Em 1910, a Conferência de Mulheres Socialistas, realizada em Copenhague, aceitou a proposta de Clara Zetkin, dirigente da II Internacional, de declarar como o Dia Internacional da Mulher Trabalhadora o 8 de março, em memória de uma tragédia. Naquele data, em 1857, 129 operárias da empresa têxtil Cotton de Nova Iorque morreram queimadas em um incêndio provocado pela patronal como resposta às reivindicações de suas trabalhadoras.
Assim nasceu o dia 8 de março, como dia de luta da mulher trabalhadora e de homenagem às mártires de Nova Iorque. Mas ao longo dos anos a data foi sendo desfigurada, hoje convertendo-se em um dia dedicado a realizar a vendas de produtos e a confraternização despolitizada. Mas na prática a realidade das mulheres ainda é de exploração e dor e isso exige uma reflexão com base em dados.
As mulheres somam 70% dos 1,3 bilhões de pobres absolutos do mundo. Isto é assim, mesmo que, segundo dados da ONU, o trabalho da mulher tenha um papel de primeira ordem já que entre o 50% e 80% da produção e comercialização de alimentos está em suas mãos.
No nível da educação, 2/3 dos 876 milhões de analfabetos do mundo são mulheres. Ao cumprir os 18 anos as garotas têm em média 4,4 anos menos de educação que os homens da mesma idade. Dos 121 milhões de crianças não escolarizados no mundo, 65 milhões são meninas (ONU, Unicef).
No nível da saúde, a cada ano morrem no mundo mais de meio milhão de mulheres como consequência da gravidez e do parto, o que está diretamente relacionado ao nível de pobreza. Nos chamados "países em desenvolvimento" a taxa de mortalidade materna é de um a cada 48 partos. Em países europeus, como a Espanha, morrem 3,9 mulheres a cada 100 mil. Na Espanha 98% das mulheres recebem assistência durante a gravidez e o parto. Nos países "em desenvolvimento" 35% das mulheres não recebem atenção pré-natal; quase 50% não têm assistência especializada ao dar à luz. As últimas estatísticas indicam que há mais mulheres que homens infectadas pela Aids.
As piores condições de vida empurrarão cada vez mais a mulheres trabalhadoras e pobres aos abortos clandestinos ou aos brutais métodos dos abortos caseiros. Mulheres trabalhadoras e pobres continuarão morrendo, enquanto as clínicas clandestinas ganham fortunas graças à legislação repressiva que impede que o aborto seja realizado nos hospitais em forma gratuita e nas melhores condições médicas. Grande quantidade de jovens continuará condenada a dar à luz a filhos não planejados, que mais tarde serão abandonados ou maltratados, destruindo suas vidas e as de suas mães.
E esta deplorável situação chega à sua máxima expressão quando vemos os dados sobre a violência contra a mulher. A cada ano, pelo menos 2 milhões de meninas entre 5 e 10 anos são vendidas e compradas no mundo como escravas sexuais. A cada duas horas, uma mulher é apunhalada, apedrejada, estrangulada ou queimada viva para “salvar” a honra de um macho em fúria. Durante os conflitos armados o ataque aos direitos humanos da mulher (assassinato, violação, escravidão sexual e gravidez forçada) é utilizado como arma de guerra. No mundo, 135 milhões de meninas e mulheres sofreram mutilação genital. A cifra aumenta em dois milhões por ano. Segundo dados do Banco Mundial, pelo menos 20 por cento das mulheres do mundo sofreram maus tratos físicos ou agressões sexuais.
É essa realidade cruel e injusta que a onda mercantilista em torno do Dia Internacional da Mulher não deixa ver, eclipsando a necessidade efetiva de fazer com que o 8 de Março continue a ser, sobretudo, um dia de luta. Uma luta sem trégua. Uma luta sem fim.