De modo cínico, José Serra, cuja mulher confidenciou já ter feito aborto, manifestou apoio às declarações de Bento XVI, o papa que serviu nas fileiras da juventude nazista, segundo as quais os bispos católicos no Brasil deveriam recomendar votos contrários a quem defende o aborto e a eutanásia. Aconselhado pela extrema direita católica, o homem forte da igreja objetivava atingir o PT, alvo de calúnias e mentiras ao longo de todo esse processo eleitoral sujo. Mas como nenhum dos candidatos nesse segundo turno diz defender o aborto ou a eutanásia, a tentativa de boca de urna de Bento XVI caiu no vazio. O papa perdeu uma grande oportunidade de ficar calado e, como chefe de estado, evitar o constrangimento diplomático ao tentar interferir em questões internas de outra nação soberana.
Ratzinger, o nome verdadeiro por trás da alcunha papal, deve estar muito ocupado resolvendo questões pecuniárias. O Vaticano é um paraíso fiscal superior às Ilhas Cayman, além de ser proprietário de um quarto dos imóveis de Roma e de milhões de hectares de terras por todo o planeta. Isso explica Ratzinger ter esquecido o ensinamento milenar dos beneditinos, segundo o qual "o silêncio é de ouro".
Para entender melhor o que é, de fato, o Vaticano sob a administração Ratzinger, recomendo com entusiasmo a leitura de La Questua, ensaio que há meses lidera as estatísticas de vendas na Itália, embora seja ignorado pela maioria dos mass media. O volume é o fruto de anos de pesquisas realizadas por Curzio Maltese, jornalista investigativo do diário La Repubblica que há tempo indaga teimosamente sobre esses temas, batendo contra a parede de concreto e ouro das autoridades eclesiásticas.