Editorial publicado no jornal Propaganda e Marketing, 31/05/2010
Por polêmica que seja a tentativa do governo Lula de resolver o impasse com o Irã, não se pode negar que, com ela, o Brasil usa de uma liderança de fato que, até então, era vista apenas como potencial. Isso não é pouca coisa e tem repercussões importantes em todas as áreas das atividades políticas econômicas.
Nossa passividade histórica, por assombrados pelo significado das potências do “primeiro mundo”, formou gerações de brasileiros afetadas pelo que Nelson Rodrigues chamou de “complexo de vira-lata”, sentença recorrente em discursos presidenciais.
Foi esse complexo, aliás, que fez com que, inúmeras vezes, perdêssemos oportunidades de nos afirmar, mesmo tendo fatos que atestassem nossos direitos e nossa força. Pelo contrário, parte das elites brasileiras insistia em fazer coro com o “primeiro mundo” nas críticas aos modelos brasileiros de gerir as relações de mercado.
Quem vivenciou a resistência do Brasil às tentativas de desmonte do padrão de negócios sobre o qual a nossa indústria da comunicação construiu suas bases, sabe muito bem o quão pesado foi o fardo representado pelo enfrentamento com a tentativa de sabotagem da parte de quem se pretendia alinhado com o que chamava de “modernidade”.
Em nome dessa pretensa “liberdade de iniciativa”, o mercado publicitário mundial foi sacudido por longos períodos de instabilidade e insegurança, provocados por interesses desvinculados de qualquer compromisso outro senão valer-se do caos para fazer dinheiro rápido.
Agências e veículos, da Europa à América Latina, assistiram, impotentes, aos direitos à comercialização do produto de seus talentos serem usurpados por escritórios que tratavam os espaços na mídia como mera mercadoria afeita à pior especulação.
O Brasil, “na contramão da história”, na opinião de algumas “inteligências”, suportou heroicamente todas as pressões. Com isso, garantiu a consolidação da sua indústria da comunicação, cujos produtos tornaram-se referência para o mundo e são largamente exportados, inclusive, para o “primeiro mundo”.
O tempo, como sempre, foi senhor da razão. E descobrimos todos, aqui e lá, que aqueles modelos, durante anos defendidos por uma parcela de profissionais e empreendedores internacionais, como modernos e alinhados com o melhor capitalismo, em nada contribuíram com seus mercados; pelo contrário, promoveram um desmantelamento tamanho no que havia de mais saudável em suas inter-relações que hoje se faz penosa a remontagem de uma equação minimamente digna para atender aos interesses de agências e veículos.
Certamente, a reconhecida resistência brasileira à crise econômica, que massacrou mercados no mundo inteiro, sustentou-se também na qualidade dos fundamentos dos nossos modelos setoriais de negócios. Entre eles aquele que há décadas rege as relações entre agências, veículos e anunciantes.
Passado o tempo, os setores da indústria brasileira de comunicação que defenderam incansavelmente esse modelo podem orgulhar-se da acolhida que nossos produtos encontram no mundo. Está demonstrado, à prova das piores intempéries, que o Brasil estava certo. Que seja, portanto, copiado, como o que há de mais moderno.