César Maia, o prefeito marketeiro do Rio, postou em seu Blog algumas "Dicas para Debates Eleitorais" que se tornaram sucesso na internet, com centenas de links de referência e citações.
A base do seu texto é interessante, simples, mas ele perde-se em generalidades em vários pontos, o que torna sua abordagem superficial.
Tomando como ponto de partida o texto de Maia, reescrevi os três pontos originais e ampliei o leque com Dicas Úteis para uso de nossos candidatos e candidatas em debates eleitorais.
Penso que podem servir de orientação na preparação de nossos quadros para os embates midiáticos que acontecem no período eleitoral.
1. As mídias são diferentes e atingem o público de maneira diferente. O debate eleitoral na TV e Rádio exigem posturas distintas. Na TV o que vale é a imagem. Voz escandida, tranqüila. Alguns especialistas receitam "sorriso-Reagan" para tudo. Bobagem. Tenha cuidado com o sorriso, que pode parecer cinismo ou desrespeito ao adversário. Num debate de 1 hora e meia entre 4 candidatos - incluindo o tempo ocupado pelo locutor-coordenador- cada um fala uns 15 minutos e assim mesmo de forma fatiada.
2. Na rádio a audiência mais importante é a cobertura da imprensa no dia seguinte. Portanto fatos novos ou pegadas firmes serão mais importantes se ganharem os jornais na cobertura ou se forem replicados no seu programa eleitoral no dia seguinte. Se o debate for a última oportunidade durante uma eleição (como o que se realiza no último dia antes do pleito), a preparação do candidato tem que ser intensa e cada palavra deve ser medida. Perde-se mais com o que não se diz do que com o que diz em ocasiões assim. Uma ausência de resposta pode valer pontos preciosos na contagem final.
3. Na TV, tenha postura. O importante é a imagem nunca ser derrotada, independente de perguntas e respostas. Não baixe os olhos. Desmontar a imagem dos outros na telinha (deixá-los nervosos, irritados) e manter a sua tranquila e firme, é que é o básico. Mesmo se você for atingido, mantenha a imagem como se você estivesse tranqüilo e superior. A câmera só estará em você quando você falar. Você tem tempo para se programar. Não deixe ofensas ou ataques sem resposta.
4. Em qualquer debate, quem pergunta deve estar na verdade perguntando a si mesmo. O outro é apenas a escada para a pergunta voltar a você. Quem responde tem a vantagem de falar por último. Essa sua última fala deve ser bem pensada, mesmo que saindo do tema, e lançando -com tranqüilidade- ao outro o desconhecimento e despreparo. Nunca podem subir a ofensas, pois dão direito de resposta. Se você chamar de mentiroso ao adversário, ele pedirá direito de resposta. Mas se você disser que ele "não tem apreço pela verdade", terá dito a mesma coisa sem garantir o direito de resposta do adversário. Uma afirmação tranqüila e incisiva vale muito mais. Quando se dirigir ao eleitor para pedir o voto, não se esqueça de sorrir, mas só o faça se esse sorriso puder ser sincero. Na dúvida, manter-se sério é melhor do que desferir um sorriso sardônico.
5. A memória é seletiva. O que fica de um debate para o público é muitas vezes, uma frase de efeito, uma formulação clara e feliz, uma jogada desconcertante, uma postura precisa, uma atitude, um gesto. Isso não é obra de marketeiro, depende da capacidade e do reflexo do candidato. Aliás, o gesto na TV conversa, argumenta, convence. Você está muito próximo do telespectador, talvez a um metro de sua cama ou sofá. É de fundamental importância. Um debate é primordialmente algo teatral. TV não é para se gritar como em comício. É fundamental preservar a voz para um debate. Um candidato rouco será sempre um candidato cansado.
6. Manter-se no tempo demonstra equilíbrio. Evite extrapolar o tempo das respostas, para não ser cortado pelo apresentador. O descontrole do tempo é visto como despreparo por alguns eleitores. Na TV, expressão conta muito, muito mesmo. Já entre com cara de vencedor. O visual conta muito. Peça a seus assessores que façam durante o treino as 10 perguntas que você não gostaria que lhe fizessem de forma alguma. Uma boa maneira de não perder uma resposta é começar respondendo, para depois argumentar. Se o mediador lhe pergunta o que você vai fazer para acabar com o caos no trânsito, tenha em mente 3 ações de impacto e as dispare. Depois, fundamente. Se o tempo se dissipar, a fundamentação pode ficar pela metade, mas sua resposta terá sido dada, passando para o eleitor a percepção de que você conhece o problema e tem uma solução concreta para ele.
7. O público vê um debate eleitoral como quem vê uma corrida de fórmula 1. Você quer saber o resultado final, mas se tiver uma batida no meio tudo ficará mais emocionante. Todos esperam um candidato sincero, verdadeiro e equilibrado. Como na Fórmula 1, acidente são aceitáveis, mas barbeiragens, jamais. Quem só ataca perde simpatia. Quem não se defende, parece acuado. O que mais conta no debate é o carisma, a sinceridade, o preparo (que se manifesta em propostas, números e atenção concentrada no evento) e a capacidade de comunicação de cada um. Isso tudo se traduz em postura corporal. Lembre-se: o corpo fala. E as pessoas entendem a sua linguagem.
8. As considerações finais são o filé dos debates eleitorais. Você pode corrigir um desempenho fraco se fizer de suas considerações finais um pedido de voto eloquente, sincero, bem construído. Nunca, nunca mesmo, "se despeça" em um debate de rádio e TV. Se isso for feito no primeiro turno, significa que você não estará no segundo-turno. Se isso for feito no segundo-turno, significa que você desaparecerá de vista quando estiver no cargo. Concentre-se em pedir votos, em dar ao eleitor razões novas e antigas para que ele vote em você e atue na propagação do voto. Demonstre confiança. Ninguém segue um líder cabisbaixo.