Na edição do programa televisivo Mahhatan Conection, levado ao ar na tarde de 16 de março pelo canal GNT, a reunião entre os presidente Lula e Obama tornou-se a pauta do dia dos comentaristas, comandados por Lucas Mendes e Caio Blinder.
No meio de polêmicas em camadas, característico do programa, surge um debate sobre a frase de Obama, que disse desejar começar sua visita ao Brasil chegando “pela Amazônia” e que temia "se perder na floresta", embora esse fosse o desejo de seus adversários.
Alguns falam do ar, da biodiversidade, dos rios, etc. Riquezas tangíveis da região mais cobiçada do planeta.
Diogo Mainardi, um dos debatedores menos interessantes, emite a seguinte pérola: “A maior riqueza [da Amazônia] parece ser a produção de eletrodomésticos, motos e computadores”.
Não fosse a idiotice em si da afirmação, o tempo se incumbiu de piorar as coisas para o escrevinhador da Veja. Mainardi foi confrontado por Ricardo Amorin, que demarcou: “...Mas você está falando de Manaus [e não da Amazônia]”.
Fora da área de alcance da câmera, Mainardi retrucou: “Mas a população está toda lá”.
A Amazônia na cabeça de Mainardi é... Manaus. Ou seja, o que ele pensa sobre a Amazônia é subproduto do marketing de Manaus para se tornar a porta de entrada da região, e do Amazonas, para ser a síntese totalizadora da maior floresta preservada do mundo.
Que Mainardi não passa de um imbecil mal informado, isso todo mundo que é minimamente letrado já sabe. Escritor fracassado, com diversas obras esquecíveis publicadas e encalhadas, “Didi” (apelido carinhoso ainda usado em família) ocupou uma coluna na revista Veja com objetivo de tecer comentários genéricos sobre tudo e acabou ganhando notoriedade ao se tornar porta-voz do anti-petismo das elites reacionárias.
Filho de um publicitário polêmico e criativo, Ênio Mainardi, Diogo nasceu rico e tenta a todo custo mostrar que é culto "de berço" e inteligente como seu pai. Não é. É apenas um "mané".
Para ganhar audiência, tornou o presidente Lula seu alvo número um, a quem considera representante “do Brasil inculto”, essa plebe ignara que dá mais de 80% de aprovação ao presidente operário, que Mainardi considera "uma anta".
O comentarista de Mahhatan Conection forma, com o ex-cineasta Arnaldo Jabor, a chamada “dupla afetada” de adversários do presidente e do petismo. Na verdade, duas antas direitistas a serviço do retrocesso do país ao império entreguista do tucanato.
Quem sabe se, por azar dos brasileiros, José Serra se tornar presidente Mainardi não assume o Ibama e tenta fazer, na prática, aquilo que diz querer fazer na teoria.
Pensar que Manaus é a síntese da Amazônia já seria uma estupidez de grande envergadura. Mas pensar uma cidade no meio do nada, praticamente isolada por via rodoviária do resto do mundo, concentra a maior parte da população da Amazônia é uma daquelas burrices que mereceriam uma estátua.
A ignorância de Mainardi sobre a Amazônia retrata seu menosprezo pelo Brasil e pelos brasileiros, manifesto em sua escrita, seja “literária” ou “jornalística”.
Não se pode confirmar exatamente desde quando a Amazônia é habitada, mas sabe-se que desde antes da chegada dos europeus, no século XVI, os índios já viviam na região.
Desses mais de 500 anos de história, a formação populacional da Amazônia, assim como a brasileira, preserva ainda hoje características da grande miscigenação entre as diversas raças. Mainardi está infenso a isso. Pensa-se europeu puro.
Herança da colonização européia, o brasileiro, e o povo amazônico, em particular, apresentam traços do índio, o branco e o negro. É antítese do que Mainardi admira. Ribeirinhos, índios, seringueiros, garimpeiros, pescadores, operários, executivos somos todos a síntese qualitativa de inúmeros povos.
Com cerca de 20 milhões de pessoas vivendo nos nove estados da Amazônia Legal, a densidade demográfica é de cerca de 3,4 habitantes por Km2, com 62% da população vivendo nos centros urbanos.
Manaus possui população de mais de 1,4 milhão de pessoas. Belém, mais de 1,5 milhões de habitantes, embora o Senso de 2000 apresente números diferentes, porque não considera as áreas de expansão da cidade. Se incluir a grande Belém, com Ananindeua e sua periferia, Belém pode chegar a 2 milhões de seres humanos.
O Pará e Belém foram derrotados em uma guerra de branding.
A ineficácia da comunicação de sucessivos governos paraenses fez Belém perder o lugar de porta de entrada da Amazônia e o Pará perder o status de estado amazônico mais populoso para Manaus e Amazonas, respectivamente.
O Amazonas soube utilizar a confusão semântica provocada pela expressão “Amazonas” e a expressão “Amazon”, em inglês, para vender-se como sendo “A” Amazônia.
Mainardi, como um bobo, caiu no conto do marketing de Amazonino Mendes.
Mainardi é "a anta" dos professores primários de geografia.