quinta-feira, agosto 23, 2007

"There´s no such thing as a free lunch"

O título reproduz um ditado popular da língua inglesa, muito caro às ciências econômicas. Em português, "não existe almoço grátis", ou seja, no final alguém sempre paga a conta. Foi o economista Milton Friedman - um dos ícones das teses (neo)liberais - que popularizou o ditado.
Segundo
Friedman "ninguém gasta o dinheiro dos outros com o mesmo cuidado com que gasta o seu próprio". Partindo desse aforismo, Friedman defende com entusiasmo o livre-mercado como sendo mais responsável do que o setor público - leia-se o Estado -, na condução dos assuntos econômicos. A crise financeira que derrubou as bolsas no mundo todo nas últimas semanas contraria a tese de Friedman. No texto mordente do jornalista Clóvis Rossi, lembrando Martin Wolf, colunista-chefe do jornal britânico Financial Times, a crise financeira nada mais revela do que "um capitalismo para os pobres e socialismo para os ricos". Pergunta ele: "Não era feio dar dinheiro público para salvar empresas privadas em dificuldades? Se era, por que então ninguém critica a montanha de recursos que os bancos centrais dos países ricos puseram à disposição dos bancos para evitar a crise de liquidez"? Rossi refere-se ao fato de que tem sido a atuação conjunta de pelo menos seis bancos centrais importantes - Europeu, EUA, Inglaterra, Austrália, Japão e Canadá - que tem evitado o agravamento da crise ao socorrer com recursos públicos bancos privados. A crise financeira internacional recolocou em debate o conceito da moral hazard - risco moral. O capital gosta de utilizar esse conceito sobretudo quando se trata dos gastos públicos. A moral hazard sugere que as decisões sejam baseadas no incentivo à ética e na indução ao comportamento responsável dos agentes. "Sob este prisma, é difícil defender a ajuda de bancos centrais", avalia Alexandre Póvoa, da consultoria Modal Asset. Afinal, como justificar o fato de que quando o mercado está ganhando os lucros são privados e quando ocorrem perdas o prejuízo é socializado? A operação de salvamento por parte dos bancos centrais sinaliza para o conjunto da sociedade que na hora `h´ em vez de ser punido o capital acaba sendo premiado.