Nas ruas dos Estados Unidos, a histeria generalizada se espraia. Populares, governo e órgãos de imprensa comemoram com fogos e festa o suposto assassinato de Osama Bin Laden. Digo suposto autorizado pela ausência de provas. Afinal, somente a palavra do governo dos Estados Unidos não vale um vintém.
Uma nação que arrota democracia mas engole Guantánamo está doente da alma. Guantánamo, para quem não sabe, é um campo de concentração ao estilo nazista patrocinado pelo governo estadunidense onde presos são mantidos sem direito a defesa alguma, submetidos a tortura física e psicológica, motivo de indignação internacional e alvo de duras críticas das organizações de direitos humanos.
O discurso contraditório com a prática é parte da história do Império, que tem uma longa folha corrida de ações rotineiras de violação aos direitos humanos.
Osama era culpado do atentado às Torres Gêmeas? Possivelmente sim, mas era preciso usar para provar essa culpa os métodos do estado de direito. Como pode um país e um povo que se diz partidário da democracia comemorar o vilipêndio de cadáver, a execução sumária de quem quer que seja? Como pode um país que quer hegemonizar culturalmente o mundo dar aos povos o exemplo de que o justiçamento ilegal é o meio correto de fazer justiça? Em nome dessa vingança milhares e milhares de civis inocentes foram mortos no Iraque, no Afeganistão e nas prisões ilegais mantidas secretamente pelos órgãos de inteligência dos Estados Unidos em diversos países limítrofes a esses palcos de guerra.
Osama, que pela barbárie colocou na mídia sua organização terrorista e Obama, que com esse ato midiático se cacifa eleitoralmente em um momento em que seu governo precisa dizer ao que veio, se irmanam em método e doutrina: o desprezo ao que é humano. Lamentavelmente, porque Obama se elegeu com um discurso anti-Bush, rejeitando a guerra preventiva e com uma plataforma de reforço à legalidade e de respeito à autonomia dos povos. Era o discurso. Na prática, o presidente Obama está desautorizando o candidato Obama. O conservadorismo de direita, impregnado à prática política e às normas de governo da Casa Branca, enterram dia após dia o sonho de um governo estadunidense que não pense apenas em si mas se situe no planeta.
O "olho por olho, dente por dente" não é uma lição que a humanidade precise voltar a recitar para se tornar melhor. Ao contrário. É o caminho mais curto para a selvageria.