Ter um contato livre de culpa com a imprensa é uma tarefa difícil, especialmente se vivemos na “Era do Escândalo”, quando personalidades, lideranças, corporações, organizações e até partidos políticos se desmancham no ar ao colocarem a nu suas intimidades ante o poder fulminante de veículos de comunicação cuja abrangência e alcance nunca antes assumiram tamanha dimensão.
A Revista Exame publicou tempos atrás reportagem com o tema “Empresa X Imprensa - Os segredos de um Bom Relacionamento”. Essa matéria foi encerrada com a publicação de um decálogo, que a seguir reescrevemos, por sua utilidade na compreensão das normas que permeiam a relação de empresários e jornalistas.
1- Pense no leitor (telespectador)
A matéria-prima da imprensa é a notícia ou informação que possa interessar aos leitores. A chave para se obter um bom relacionamento com a imprensa é municiá-la com fatos e notícias corretas e concretas. É válido eleger um determinado veículo para divulgar um fato específico. Mas estabeleça um rodízio na concessão deste privilégio, de forma a não marginalizar ninguém.
2- Crie canais de comunicação com os órgãos de imprensa.
E cuide de mantê-los abertos. Forneça informações úteis mesmo que a sua empresa não esteja sendo focalizada. Plante para o futuro. É importante que os jornalistas tenham acesso permanente e imediato a alguém na direção da empresa. Colabore.
3- Não evite a imprensa.
Na sociedade moderna, uma empresa, mesmo que queira, não pode e não deve se desligar da comunidade. Suas ações, sua estratégia e seus investimentos afetam toda a sociedade. A relação entre as empresas e a opinião pública deixou de ser um gesto magnânimo; é uma obrigação.
4- Não tente impedir a publicação de notícias desagradáveis.
Se o fizer, chamará ainda mais a atenção para o fato e ela ganhará mais destaque do que antes. O recomendável, nestes casos, é dar a melhor explicação possível. A versão da empresa pode colocar uma “pá-de-cal” no assunto.
5- Não minta.
Mesmo que a imprensa não possa checar as suas declarações na hora, a verdade acaba aparecendo. Se uma empresa mente ao público, corre o grave risco de ser desmoralizada.
Em casos limites, mantenha silêncio sobre informações confidenciais.
6- Não solicite cobertura através dos donos de veículos.
Na prática, os pedidos aos donos de empresas jornalísticas terminam sendo encaminhados à redação - a quem cabe a última palavra. E o by-pass evidentemente não é bem acolhido. Gera mal-estar. Portanto, o ideal é fazer contatos com os responsáveis diretos.
7- Não abuse de press-releases.
Este instrumento de comunicação de empresas com jornalistas está muito desgastado. Quase desmoralizado. As redações recebem centenas de releases por dia. E a tiragem é draconiana. Evite releases, de preferência quando tiver uma informação importante ou útil a transmitir. Quanto mais personalizado, específico e objetivo, maior a chance de aproveitamento de um release.
8- Não misture jornalismo com publicidade.
Na grande imprensa, não existe vínculo entre aplicação de verba publicitária e a cobertura editorial. Publicidade é uma coisa, redação é outra. O corte de anúncio não altera a linha ediorial e quem sai prejudicado é o próprio anunciante. Por extensão, não use a sua agência de publicidade para pressionar o editor ou a redação. É até possível que se consiga algum resultado imediato, mas tanto a empresa quanto a agência ganharão a antipatia da redação para sempre...
9- Não acredite em tráfego de influência.
Cuidado com oportunistas que se oferecem para contornar problemas de empresas junto a jornais e revistas. Ou, então, para impedir a divulgação de notícias desfavoráveis. Dizem conhecer jornalistas e cobram alto pelo serviço. Na verdade, evitam a publicação de reportagens que jamais existiram.
10- Nunca “peça a cabeça” de um jornalista.
Mesmo que o veículo ceda à pressão da empresa - o que é raríssimo - outro jornalista será indicado para cobrir o setor. E, certamente, o fará com “o pé atrás”. Além disso, haverá uma reação negativa por parte de toda a imprensa.