O livro "Comunicação e Poder: A presença e o papel dos meios de comunicação de massa estrangeiros na América Latina", de Pedrinho A Guareschi (Vozes, 13ª Edição) é uma leitura importante em tempos de explosão midiática e de sua crescente influência sobre a vida social.
O autor expõe didaticamente os principais estudos acerca da comunicação de massa realizados ao longo do século XX. O Funcionalismo, a Escola de Frankfurt, a Teoria Crítica Marxista de Louis Althusser, encadeiam-se para criar o cenário que jogará luz sobre a importância da ideologia na sociedade explicando de que forma os Meios de Comunicação de Massa (MCM) exercem papel preponderante na manutenção da coesão social e na reprodução das condições de manutenção do status quo.
Da preocupação com os efeitos e funções dos meios, lançando a idéia de utilidade e dominação, passa-se pelo enfoque à influência do consumismo na sensibilidade humana e chega-se no nível em que os MCM são colocados ao lado da escola e da religião, em relação ao seu poder de manipulação ideológica. Todos são aparelhos ideológicos de Estado, a fim de manter a ordem sem que o indivíduo perceba, ou seja, são mediadores velados da ação coercitiva dos dominantes (mercantilismo da comunicação).
O autor aborda formas de imperialismo cultural dos MCM sobre a América Latina. Há o investimento direto (as redes de TV CBS, ABC e NBC) e, o mais atual, o indireto (publicidade, filmes, desenhos como Os Flinstones, revistas como a Reader’s Digest e até programas ditos educativos). Este investimento indireto visa criar uma ilusão de igualdade, liberdade e supremacia natural do branco rico e norte-americano na sociedade capitalista.
A própria Disney é um símbolo de consumismo e influência ideológica. Há o estereótipo de que os habitantes de países subdesenvolvidos são selvagens (colonialismo), uma espécie de síndrome Pato Donald, em que o tesouro alheio é tomado e transportado aos Estados Unidos de forma natural, em uma exposição lúdica do fato (imperialismo), e o trabalhador braçal tendo seu perfil de criminoso traçado (classismo).
Fatos corriqueiros são carregados de ideologia. Não nos é permitido perceber tão facilmente os efeitos nefastos de sermos dominados. Perdemos nossa identidade cultural, somos levados a desacreditar em nosso potencial, esquecemos da riqueza do simples para exaltar o luxo, a abundância. Por estarmos imersos nesta cultura de dominação, tudo parece inofensivo.
O livro também enumera duas técnicas psicológicas muito empregadas pelos meios para substituir valores sociais vigentes:
1) Diluição: banaliza um fenômeno que agride a ordem social, isolando-o. Assim, não se dá atenção ao fato e este não se propaga.
2) Recuperação: utiliza um fenômeno perigoso ao corpo social, para justificar o sistema vigente, suas ações e valores.
O papel das agências de notícia, no processo de velada influência, é exposto com muita precisão. Há clara supremacia em relação a quem mais envia matérias prontas aos meios de comunicação. Dos 20 países da América Latina em que existe operação de agências noticiosas, as norte-americanas UPI e AP exercem influência sobre 16 e 14 países respectivamente. A LATIN é apontada como mais influente agência de origem latino-americana (13 países), seguida de longe pela ORBE.
As maneiras que a ICA, antiga USIS, agência do governo dos Estados Unidos, encontra para servir aos interesses capitalistas também merece destaque na obra de Pedrinho A. Guareschi. Há intenso interesse em abafar aspirações anti-capitalistas, em busca de autonomia e autodeterminação.
Enfim, "Comunicação e Poder", que surgiu de um trabalho complementar ao Curso de Comunicação de Massa realizado pelo autor, é de linguagem acessível e fácil compreensão, uma leitura que recomendo com entusiasmo. Vem apoiado por explicações em tópicos, que diminui o peso da leitura e é rica em ilustrações com dados estatísticos e comparativos. É uma crítica ao estigma do subdesenvolvimento incutido em nossa sociedade e sustentado pelos veículos de comunicação de massas.