço brasileiro pertence ao midiático multi-empresário Roberto Justos. O relacionamento entre o cliente e a agência data de 1999, quando então NewcommBates substituiu a house Interjob, responsável pela comunicação do grupo nos 20 anos anteriores. Quando o publicitário Silvio Matos deixou a presidência da agência e o comando da estrutura montada, a pedido das Casas Bahia, na sede da varejista em São Caetano do Sul (SP), o empresário Roberto Justus assumiu a linha de frente da operação e o contato direto com os Klein, dono da rede, até que novos profissionais fossem contatados para a linha de frente da conta. A WPP, sócia de Justus na Y&R, teria pressionando o astro televisivo e publicitário nas horas vagas a aumentar a rentabilidade na conta das Casas Bahia, já que, apesar dos altos volumes investidos, a operação seria pouco lucrativa para a agência por causa dos grandes descontos obtidos na negociação com os veículos.  O que fez Justos? Radicalizou uma fórmula básica e barata de fazer comerciais de varejo: a gritaria baseada na repetição. Uma releitura de Goebbels para vender geladeiras, fogões e móveis horríveis.
A gritaria e a repetição, presentes na propaganda da rede, reproduz, sem mediação, a locução de uma camelô de rua. O tom é estridente. O visual é primário. O volume final é muito alto. Incomoda.
Você poderá dizer "incomoda, mas vende". Essa não é a questão aqui. Não me interessa se ele vende ou não. Não sou acionista da rede. Estou aqui fazendo uma discussão ética. Vale tudo para vender? Sim, eles vendem, mas o fazem ao custo de produzir ruído, de dar um mal exemplo conceitual ("Quer pagar quanto?", a Lei de Gerson dos dias de hoje), de gerar, em escala, a repetição desse modelo de comunicação de camelô em todo o país. Sim, porque esse modelo que move uma estrutura milionária de produção pode ser copiado por qualquer um que tenha um PC velho em casa e uma câmera 3CCD. Não é preciso ser a Y&R para fazer propaganda ruim, não. Ela pode ser feita em qualquer quartinho. E certamente está sendo feita.
Por isso as redes de varejo de todo tamanho e de todo lugar repetem o modelo "Casas Bahia", gerando um ruído ensurdecedor no horário comercial da TV aberta. Não é de admirar que todos estão fugindo da TV para se encontrar na internet e em suas variáveis sempre novas.
Aliás, o barulho só não é total porque há uma exceção. A rede de varejo que eu atendo, o Grupo Formosa. Seguindo a linha de seu fundador, José Oliveira, o grupo parte da lógica de que, quando todo mundo grita, só será ouvido quem falar mais baixo. 
Com apenas duas lojas e fazendo propaganda clean, vendendo conceito, o Formosa tornou-se um dos maiores grupos de varejo do país. Sem grito.