sexta-feira, março 19, 2010

Dilma sobe, Serra cai

Se tivéssemos uma imprensa séria e comprometida com os fatos, o título acima teria sido manchete de algum dos maiores jornais do país. Não foi. Mais que isso. A leitura foi invertida, com molecagens do tipo “Serra lidera, Dilma melhora desempenho” predominando na leitura torta que fazem dos números.
O fato é que a Pesquisa CNI/Ibope divulgada esta semana mostra que a ministra petista Dilma Rousseff (Casa Civil) está subindo vertiginosamente na disputa à Presidência e encostou no governador de São Paulo, José Serra (PSDB), que estacionou na pesquisa estimulada no patamar de um terço e não apenas não progride, como está caindo.
Progressivamente e em apenas três meses a diferença entre os dois pré-candidatos caiu de 21 para cinco pontos percentuais. Em novembro, Serra tinha 38% e agora aparece com 35%, o que significa queda. Já Dilma subiu de 17% para 30%, o que significa curso ascendente. Não é preciso ser doutor em física para saber que um corpo em deslocamento constante ultrapassará em dado momento outro corpo que está inerte a sua frente. Na pesquisa espontânea, que é o que vale de verdade como elemento de aferição, já é Dilma quem lidera.
Ciro Gomes (PSB) caiu de 13% para 11%, e Marina Silva (PV) manteve-se estável em 6%. Brancos e nulos somam 10% e não responderam, 8%.
A melhoria no desempenho de Dilma, que nunca disputou nenhuma eleição, é espantosa para a direita, que não compreende a lógica das massas, para quem o país se tornou mais generoso de 2002 para cá e para quem empreender grandes mudanças abriria um vazio de significados completamente desnecessário. O PSDB e seu discurso não emplaca porque está na contra-mão do sentimento hegemonico das massas.
Além de crescer rapidamente, ao ser identificada por uma parte do eleitorado com o melhor presidente que o país já teve, a ministra Dilma vê seu índice de rejeição despencar de 41% para 27%. Rejeiçao em queda, popularidade em alta e intensão de voto ampliada são os fatos relevantes desse cenário atual para a candidata do PT.
A capacidade de crescimento da petista também pode ser vista ainda pelo fato de 38% dos entrevistados não saberem ainda quem será o candidato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Com índices de popularidade que não param de subir, Lula é o principal cabo eleitoral dessa eleição e deve levar Dilma a um patamar de vantagem sobre Serra já antes do começo da campanha eleitoral no rádio e na TV. Segundo o Ibope, 53% disseram que preferem votar em um candidato apoiado pelo presidente, outros 10% optam por um candidato de oposição.
10% é a margem real da oposição radical a Lula e ao PT, ou seja, os que dizem que o país piorou, que Lula é burro e ignorante, que tudo o que o governo fez foi errado, se engalfinharão por 10% dos votos.
As alternativas do PSDB e da direita brasileira são piores ainda que manter Serra na disputa. Num cenário em que o candidato do PSDB é o governador de Minas, Aécio Neves, Dilma, do PT, lidera a disputa, pela primeira vez, com 34%, ultrapassando Ciro, que aparece com 21%.
O fraco Aécio tem 13% e eco-candidata Marina, 8%. Brancos e nulos somam 14% e 9% não souberam ou quiseram responder.
A pesquisa ouviu 2.002 pessoas entre os dias 6 e 10 de março, em 140 municípios.
A margem de erro é de dois pontos percentuais, para mais ou para menos, o que denota “empate técnico”, expressão que também não foi usada por nenhum dos grandes jornais do pais.
Teimar contra os fatos é uma forma de demência, mal que vem acometendo a grande imprensa nacional desde a vitória de Lula em 2002.
Achando que um governo do PT seria um desastre para o país, esses setores confiaram em sua capacidade de "formar opinião" para sabotar subjetivamente a governabilidade, acreditando que Lula e seus companheiros cairiam por si mesmos.
As denúncias em série, o massacre midático permanente contra Lula e o PT estão a serviço da crença de que, mais cedo ou mais tarde, a esquerda social-democrata que comanda o país pedirá água. As tentativas de impeachement do presidente, a insistencia em ligar a imagem de Lula a figuras como o presidente do Irã ou da Venezuela e, agora, de Cuba tem por objetivo minar a imagem do presidente e do partido que o sustenta diante da opinião pública. Curiosamente, não vem dando certo. Ou vem, para 10% da população.
Ainda há tempo para a cura da demência que acomete os analistas e jornalistas de direita. Basta que aprendam a ler os números como analistas dos fatos, honrando a profissão que exercem, e não como torcedores fanáticos de um time que, isolado, já demonstra que não terá pernas para ir até o fim da partida sem amargar uma derrota acachapante.