Eles juram que não é erro de concordância, mas sim uma tradução literal de uma legenda homônima em inglês. Mas não deixa de ser curioso que no Brasil haja um partido que chama a si mesmo de "o" Democratas.
Furtivo e recordista em troca de nome (ex-Arena, ex-PDS e ex-PFL), "o" Democratas ocupou o horário nobre de todas as emissoras do Brasil na noite do dia 29 de outubro para tomar o nosso tempo e expor um discurso mal estruturado, raivoso e improdutivo para as intenções da legenda.
Uma grande lição de marketing político ruim e inofensivo.
O programa da legenda foi divido em três partes óbvias e lineares: a) balanço positivo de administrações locais dirigidas por partidários da legenda, com destaque para Brasília; b) tentativa de ligar uma política de grande alcance (no caso a expansão da telefonia celular e a expansão da internet) com a fase em que o DEM governava o país ao lado do PSDB; c) crítica ao governo federal e ao MST - que não disputa eleições - tentando ligar a imagem do movimento dos trabalhadores rurais sem terra, chamuscada pela imprensa, com o governo petista, que tem índices de aprovação, como diria um amigo meu, "albaneses" - uma referência aos índices eleitorais do líder "comunista" da Albânia, Enver Roxha, que vencia os pleitos com, por exemplo, 99,3% dos votos.
O tom, a forma, a retórica do programa do DEM imita o discurso do PT do passado.
Ver esse discurso ser entoado agora repete a perplexidade do personagem da série estadunidense Live in Mars, que dorme na atualidade e acorda, surpreendentemente, nos anos 70.
O DEM, por algum motivo inexplicável, acredita que, imitando o PT dos anos oitenta, chegará a ser PT um dia, ou seja, que fazendo "oposição" retórica em uma época pragmática, incorporará o espírito de oposição real que animava o PT em sua caminhada para ser o maior partido orgânico do país.
Os dirigentes do DEM esquecem que havia, nos anos oitenta, uma audiência social e um ambiente político que justificavam aquele discurso - uma espécie de mantra da base social que o PT movia.
Em uma das cenas do programa, um jovem anda de camisa aberta entre outros jovens, veste roupa verde e azul (alguém disse a eles que é assim que se produz identidade cromática de uma marca). Ocorre que o que sai da boca do jovem é uma bobagem total: sua fala quer fazer crer que a ação dos bandidos que roubaram a prova do ENEM é fruto da "incompetência" do governo. Um delito comum é conduzido à sua culminância política sem qualquer escala intermediária. Seria mais ou menos como dizer que os hackers que invadem conta bancária para roubar dinheiro de cidadãos de bem são todos filhos de Bill Gates, aquele "incompetente" que popularizou o computador com seu sistema operacional fácil de usar.
Quem pode acreditar nisso? Ninguém. Fazer pré-teste das peças? Bem, para isso seria necessário um profissional de marketing político. E isso o DEM não tem.
Digo isso porque, pelo amadorismo estrutural que apresentou, o programa, por certo, não foi feito por profissionais de marketing político. Não posso acreditar que o briefing tenha sido escrito por quem sabe ler pesquisa, já que a retórica do programa não leva à ampliação do espaço do partido no imaginário popular, mas, ao contrário, o leva para o gueto social dos que querem o fim do governo apenas porque não gostam dele. Não há "razão", não há "argumento", não há "convencimento". Há, apenas e tão somente, a crítica, o ataque, o vocifero.
Alguém precisa avisar ao DEM que esse tipo de discurso não provoca qualquer efeito prático a essa altura do século XXI e que, de costas para o futuro, será difícil ver em que direção está rumando. O abismo pode estar no próximo passo.