O jornalista Luis Carlos Azenha deu, em seu blog, uma contribuição iniqualável para testarmos a seriedade da imprensa brasileira. Ele pergunta: "Será que esse dinheiro vai aparecer no jornal nacional?". É a senha para uma resposta que revela a metodologia de dois pesos e duas medidas praticada pelo jornalismo venal e politizado que se pratica no Brasil.
Referia-se aos muitos pacotes de cédulas de cem reais sendo guardados, por assim dizer, com carinho, por diferentes representantes partidários do governo do Distrito Federal, flagrados por uma câmera escondida por um dos membros da quadrilha.
Os videos, que correram mundo na internet, não ganharam o mesmo destaque nos telejornais que ganhou, por exemplo, a imagem de um dirigente dos correios embolsando três mil reais, cena que desencadeou a tentativa de golpe de estado conhecida por "mensalão" - um suposto esquema de compra de votos na câmera federal e no senado, mas que não identificou nem um deputado ou senador que, por ventura, tenha "entregado o produto", ou seja, tenha votado no governo a troco de dinheiro.
Os dois pesos e duas medidas estão nas manchetes dos jornais e tentam amenizar a história, circunscrevendo o caso politicamente ao grupo do governador José Roberto Arruda e geograficamente ao Distrito Federal. Com o PT não era assim. Não foi o PT "de São Paulo" que estava envolvido na suposta compra de um dossiê contra José Serra. Era o "partido do presidente Lula". Com o DEM, ameniza-se a dimensão da crise. Com o PT, amplia-se.
Mas a revista Veja, porta voz da direita brasileira, nacionalizava Arruda quando escreveu sobre o governador do DEM: "Depois de amargar uma imensa rejeição provocada por medidas de austeridade, o governador do Distrito Federal diz que é possível ser popular sem ceder às tentações do populismo". Era assim que se apresentava o governador que, na opinião da Veja, mostrava-se exemplar: "Numa cidade acostumada a conviver com exibições grotescas de todo tipo de privilégio e desperdício de dinheiro público, o governador chegou pela contramão. Demitiu funcionários, pôs as contas em ordem, tirou camelôs e vans irregulares das ruas, enfrentou grevistas e freou um processo histórico de invasão de terras públicas".
O herói da direita, cabo eleitoral de Serra, agora está no chão. E com ele, o discurso falsamente ético e verdadeiramente conservador que a ex-Arena, o partido da tortura e da ditadura militar, assumiu ao se nominar ironicamente de "Democratas". Sem santos, a não ser os de pau oco, ruiu o discurso da direita moralista. A pose de vestal beijou a lona no ringue virtual no YouTube.