Cansado já de tudo
Cansado de amar
Nada mais tenho que um modo
de existir respirar
Já não sei aonde ir
Nem sei de onde venho
Queimei-me de existir
Cinzas agora tenho
Perdi meu coração
Paguei-o como peça
de fogo enfim carvão
Tornada fumo a cabeça
Persegui como um cego
três coisas sem piedade
respiração e depois
prazer e obscuridade
O poema é de Carlos Edmundo de Ory. Nascido em Cádis, espanha, no ano de 1923. Fundou, com Eduardo Chicharro e Silvano Sernesi, o Postismo, movimento marginal que se propunha ser uma síntese de todas as vanguardas literárias precedentes. Em 1960 foi viver para França, procurando escapar ao ambiente político que se vivia no seu país. Ignorado durante a maior parte da sua vida, apenas na década de 1970 viu a sua obra reconhecida pela crítica. Ensaísta, autor de epigramas, tradutor, escreveu também vários livros de contos. O poema aqui postado foi traduzido para português por Heberto Helder e encontra-se no livro “Doze Nós Numa Corda” (Assírio & Alvim, 1997).