Toda perda de vida humana é irreparável. O que dizer quando quem se vai é um amigo, um pai de família, um intelectual, um lutador levado de maneira brutal pela mão da ignorância, da falta de respeito ao outro? O que dizer quando quem se perde tem tanto a dar quanto um homem comprometido com ideais humanistas de justiça social e igualdade de direitos?
A última vez que encontrei com Eduardo Risuenho Lauande foi em minha agência, no Village Empresarial. A noite avançava e conversávamos longamente sobre política, um de seus/meus temas prediletos.
Antes de sair, pediu que eu autografasse para ele um exemplar de "Trotski: a paixão pela utopia", biografia do revolucionário russo que publiquei no ano 2000. "Eu comprei um exemplar, mas um amigo para quem o emprestei ficou com ele. Não tive coragem de pedir de volta", disse sorrindo. "Teu livro mudou meu ponto de vista sobre Trotski", concluiu o ex-militante do PCB, formado na escola política que demonizava o pensamento de Liev Bronstein.
Nos despedimos com um abraço e uma promessa de um novo encontro em breve. Esse encontro não ocorrerá.
Eu estava voltando de uma brevíssima viagem de férias quando soube que Lauande havia sofrido um assalto e que teria sido baleado. No sábado, a pior notícia: "Chico, o Lauande faleceu", dizia, do outro lado da linha, um amigo de longa militância.
Lauande, 41 anos, foi baleado quando chegava em casa, ao tentar defender a mulher de um assalto, no bairro da Marambaia, na abandonada cidade de Belém.
O que dizer? Nada mais. Esse é um daqueles casos em que as palavras simplesmente não bastam.