Encontrei em meus arquivos um artigo denominado “Os superestimados do Brasil”, publicado pelo jornalista Dagomir Marquezi em 2008 na revista Época.
A releitura do artigo logo me trouxe à memória a razão de tê-lo guardado: era uma provocação exemplar, dessas que levam à reflexão.
O artigo toma como referência a idéia original da revista norte-americana Entertainment Weekly, que publica todo ano uma lista de artista que considera “overrated”.
Não existe uma tradução exata em português. Marquezi sugere que a mais próxima em nossa língua seria “superestimado”.
São obras e pessoas que, por alguma razão, costumam ser julgadas melhores do que são; que quando são colocadas sob os holofotes fazem você pensar “Esse cara não está com essa bola toda”. Na lista da revista estadunidense uma sequencia de mitos sagrados da cultura ianque, como a série Friends, considerada “infernalmente irritante”.
Com base na lógica criada pelo periódico, Marquezi cria sua própria lista de brasileiros superestimados.
Lembra Chico Buarque, que é visto como um semideus, mas o auge de sua carreira aconteceu há 30 anos e agora é mais lembrado pela cor dos olhos, por escrever livros que ninguém lê ou por estar namorando uma garota que poderia ser sua neta, do que por algo relevante que tenha produzido depois da primeira eleição direta pós-64.
A verve de Marquezi alcança Fernanda Montenegro, a primeira dama do teatro brasileiro, unanimidade nacional e patrimônio cultural do Brasil restaurado com perícia por Pitangui. O jornalista afirma, sem tergiversar, que Montenegro “há muito tempo faz o mesmo papel”, se tornando, ela própria, um personagem que se repete, na mesma impostação, nos mesmos trejeitos, na mesma pose maternal. Montenegro faz sempre o papel de Montenegro.
A lista chega ao rock de butique e encontra Pitty, que, longe de ser a última Coca-Cola do deserto, “entrou no mercado sendo tratada como dona de um talento espantoso e mostrando a arrogância de uma prima-dona”, mas cuja obra é ruim e puramente descartável.
O escritor finaliza sua lista com Glauber Rocha, símbolo do cinema anti-conformista nos anos 1960, representante máximo do mantra “uma idéia na cabeça e uma câmera na mão”, mas ninguém agüenta ver sequer “dois minutos seguidos de qualquer um de seus filmes” a não ser que tenha forte tendência masoquista ou precise fazê-lo por obrigação profissional.
Marquezi conclui desafiando o leitor a fazer ele próprio sua lista. Eu fiz a minha, mas nunca publiquei aqui por receio de ser queimado em praça pública.
O que dizer, por exemplo, de Luan Santana, um dos aclamados ídolos musicais do país e cujo maior sucesso parece ser um plágio de uma música da Xuxa? Ou de Maria Gadu, desafinada como um serrote, posando de Cassia Eller ressuscitada? Ou de Luana Piovani, um saco de celulites e de ignorância, que se acredita mais bela que Gisele Bundchen e mais inteligente que Einstein? Ou de Rafinha Bastos, analfabeto funcional com grave déficit de atenção, que faz sucesso nas redes sociais recebendo jabá para opinar sobre tudo e sobre todos como se fosse reencarnação de Sócrates - o filósofo, não o jogador de futebol. Ou mesmo de Arnaldo Jabor, cineasta fracassado que se tornou o porta-voz do mais abominável conservadorismo? Superestimados? Sim. Com certeza.
Os superestimados estão entre nós. Em todas as áreas, em todos os lugares, para todos os gostos. Faça sua própria lista. No mínimo servirá como uma reflexão de que tão fácil como construir mitos, é começar a questioná-los.