Ao comer, dormir e realizar atividades fundamentais para a preservação da vida, uma série de mecanismos funcionam para proporcionar sensação de prazer, para que aquela atividade seja freqüentemente repetida, uma vez que reforça a função biológica de sobrevivência.
Não é à toa a imensa felicidade que o sexo, uma refeição farta e uma boa noite de sono nos proporcionam.
Um desses mecanismos envolvidos na sensação de prazer e euforia é o sistema de recompensa, uma rede de neurônios específicos que auxiliarão na resposta enviada ao cérebro.
A maioria de nossos hábitos é baseada na oferta de prazer que aquela atividade proporcionará, desde uma soneca no meio da tarde, um abrigo quente do frio, carinho, comida, atividade física.
Talvez só esses mecanismos biológicos de recompensa possam justificar a construção de uma corrente que vê na propagação das chamadas “redes sociais” da internet (twitter, blogs, facebook, coletividades remotas, etc) a realização da felicidade na terra.
A sensação de recompensa estimulada pelo poder de ter sua própria mídia e de fazê-la imediata, em tempo real, produz uma euforia compensadora que turva a visão real. De repente, somos todos "cidadãos Kane" e reagimos enquanto tal.
Contudo, um artista de TV que tem um milhão de “seguidores” no twitter não tem nada perto do alcance de um comercial de 30 segundos exibido em horário nobre, que alcança 70 ou 80 milhões de pessoas de uma vez.
A sensação de recompensa, no entanto, não permite ver que na internet você está falando apenas para os seus. São círculos que giram em torno de temas e replicam conteúdos viciados. Servem, portanto, para vender produtos porque circunscrevem, demarcam e assinalam "público-alvos", com hábitos de consumo gregários. Mas são limitados para vender idéias.
Muitos amigos meus, uma grande quantidade de “especialistas” e, é claro, as empresas que vivem da propagação do mito da comunicação horizontal consideram que a internet é a panacéia do marketing e da comunicação social. Ao dar poder de mídia, ao fazer de cada um de nós uma fonte de informação, ao permitir que isso se faça a baixo custo, a internet gera uma ilusão de poder que não resiste a uma análise mais detida.
Agora, às vésperas das eleições, páginas e páginas estão sendo impressas com análises sobre o papel fundamental, decisivo, da internet para a realização de objetivos eleitorais.
Levantamento das Associação Brasileira de Marketing Político aponta que 9% das verbas das campanhas em 2010 devem ser destinadas ao marketing digital, com envolvimento de cem agências especializadas.
A rede mundial de computadores é um instrumento importante na campanha, especialmente para estimular o público jovem, mas muito menos importante do que se propala.
Fragmentada, descentralizada, multifacetada, a internet é como uma bomba atômica dividida em bilhões de pequenos pedaços, que não tem, portanto, o poder concentrado que tem a grande mídia e que alcança, com seu efeito explosivo, segmentos de público específico.
Internet não é mídia de massas, embora alcance muita gente. Não é mídia de massas porque o conceito pressupõe foco. Para alguns analistas é difícil entender essa contradição que pode ser compreendida facilmente quando sabemos que a internet alcança muita gente, mas essa gente está abrigada em nichos específicos. Para alcançá-la, o custo é maior. O conceito de mídia de massas é diferente disso. Pressupõe baixo custo por mil. Um tiro, muitos alvejados.
Internet não é mídia de massas, embora alcance muita gente. Não é mídia de massas porque o conceito pressupõe foco. Para alguns analistas é difícil entender essa contradição que pode ser compreendida facilmente quando sabemos que a internet alcança muita gente, mas essa gente está abrigada em nichos específicos. Para alcançá-la, o custo é maior. O conceito de mídia de massas é diferente disso. Pressupõe baixo custo por mil. Um tiro, muitos alvejados.
Se você se basear no que circula na internet, por exemplo, para conhecer a popularidade de Lula, chegará à conclusão de que ele é o mais odiado e vilipendiado governante que já passou pelo Planalto. Mas na vida real, fora da rede, ele é o presidente com maior aprovação popular da história.
Por que isso ocorre? Porque a “opinião pública” na internet é produto da opinião das minorias organizadas; é fabricada de maneira mais célere do que na vida real e se propaga de maneira viral; porque o público mais ativo e propagador de boatos está ali atuando profissionalmente.
Há espaço para tudo na internet, mas o que prevalece são as generalidades e os preconceitos. Quando você busca quais os assuntos mais pesquisados na internet você encontra “sexo”, “celebridades” e “religião” no topo da lista. Ninguém, a não ser profissionalmente, entra na internet para pesquisar política e intervir politicamente.
Do público que acessa a internet no Brasil, 70% o fazem em Lan-Houses, pagando por hora de acesso. Seria demencial pensar que essas pessoas entrem na web para pesquisar sobre política e atuação política ou para fazer ali seu espaço de formação de voto, de decisão eleitoral.
Dizer que Obama se elegeu graças a sua estratégia de internet e que Piñeda, eleito no Chile em 2009, conquistou a vitória por conta de sua ação na web não é apenas uma falácia, mas um exagero brutal. Em ambas as campanhas a internet teve o seu papel, mas a política feita pelo método clássico, a engenharia das alianças internas, a mídia de rádio e TV e o aporte generoso de contribuições milionárias valeram muito mais que o buzz na web, que foi mais útil para tornar Obama mundialmente conhecido do que para vencer a eleição nos Estados Unidos.
No Brasil, a internet vem sendo utilizada mais como firewall preventivo ou espaço para o jogo sujo pré-eleitoral do que para construir imagens de candidatos e partidos. Essa percepção é confirmada por Elysio Pires, consultor, que disse ao Meio & Mensagem: "Toda campanha eleitoral tem um lado formal e outro negro. E a internet terá grande contribuição nesse lado mau, até porque permite a postagem de mensagens sem identificação de procedência".
No Brasil, a internet vem sendo utilizada mais como firewall preventivo ou espaço para o jogo sujo pré-eleitoral do que para construir imagens de candidatos e partidos. Essa percepção é confirmada por Elysio Pires, consultor, que disse ao Meio & Mensagem: "Toda campanha eleitoral tem um lado formal e outro negro. E a internet terá grande contribuição nesse lado mau, até porque permite a postagem de mensagens sem identificação de procedência".
Repito: não quero com isso dizer que a internet não tem importância, mas colocar essa importância em sua escala de grandeza real no momento em que vivemos.
Se você é candidato e alguém lhe disse que a internet sozinha pode elegê-lo, demita esse consultor agora. Ele é agente duplo. Está dominado pelo seu próprio sistema de recompensa e a serviço das corporações que dominam o espaço virtual. Segui-lo pode levar você a muitos lugares, menos ao Éden da vitória eleitoral.